Pesquisar este blog

quarta-feira, 30 de maio de 2018

Bilhetes



Bilhetes
por G. Mirim (Antônio Wantuil)
Reformador (FEB) Outubro 1944

Todas as religiões são boas. Todas prestam serviço na obra de encaminhamento da criatura ao Criador. A obra do evangelizador consiste em levar à criatura, que tende para a descrença originária das incoerências encontradas em sua própria religião, neste ou naquele ponto em que o seu espírito exige uma explicação menos misteriosa e menos dogmática, conhecimentos novos, dignos de meditação e acordes com a razão e com o progresso evolutivo alcançado pelo seu espirito em ascenção.
Todas as religiões fazem parte da obra divina, regulada sempre em harmonia com a capacidade intelectual de cada época e de cada criatura. O politeísmo e o paganismo, o judaísmo e o catolicismo, o protestantismo e o comtismo, e todos os demais grupos religiosos merecem respeitados e admitidos como parte da revelação divina. Todas prestaram e prestam a sua colaboração, satisfazendo às necessidades individuais dos que lhes são adeptos.

Seria contrário à ordem que preside ao desenvolvimento de toda a criação, e isso podemos verificar em todos os setores do progresso humano, quer no presente, quer no passado, oferecer ao homem uma dose excessiva de conhecimentos, para os quais ainda não se encontra preparado. Assim como afirmamos que a Natureza não dá saltos, também podemos assegurar que a criatura não pode, de um pulo, passar da ignorância para a sabedoria completa.

Os espíritas observamos, aliás com tristeza, que alguns dos que aderiram ao Espiritismo, sem a devida preparação religiosa, sem a passagem pela escala espiritual evolutiva, caminham entre as luzes da Terceira Revelação, qual cegos, tal como o médico, o engenheiro ou o advogado que burlasse a lei e conseguisse diplomar-se
sem percorrer os bancos primários, ginasiais e superiores.

Temos, desse modo, no Espiritismo, criaturas habituadas às promessas e aos pedidos de toda sorte, autorizados pela religião donde vieram, a dirigirem aos Espíritos aqueles mesmos pedidos de auxílio material, E outros que, vindos dos chamados meios materialistas, procuram satisfazer aos seus desejos e neles ficam a vida inteira, não encontrando no Espiritismo senão o prazer de ver e observar os fenômenos físicos, sem deles tirarem qualquer proveito para o progresso espiritual que deveriam realizar.

Nada disso, porém, está errado, porque o caminho de cada criatura, apesar de evolutivo, deve ser lento e metódico, de encarnação em encarnação. Essa evolução e consequente salvação de todas as criaturas, sem que uma única seja abandonada a eternidade do imaginário inferno, é o ensinamento básico do Espiritismo, a única filosofia religiosa, aliás, que prega e documenta essa verdade, até então desconhecida pelas velhas Interpretações religiosas que não puderam compreender a bondade e a justiça do Criador e Pai.

Toleremo-nos reciprocamente e amemo-nos como recomendou o Mestre e, assim, conseguiremos não só a nossa própria salvação, mas, também, a da coletividade que deve caminhar conosco, através de todos os obstáculos surgidos de nossas imperfeições, até alcançarmos a felicidade da conquista da sabedoria, compreendendo a finalidade da nossa existência e a perfeição das Leis Divinas.


terça-feira, 29 de maio de 2018

Médiuns Católicos



Médiuns Católicos  
José Monteiro da Silva
Reformador (FEB) Agosto 1944

O fato que vou narrar foi tomado da obra "O Mundo Invisível no Mundo Visível", do ilustre Rev. Padre Anthelmo Goud, página 262 - Tipografia do "Apóstolo", rua Nova do Ouvidor, 14, publicado em 1881. É caso típico de desdobramento da personalidade seguido de transporte de objetos materiais, fatos já bem estudados pela ciência espiritista. O médium no caso é o próprio São Front, primeiro bispo de Périgueux. O padre Anthelmo, depois de citar a obra "Vida de Santa Marta", de Rabano Mauro, de onde extraiu o dito fato, escreve:

"Front, bispo de Périguex, e Georges, bispo de Puy-en-Veley, são perseguidos, expulsos de suas sés, e refugiam-se perto de Marta. Ela reza por eles, e sendo as sedições acalmadas por suas orações, os manda de novo às suas dioceses. Mas tomando a Front à parte, diz-lhe: "Tu sabes que o dia de minha morte se aproxima; promete-me vir assistir aos meus funerais?" - Hei de assistir a eles, responde o santo, por pouco que Deus me deixe de vida.

Um ano mais tarde morre Santa Marta. Consagram-se sete dias para a preparação de suas exéquias e acorrem de toda parte as povoações avisadas por fogueiras acesas nas florestas - "accensis ignibus per nemora". Estando tudo pronto, a grande e piedosa assembleia acha-se reunida na igreja. Pois bem, naquela mesma hora, São Front estava a celebrar os santos ofícios na sua igreja de Périgueux: adormeceu na sua sede esperando a chegada dos fiéis, e apareceu-lhe o Cristo que lhe disse: "Vem, meu filho, cumprir a tua promessa de assistir aos funerais de Marta."
           
No mesmo instante, e como em um lançar de olhos ("pariter in ictu oculi") foram vistos na igreja de Tarascon dois personagens misteriosos, tendo cada um livro na mão, colocarem-se um ao lado da cabeça da defunta (era Jesus Cristo), outro ao lado de seus pés (era o bispo) e ambos, depois de terem depositado o precioso corpo no sepulcro, demoraram-se perto dele com grande admiração por parte do povo, e não se retiraram senão depois de acabado o serviço fúnebre. Então, somente, um sacerdote os segue, pergunta ao Senhor quem é e de onde vem, e o Senhor sem responder lhe dá o manuscrito que tinha na mão. Esse sacerdote vai para o túmulo e mostra a todos aquele livro em que se achava escrita em cada uma de suas páginas a seguinte frase: "Marta, hóspede de Jesus Cristo, nada tem que temer, e eterna será sua memória". Não havia mais uma palavrar em todo o manuscrito.

No entanto, o que se passava em Périgueux, sé episcopal, de São Front?

Um momento antes um sacerdote acordara o bispo adormecido (São Front), prevenindo-o de que a hora de se principiar a missa já tinha desde muito passado e que o povo começava a ficar Incomodado. "Não vos perturbeis, respondeu o pastor, e não vos canseis de esperar, porquanto neste momento estou em Tarascon (em
espírito ou em corpo; só Deus sabe), ocupado com meu Salvador nas exéquias de Marta, como eu lho prometi." E um pouco mais tarde, acrescentou: "Enviai agora a Tarascon um próprio que possa trazer meu anel e minhas luvas, que acabo de remeter ao sacristão enquanto eu sepultava a santa."

O povo escuta, admira e manda imediatamente a Tarascon. Os desta cidade respondem sem demora, dando todos os pormenores possíveis sobre o dia e a hora do ofício, sobre a personagem venerável e desconhecida que acompanhava o bispo Front, por eles muito conhecido há muito tempo; ao depois remetem aos enviados o livro, o anel e somente uma das luvas confiadas ao sacristão, porque querem conservar uma em sua igreja como testemunho do milagre, e efetivamente a guardam."

José Lapponi, o médico dos Papas




O Dr. José Lapponi
Médico dos Papas Leão XII e Pio X, e o Espiritismo – Parte 1
por Michaelus (Miguel Timponi)
Reformador (FEB) Março 1944

É incrível que ainda hoje, depois de tantas provas acumuladas pela sucessão inesgotável de fenômenos, atestadas por nomes respeitabilíssimos em todos os países do mundo, surjam, de quando em quando, tentando negar a evidência dos fatos espíritas, os negativistas de todos os matizes, sepultados em velhos preconceitos e absurdas concepções.

Faz pouco tempo, um semanário católico de Minas Gerais, procurando contestar as comunicações mediúnicas de Francisco Cândido Xavier negou terminantemente a possibilidade do fenômeno e declarou que William Crookes, "apesar de vítima da mais sensacional mistificação espírita de todos os tempos, jamais admitiu a hipótese espírita".          
Compreende-se que se combata a doutrina, como filosofia ou como religião, mesmo porque outra coisa não se poderá esperar do dogmatismo ferrenho, mas o que não se compreende é a negativa sistemática e apriorística dos fatos, sem que seja precedida de uma investigação honesta, de uma pesquisa minuciosa e isenta de partidarismo.

O Dr. José Lapponi, insuspeitíssimo como católico e como médico dos papas Leão XIII e Pio X, sem abandonar os preconceitos e os pontos de vista dos chefes de sua religião, foi forçado, todavia, a reconhecer e a proclamar a comunicação dos Espíritos, em sua obra ‘O hipnotismo e o Espiritismo’, edição francesa de 1907, da Livraria Acadêmica, de Paris.

É um livro, cuja leitura é recomendável a todos os católicos do Brasil, não para que adotem a verdade espírita, mas para que nunca mais abram a bOca para negar a existência de fenômenos Irrecusáveis produzidos pelos Espíritos.

O Dr. José Lapponi, embora condene com veemência e sem reservas a prática do Espiritismo, aliás ilógica e incoerentemente, conforme se verá nesta série de artigos, admitiu e reconheceu integralmente a hipótese, não somente citando e transcrevendo fatos que ele denomina de "prodígios espíritas", mas referindo-se, igualmente, aos homens de notável saber que pesquisaram e obtiveram a confirmação desses prodígios.

Entre os testemunhos e partidários mais conhecidos do Espiritismo, diz Lapponi, limitaremos a citar os seguintes: os poetas e escritores Walter Scott, Victor Hugo, Victorien Sardou, Maxime d' Azeglio, Louis Capuana; os professores Scarpa; Damiani, Brofferio, Mamiani, Gerosa, Hoffmann; os ministros e homens de Estado Gladstone, Balfour, Lincoln, de Giers, Aksakof, Eula; os matemáticos Wynne, Auguste de Morgan, Filopanti; os astrônomos Zoellner, Challis, Flammarion; os físicos Lodge, Tyndall, Thurie, Fechner, Crookes; os químicos Humphry Davy, Butlerof, Hare, Mapes; os naturaliatas Dauton, Barkus, Wagner, Perry, Richardson, James SuUy, Richet; os antropologistas L. Ferri, Morselli, C. Lombroso; e outros, constituindo uma lista muito mais completa, cujos nomes se encontram no livro de G. Athius - Idea vera dello Spiritismo.

Propositadamente, no artigo de hoje, vamos transcrever a opinião do Dr. José Lapponi, sobre William Crookes e as suas experiências.

Refere-se ele ao grande sábio inglês nos seguintes termos: - "físico igual aos maiores do mundo inteiro; que, aos vinte anos de idade, já havia apresentado importantes trabalhos sobre a polarização da luz que, mais tarde, publicou trabalhos magníficos sobre os espectros luminosos dos corpos celestes; que inventou o fotômetro de polarização e o microspectroscópio; que escreveu obras notáveis sobre a química, especialmente um trabalho de análise que se tornou clássico; que fez descobertas preciosas em astronomia e que contribuiu grandemente para os progressos da fotografia celeste; que foi enviado pelo Governo inglês a Oran para estudar um eclipse do Sol; que se distinguiu nos estudos da medicina, da higiene pública e das ciências naturais; que inventou um processo de amalgamação metálica por meio do sódio, processo empregado comumente hoje para a extração do ouro; que descobriu um corpo novo, o tálio; e que, enfim, revelando à ciência o estado-radiante da matéria, abriu caminho para a descoberta dos raios Roentgen que se empregam agora para fotografar o que se chama o invisível. Esse homem, de inteligência tão alta e de ciência tão vasta, que passou sua vida a interrogar com vigor extremo os segredos mais árduos da Natureza, foi quem submeteu a um exame minucioso os fenômenos espíritas sob a crítica severa da experimentação moderna, assistido, nessas pesquisas, de dois outros físicos de valor, Wílliam Huggins e Ed. W. Cox.

Com o auxílio de instrumentos de precisão e de registradores automáticos, Crookes examinou no seu mínimo detalhe, até as menores particularidades, fenômenos produzidos sob seus olhos. Ele experimentou, alternativamente, nas trevas e em pleno dia, fora e dentro das salas por ele escolhidas, à luz elétrica e à luz fosfórica. Sempre assistia a todos os preparativos dos médiuns, inclusive os referentes ao seu vestuário, para assegurar-se de que nada aí se ocultava. Por meio de tela metálica envolvia certos aparelhos que deviam receber a influência dos médiuns. Ele mesmo comprava, examinava e dispunha as mesas destinadas às experiências. Ora, depois de ter estudado os fenômenos espíritas, através de todo Esse aparelhamento de precauções e com o maior ceticismo científico, Crookes se viu obrigado a repetir, lealmente, o que, antes dele, Alfredo Russel Wallace, o inventor da célebre hipótese da seleção natural, já havia dito: "Adquiri a prova certa da realidade dos fenômenos espíritas".

Lapponi, nunca é demais repetir, médico dos papas Leão XIII e Pio X, depois de se referir, pela maneira acima transmitida, à honestidade, e à segurança com que Crookes reconheceu a realidade do Espiritismo, acentua que ele, nesses momentos, não tinha alteradas as suas funções cerebrais, tanto mais quanto, anos depois, aquele sábio inglês, apresentava o resultado das suas descobertas sobre o estado radiante da matéria.

É lamentável, portanto, que depois de um testemunho desse porte, ainda se ouse afirmar que William Crookes foi vítima de uma sensacional mistificação e que os fenômenos espíritas são o produto do embuste e da sofisticaria.

Em nome de falazes preconceitos, arma-se a fogueira para queimar o sábio que, apoiado na ciência, afirma soberanamente a verdade.

É a repetição da história...


O Dr. José Lapponi
Médico dos Papas Leão XII e Pio X, e o Espiritismo – Parte 2
por Michaelus (Miguel Timponi)
Reformador (FEB) Abril 1944


No artigo anterior transcrevemos as referências do Dr. José Lapponi a William Crookes, pelas quais se positiva que esse sábio inglês não poderia ter sido vítima de ilusões, alucinações e mistificações, quando entrou a pesquisar, com todas as cautelas e todos os rigores científicos, o fenômeno espírita. .

"Seria absurdo, diz Lapponi, admitir que tantos fatos, que nos são contados por tantos escritores de todas as épocas, desde a mais remota antiguidade até nossos dias, e de todos os países, desde os mais bárbaros aos mais civilizados, - relativamente ao comércio possível dos vivos com os seres imateriais, que tudo isso não seja senão o produto de cérebros doentes. Não é absolutamente crível, em verdade, que, sobre um ponto tão importante, homens eminentes de todos os tempos e de todos os países tenham tido ilusões ou alucinações do mesmo gênero, formadas mais ou menos sobre o mesmo modelo. E não seria absurdo menor admitir que, desde mais de meio século, um número enorme de pessoas, quase nossas contemporâneas, em regiões diversas, em idades diversas, em condições pessoais diversas e em graus diversos de cultura mental, tenham sido vítimas de um mesmo gênero de alucinações e de ilusões, com a repetição constante de certos fatos".

E Lapponi conclui: - "Nossa opinião sobre esse assunto se harmoniza com a do professor Charles Richet quando escreveu que é coisa inadmissível que pessoas ilustres, ocupando uma posição científica e social eminente, e de uma moralidade acima de qualquer suspeição, tenham empenhado a palavra, em todas as partes do mundo, para contar fatos mentirosos e divulgar imprudentemente imposturas, sem nenhum interesse e sem qualquer proveito".

"Diante disso, com isso e depois disso", o dogmatismo impenitente, enclausurado no círculo estreito da sua obstinação, não terá outro argumento senão afirmar que o médico dos papas foi, igualmente, preso de uma ilusão ou alucinação, ou vítima de um desequilíbrio mental...

Lapponi, no seu estudo médico crítico catalogou uma série enorme de fatos e fenômenos, como ponto de partida de suas observações. Vamos transcrever alguns dEles, literalmente, começando pelo célebre caso ocorrido com uma família americana, pertencente à Igreja episcopal metodista, que fora morar numa casa da cidade de Hydesville, no Estado de Nova-York, "Essa família se compunha de M. John Fox, de sua mulher e de suas três filhas, das quais, a penúltima, Margarida, tinha 15 anos e a última, Catarina, 12 anos de idade. Todos quantos conheceram essa família declararam sempre que seus membros eram de uma conduta exemplar e, absolutamente, incapazes de mentira ou de fraude; e todo o passado dos Fox, tal como pode ser reconstituído, confirma inteiramente essas declarações.”

A família Fox mal se havia instalado em sua nova residência, quando a mais velha das três filhas se casou. Poucos dias após o casamento, eis que, repentinamente, as paredes... e os tetos, nos quartos vizinhos daquele que os Fox tinham o hábito de ocupar começaram a produzir ruídos singulares. Nesses quartos, após os ruídos, os móveis eram encontrados fora dos seus lugares ou em desordem, embora fosse certo que nenhuma pessoa estranha aí houvesse penetrado. Depois, as duas mocinhas, principalmente durante a noite, começaram a sentir mãos invisíveis, que lhes corriam sobre o corpo. Todos os esforços tentados pelos Fox para descobrir e compreender a causa desses fenômenos extraordinários resultaram 'inúteis. Nos primeiros dias, suspeitava-se de alguma farsa grosseira organizada pelos vizinhos; mas reconheceram logo que essa hipótese era impossível e acabaram julgando-se vítimas de uma obra diabólica. Pouco a pouco, entretanto, habituaram-se a esses ruídos e a essas desordenadas mudanças de móveis. E as duas mocinhas, por sua vez, passaram a divertir-se com o autor invisível desses fenômenos, a quem apelidaram de Pé-Roto (Pied-Fourchu).

Uma tarde, a pequena Catarina Fox divertia-se em fazer estalar seus dedos e teve a fantasia de convidar o misterioso Pé-Roto a fazer a mesma coisa. A seguir, um ruído em tudo semelhante foi repetido, ao lado dela, um número igual de vezes. A menina, estupefata, fez, então, outros movimentos com seus dedos, mas sem produzir nenhum ruído. E ela descobriu, com uma nova estupefação, que a cada um desses movimentos silenciosos de suas mãos, respondia um pequeno ruído de origem desconhecida. Apressou-se em chamar sua mãe para lhe fazer verificar que o autor dos ruídos não somente possuía ouvidos para ouvir, mas também olhos para ver.

Mme. Fox, não menos assustada que sua filha, convidou o ser invisível a contar até 10: imediatamente, ela ouviu bater dez pancadas. Gradualmente, uma linguagem convencional se estabeleceu entre os Fox e o espírito; a todas as perguntas que se lhe faziam o espírito respondia com muita precisão, sempre por meio de pancadas invisíveis. Quando se lhe perguntava se era um homem, nada respondia; mas quando se lhe perguntava se era um espírito, algumas pancadas nítidas e rápidas se faziam ouvir, as quais, na linguagem convencionada, correspondiam a uma afirmativa. Numerosos vizinhos foram chamados a identificar os diversos fenômenos, aqui apontados em resumo. A todos o autor desses fenômenos declarou, explicitamente e diversas vezes, que ele era um espírito. Foi assim que nasceu na América o Espiritismo moderno".

O fato acima narrado por Lapponi, já conhecido nos anais do Espiritismo, assinala o início das pesquisas sérias realizadas na América do Norte e o advento da nova doutrina nesse país.

O Dr. José Lapponi
Médico dos Papas Leão XII e Pio X, e o Espiritismo – Parte 3
por Michaelus (Miguel Timponi)
Reformador (FEB) Maio 1944

Prosseguimos hoje na transcrição de alguns dos fatos citados pelo Dr. José Lapponi em sua obra: "O hipnotismo e o espiritismo".

"Nos últimos meses do ano de 1905, vários jornais italianos, e entre os mais sérios, fizeram alusão a uma série nova da fenômenos maravilhosos, que parecem bem encarecer o assunto que estudamos. Esses fenômenos não podem ser negados pura e simplesmente, pois sua realidade nos é confirmada pelos atestados formais de Pasquale Berardi, bispo de Ruvo e Bitonto, de J. Vaccaro, arcebispo de Bari, do arcediago Vallarelli de Terlizzi, do questor e de um delegado de Bari, do pastor Victor Garretti, do Dr. Raphael Cotugno, médico em Ruvo, de um redator do "Corriere delle Puglie", de outras testemunhas honradas, minuciosamente interrogadas por esse redator, além de um certo número de outras testemunhas, que nos forneceram sobre os fatos em questão notícias particulares.

Esses fatos dizem respeito aos meninos da família Pansini, ocorridos até o ano de 1901.

Uma tarde, o pequeno Alfredo, então com a idade de cerca de 7 anos, de regresso de uma sessão espírita, a que fora assistir, foi presa de um adormecimento imprevisto, o qual se reproduziu em diversas ocasiões. Durante alguns desses acessos, o menino falava com uma voz estranha, como um verdadeiro orador, e isso, às vezes, em línguas que ignorava absolutamente, como o grego, o latim e o francês; ou, então, recitava, sem um só erro, cantos inteiros da Divina Comédia.

Uma outra tarde, durante um dos seus acessos, Alfredo predisse que, dali a pouco, se regalaria com uma boa ceia. Com efeito, quando a mesa foi posta para toda a família, descobriu-se em um prato mais de meio quilo de salsichas de primeira qualidade; e a mãe encontrou, ainda, no leito do seu filho, uma provisão de bolos e gulodices.      

Colocado, a conselho do bispo Berardi, no pequeno seminário de Bitonto, o menino aí passou alguns anos perfeitamente tranquilos. Mas, mesmo então, não deixava absolutamente de apresentar fenômenos singulares. Quando alguém o olhava, formulando em pensamento uma questão, o pequeno Alfredo, imediatamente, escrevia uma resposta a essa questão.

Um dia, tendo sido convidado para uma sessão espírita, a que assistiam três dos seus professores, aceitou o convite, mas a contragosto. Colocou-se sobre a mesa um triângulo de cartão para designar as letras do alfabeto. A sessão começou. Eis aqui, precisamente repetido, o diálogo que se produziu:

- Quereis responder? perguntou-se ao Espírito invocado.

- Sim, mas é necessário que eu tenha um triângulo de madeira.

*

- Nós não o temos.

- Sim! já fabriquei um que encontrareis na cozinha.

E, com efeito, em uma caçarola descobriu-se um triângulo de madeira, feito com uma precisão extraordinária; nos ângulos, os pregos haviam sido nitidamente cortados ao meio.

Com a idade de cerca de 10 anos, Alfredo deixou o pensionato para voltar ao seio de sua família. Então, tiveram lugar novos fenômenos, a que foram sujeitos esse menino e seu pequeno irmão Paulo, de 8 anos de idade.

Achavam-se os dois meninos, um dia, em Ruvo, às 9 horas da manhã; às 9 1/2 horas, sem saber como nem porquê. Eles se achavam em Molfetta, diante do convento dos Capuchinhos.

- Um outro dia, cerca de meio dia e meio, a família dos Pansini se preparava para o jantar; mandou-se o pequeno Paulo comprar vinho. Meia hora se passou sem que o menino voltasse; depois, ao fim desse tempo, seu irmão Alfredo desapareceu também instantaneamente. A uma hora os dois garotos se encontravam no mar, em uma barca, perto de Barbetta, dirigindo-se para Trinitápoli. Espantados, puseram-se a chorar de tal modo que o patrão da barca, que dizia ter sido pago por um desconhecido para os conduzir, voltou as velas e os conduziu para terra. Um trabalhador, que os encontrou ao desembarque, ofereceu-se para reconduzi-los até Ruvo, onde chegaram nesse mesmo dia, cerca de 3 1/2 horas.

Nos dias seguintes, sempre da mesma maneira, instantânea e Inexplicavelmente, os dois meninos eram transportados, ora a Bisceglie, a Giosvinazzo, ora a Mariotta e Terlizzi; eram reconduzidos a Ruvo, desses diversos lugares, por amigos de sua família ou por ordem das autoridades locais.

Certo dia, à uma hora e trinta e cinco minutos da tarde, os dois meninos se achavam na praça de Ruvo; à uma hora e três quartos, dez minutos depois, eles estavam em Trani, diante da porta da residência de um dos seus tios, M. Jeronymo Maggiore. Alfredo se encontrava em estado de hipnose. Interrogado, respondeu precisamente a toda sorte de questões difíceis, em presença de numerosas testemunhas.

Entre outras coisas, anunciou que não poderia absolutamente regressar a Ruvo no dia seguinte, como se havia projetado, mas somente ao fim de 15 dias. No dia seguinte, o cavalo dos Maggiore se encontrava doente; a tia dos meninos alugou um outro cavalo para reconduzir seus sobrinhos a Ruvo. Mas os garotos, apenas restituídos aos seus pais, desapareceram novamente e, novamente, alguns minutos depois, apareciam em Trani. Remetidos a Ruvo, desapareceram uma terceira vez e, dessa vez, foram transportados a Bisceglie. Aí, as autoridades, renunciando a lutar contra forças superiores, os conduziram a Trani, onde aguardaram a expiração dos 15 dias fixados.            .

Preocupada com esses fatos, a mãe dos dois meninos dirigiu-se com eles para a residência do bispo Berardi, Implorando que fizesse readmitir Alfredo ao pequeno seminário. Enquanto o bispo e a mãe conversavam, estando todas as portas fechadas, os dois garotos desapareceram, uma vez mais, instantaneamente.

A maior parte desses fenômenos singulares nos foi confirmada, como já dissemos, por numerosos testemunhos; e o bispo Berardi teve a amabilidade de me enviar uma relação completa escrita pelo próprio Alfredo Pansini."

Não resta a menor dúvida de que os fatos acima narrados no livro do Dr. José Lapponi revelam fenômenos extraordinários e desconcertantes. Eles podem, realmente, assombrar e fazer tremer os descrentes. Mas os espíritas, que conhecem, estudam e observam a atividade do mundo invisível, encontram em fatos semelhantes farta messe de ensinamentos e de advertências, sem temor do demônio...

E Lapponi, afinal, pergunta: - Temos necessidade de acrescentar que, no caso desses dois irmãos, o fato mais surpreendente e mais inexplicável é a transladação instantânea, ou, pelo menos, muito rápida, dos corpos dos dois garotos a distâncias de vários quilômetros?

O Dr. José Lapponi
Médico dos Papas Leão XII e Pio X, e o Espiritismo – Parte 4
por Michaelus (Miguel Timponi)
Reformador (FEB) Junho 1944

Continuando nas suas narrativas, no Capítulo III do seu livro “O Hipnotismo e o Espiritismo", Lapponi, em resumo, descreve e passa em revista os fatos que, comumente, ocorrem nas sessões espíritas, dando-os como reais e incontestáveis, através de testemunhos, cuja credibilidade não pode ser posta em dúvida.

Assim, entre outras referências aos fatos que ocorrem nessas sessões, Lapponi faz a seguinte: - "De repente, com surpresa extrema dos assistentes, a pessoa do médium parece desmesuradamente aumentada ou desmesuradamente diminuída, e sempre sem nenhuma dissonância nas proporções. Essa mudança de porte persiste até que todos os assistentes a tenham podido verificar apalpando ou medindo. Depois, assenta-se o médium em uma cadeira ou em uma mesa; a seguir vê-se que ele começa a elevar-se lentamente até tocar com a cabeça o teto da sala. Uma auréola luminosa envolve sua cabeça ou toda sua pessoa. Assim permanece em equilíbrio no ar, durante oito ou dez minutos; depois, lentamente ou violentamente, o móvel que o mantém o leva para uma das janelas da sala. À sua aproximação, a janela se abre espontaneamente; o médium passa, transporta-se para fora e, em seguida, torna a entrar, a vista de todos, por uma outra janela, que, do mesmo modo, espontaneamente, se abre à sua passagem. O fato se renova diversas vezes com algumas modificações de detalhes.      

Enquanto o espectador maravilhado contempla esses prodígios, as luzes se reacendem espontaneamente, e cada um sente perpassar-lhe pelo corpo um sopro frio ou quente. Um vento estranho entra pelas fendas das vestes e ora intumesce as mangas, ora os bolsos ou as pernas das calças, como se quisesse envolver inteiramente a pessoa. Ao mesmo tempo, mãos invisíveis surgem, agitam-se, suspendem com insistência as vestes dos assistentes; a um tomam o relógio, a outro o lenço; e esses diversos objetos são encontrados, em seguida, nos bolsos de outros assistentes, na extremidade oposta da sala. Do mesmo modo, outras mãos invisíveis apertam as mãos das pessoas presentes, apalpam-lhes os braços, as espáduas, as pernas, os joelhos; a um fazem uma carícia, a outro puxam a barba ou os cabelos; lançam por terra o chapéu de um, mancham o rosto e as mãos de outro com matérias corantes, bocas invisíveis distribuem beijos que deixam sua impressão no lugar tocado; e a sensação desses beijos ora é agradável, ora infecta e repugnante.

Para certas pessoas, os autores misteriosos dessas maravilhas mostram uma simpatia especial; essas pessoas, de repente, veem cair sobre seus joelhos buquês de flores, caixas de bombons e outros presentes diversos, de procedência desconhecida. Senhoras que haviam começado um trabalho delicado o encontram, de repente, inteiramente terminado.

Fastidiosa, sem dúvida, seria a transcrição de todos os fenômenos apontados por Lapponi e que ocorrem comumente nas sessões espíritas. O que nos importa é a sua opinião insuspeita como médico, como escritor e como católico.

Curioso é, porém, que ele próprio se antecipa às críticas ligeiras dos incrédulos, que são as mesmas, que, normalmente se fazem aos espíritas, quando esses apresentam e observam casos semelhantes do espiritismo experimental ou científico.

"Perguntaram-me, algumas vezes, diz Lapponi, se eu mesmo, pessoalmente, cheguei a verificar a realidade e a exatidão dos fatos maravilhosos que acabo de descrever. Com toda a franqueza, tenho sido obrigado a responder negativamente, pois o fato é que nunca encontrei oportunidade e nem ocasião de proceder ao exame sério dos fenômenos do espiritismo, com as indispensáveis precauções, com o auxílio das pessoas e dos aparelhamentos necessários.

Mas espero que a minha falta de experiência pessoal em nada diminua a realidade dos fatos referidos, nem a exatidão das narrativas que me têm sido dadas; da mesma maneira que minha falta de experiência pessoal em nada diminui ou afeta a existência real do Estreito de Magalhães, do Istmo de Panamá e dos Bancos da Terra-Nova; ou, ainda, da mesma maneira que a autenticidade das descrições médicas de certas doenças peculiares aos trópicos em nada fica diminuída pela circunstância de nunca ter tido eu mesmo a oportunidade de estudar essas doenças ..

De resto, para aqueles que querem deliberadamente e a todo preço que o Espiritismo seja uma fábula, é e deve ser indiferente que eu tenha ou não pessoalmente observado os fatos em questão; num e noutro caso nada haverá que os faça admitir.

Se eu declaro não ter nunca, pessoalmente, observado esses fatos, os seus negadores concluirão, uma vez mais, que esses fatos não existem e zombarão, além disso, da credibilidade incompreensível com que aceito as referências e os testemunhos de outras pessoas, ainda que sejam dignas de toda confiança e que a sua competência seja indiscutível. Se, de outro lado, eu tivesse reconhecido que me havia sido dado pessoalmente constatar, verificar, controlar e estudar os fatos a que me tenho referido, os mesmos céticos não deixariam absolutamente de zombar do mesmo modo, dizendo que, eu também, depois de tantos outros, me fiz iludir ou me deixei enganar grosseiramente.

Contra as ideias preconcebidas e a obstinação desses negadores a priori, que valor poderiam ter nossas afirmativas e nossos testemunhos? Somente eles, esses homens superiores, em presença de certos fatos inexplicáveis para o resto dos homens, teriam sabido descobrir o segredo da impostura! A todos os outros as ciladas poderão ser armadas; somente eles terão sempre estatura e engenho para frustra-las!"

Nesse particular, Lapponi tem toda a razão.

Por isso mesmo, William Crookes, ainda hoje vítima de semelhantes remoques, pergunta: -  Rejeitar superficialmente o testemunho de homens, que, pela sua profissão, são encarregados de examinar os fatos e de apresentar o seu resultado, não equivale a depreciar todo o testemunho humano, de qualquer peso que possa ser?

O Dr. José Lapponi
Médico dos Papas Leão XII e Pio X, e o Espiritismo – Parte 5
por Michaelus (Miguel Timponi)
Reformador (FEB) Julho 1944

Já vimos nos artigos anteriores que Lapponi nenhuma dúvida tem sobre a existência real dos fenômenos espíritas, excluindo, como excluiu, a hipótese de ilusões ou alucinações, tal a respeitabilidade dos testemunhos invocados.

Por igual, exclui a possibilidade da fraude e do embuste quando os fatos são controlados por pessoas de absoluta idoneidade e reconhecida competência, embora admitindo, como, aliás, os próprios espíritas admitem, em muitos casos, a impostura e a mistificação. Como quer que seja, são interessantes e judiciosas as considerações de Lapponi sobre o capítulo das fraudes no Espiritismo. Não podemos furtar-nos ao desejo de transcrevê-las.

"Depois, é preciso observar que todas as relações publicadas sobre as famosas descobertas das fraudes de certos médiuns não concernem nunca senão a algumas das numerosas experiências desses médiuns; de todo o restante, as referências não adiantam uma só palavra. Ainda não é tudo: as explicações que nos dão dessas fraudes são, as mais das vezes, muito insuficientes, indicando-nos, como sendo causa dos fenômenos espíritas, toda sorte de processos absolutamente incapazes de produzirem esses fenômenos. Assim, para citar um só exemplo, nenhum dos relatórios publicados nos permite compreender como Eusápia Paladino, sem nenhum aparelho, e enquanto era segura pelas mãos e pelos pés, estendida sobre um divã, pode, em presença da Sociedade Inglesa de Pesquisas Psíquicas, fazer tocar diversos instrumentos, beliscar as pessoas na outra extremidade de uma sala, sacudir as cortinas das janelas, ou erguer móveis muito pesados, fenômenos todos que foram atestados pelos escritores ingleses negadores do Espiritismo. Esses escritores disseram somente que Eusápia, por uma rápida contorção de uma de suas mãos e de um dos seus pés, conseguia fazer crer às pessoas que o seguravam que tinha as duas mãos e os dois pés presos, quando, na realidade, essas pessoas não lhe seguravam senão uma das mãos e um dos pés. Não é verossímil, em verdade, que ela tenha feito cair em tão grosseira cilada pessoas assaz prudente e avisadas como as que se achavam presentes; admitindo-se mesmo que ela o tivesse conseguido, tendo à sua disposição apenas uma das mãos e um dos pés, é impossível, para produzir as coisas surpreendentes que produziu, que a liberdade de uma das mãos e de um dos pés lhe fosse suficiente. Para produzir esses prodígios, por si só, teria sido necessário que ela dispusesse de cem braços de Briareu, ou que, pelo menos, seus membros pudessem, alternativamente, alongar-se e encolher-se como os tentáculos do polvo... Que confiança podemos depositar, nessas condições, em certas demonstrações de descobertas de fraudes?

De resto, há fenômenos espíritas devidamente verificados e que não poderiam ser reproduzidos por nenhum artifício de prestidigitação ou por nenhuma fraude. Um prestidigitador francês dos mais hábeis, M. J., declarou formalmente que lhe era impossível conceber que a destreza, a habilidade e o engenho, mesmo levados aos seus últimos limites, pudessem, realizar vários dos efeitos maravilhosos do espiritismo. E M. Bellachini, prestidigitador da corte de Berlim, por sua vez, declara que é absolutamente insensato sustentar que a arte de prestidigitação pode realizar com êxito uma grande parte dos fenômenos espíritas.

Acrescentemos, ainda, que, embora muito se tenha falado da possibilidade de reproduzir por meio dos artifícios da prestidigitação, os fenômenos espíritas, ninguém jamais indicou quais possam ser esses artifícios. Mas, por outro lado, é crível que, entre tantas pessoas iniciadas nos mistérios do Espiritismo, nenhuma tenha sentido um desgosto por tantas trapaças e não tenha tido nunca a tentação de tudo revelar ao público? É crível que nenhum desses numerosos iniciados não tenha imaginado que tais revelações poderiam proporcionar-lhe uma boa fonte de rendas, ou, se isso pensaram, é crível que tenham afastado a tentação de ganhar assim, honestamente, dinheiro, em lugar de continuar a ganhá-lo vergonhosamente pela fraude? Recentemente, personagens como Léo Taxil, Margiotta e outros, para ganhar dinheiro, não tiveram temor de praticar enormes trapaças, oferecendo ao público paciente, pretendidas revelações sobre os mistérios do franco-maçonaria. Como nenhum desses que estão ao corrente dos segredos e das fraudes espíritas não pensou, de modo algum, em fazer revelações sinceras que lhe teriam valido infalivelmente, não somente o renome e o dinheiro, mas a aprovação de todas
as pessoas honestas? E depois, enfim, é crível que as numerosas pessoas que se entregam às práticas espíritas na intimidade, em família, é crível que essas pessoas queiram, enganar-se a si mesmas, recorrendo a mecanismos e artifícios, para obter efeitos que elas atribuem aos espíritos, embora saibam que esses efeitos são o produto da sua vontade, obtidos por meio de expedientes que não têm nada de misteriosos e nem de sobrenatural? É crível que essas pessoas, quando desejam interrogar, respeitosamente, o espírito de um parente ou de um amigo, consintam em zombar delas mesmas com essas respostas confusas, estúpidas, grosseiras, obscenas e fora de propósito, que, segundo a afirmação de todos os espíritas, se misturam muitas vezes com as respostas sérias dos pretensos espíritos? Isso me parece tão absurdo que essa única consideração me bastaria para afirmar que não é absolutamente possível obter todos os fenômenos do Espiritismo pelos simples produto da trapaça, das fraudes dos médiuns e dos seus comparsas".

Na verdade, essas perguntas e essas indagações de Lapponi revestem-se de bom senso e de critério, por isso que passaram pelo crivo da boa razão, da lógica e da análise serena dos fatos.

Mas Lapponi, como veremos a seguir, não se deteve nessas considerações para afastar a hipótese do embuste, da trapaça e das fraudes.

O Dr. José Lapponi
Médico dos Papas Leão XII e Pio X, e o Espiritismo – Parte 6
por Michaelus (Miguel Timponi)
Reformador (FEB) Agosto 1944

Como vimos, no artigo anterior, Lapponi analisa à luz dá razão e da lógica os fatos do Espiritismo, para excluir a hipótese de manobras fraudulentas e de artifícios usados pelos prestigitadores.

Prosseguimos hoje transcrevendo, ainda, judiciosos trechos de sua obra, em que Lapponi responde magistralmente às críticas dos contraditores do Espiritismo.

"Quanto às mesas girantes, diz Lapponi, os negadores do Espiritismo admitem que, entre as pessoas que formam a cadeia mediúnica, sempre se encontra pelo menos uma que, em consequência da atenção prolongada que se impôs, do vivo desejo de ver realizado o fenômeno, cai, pelo menos momentaneamente, em estado de hipnose. Nesse estado, sem a consciência dos seus atos, e sem pensar em nada mais senão na sua ideia fixa da rotação o móvel, ela imprime inconscientemente ao móvel o movimento esperado, com essa força considerável que adquirem muitas vezes os indivíduos hipnotizados. Depois, ao passo que o móvel começa a movimentar-se, as outras pessoas que formam a cadeia, inconscientemente também, ajudam o movimento, acreditando acompanhá-lo. Entretanto, a pessoa que foi a causa involuntária do fenômeno não tarda em readquirir sua consciência e, não tendo nenhuma lembrança do ato realizado por ela em estado de hipnose, ignora que foi ela mesma que pôs a mesa em movimento e, com a melhor boa-fé do mundo, rejeita toda acusação de ardil ou artifício que se faz contra ela e o médium. 

Assim, esses fenômenos das mesas girantes não seriam nada mais, segundo certos sábios, do que manobras involuntárias e inconscientes, mas, de qualquer maneira, manobras.

Foi a essas conclusões que chegou, em um relatório apresentado em março de 1876 à Sociedade de Física da Universidade de São Petersburgo, uma comissão nomeada por essa sociedade para examinar e explicar os fenômenos espíritas. Depois de ter negado a realidade de um grande número dos fenômenos descritos pelos espíritas, a comissão explicou outros pelas ilusões, alucinações ou pelos artifícios da prestidigitação; para alguns outros, ela admitiu a possibilidade de uma impostura involuntária e inconsciente; e para as mesas girantes, em particular, ela adotou a explicação a que já nos referimos.

Mas podemos nós aceitar plenamente esse veredito decretado por uma reunião de homens de alto valor e infinitamente respeitáveis em todos os sentidos? A eu ver, não podemos. Não podemos esquecer, principio, que conclusões negativas do mesmo gênero foram proclamadas, antes, pelas mais altas personalidades científicas, quando entraram a examinar a realidade, hoje absolutamente incontestável, dos fenômenos hipnóticos.

No que concerne os fenômenos espíritas, parece-nos manifesto que, se mais de uma vez, e sobretudo em certos casos em que esses fenômenos tiveram um caráter de exibição espetacular, foram produzidos por meio de artifícios de prestidigitação mais u menos hábeis, isso não basta absolutamente "ara que sejamos autorizados a concluir que deve ser o mesmo, indistintamente, em todos casos. Não é, porventura, uma fatalidade da coisas humanas, que em tudo se mistura sempre uma parte de ilusão e uma parte de fraude? A própria medicina tem os seus charlatães; a Ciência tem os seus falsos apóstolos; os bancos veem seus títulos de crédito muitas vezes falsificadas. Mas, porque em tudo isso se verificam alterações da verdade, deveremos concluir que tudo mais é falso? Uma dedução desse gênero seria tanto mais ilógica e inadmissível, sobre a questão do Espiritismo, quanto é certo que, em um grande número de casos, os fenômenos espíritas se produzem por meio de médiuns ignorantes, ingênuos, e, às vezes de uma imbecilidade evidente.

E que, se entre aqueles que se têm ocupado do Espiritismo, alguns procuraram tirar um proveito material, ou transformar as experiências em um recreio de sociedade para surpreender os espectadores, é bem certo que não se poderia afirmar a mesma coisa da maioria desses milhões de pessoas que praticam hoje familiarmente o Espiritismo e que o têm sinceramente por uma manifestação venerada e sagrada.

Para estabelecer essa afirmação, bastar-nos-á lembrar que até aqui ninguém ousou tratar de trapaças os fenômenos espíritas observados.  

O Dr. José Lapponi
Médico dos Papas Leão XII e Pio X, e o Espiritismo – Parte 7
por Michaelus (Miguel Timponi)
Reformador (FEB) Setembro 1944

Lapponi, como se viu no artigo anterior, criticou com extrema veemência as conclusões do relatório da comissão de sábios, nomeada pela Sociedade de Física da Universidade de Petersburgo, achando-as pueris e indignas daqueles que a formularam.

Prosseguindo, com a mesma franqueza e com o mesmo vigor de linguagem, Lapponi acrescenta outras considerações oportunas e sensatas:

"As conclusões da comissão nomeada pela Sociedade de Física da Universidade de Petersburgo, por último, não nos parece que, possam verdadeiramente ser tomadas a sério, atendendo-se a que, a princípio, as experiências de que elas resultaram foram praticadas com prevenções abertamente hostis contra dois sábios, Wagner e Butlerof, que se haviam declarado adeptos do Espiritismo; atendendo-se a que, em segundo lugar, os médiuns escolhidos não eram muito desenvolvidos e nem mesmo de uma lealdade indubitável; atendendo-se a que, em terceiro lugar, as experiências não foram executadas nas formas e dentro de um tempo razoável - tendo a comissão renunciado a prosseguir, após o insucesso das primeiras provas; e atendendo-se a que, finalmente, contra essas experiências e suas conclusões, surgiram imediatamente enérgicos protestos da parte de numerosos sábios, dos quais muitos, como V. Markof, eram opostos ao Espiritismo, protestos esses que a comissão deixou sem a sombra de uma resposta.

Às explicações acima apontadas, devemos acrescentar a que se pretendeu dar às comunicações escritas dos Espíritos. Asseverou-se que um estado inconsciente de hipnose poderia explicar certas comunicações escritas, em caracteres diferentes, pela mão de um mesmo médium. A substituição da personalidade, operada pela sugestão, afirmou-se, pode muito bem mudar a maneira de escrever, como muda, muitas vezes, a maneira de falar. Charcot citou um caso de escrita inconsciente em estado de hipnose. E a mesma explicação foi invocada para interpretar o caso dessas escritas que certos médiuns têm encontrado sobre folhas de papel, em branco, que haviam encerrado dentro de uma gaveta. Pretendeu-se que esses médiuns haviam, eles próprios, sem nenhuma percepção, escrito sobre as folhas, em um acesso de sonambulismo.

Responderemos, inicialmente, que a hipótese de escrita inconsciente não se aplica aos casos, assaz frequentes, em que os escritos espíritas contém noções ignoradas dos médiuns; por exemplo, quando os médiuns notoriamente analfabetos escrevem páginas inteiras em línguas que lhes são desconhecidas. 

Mas, de resto, de que valor podem ser essas hipóteses de um estado hipnótico, ou, ainda, de uma trapaça voluntária, quando se verifica, em presença de vinte pessoas, um pedaço de giz que se move por si mesmo, ou o bastãozinho que, sem que ninguém o segure, escreve sobre a areia, ou, ainda, uma ardósia que, colocada entre duas placas de mármore ou de cristal se cobre de escritos, certo de que ninguém aí pôs a mão? De que valor podem ser essas hipóteses para explicar escritas produzidas por duas pessoas distantes uma da outra, escritas que, cada uma, insuladamente, não parece ter nenhum sentido e que, entre si confrontadas, se completam da melhor maneira deste mundo?

Enfim, se, entre os fatos inumeráveis do Espiritismo, muitos se prestam para a hipótese sugerida de ser o produto da trapaça ou de qualquer fenômeno fisiológico involuntário e inconsciente, outros há, e de uma realidade incontestável, que não poderiam ser explicados por nenhum ardil, por nenhuma arte e por nenhuma ciência.

Esses fatos, seguramente, não são muito numerosos. São, até mesmo, raros, proporcionalmente ao número de pessoas que se entregam à prática do Espiritismo, embora não se encontrem sempre médiuns verdadeiros e sérios. Esses fatos, talvez, não representam senão uma parte muito pequena dos fenômenos que se quer atribuir ao Espiritismo. Levemos ao limite extremo as nossas concessões aos cépticos; concordemos que, entre os prodígios operados por meio dos médiuns verdadeiros, conscienciosos e de boa fé, mesmo nas circunstâncias mais favoráveis, apenas a décima ou mesmo a vigésima parte provêm realmente dos Espíritos. Mas a questão do número, aqui, não poderia ter nenhuma Influência sobre a questão da natureza dos fenômenos espíritas. Mesmo que não houvesse ocorrido senão um único fenômeno espírita original e autêntico, a verificação desse único fenômeno bastaria para deixar em aberto o problema da sua natureza e da sua origem. Ora, eu afirmo que a crítica moderna mais severa, aquela que hoje é denominada de hipercrítica, não pode negar a existência de um certo número, por pequeno que seja, de verdadeiros fenômenos espíritas, a menos que ela recuse ser lógica e sincera, de acordo com os seus métodos gerais de investigação, a menos que prefira fechar os olhos à plena luz do Sol.

E são precisamente esses fatos autênticos, tão raros e pouco numerosos, conforme se queira, que constituem o Espiritismo moderno e que exigem examinemos o problema de sua natureza.

Pelo que concerne à natureza desses fenômenos, a Ciência constrange-se em declarar que não somente eles são superiores, mas também absolutamente contrários às leis mais gerais e mais conhecidas da natureza cósmica. Com efeito, a predição exata de certos acontecimentos futuros, estranhos à personalidade que prediz e dependendo de fatos eminentemente contingentes; a reprodução exata da letra de pessoas há muito tempo falecidas, reprodução obtida sem ensaio e sem preliminar preparação; a revelação dos detalhes de um fato, detalhes inteiramente desconhecidos das pessoas então se ignorava e que se volta a ignorar com a terminação do acesso; a propriedade de locomoção automática que, imprevistamente, adquirem por algum tempo os móveis de uma sala; as mudanças repentinas de peso que sofrem temporariamente os objetos; a produção de clarões, faíscas, sons, sem o auxílio de aparelhos geradores de qualquer espécie; a elevação espontânea de corpos, não obstante seu grande peso, e a propriedade de que eles se revestem, inclinando-se e mantendo-se em posição inclinada, fora do centro ordinário de gravidade estática. Todos esses fatos cuja existência real foi observada, pelo menos uma vez, em condições de autenticidade indubitável, todos esses fatos são tais que não há um homem de bom senso que não seja forçado a considerá-los não somente como superiores, mas também como contrários às leis mais comuns da natureza biológica, psicológica ou física.

Resulta daí a consequência de que, nos fenômenos espíritas e somos obrigados a ver manifestações de ordem preternatural. Em vão pretenderíamos negar a priori, em vão tentaríamos combater a posteriori esse caráter anormal dos fatos do Espiritismo; expulso pela porta, ele entra pela janela. Poder-se-á, se se quiser, restringir seu campo de ação, mas nunca suprimi-lo inteiramente. O sobrenatural, em verdade, mesmo, quando o negamos por palavras, sempre o sentimos em nós, em volta de nós, acima de nós, de todos os lados. O Espiritismo nos demonstra, da forma mais incontestável que se possa desejar, a realidade desse sobrenatural que o racionalismo e o materialismo se esforçam, obstinadamente, desde séculos, mas sempre em vão, por afastar e exterminar. E, - humilhação singular infligida ao orgulho humano pela justiça divina! - eis que os mais assíduos combatentes do sobrenatural sob sua forma bela e nobre, nas casas da religião, estão entre os primeiros a reconhecê-lo, sob sua forma mais baixa e mais abjeta, nos fenômenos do Espiritismo."

O Dr. José Lapponi
Médico dos Papas Leão XII e Pio X, e o Espiritismo – Parte 8  
por Michaelus (Miguel Timponi)
              Reformador (FEB) Setembro 1944

Como verificamos, Lapponi admite, sem reservas, o fenômeno espírita, mas não o concebe como resultante de uma lei natural, contrariamente à doutrina espírita, que baniu definitivamente das suas concepções a ideia do sobrenatural.

Mas não é nosso objetivo, e nem cabe no âmbito desta publicação, estabelecer um debate em torno da natureza da fenomenologia espírita. Bastará que se afirme que o próprio Lapponi transcreve a opinião de William Crookes, mais consentânea com a verdade, segundo a qual, a solução do problema se encontra numa ideia semelhante a que já havia enunciado Santo Agostinho relativa aos milagres, quando dizia que esses se realizam, não contrariamente às leis da Natureza, mas contrariamente ao conhecimento que temos e podemos ter dessas leis.

Como quer que seja, o que cumpre assinalar é que o Dr. José Lapponi, professor, escritor, médico dos papas Leão XIII e Pio X, admite a realidade do fenômeno espírita, repelindo a crítica ligeira dos sábios, que só viram nele o resultado de ardis, manobras fraudulentas, trapaças, embustes, espertezas, ou o fruto de ilusões e alucinações.

Lamentavelmente, porém, depois de ter chegado a tão seguras conclusões, eis que, valendo-se dos mesmos cediços e velhos argumentos, tantas vezes destruídos, entra Lapponi a condenar a prática espírita por atentar contra a saúde e a moral social.

"Nunca, pois, o Espiritismo, diz ele, na prática, poderia ser justificado, sob qualquer pretexto que fosse, em relação à sociedade, à moral e ao bem-estar individual.

A única coisa que, em dadas circunstâncias, poderia ser permitida, seria um estudo daquelas manifestações espíritas que se apresentam espontaneamente e, ainda, sob a condição de que esse estudo fosse feito por pessoas de reconhecida competência, com as autorizações e precauções necessárias. Em casos especiais e mediante as mesmas condições, poderia ser permitido, também, a um sábio de reconhecida competência estudar as manifestações provocadas do Espiritismo para constatar se certos fatos existem realmente, em que medida eles podem ser aceitos e por que meios podem ser distinguidos das fraudes."

Sem nenhuma irreverência, mas tendo em vista tudo quanto transcrevemos, no sentido de expor a maneira franca, vigorosa e brilhante com que aceitou a existência do fenômeno espírita - somos obrigados a reconhecer que, nesse particular, o ilustre médico dos papas, foi presa fácil do temor reverencial... 

Na verdade, essa conclusão não se coaduna com as premissas tão clara e minuciosamente expostas, tanto mais quanto ela incorreu na mesma censura do seu autor, quando advertiu que não se pode a priori, sem estudar e analisar a natureza das coisas, opinar pela sua inexistência ou estabelecer hipóteses inverossímeis e inaceitáveis.

Já está desmoralizado o argumento de que o Espiritismo é uma fábrica de loucos. Essa afirmação, tão do agrado dos que tudo observam pela rama, sem penetrar a fundo no estudo dos problemas, tanto poderá ser verdadeira para o Espiritismo, para qualquer religião, para a Medicina, para a Ciência em geral, como para todas e quaisquer atividades do espírito, máxime as de ordem moral e intelectual.

Mande-se um condutor de veículos por tração animal dirigir de improviso um outro de motor de explosão. Coloque-se um ignorante dentro de um laboratório com ordem de manipular as substâncias químicas ai existentes. Entregue-se a um leigo o bisturi para realizar uma operação cirúrgica. Coloque-se um inepto a trabalhar dentro de uma fábrica de explosivos. Faça-se guindar à cátedra um imbecil sensualizado. Em todos esses casos, estaremos diante de um perigo potencial e mesmo real para o indivíduo e para a sociedade.

Significa isso que para toda e qualquer atividade ou função especializada, há necessidade, igualmente, de aptidões especializadas. O perigo acompanha a criatura humana desde o início da vida. A acompanhar essa lógica estrábica, teríamos que concluir vitoriosamente pela supressão da própria criatura humana.

Mas, ninguém melhor do que os próprios espíritas têm, reiterada e insistentemente, advertido os curiosos, que se entregam à experimentação sem as cautelas necessárias de que se devem cercar, dos sérios perigos a que se expõem.

Todos os escritores espíritas clamam energicamente nesse sentido. Não se pode, observa Denis, contestar que o Espiritismo ofereça perigos aos imprudentes que, sem estudos prévios, sem preparo, sem método nem proteção eficaz, se entregam às investigações ocultas.

"Nenhum progresso, acrescenta Denis, nenhuma descoberta se efetua sem perigos. Se ninguém tivesse, desde a origem dos tempos, ousado aventurar-se no oceano, porque a navegação é arriscada, que teria daí resultado? A Humanidade, fragmentada em diversas famílias, permaneceria insulada nos continentes e teria perdido todo o proveito que aufere das viagens e permutas. O mundo invisível é também um vasto e profundo oceano semeado de escolhos, mas repleto de vida e de riqueza."

Custa a crer que Lapponi, que viu nesse mundo os fatos a que chamou de "prodígios do Espiritismo", concluísse sinceramente pela condenação das experimentações mediúnicas, o que vale dizer, pela supressão definitiva desses prodígios, sob fundamento de um perigo presumido.

Valemo-nos, para tanto afirmar, das próprias considerações de Lapponi, quando revelou que dos numerosos sábios que pesquisaram o fenômeno e que se tornaram adeptos fervorosos do Espiritismo, não consta um só que tenha perdido a sabedoria e que se tenha tornado louco.

Pena é, portanto, que tendo chegado às portas desse deslumbrante palácio, onde anteviu, maravilhado, o prodígio das coisas interiores, recuasse diante desses jorros de luz, como se tivesse feridos os olhos, sem conhecer toda a verdade, todos os recantos admiráveis e majestosos.

Se tivesse penetrado nesse templo; tomando contato com esse novo mundo e conhecendo todos os seus ensinamentos, não afirmaria que somente poderia ser tolerada a manifestação espontânea dos Espíritos, como se fosse possível prescrever-lhes uma disciplina, determinar-lhes uma ordem e impor-lhes uma condição ou proibir-lhes as manifestações.

Por igual, teria verificado que as manifestações espontâneas, que poder algum humano poderia evitar ou vedar, deveriam ser consideradas mais perigosas do que as provocadas, porque essas últimas, em regra, são realizadas pelos iniciados com as cautelas necessárias, e aquelas, pelo imprevisto com que surgem, chocam profundamente, máxime aos descrentes e aos ignorantes do Espiritismo.

Mas o que é curioso e singular é que Lapponi, ele próprio, que endossa e faz reviver essas acusações, reconhece e proclama a sua inanidade, observando o mau vezo dos negadores do Espiritismo, quando afirmou, como vimos, que "os cépticos não deixariam de zombar do mesmo modo, dizendo que eu também, depois de tantos outros, me fiz iludir ou me deixei enganar grosseiramente."

Procuremos distinguir, portanto, no estudo médico crítico de Lapponi, o que o sábio analisou à luz da razão e da Ciência daquilo que concluiu como católico, escravizado às conveniências das suas falsas concepções dogmáticas.

As palavras finais da sua apreciada obra bem o revelam através da transcrição do conselho de Dante:

"Não sede como uma pluma que flutua a todos os ventos e não crede que toda água nos possa lavar! Tendes o Antigo e o Novo Testamento, tendes o Pastor da Igreja, que vela sobre vós: que isso vos baste para a vossa salvação!"

Deus, do alto da sua divindade, terá sorrido bondosamente...

Aí cessou o raciocínio, aí não interveio a lógica, aí desapareceu a Ciência, aí não falou o sábio, ai surgiu, finalmente, o dogma!

Deus não delegou a nenhum homem a sua onipotência e a sua representação na Terra, o que seria uma evidente contradição, tanto mais quanto essa delegação é feita por eleição dos concílios, também de homens, à sua revelia...

Oh plumas que flutuais aos ventos das conveniências humanas! Não crede, realmente, que toda água nos possa lavar, mas só a que jorra límpida, cristalina, luminosa e perenemente da fonte pura! Acima da falibilidade humana está o poder supremo. Digamos, pois, que Deus vela sobre nós e nele está a nossa salvação.