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quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Ressureição é Reencarnação


Ressureição é Reencarnação
Antônio Túlio (Ismael Gomes Braga)
Reformador (FEB) Março de 1943

A Terceira Revelação projeta luz em muitos pontos obscuros das duas Revelações precedentes.

A Bíblia nos fala de Filhos de Deus que tomaram por esposas filhas dos homens, porque estas eram formosas. Noutros lugares nos dá como sinônimo de profeta o título de "homens de Deus". Nada disso é compreensível sem a Revelação Espírita, esclarecendo-nos que Espíritos muito mais adiantados do que os indígenas da terra vieram aqui habitar em missão e trouxeram uma nova civilização para o planeta. Em relação aos primitivos habitantes deste, tais Espíritos eram verdadeiros Filhos de Deus. Igualmente a vinda de grandes missionários, como verdadeiros enviados de Deus, homens muito superiores aos da terra, justifica o título de homens de Deus que a Bíblia frequentemente lhes aplica.

O profeta Isaias declarou que os mortos reviverão. Jesus pergunta aos seus discípulos quem dizem os homens que ele é. Respondem aqueles que as opiniões estão divididas, achando uns que ele é Elias ou João Batista, outros que é ou Jeremias, ou um dos profetas. Os judeus sabiam, portanto, que Jesus não era um simples habitante da Terra e procuravam entender quem sido em outra encarnação missionária, por não poderem perceber que ele era muito maior do que os seus antigos heróis nacionais.

As noções claras sobre a sobrevivência e a vida da alma não existiam, porém, entre os antigos Judeus. Por vezes, suas expressões parecem de materialistas, pois falam em cumprir a lei para viver longos anos na terra. Noutros lugares falam em condenação ou salvação eterna no seio de Abraão. Empregavam a palavra "ressurreição" sem definição clara. Ora supunham que o mesmo corpo ressuscitaria no fim dos tempos, ora achavam que o Espírito retomaria outro corpo, como no caso de suporem que Jesus seria a reencarnação de um dos antigos profetas. Acreditavam que Elias teria de voltar, mas não sabiam como. Jesus declarou que Elias já voltara como João Batista e os discípulos entenderam logo, sem mais Interrogações, que isso era a verdade mas desse exemplo não extraíram um princípio geral. Limitaram-se a crer sem compreender, sem raciocinar sobre a consequência teórica do fato
Afirmado.  

A Igreja teve que firmar dogma sobre a ressurreição e preferiu, infelizmente, a opinião mais popular e menos científica, do reaparecimento do mesmo corpo. Assim, a palavra ficou tendo sentido bem definido, mas com definição errada. Só a Terceira Revelação esclareceu e provou que reencarnação é uma das leis da natureza e que a velha ideia de reaparecer no mundo, depois de morto, expressa antigamente pela palavra ressurreição, é absolutamente verdadeira com um novo corpo, como reencarnação. Logo, ressurreição é sinônimo de reencarnação, doutrina religiosa universal e eterna, que a pouco e pouco se vai tornando verdade demonstrada pela experimentação, isto é, entrando para o domínio muito mais estreito da ciência positiva.

Pela observação dos fatos, espontâneos uns, provocados outros, pela concordância nos depoimentos dos Espíritos que se comunicam em toda a superfície do planeta, pelas recordações que algumas pessoas conservam da encarnação anterior, a reencarnação sai do domínio amplo da fé para o âmbito estreito do conhecimento. O mesmo se deu com a existência e sobrevivência da alma. De crença vaga, matéria de fé, passou para o domínio dos conhecimentos humanos, através de rigorosa experimentação e catalogação de fatos espontâneos observados em todos os tempos e em todos os lugares, entre povos bárbaros, primitivos, selvagens, tanto quanto entre os mais civilizados.

Embora a nossa inteligência seja curta para as coisas imateriais e só consiga bons resultados na observação da matéria, a sobrevivência da alma humana e a sua reencarnação se vão tornando materiais, verificáveis pelos mesmos processos da ciência materialista, porque já se verifica que o Espirito está sempre revestido de um corpo, que em certo sentido é material e em casos especiais pode ser observado pelos sentidos, dando provas concretas da sua presença.

Essa passagem do domínio da fé para o do conhecimento traz consigo imensas consequências para a futura civilização. A Religião e a Ciência estarão sempre de acordo, sem se hostilizarem ou julgarem incompatíveis. Serão as duas asas para os grandes voos do Espírito.

Tudo tende a fundir-se em um todo harmonioso. Religião, filosofia, ciência, moral hão de formar um conjunto único e harmônico para bem de todos, e não técnicas separadas, com seus especialistas divididos.

*

A demonstração de que a palavra "ressurreição", do Cristianismo e do Judaísmo significa na verdade o mesmo que "reencarnação" não é simples minúcia teológica para as sutilezas de discussão escolástica ou acadêmica. Ao contrário, é uma descoberta, dessas que alteram o curso da história do mundo, porque aproxima todas as religiões do Ocidente às grandes Religiões do Oriente. De fato, a grande divergência entre o Cristianismo ortodoxo das três grandes Igrejas cristãs - Católico-Romana, Ortodoxa Grega e Protestante - que ensinam a doutrina das penas eternas, e as grandes religiões do Oriente -- Budismo, Bramanismo e Xintoísmo - que ensinam a salvação universal através das fieiras infinitas de existências do mesmo espírito, está só nesse dogma. Todas as outras divergências decorrem dele.

Uma vez demonstrado que ele está errado, que, na verdade não existem penas eternas mas sim salvação universal; que o Cristianismo ensina, portanto, a mesma doutrina dos filósofos gregos e das revelações orientais, todos se acharão de acordo, todas as Igrejas poderão confraternizar para a obra comum de reformar a humanidade. Já os orientais, não terão razões de nos julgarem bárbaros, nem nós, de julgá-los fanáticos supersticiosos.

Três séculos de missões católicas no Oriente, tratando os povos reencarnacionistas como selvagens, deram resultados muito medíocres. Foi impossível induzir aquelas massas imensas a aceitar a doutrina das penas eternas, a aceitar a crença na graça, na predestinação, na remissão dos pecados e tudo mais que decorre do princípio da existência única. Uma convicção multisecular em contrário, a certeza de que a doutrina reencarnacionista está demonstrada e só ela explica as infinitas diferenças de caráter dos homens e as diferenças de sorte lhes fecham a alma aos dogmas das ortodoxias cristãs.

Verificado que as ortodoxias cristãs realmente estão erradas nesse ponto, não haverá mais repugnância entre o Oriente e o Ocidente em assuntos religiosos; poderemos entrar em fraterna colaboração, permutando ideias e nesse domínio todos temos muito a receber - ocidentais e orientais - e nós do Ocidente mais do que os do Oriente.

É missão do Espiritismo, portanto, aproximar o Cristianismo do Budismo e do Bramanismo, demonstrando que entre as duas grandes correntes religiosas só há diferenças de palavras, que na essência o ensino é o mesmo.

Louis Jacolliot, numa série de livros muito interessantes, já demonstrou que todos os fenômenos do Espiritismo são conhecidíssimos na Índia e já o eram muitos séculos antes de os estudarmos no Ocidente. Cabe ainda ao mesmo Louis Jacolliot a honra de haver estudado as grandes religiões da Índia, e demonstrado que a nossa Bíblia traz as mesmas ideias dos velhos livros hindus, ou, em outras palavras, a unidade da revelação.

Afastadas as diferenças de palavras, reinará a harmonia da essência, o fundo comum. Para lá caminha a humanidade. Tudo avança para a universalização, para a união, para Deus.

Nos domínios da matéria, essa uniformidade já está alcançada. A ciência, a técnica já se aplicam igualmente em todos os países do mundo. Todas as descobertas se universalizam rapidamente. Nesse domínio, tudo é positivo, demonstrável, e não resta campo livre à formação de seitas.

Em filosofia e religião, por serem temas mais abstratos, de mais difícil compreensão para o homem, formaram-se escolas e seitas diferentes; mas, a inteligência progride e a pouco e pouco vai descobrindo os erros que produziam
separações. Uma vez corrigidos esses erros, teremos chegado à união, teremos uma só religião, como já temos uma só ciência.

O conhecimento da doutrina reencarnacionista lança por terra uma série de erros seculares.


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