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quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Falências...


Falências
Arnaldo S. Thiago
Reformador (FEB) Março 1943

Anda presentemente o mundo tão cheio de falências, que já ninguém acredita noutra prestabilidade do gênero humano e de suas bizarras instituições, senão para justificar o ceticismo de um Anatole France, ou a ironia de um Voltaire...

De tal modo se radicou, mesmo, nos ânimos essa ideia de generalizada falência, que um dos mais conspícuos e intrépidos cultores do Espiritismo, o nosso grande amigo Leopoldo Cirne (que, hoje, podendo melhor ouvir-nos e perscrutar o nosso íntimo, bem pode avaliar a estima que lhe consagramos) não trepidou em dar ao seu último trabalho - O AntiCristo -Senhor do Mundo - aquele subtítulo perfeitamente desastroso e de todo inconsequente – “A Falência do Espiritismo"!

Regra geral, isto sim, o homem faliu em face do Cristianismo: faliu como intelectual, como estadista e como religioso. Mas, deduzir-se dessa dolorosa constatação que possa ter falido o Espiritismo, que é sem dúvida o Cristianismo restaurado em sua pureza, não é possível, nem justo.

Os ouropéis de uma civilização abastardadora do caráter simples e sincero, que lhe deverá ter inspirado a Doutrina do Cristo, é que engendraram a falência dos homens, reduzindo-os a uma situação de cativeiro infamante, de que nem sequer tentaram libertar-se, porque a sua libertação implicaria grande esforço para se purificarem e desprenderem de hábitos rotineiros em que se comprazem todos, porque lhes fala mais alto aos sentidos essa modorra da consciência, do que á alma os clamores da mesma consciência, entorpecida por séculos de vida hipócrita, e contaminada de abjeções tremendas.

A ninguém, por isso, é possível prever as consequências do desmoronamento universal desta civilização edificada sobre o alicerce de fórmulas convencionais, tão contrárias à índole do Cristianismo, que aos próprios espíritas é sobremodo difícil vencer as dificuldades que se lhes deparam na prática da vida, para viverem de acordo com os princípios que sinceramente professam! Horresco referens!  

Mas, por misericórdia de Deus, jamais se verificará a falência do Espiritismo - porque não é ele de estrutura humana e sim espiritual, isto é, os seus mentores são Espíritos livres das convenções sociais, que no momento oportuno sabem dizer as coisas como as coisas são e jamais como as aconselha a exigência do bom-tom e da harmonia fraterna - rotulagem triste com que se disfarçam personalismos presunçosos, a se apresentarem como garantes únicos das boas diretrizes doutrinarias ortodoxas.

Devemos estar precavidos, pois que não podemos saber de que modo e a que horas chegará aquela justiça, aquele poder que surge subitâneo como o raio, no próprio dizer do Evangelho. O que é verdade é que a Civilização se contorce nas dores de um parto decisivo, de que nascerá para o Mundo ou um ciclo luminoso de conquistas alcandoradas do espírito humano, ou um doloroso ciclo de decadência (que seria simples repetição da História, aliás sempre a repetir-se) para expiação mais longa e profunda dos grandes crimes e dos pecados tremendos que, em geral, os homens estão a praticar destemerosamente, desde que se imaginaram os únicos competentes para lavrarem as suas próprias sentenças condenatórias ou absolutórias. Deus apenas deve assistir, impassível, ao desenrolar dos acontecimentos, dizem eles.

E o Cristo continua, do alto da cruz, a suplicar: "Pai, perdoa-lhes, porque eles não sabem o que fazem".

O homem faliu, evidentemente, em face da Lei Moral, do eterno Código divino. Mas, o Espiritismo, restaurador do puro Cristianismo, jamais falirá. Por amor do Cristo, irmãos, façamos um supremo esforço: unamo-nos, amando-nos, tolerando-nos, respeitando-nos e procurando amparar-nos reciprocamente, para que as nossas falências sejam repassadas e possamos todos voltar, humildes e arrependidos, ao redil das ovelhas do Mestre, pois que a falência não é somente de um, é de todos.


Do Blog: Leopoldo Cirne substituiu a Bezerra de Menezes na presidência da FEB onde permaneceu por 16 anos. Comandou a construção da sede da FEB na Av. Passos, 32 no Rio de Janeiro. Instituiu a Escola dos Médiuns que trouxe desconforto entre seus pares que articularam a substituição de Cirne na presidência da FEB. Daí à geração de ressentimentos e que tais. Detalhes? Cabe ler o livro citado. Ele está transcrito aqui no Blog até o ponto em que Cirne detalha a celeuma. Não valeria a pena ressuscitar o assunto.   

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