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quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Sob o signo de Deus


Sob o signo de DEUS
Arnaldo S. Thiago
Reformador (FEB) Fevereiro 1943

O servo de Jesus, para vencer o mundo, deve conservar-se fiel aos                compromissos assumidos para com o Divino Pastor, quando lhe pediu para entrar no redil das ovelhas. Sim, porque Jesus espera essa manifestação espontânea da parte daquele a que o Pai lhe confiou. Quantos, porém, depois de obterem o ingresso no redil, se tornam lobos devoradores, obrigando o Mestre a afastá-los, para que não venha o rebanho a lhes sofrer as investidas perturbadoras!

Conhecem-se as ovelhas e distinguem-se pela sua constância no trabalho, que somente pode ser mantida pela assistência do Mestre, através dos seus mensageiros, pois que, em faltando a alguma essa assistência, falecer-lhe-á também a constância no trabalho, porque, sendo este desinteressado de recompensas, não encontra estímulos na organização humana - toda firmada sobre Interesses - e somente com o amparo do alto pode manter-se. Esse amparo é recebido como manifestação de força moral constante, ininterrupta, em forma de dispensação fluídica, provindo das entidades orientadoras do trabalho divino. Como se compreende bem, recebendo essa dispensação fluídica, a que espécie de água que mata a sede para todo o sempre, Jesus se referia quando falou à Samaritana junto ao poço de Jacó!

Constância no trabalho, sejam quais forem as situações de ordem social, econômica, doméstica em que nos encontremos - eis o que importa ao servo fiel do Senhor da seara.

A natureza, arquétipo de todas as perfeições, é um exemplo vivo dessa força que mantém, pelo espírito, a energia da coesão em meio das formas da matéria, sempre tendentes à desagregação. Na sociedade humana, erguem-se monumentos de aparente estabilidade, reunindo-se materiais sólidos sobre os quais as forças dissolventes dessa mesma natureza possam exercer o mínimo de ação. Seduzido por essa forma de construir, de edificar, estritamente humana, o homem não sabe quase arquitetar seja o que for de útil, sem que lhe venha, por analogia, uma sugestão da mesma ordem, esquecendo a advertência do Mestre: "Buscai em primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça e tudo o mais vos será dado por acréscimo.”

Pioneiros da verdade espírita, nós estamos sob o signo de Deus, lembremo-nos sempre disto! Tal signo é construir no espírito, para o Espírito.

Não podemos desmentir o Mestre que nos determinou: "Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus". As construções humanas tem de corresponder à estrutura moral da sociedade humana. Por mais que apliquemos o nosso esforço em escorar-lhes os muros com o potencial do nosso amor e do nosso desapego as coisas do mundo, fatalmente elas ruirão, se não se adaptarem afinal à maneira de ser das construções humanas: e nessa adaptação é que está o desvirtuamento da doutrina do Mestre e a falência do crente que, afinal, comprovará ter apenas entre as mãos um simulacro material, - um cadáver - de tudo que idealizou e arquitetou com tanto carinho e tanto entusiasmo!

É a verdade, dolorosa sempre, como todas as verdades morais; mas, é a verdade!

Deus permitiu que se conservasse, no mundo governado por leis escritas e formulas convencionais, a inviolabilidade do lar da família: é nesse augusto santuário da sinceridade, cuja organização real deve ser a do amor, que o espírita tem de por à prova os seus sentimentos de caridade, ainda tão mal compreendidos, geralmente, no pobre mundículo em que nos encontramos a expiar faltas do passado.

Quando se percebe a dificuldade que ainda tem o homem terreno de esquecer ofensas, de perdoar, de manter constância no espírito de bem fazer, através da trama insidiosa da vida planetária, é que bem se pode avaliar a extrema ausência de sentimento de caridade, que se verifica no humano coração e a razão de ser da existência desse constante buril das almas, que é a dor!

Longe de nós o intuito de depreciar a ação social de qualquer dos confrades que tem a seu cargo a organização de obras piedosas: essa é uma digna e excelente modalidade de atuação do espírita no meio em que vive. 

Certamente, amparar os necessitados, criar escolas, manter estabelecimentos de ordem hospitalar, creches, abrigos - tudo isso é revelação de bons sentimentos, é agir segundo a orientação mental benfazeja que a doutrina plasma na alma de todo crente sincero: frutos bons de árvores boas.

Mas, tenhamos sempre em vista que a grande obra educativa dos espíritos é a que se processa pelo atrito das almas, no cadinho das provas remissoras a que ninguém poderá fugir, porque não basta adotar bons princípios, é preciso pô-los à prova na luta grandiosa da vida.

Escrevendo estas linhas, somos inspirados pela noção que possuímos da extrema gravidade do assunto aqui ventilado. Precisamos compreender que "orientação espírita" ainda não existe nem adentro dos lares espiritas, quanto mais das organizações espíritas, de qualquer espécie, que não podem pretender mais homogeneidade do que a dos lares...

Que o ardor das realizações externas não invalide o esforço da reforma interna, do exame atento de nós mesmos, das nossas tendências. As pepitas de ouro que o garimpeiro recolhe, no labor diuturno do seu progresso moral, ocultam-se-lhe na palma da mão, ao passo que a ganga dos mil interesses removidos, por encontrá-las, formam em torno montanhas. A sinceridade, o completo desinteresse do amor, apenas constituem, no mundo, ínfimas pelotas, para encontrar as quais tivemos de rejeitar montões de cascalhos de interesses transitórios. O mundo é ainda muito mau, muito enganador, muito insidioso. Todos os que não vivem dissimulando tendências e sentimentos mas arrostam de frente as imensas conveniências, os temerosos pontos de vista pessoais e sabem, por experiência própria, quanto às mais belas organizações terrenas, o próprio brilho de muita organização familiar, que passa por excelente, estão
vinculados a interesses transitórios, pontos de vista  econômicos - reinado de Mamon, em suma, que não aquele Reino de Deus, de que falava o Cristo - esses conhecem a profunda imperfeição que ainda impera na sociedade humana - e bem podem avaliar do profundo sentimento de dor experimentado por Jesus, ao proferir estas palavras, no dia seguinte ao da multiplicação dos pães: "Na verdade, na verdade vos digo que me buscais, não pelos sinais que vistes, mas porque comeste dos pães e vos saciastes. Trabalhai não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do homem vos dará; porque a este selou o Pai, Deus". (João VI, 26 a 27).”

Sim, tudo façamos pelo bem do próximo, mas que o nosso trabalho seja executado sob o signo de Deus.            


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