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terça-feira, 1 de agosto de 2017

O homem racional


O homem racional
Vinícius (Pedro de Camargo)
Reformador (FEB) Abril 1941

O homem racional não pode viver sem religião, disse Tolstoi.

O que entenderia o filósofo russo por homem racional? Acaso, todos os homens não são racionais?

Segundo o ponto de vista em que se coloca aquele grande pensador, não é pela inteligência, nem pela vontade, nem pelo sentimento que os homens se distinguem dos seres inferiores, chamados irracionais, por isso que estes possuem aquelas faculdades.

A diferença entre a inteligência e o sentimento dos homens e os dos animais procede do grau evolutivo em que uns e outros se encontram. Aliás, esta circunstância verifica-se também entre as raças e os indivíduos que compõem a humanidade. Portanto, a racionalidade a que se reporta Tolstoi prende-se a certa particularidade própria e inerente ao homem, e que não se encontra nos animais.

Que particularidade será essa? Não é preciso dar muitos tratos à bola para descobri-Ia. Trata-se das cogitações que preocupam o homem com relação ao futuro, à sua origem e a tudo o que se relaciona com os acontecimentos que com ele se dão.

O homem pensa na morte e nas consequências que sobre ele trará esse sucedimento inevitável e certo. O homem alimenta aspirações que não podem consumar-se nesta existência e que levam a pensar nos problemas do seu destino. A dor constitui, a seu turno, objeto  de sua preocupação. Em suma: o animal vive, o homem sabe que vive.

Levado por essas e outras considerações semelhantes, o homem descobre em si mesmo, nas profundezas de sua alma imortal, uma certa ligação com a fonte eterna da Vida e do amor: Deus!

Tal é, em síntese, a religião, ou, melhor, o sentimento religioso em sua lídima e pura expressão.

Os animais, vivendo do presente e para o presente, naturalmente não se interessam pelo dia de amanhã. Vivem a vida do momento, tal qual ela se lhes apresenta. Não existe neles aspirações que se prendem ao porvir. O "porquê da vida", as questões relativas ao destino, ao "ser ou não ser", à dor e à morte são privativas do homem, constituindo o roteiro que o conduzirá ao reino de Deus, após o conhecimento de Sua justiça.

Eis aí a razão das sábias palavras do renomado romancista russo: O homem racional não pode viver sem religião. Isto é: o homem racional não pode prescindir de todas as cogitações que digam respeito à sua origem e ao futuro que o espera. Do contrário, resvalará para o terreno da irracionalidade! 

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