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terça-feira, 25 de julho de 2017

Prêmios


Prêmios
por Lino Teles (Ismael Gomes Braga)
Reformador (FEB) Maio 1943

Para que as crianças estudem, cumpram suas tarefas escolares, os pais e mestres estabelecem notas e prêmios para as provas. O estudante esforça-se, cansa-se, luta, não para adquirir ciência, mas para adquirir prêmios, louvores, boas notas nos exames. Só muito mais tarde, ao aplicar sua ciência na vida prática, percebe o estudioso que o único prêmio real é o conhecimento mesmo que ele adquiriu e não as medalhas e diplomas, que passaram a ser quinquilharia inútil.

Nos cultos religiosos, dá-se o mesmo com os adultos em corpo, mas crianças em espírito. O homem estuda sua religião, frequenta-lhe as solenidades, pratica-lhe a moral, recebe os sacramentos, a fim de receber prêmios, de salvar a alma, obter as boas graças de Deus e dos seus anjos. Interessam-lhe somente os prêmios que lhe são apontados fora e depois do culto e não o culto em si mesmo; o culto não lhe parece uma compensação, mas, ao contrário disso, uma tarefa para obter prêmios. A prece não é um prêmio, mas o meio de pedir o prêmio. O prêmio deve ser mais material, mais concreto do que a alegria da alma ao elevar-se ao seu Deus. Longe de nós pensar que os prêmios escolares ou as promessas das religiões sejam inúteis ou desnecessários. São absolutamente necessários e utilíssimos, porque a inteligência da criança é demasiado limitada para alcançar as finalidades superiores do estudo que está fazendo e desanimaria, se não visse uma compensação imediata para os seus esforços. Igualmente a concepção da vida espiritual é muito vaga para a maioria dos habitantes da terra, que não a julgariam digna de seus esforços e sacrifícios, se não pudessem conceber um prêmio mais próximo e mais concreto como pagamento de seus esforços. Lutam por um salário e querem concebe-lo bem claro e bem próximo. São ilusões necessárias. Muletas indispensáveis. Retira-las fora deixar ao desamparo, sem rumo, sem forças, em pleno desespero, as pessoas que só com elas podem movimentar-se e orientar-se.

A finalidade do Espiritismo não é arrancar essas muletas a quem quer que seja, mas simplesmente socorrer aqueles que já as perderam e se sentem desalentados. Mais cedo ou mais tarde, todos as perdem, assim como o adulto perde o interesse pelos prêmios escolares que o entusiasmavam tanto na infância. Nesse momento, o Espiritismo apresenta-se como a grande tábua de salvação. Não promete prêmios, porque ele mesmo é o prêmio.

Com o conhecimento do Espiritismo, tudo se esclarece e a segurança se estabelece para todos. Em vez de contemplarmos uma curta existência de dores e erros, vemos uma longa, interminável série de existências, da qual esta, penosa e triste, é pontinho morto que se perderá para sempre na eternidade futura, é o minuto que voa e desaparece para sempre, num passado que nunca mais há de voltar.

Tudo se transforma a luz do Espiritismo, de cultura, Porque o ponto de observação se eleva para o eterno e o infinito. As coisas mais odiosas, capazes de desencadear todas as fúrias, quando encaradas do ponto de vista limitado de uma encarnação, passam a ser compreendidas como processos necessários de evolução e proveitosas em seu conjunto eterno. Deixam de ser o mal e transformam-se em bem, talvez um bem conquistado com muitas dores, mas por fim um bem real.

Figuremos um exemplo.

Certo povo julga-se de uma raça superior e por isso invade o território de outro menos armado, faz-lhe guerra de extermínio, apropria-se de suas terras, escraviza os sobreviventes da raça vencida e estabelece novo império, aparentemente todo seu, sobre os escombros do território conquistado. A raça vencida desaparece, sobrevivendo somente a vencedora, como se deu em quase todos os territórios de nossas Américas. Do ponto de vista materialista da existência única; houve uma injustiça imensa, irreparável em toda a história. Mas, o Espiritismo nos demonstra que essa injustiça é apenas aparente, porque a raça extinta continua vivendo e progredindo em seus antigos domínios, somente em outros corpos. Os invasores e vencedores orgulhosos, que exterminaram os vencidos, que jamais permitiriam a um deles viverem em seus lares, vão pagar o tributo à lei universal da harmonia. Seus filhos bem amados vão ser os mesmos Espíritos dos vencidos, reencarnados em suas esposas, irmãs e filhas. Todo o passado fica esquecido. As ternas crianças, hoje tratadas carinhosamente nos lares suntuosos dos vencedores, nada mais são do que os vencidos do passado agora em novos corpos.   
     
Surge realmente um novo mundo nesses territórios; mas, uma parte grande de sua população é a mesma antiga. As duas raças se fundem em uma única, cada uma colaborando com o fruto de suas experiências para o bem comum.

A reencarnação vence todas as veleidades de raça, de fortuna, de cor.

Ainda outro exemplo.     

Uma raça realmente superior vive dispersa pelo planeta, sem pátria, sem segurança, ajudando o progresso de todos os povos e por todos eles perseguida. Sua vida é dolorosa missão através dos séculos e milênios: é o sal da terra; mas, a sua superioridade desperta ciúmes, rivalidades, perseguições, injúrias. De tempos a tempos surgem verdadeiros organizadores da perseguição para aumentar as dores da raça missionária.

Parece que ficam impunes os perseguidores; dispõem de força e fazem quanto lhes apraz. Puro engano! Esses perseguidores nascem na mesma raça perseguida, sofrem a justa punição de suas faltas e colaboram inconscientemente com ela para o progresso de todos.

Passam pelas mesmas dores que já fizeram sofrer, são incompreendidos, mas aprimoram-se em moral e fazem jus à felicidade real e inalterável dos Espíritos superiores, quando terminam suas penosas tarefas.

A variedade infinita de caráteres, de graus de cultura, de inclinações morais, demonstra que a raça perseguida realmente já é a fusão de muitas ou de todas as raças do planeta. Só lhe resta da primitiva um número muito limitado de indivíduos, os condutores, guias da raça; a grande massa, porém, já é toda formada de antigos perseguidores vindos de todas as raças e reencarnados na perseguida e benfeitora.

Nenhuma injustiça fica sem reparação, porque a salvação é universal. Todos os filhos de Deus tem que ser salvos, porque essa é a lei; por isso mesmo nenhum pode permanecer sempre no pecado. A reparação da injustiça é a reabilitação. Vem fatalmente, inevitavelmente, através muitas vezes de pungentes dores, mas vem.

O conhecimento do Espiritismo nos enche a alma de serenidade e paz, dá-nos a segurança de que nenhum mal é sem remédio e que fatalmente o bem triunfa, de que uma justiça perfeita reina mesmo onde nos parece só haver caos e confusão, de que o nosso futuro será inevitavelmente feliz e tranquilo. Tudo melhora em torno de nós à luz do Espiritismo. A morte perde todo o seu terror e entra a ser vista como boa amiga. A pobreza, a desonra, humilhação, a enfermidade, a dor em todas as suas múltiplas modalidades, perdem seu aspecto lúgubre para quem sabe que tudo isso, como seus opostos, é passageiro e desaparecerá rapidamente, restando-nos sempre na frente a eternidade inteira e inalterável qual no-la apresenta o Espiritismo.

            O conhecimento deste nos coloca acima da aprovação ou reprovação do mundo, dando-nos, por isso, uma paz de espírito que se não pode comparar a todos os bens da terra.
           

Se as crenças do passado nos prometiam prêmios e esses prêmios eram necessários, o Espiritismo, abrindo-nos as cortinas que estavam cerradas sobre o mundo espiritual, não necessita prometer-nos nenhum prêmio, porque esse conhecimento mesmo é o maior de todos os prêmios. O espiritista não deveria nunca orar para pedir; deverá orar sempre para agradecer o muito que está recebendo, porque na verdade está recebendo mais do que todos os outros bens reunidos. Agradecer sempre até à mão benfazeja que nos fere, porque essa mão nos está reintegrando na lei de Justiça perfeita, nos está impelindo à felicidade.  Agradecer a quem pelo homicídio nos restitui à Pátria espiritual. A vida do espiritista deveria ser um hino constante de reconhecimento ao Criador, uma constante adoração. Se assim não acontece, é porque ainda somos muito pouco espíritas, ainda não sabemos avaliar o tesouro que recebemos.

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