Pesquisar este blog

domingo, 16 de abril de 2017

Nótulas Espiritualistas XII


    Nótulas Espiritualistas - XII
Dr. Antônio J. Freire
in Reformador (FEB)  Setembro  1955

            O consagrado Mestre, A. Kardec, o excelente sistematizador e codificador do Espiritismo, foi tão profundo filósofo, quanto arguto e sutil investigador no vasto domínio da complexa fenomenologia supranormal anímica e espírita.

            O estudo metodológico do Espiritismo impõe a necessidade de iniciarmos esse estudo pelo Animismo. Assim, evitar-se-iam alguns erros de interpretação e lamentáveis confusões na Metapsíquica.

            Há um perfeito e completo paralelismo entre os fenômenos anímicos e espíritas. A alma que anima os encarnados, no seu estágio terrestre, é precisamente a mesma que anima os Espíritos desencarnados.

            Todos os fenômenos anímicos, sem exceção, se podem realizar sem a mínima intervenção de Espírito algum desencarnado. Mas já assim não sucede reciprocamente: todos os fenômenos espíritas exigem elemento de apoio e de ligação, baseado na mediunidade dum encarnado (Lei da exteriorização psíquica).

            A explicação está dentro da diferença que existe na constituição de encarnados e desencarnados. Estes têm a menos os corpos somático e vital, sendo comuns o perispírito ou corpo astral e a alma ou espírito.

            O elemento de ligação, entre os habitantes dos dois Mundos, não é como muitos supõem o perispírito, mas o duplo etérico ou corpo vital, corpo a que não se tem dado o devido relevo e importância dentro do Espiritismo (1). Deste fato têm resultado lamentáveis confusões entre certos investigadores indevidamente preparados. Por outro lado, alguns médiuns sérios e honestos têm sido, precipitadamente, acusados de mistificadores e fraudulentos (2).

            Infelizmente, existem ainda investigadores da fenomenologia supranormal que desdenham e depreciam os fenômenos anímicos, não obstante terem tanta ou mais importância de que os fenômenos espíritas.

            Seja como for, o fato irrefutável é que entre estas duas categorias de fenômenos supranormais existe um íntimo paralelismo dentro do seu experimentalismo e uma flagrante convergência para a demonstração da alma humana e da sua sobrevivência, objetivo dominante do Espiritismo.

*

            Diminuto número de cientistas e filósofos souberam imprimir ao conceito de causalidade o realce e profundeza que lhe deu A. Kardec, aplicando-o ao vasto e transcendente Cosmos na sua magnificência e esplendor divinos: "todo efeito tem uma causa; todo efeito inteligente tem uma causa inteligente; o poder da causa inteligente está na razão direta da grandeza do efeito produzido.

            Dentro deste postulado, os termos aparentemente irredutíveis - Deus, o Homem e os Universos - unificam-se implicitamente, nos conceitos correlativos de causa e de efeito, opondo-se pela sua transcendente espiritualidade ao materialismo dialético e a todos os monismos ateístas e agnósticos, nefastos promotores da perversão da Humanidade.

            (1) Do autor - "Da Alma Humana" (Metapsicologia experimental) - 1950.
            (2) Do autor - "Da Fraude no Espiritismo Experimental".

*

            O conceito de causalidade dentro da ciência oficial e da filosofia científica contemporânea, mais ou menos limitado na sua ação e duração. A sua repercussão e encadeamento é mínimo na relatividade do espaço e do tempo. Tem hiatos, soluções de continuidade, não ultrapassando as causas segundas. A sua profundidade e generalização não vão além da superfície dos fenômenos.

            Dentro das novas ciências da alma - o Animismo e o Espiritismo, de que o primeiro é o complemento natural do segundo - todos os fenômenos, inerentes às suas estruturas e finalidades, são causais e não casuais. O acaso é o biombo onde se oculta a nossa ignorância ou a má-fé.

*

            O conceito da causalidade perante a ciência moderna tem indiscutivelmente um valor analítico; mas, por outro lado, não oferece ponto de apoio seguro e válido para a interpretação da dualidade irreversível - Vida e forma, Espírito e matéria, Real e transitório,  Permanente e efêmero. A confusão é tremenda.

            Na Sabedoria antiga prevalecia a síntese, ponto de partida para a abstração e generalização dos princípios fundamentais dos mais transcendentes problemas espirituais.

            A ciência contemporânea, roída e falsificada por um monismo materialista e ateu, não ultrapassa os curtos limites da matéria inerte passiva.

                                                                                  *

            Os fenômenos supranormais - supranormais no ponto de vista da Vida terrestre, mas normalíssimos e absolutamente necessários e indispensáveis na atividade da vida astral e dos Mundos superiores - obtidos neste planeta pelo método positivo da observação e da experimentação, no seu complexo polimorfismo e transcendente finalidade, expressa na nossa evolução espiritual, devem ser estudados dentro dum critério isento de todos os dogmas científicos, e expurgado de todos os fanatismos religiosos.

*

            É um crime de lesa-humanidade e nefando atentado à consciência científica, alguns investigadores de talento, mas de reconhecida má-fé, animados de prevenções mais de que suspeitas, deturparem e perverterem o alto, redentor e progressivo significado dos fenômenos supranormais inerentes ao Espiritismo, o mais vigoroso adversário do materialismo e do ateísmo, precisamente os maiores inimigos da Verdade e da Evolução, no seu sentido redentor e cristão.

*

            O Espiritismo, anti-dogmático e anti-litúrgico, ainda que respeite todas as religiões e reprove todos os fanatismos, impõe uma Moral que se radica no coração e floresce na inteligência, tendo por fundamento a Lei do duplo amor divino e humano, apostolizada e exemplificada por Jesus-Cristo no "Amor do próximo".

            O Amor é a essência da Vida e a alma máter de toda a Evolução espiritual. Seguir Jesus é subir para Deus.
                                                                                                                      Lisboa, 1955.

Nenhum comentário:

Postar um comentário