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sábado, 15 de abril de 2017

Nótulas Espiritualistas XI



  Nótulas Espiritualistas - XI
Dr. Antônio J. Freire
in Reformador (FEB)  Julho  1955


            Para que o Homem não se desorientasse e se perdesse no caminho obscuro e tortuoso, salpicado das mais ruins tentações e astrais, Deus, na sua Previsão infalível, acendeu lhe dois faróis, cuja luz fecunda e resplandecente deveria dissipar as trevas mais densas e profundas do seu cérebro; as hesitações mais prementes e perigosas do seu coração: as Ciências e as Religiões.
            Em verdade, todo o psiquismo humano gravita em volta da inteligência e do sentimento; do cérebro e do coração; da consciência e da emoção.
            Criando as Ciências, Deus quis subministrar conhecimento à Humanidade, iluminando lhe a percepção intelectual, a fim de conduzir o Homem à conquista da Verdade.
            Instituindo as Religiões, Deus pretendeu educar lhe o sentimento e a emoção na via do altruísmo, da fraternidade, do amor do próximo, levando o Homem à persuasão de que toda a humanidade tem a mesma origem e finalidade divinas, portanto são solidários num mesmo Destino glorioso e divino, através do angustiante e doloroso calvário cármico.

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            Às Ciências e Religiões competia, pois, o indeclinável dever de instruir e educar esta humanidade, pela inteligência e pelo sentimento, no caminho do progresso mental e espiritual, dinamizando o potencial divino contido na sua alma eterna e imortal, no Seu ascenso para a sua pátria de origem - o Reino de Deus - pelo amor e caridade.

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            Esta nobre e gloriosa missão, tanto por parte das Ciências como das Religiões, foi incompreendida, frustrada, e, até certo ponto, pervertida com negras e sórdidas traições, determinadas por interesses e vaidades dignos das mais acerbas censuras.
            Dum paraíso em potência, onde devia reinar a Paz, a Verdade e a Justiça, fizeram surgir à tona da vida terrestre os mais desenfreados vícios, ódios e paixões, as mais grosseiras e degradantes ambições de mando e prepotências.

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            As divergências e antagonismos entre a Ciência e as Religiões, levados até o paroxismo da intolerância e de repetidas lutas sangrentas, fomentadas pelo fanatismo e soberba, têm provocado a instabilidade e depravação social; a estagnação e retrocesso moral da Humanidade, com o manifesto e arrepiante triunfo do ateísmo e da indiferença religiosa. Neste ambiente de confusão e de inversão dos mais luminosos e fecundos princípios morais e cristãos, tem-se levantado a pavorosa tormenta do egoísmo mais depravado e anti-humano, expresso nos mais rancorosos e asfixiantes movimentos centrípetos dentro dum individualismo feroz, ancestral e agressivo.

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            A Humanidade, despida da sua inata espiritualidade, repudiando sacrilegamente o Amor e a Justiça do seu Divino Criador; regressa, através dum atavismo multimilenário, à selva onde só reina a força do bruto, do troglodita, e a astúcia e o ardil dos répteis.
            Pior do que as feras, os homens, irmãos pela sua origem e destino divinos, trucidam-se sem dó nem piedade, aos milhões, movidos por ambições satânicas, pelo prazer diabólico da destruição e do domínio despótico e absorvente, transformando homens em escravos, criando um novo ergástulo repleto de sofrimento e de dor, cerrando os olhos do espírito à cintilante claridade regeneradora dos Evangelhos; calcando desabridamente aos pés as redentoras e divinas Leis da Fraternidade, do Amor e da Justiça.

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            No bendito e luminoso dia em que Ciências, Religiões e Filosofias se compreendam na sua dupla e paralela finalidade, sem choques nem atropelos; abraçando-se num mútuo e redentor auxílio e cooperação; animadas dum profundo, sincero e leal entendimento espiritual, triangulado nos universais conceitos : - DEUS, ESPÍRITO, VIDA ETERNA -, a Humanidade recuperará o tempo perdido; resgatará os erros e incompreensões passados, gastos perdulariamente, contraproducentemente, em atrozes lutas sangrentas e retaliações fratricidas. Então, pelo sofrimento dominadas, aceitarão por Código o divino Sermão da Montanha e por regra inviolável de comportamento o amor do próximo.
            Eis a salvação.

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            É nos clarividentes e profundos versículos desse monumento imorredouro, com irradiação mundial, de beleza sem par - O DIVINO SERMÃO DA MONTANHA -, foco resplandecente de abnegação e de altruísmo, de amor e de humildade cristã, donde brota “a água viva”, que regenera e purifica, apagando ódios e dissensões, implantando o Reino de Jesus, ditando uma só lei: a divina Lei do Amor (1).

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            Compete ao Espiritismo, pelo seu duplo caráter - científico e cristão - a gloriosa,  redentora e humanitária missão, neste ciclo evolutivo, de combater a crise pavorosa de perversão moral que asfixia e desvaira esta Humanidade turbulenta e descrente, ligando, fraternal e cristãmente - Ciências, Religiões e Filosofias - num bloco solidário e progressivo, animado dum mútuo auxílio e compreensão onde vibre, para todas as inteligências, para todos os corações, a trindade augusta e divina: - o Bem, o Belo, a Verdade - à luz cintilante do Espírito Universal, tendo por medianeiro o Evangelho de Jesus, o Cristo de Deus.

Lisboa, 1955.
(1) Do "Sermão da Montanha":

            Amai a vossos Inimigos, fazei bem aos que vos têm ódio, e orai pelos que vos perseguem e caluniam, para serdes filhos de vosso Pai que está nos céus, e fez nascer o sol sobre bons e maus e vir chuva sobre justos e injustos. - (Mateus V 44-45)

            Não queirais entesourar para vós tesouros na Terra, onde a ferrugem e a traça os consomem, e onde os ladrões os desenterram e roubam; mas entesourai para vós tesouros no Céu, onde não os consome a ferrugem nem a traça, e onde os ladrões não os desenterram, nem roubam.  (Mateus VI 19-20)

            Não queirais julgar, para que não sejais julgados, pois, com o juízo que julgardes, sereis julgados, e com a medida que medirdes, vos medirão também a vós. (Mateus VIl  I-2)


            Tudo o que vós quereis que vos façam os homens, fazei-o também vós a eles, porque esta é a lei e os profetas. (Mateus VII, 12)

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