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segunda-feira, 10 de abril de 2017

Nótulas Espiritualistas VIII


 Nótulas Espiritualistas - VIII
Dr. Antônio J. Freire
in Reformador (FEB)  Março  1955

            Perante as tradicionais religiões ocidentais, o estudo da alma humana não tem ido além de ingênuas concepções abstratas, desfigurando todo dinamismo através de dialéticas abstratas de dogmas absurdos, de sofismas inconsistentes, considerando a alma humana duma imaterialidade irreal, inconcebível, sem estrutura substancial, sem conteúdo objetivo, sem a devida elevação espiritual.

            A alma, assim considerada, é um mero e insubsistente produto de especulação racionalista, sem base científica ou experimental quer para as religiões dogmáticas, quer para as filosofias gnósticas e espiritualistas.

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            Quanto às Ciências, que, por sua natureza, deveriam ser os expoentes máximos da mentalidade humana, pelo seu caráter fanaticamente materialista, pela sua errônea orientação ateísta e e agnóstica, a alma humana foi excluída, escorraçada, de toda a sua atividade, lançada, num repelão de ódio e de revindita pelas antigas perseguições inquisitoriais e do "Index", a um degradante ostracismo que só o Espiritismo soube reabilitar, impondo ao estudo da alma humana o método positivo oficial: a observação e a experimentação, através da sua riquíssima aquisição dos transcendentes fatos supranormais que vão desde a dissociação e exteriorização do duplo (bicorporeidade, bilocação ou auto-telediplosia), à ectoplasmia, representativa das materializações dos espíritos desencarnados sem aqui registar as inúmeras e variadas modalidades das mediunidades, quer anímicas, inerentes aos vivos ou encarnados, quer relativas aos falecidos, os espíritos desencarnados, cuja autenticidade está demonstrada mundialmente por sábios de consagração universal, desde W. Crookes a Oliver Lodge e Hans Driesch, e muitos outros, precisamente por aqueles que mais contribuíram para as descobertas contemporâneas mais sensacionais.

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            Seria suficiente a dissociação e exteriorização do duplo humano para comprovar, científica e experimentalmente, a existência da alma humana, e até, mesmo, a sua sobrevivência.

            Tanto a Psicologia como a Biologia têm de ser fatalmente, necessariamente, refundidas nas suas melhores teorias, e depuradas dos erros tremendos que as condicionam e orientam. O mesmo critério terá de ser seguido em outras Ciências e Filosofias, por imposição dos fenômenos mediúnicos relatados e demonstrados pelo experimentalismo inerente ao Espiritismo, que, em última análise, é a Ciência da alma humana.

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            Anteriormente ao Espiritismo, toda a crença na alma humana era fundada numa frágil fé passiva, rebaixada, por vezes, ao mais ignaro e sórdido fanatismo, donde resultaram as guerras mais sangrentas, canibalescas e impiedosas que enlataram, de atrozes ódios e vinganças, alguns capítulos da História da Civilização, nomeadamente na Época Medieval, onde a Igreja atingiu o fastígio do poder, e das mais hediondas e nefastas perseguições, de que foram vítimas indefesas alguns dos sábios de consagração mundial.

            À Inquisição está ligado o período histórico dos mais abomináveis crimes perpetuados pela Igreja, despida de toda a sensibilidade moral, tripudiando, em alucinações macabras, sobre esse poema de Luz e de Amor que irradia, em clarões
divinos, dos Evangelhos.

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            E por detrás de densas espirais de incenso, de burlescos ritualismos de origem pagã, sem profundeza intelectual nem elegância moral, a Igreja defendeu “a ferro e fogo" os seus caprichos de atrozes vinganças, os seus mais sórdidos interesses e vilanias, usurpando a honra, a dignidade e a riqueza de muitos que não se curvaram, nem aos seus dogmas e arbítrios, nem às suas prepotências e retaliações.

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            E neste sinistro obscurantismo, neste sacrílego malabarismo de mistificação religiosa, se consumiram os últimos séculos, com manifesto triunfo e expansão para o materialismo ateísta, defendido e proclamado em todas as universidades, arrastando os povos para a descrença e indiferença religiosa, com todo o seu fúnebre cortejo de desmandos e de desenfreada animalidade atávica, sem ação espiritual frenadora, eliminados os sentimentos de fraternidade e solidariedade. “O homem transformado no lobo do homem" - provocando-se, assim, uma das maiores calamidades dos tempos modernos, num desequilíbrio desconcertante entre os progressos materiais conquistados pela Ciência e o retrocesso moral em que periclita a dignidade humana, enlouquecida e desvairada por ambições e interesses inqualificáveis, mas opondo um formidável entrave ao progresso espiritual da Humanidade.

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            Nós, neo-espiritualistas, apelemos para Jesus, o Cristo de Deus, o Senhor do Amor e da Compaixão, o exemplo vivo para os desvairados fazerem volta-face às suas paixões vergonhosas e egoísticas, perversas e depravadas, entrando no luminoso e redentor caminho do arrependimento e da regeneração espiritual e cristã.

            A Humanidade só tem um caminho digno de conduzi-la a Deus: seguir a santa e refulgente doutrina de Jesus, o filho dileto de Deus; seguir a sua santa e regeneradora  Doutrina de perdão e de amor, de verdade e de misericórdia; só assim poderemos avançar para a conquista da Paz interna e externa, antevendo a suprema felicidade do dever cumprido, a almejada tranquilidade da consciência.

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            A Vida seria uma incógnita insolúvel, regida pela mais monstruosa injustiça - indo da predestinação à graça -, se não existissem as duas leis, progressivas e reparadoras, justas e sábias, que dominam toda a Vida, toda a suprema Evolução: a Lei Reencarnacionista, ou das vidas sucessivas, alternantes de Mundo para Mundo, e a Lei Cármica ou da causalidade psíquica, regendo e orientando, com sabedoria e justiça, a trajetória desse movimento cíclico de regeneração e de progresso espiritual.

            A divina Lei da Evolução, assim compreendida, é magnânima e excelsa Lei de Amor, de Sabedoria e de Salvação. Os mais reincidentes pecadores, os mais abjetos criminosos, serão salvos pelo mecanismo, estrutura e dinamismo da bendita Lei da Evolução.

Lisboa, 955.


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