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segunda-feira, 10 de abril de 2017

Nótulas Espiritualistas IX


  Nótulas Espiritualistas - IX
Dr. Antônio J. Freire
in Reformador (FEB)  Abril  1955


            A estrutura científica do Espiritismo, baseada no seu experimentalismo mediúnico, supranormal - mas não sobrenatural -, não tem similar nos outros sistemas espiritualistas, quer religiosos, quer filosóficos, antigos e modernos, tudo está dito e redito, dentro das abstrações mais abstrusas e dos dogmas mais inconsistentes e absurdos.

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            Este seu caráter positivo e experimental é baseado e orientado no método oficial adotado pelas ciências clássicas contemporâneas, desde a Física nuclear à Mecânica ondulatória e à assombrosa Cibernética, a nova ciência das máquinas de calcular e dos cérebros eletrônicos, devida ao gênio do prof. N. Wiener.

            É possível que a célebre concepção do “homúnculo” dos alquimistas medievais tenha certas analogias com as extraordinárias e imprevistas descobertas e inovações do sábio prof. N. Wiener. Mesmo a decantada "pedra-filosofal" dos antigos alquimistas, para a realização da transmutação da matéria, encontra, na época atual, franco apoio na moderna Atomística e na Microfísica.

            Em verdade, as novas Ciências dos nossos dias reabilitaram os misteriosos ocultistas e alquimistas das épocas passadas, tantas vezes ridicularizados e alcunhados de alucinados e visionários. Tal como está sucedendo com o Espiritismo em certos meios universitários, materialistas e agnósticos, dominados pela idolatria da matéria, pelo egocentrismo, pela autolatria.     

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            Sejam quais forem a oposição e agressividade por parte dos dogmáticos, tanto da ciência, como das religiões, contra a verdade científica que encarna o Espiritismo - a nova Ciência da alma humana -, os fatos espíritas experimentais, de repercussão mundial, asseguram uma vitória plena e completa, mesmo dentro deste período histórico, embora, por enquanto, nos encontremos obscurecidos e esmagados por uma tremenda crise moral. Mas a aurora redentora surgirá.

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            Todos os espíritas conhecedores da teoria e prática do seu renovador e progressivo ideal, tem razões fortes e a convicção científica profunda no triunfo definitivo e na vitória final. O essencial é tornar conhecida a beleza intelectual e moral da Doutrina Espírita.

            O triunfo final será encurtado, desde que se intensifique uma propaganda espírita com método, pela inteligência e pelo coração.

            Todos os espíritas temos o indeclinável dever de libertar a Humanidade dos preconceitos e prevenções científicas falsamente orientados num grosseiro e pernicioso monismo agnóstico; e; simultaneamente, dos dogmas e obscurecimento das religiões tradicionais, ainda aferradas ao antropomorfismo e ao geocentrismo, arcaicos conceitos, tão absurdos quanto sacrílegos, despidos de toda a beleza moral, incompatíveis com o progresso científico e com a evolução espiritual.

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            O Espiritismo, essencialmente evolutivo, espiritual e anti-dogmático, jamais se petrificará nos melhores conceitos que resultem das suas observações e experiências, porque o seu labor na investigação e no raciocínio experimental será contínuo, tenaz e progressivo no estudo e análise do potencial divino contido na alma humana, para onde converge o máximo esforço da sua atenção e atividade, orientadas no método positivo  comum a todas as ciências.

            Em suma, o Espiritismo é medularmente experimental e evolutivo, pela sua natureza positiva, pela sua estruturação e mecanismo objetivos, isento de obscuras abstrações, rico em consequências universais cósmicas, e demonstrativamente concludente no destino e trajetória da alma através dos seus ciclos reencarnacionistas ou palingenésicos e cármicos.

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            A indiferença religiosa tem-se alastrado torrencialmente por toda a parte como caudal satânico, onde pontificam e imperam as decadentes religiões confessionais, ao contrário do que sucede no Oriente onde o fanatismo, por vezes sangrento, é a nota dominante através das suas variadas religiões e das centenas de seitas delas derivadas.

            Mas o Oriente, com todos os seus fanáticos excessos e as perversões dum mórbido ascetismo, não perdeu o nobre sentido do Divino nem o dignificante sentimento religioso; como sucede, infeliz e desoladoramente no Ocidente, onde predomina o artificial esnobismo religioso e o ateísmo mais degradante e agressivo.

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            Só trabalhando e agindo de harmonia com o Divino Plano da Criação - que, em síntese gloriosa e redentora, é expresso na magnânima e excelsa Lei da Evolução no seu sentido integral (físico e espiritual, Vida e forma, Consciência e matéria), abrangendo todo o potencial psíquico-, a Humanidade poderá seguir a linha de menor resistência para o seu progresso anímico, através de todos os planos cósmicos.

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            O egoísmo e o orgulho são os mais poderosos inimigos do nosso progresso espiritual, fomentando ódios implacáveis, impulsionando atrozes vinganças, despertando ambições criminosas, em que se debate e se digladia angustiosamente esta desvairada Humanidade num turbilhão de descrença e ateísmo, de perversão e imoralidade.

            Só pela prática da humildade e do altruísmo, pela renúncia própria e amor do próximo, será possível vencer tão rigorosos e astutos adversários, reforçando por ardentes e sentidas preces esses bons propósitos.

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            A prece fervorosa é um dos melhores canais por onde descem os eflúvios da Misericórdia Divina, trazendo-nos, por resposta, em ondulações de fé e de esperança, a resignação e a coragem para vencermos as atribulações cármicas inerentes à Vida terrestre, para reparação e ensinamento de erros e dívidas provenientes de Vidas passadas.

            Bendita seja a Dor quando sentida e compreendida, como antídoto dos nossos vícios e más paixões, corrigindo-os e transmutando-os em virtudes cristãs.


Lisboa, 1955.

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