Pesquisar este blog

sábado, 23 de dezembro de 2017

Moisés


Moisés
por Carlos B. de Souza
Reformador (FEB) Outubro 1942
                                            
Sim, Moisés, Elias e João Batista são, um só, o mesmo Espirito encarnado três vezes em missão. Esse Espirito, quando foi Moisés, preparou a vinda do Cristo e a anunciou veladamente: quando foi Elias deu grande brilho à tradição hebraica e anunciou, nas suas profecias, que teria de ser o precursor do Cristo, quando reencarnou em João Batista, filho de Zacarias e de Isabel, foi esse precursor. (Os 4  Evangelhos ou Revelação da Revelação – pág. 497 - Tomo II - 1942).

A história da Terra, até onde puderam chegar as pacientes investigações dos historiadores, é um verdadeiro amálgama de crimes e de tragédias hediondas, que ainda hoje fazem tremer de horror os corações das almas já mais ou menos evoluídas, as mesmas, certamente, que tomaram parte ativa e delituosa nessas infrações às leis humanas e divinas, tomando-se como ponto de apoio, para semelhante assertiva, a sábia lei das reencarnações ou vidas sucessivas.

Quem quer que se dê ao trabalho de folhear a Bíblia Sagrada, contendo o Velho e o Novo Testamentos, verificará, com profunda tristeza, que grande parte dos missionários do longínquo passado incorreram em lamentáveis falências, a começar pela figura inconfundível de Moisés ou Mosché, "o maior vulto do Antigo Testamento, guerreiro, estadista, historiador, poeta, moralista e legislador dos hebreus", segundo a opinião do Sr. Jaime de Séguier (Dicionário Prático Ilustrado, pág. 1578).

Quando contava quarenta anos, teve de fugir para o deserto, por haver assassinado um egípcio que batera impiedosamente num judeu.

Foi a sua primeira queda, a sua inicial falência, prova de que o seu Espírito já havia derramado o sangue humano em suas existências anteriores, não estando ainda liberto dessa tara moral.

Não obstante essa falência, um dia, em pleno deserto, um Enviado de Deus (Espírito de Luz) investiu Moisés (o "salvo das águas" do Nilo) da difícil e humanitária missão de libertar o seu povo da negra escravidão do Egito, conduzindo-o à Palestina.

Possuidor dos mais raros e preciosos dotes mediúnicos, destacando-se os de efeitos físicos, dos quais lançava mão, sabiamente, para infundir o pavor no ânimo dos implacáveis inimigos da raça hebreia, pode enfim Moisés libertar o seu povo, caído na mais baixa prática da idolatria. A viagem do povo hebreu através da aridez dos desertos, vencendo mil obstáculos, inclusive a fome e a sede, só pode ser levada a bom termo, graças aos poderosos dotes mediúnicos do libertador, que também contava, sem o saber, com o auxílio de Espíritos, que do plano astral guiavam ao que na Terra também servia de guia a uma raça bastante sofredora.

Tendo Moisés, no alto do monte Sinai, onde passara quarenta dias, recebido por via mediúnica os dez mandamentos da lei de Deus (o Decálogo), achou que era chegado o momento oportuno de levar a nova lei ao conhecimento do seu povo, que lá em baixo, na planície, livre da presença do seu guia, se entregara a lamentável ato de idolatria, adorando um bezerro de ouro. Ora, o primeiro mandamento do Decálogo condenava terminantemente semelhante prática, muito do agrado do povo egípcio.

Cheio de cólera, vendo que, as suas ordens haviam sido infringidas, o que importava numa prova de indisciplina, Moisés não transigiu com os infratores, ordenando que fossem passados a fio de espada. Não podia ser outra, na época de atraso moral a que nos estamos reportando, a atitude do futuro legislador do dente por dente e olho por olho, esquecido do quinto mandamento do Decálogo, que ordena taxativamente: - Não matarás!

Com essa ordem de morticínio em massa, o grande médium caiu na sua segunda falência, muito pior do que a primeira, quando ainda não havia sido bafejado com as luzes da mediunidade. Pois, não é certo, como o fez sentir Jesus, que "pedir-se-á muito a quem muito se houver dado"?

De grande responsabilidade, portanto, foi a segunda falência moral do libertador da raça hebreia. Caindo em cólera, como caiu, o Espírito de Moisés, médium que era, atraiu para junto de si Espíritos vingativos e sanguinários e, debaixo dessa maléfica influencia, faliu lamentavelmente às vistas do Divino Pai, que é todo Amor, Clemencia e Perdão, justamente para com as criaturas mais taradas e atrasadas, existentes à face da Terra.

Justificando a nossa assertiva, transcrevemos as próprias palavras do Divino Mestre: -"Meu Pai não quer a morte do pecador, mas que se arrependa e salve!"

A darmos crédito à palavra dos historiadores, a figura gigantesca de Moisés terminou a sua missão terrena no alto do monte Nebo, donde pode contemplar, de longe, como último consolo, a terra exuberante de Canaã, que não logrou alcançar, graça que lhe foi negada por ter duvidado da palavra do Senhor, que tão nababescamente o cumulara dos mais raros e preciosos dotes mediúnicos.

Como o Espírito é o único artífice da sua própria evolução moral, não sendo possível realizar, numa só vida corporal, essa mesma evolução, o de Moisés teria fatalmente de voltar à Terra para, reencarnado na pessoa do profeta Elias, desempenhar novas tarefas em prol da humanidade de então.
Pará, agosto de 1942.


sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

O Silêncio


O Silêncio
Casimiro Cunha por Chico Xavier
Reformador (FEB) Agosto de 1943


Quem procura no silêncio
A inspiração e a beleza,
Penetra o templo invisível
Das forças da natureza.

Jamais sentiste o cansaço
No excesso de burburinho?
O silêncio é o companheiro
Que conhece o bom caminho.

Em seu campo generoso,
Há tréguas ao pensamento,
Recebe-se luz sublime 
De verdade e entendimento.

O homem que se mergulha
Nas vozes do turbilhão,
Condena-se, muita vez,
Aos cárceres de aflição.

É preciso, quase sempre,
Procurar, na soledade,
A solução dos problemas
À luz da serenidade.

Se possível, vai ao plano
Das árvores carinhosas,
Onde as coisas falam sempre
Em notas harmoniosas.

Mas se não podes fugir
Às zonas de inquietação,
Procura o silêncio amigo
Na paz da meditação.

Todos temos em nós mesmos
Os vales da experiência
E as montanhas solitárias
Nos cimos da consciência.

Não te dês todo aos rumores
Das lutas de cada hora;
Que a palavra seja em tudo
Tua serva e não senhora.

Quando achares no silêncio
Os segredos da energia,
Terás penetrado a esfera
De paz e sabedoria. 

Não há efeito sem causa


Não há efeito sem causa
Souza do Prado
Reformador (FEB) Agosto 1943

- Coitados! Imagine Você, que infelicidade! Morreu, ontem, um estivador, que eu conhecia, e deixou a mulher e dois filhinhos, um de seis, e outro de oito anos, na mais extrema miséria.

Quem assim falava era o Loureiro, que acabava de chegar da rua, do serviço de cobrança, dirigindo-se ao guarda-livros, o Silva, que havia algum tempo ingressara no Espiritismo.

- Ora, meu amigo - respondeu este último - não se aflija; ninguém faz falta, neste mundo. Nós só pagaremos o que devermos; e não me consta que seja crime dos filhos o fato de lhes morrerem os pais.

- Não entendo!

É fácil de entender. Há uma lei de causa e efeito, segundo a qual nada pode suceder sem uma causa determinada. De acordo com essa lei é que nós reencarnamos, para pagar as faltas cometidas em encarnações anteriores; e, pois, nada do que nos sucede neste mundo é obra do acaso ou da fatalidade, mas sim a consequência dos atos que tivermos praticado no passado. Não poderemos, portanto, sofrer, seja o que for, senão em consequência dos nossos próprios atos. Essas duas crianças, a que Você se referiu, nada sofrerão, pois, pelo fato de lhes ter morrido o pai. Se praticaram faltas graves, terão que as pagar, e pagá-las-iam com o pai vivo ou morto; se as não praticaram, não irão sofrer somente pelo fato de o pai ter morrido.

- Coisas... muito bonitas em teoria. Mas... o pior é que, na prática, não adiantam nada.

- Não é bem isso, Loureiro. Você conhece, certamente, muitas crianças, órfãs de pai, a quem nada falta; e muitas outras que, com os pais vivos, se fartam de passar fome e privações de toda a espécie. Porque será que isso sucede?

- Bom; eu não sei porque isso sucede. O que sei é que esses dois meninos, embora pobremente, iam vivendo; e, agora, que o pai lhes faltou, irão passar muita fome.

- Pode ser que isso suceda, meu caro Loureiro. Não digo o contrário; somente afirmo que, se suceder, não será devido ao fato de o pai lhes ter morrido. A previdência dos homens nada vale, meu amigo. Por isso, diz a sabedoria popular que o homem põe e Deus dispõe. Você não conhece nenhum caso de pessoas, que pagaram prêmios de seguros, anos seguidos, sem que nada lhes tenha sucedido; mas que, tendo-se, atrasado, um dia, no pagamento do prêmio do seguro, a casa ardesse precisamente nesse momento? Não conhece? Pois, conheço eu. Já tive conhecimento de três casos desses. Eram pessoas que tinham que passar por essa provação e... passaram, a despeito de todas as previdências humanas.

- Mas, Silva, isso é fatalismo! ...

- Não; não é. É a certeza de que pagaremos tudo o que devermos, e de que não paga- remos nada que não devamos. O que temos a fazer é, naturalmente, lutar por todos os meios honestos para fugir às provações; mas, se, a despeito disso, as não pudermos evitar, resignemo-nos, lembrando-nos de que estamos pagando o que fizemos e não o que qualquer outra pessoa faça ou tenha feito.

Nesse momento, abriu-se a porta do escritório e o chefe da casa, o Sr. Maurice, entrando, dirigiu-se aos dois, que assim conversavam, perguntando-lhes:

- Vocês, por acaso, conhecerão uma mulher honesta, que saiba cozinhar umas coisas simples - o trivial - e que quisesse ir para minha casa, para ficar tomando conta da minha garotinha, quando tenho que sair com minha mulher?

- Conheço - informou imediatamente o Silva. Conheço uma, mas tem dois filhos ainda pequenos.

- Tanto melhor - disse o Sr. Maurice.

Eu me encarregarei da educação dos filhos e assim, ela será mais dedicada.

- Então, o Silva, com a alma vibrando de emoção, voltou-se para o seu companheiro de trabalho, dizendo-lhe:

- Loureiro, mande, amanhã mesmo à casa do Sr. Maurice, aquela senhora, viúva do seu amigo estivador...

Oito dias depois, o Loureiro estava plenamente convencido de que o Silva tinha razão. O seu amigo estivador, morrendo, nada contribuíra para o sofrimento dos filhos. Até se tivesse contribuído, seria para o contrário. Daí em diante, os dois pequenos só andavam de automóvel; tinham brinquedos dos melhores e foram educados no Liceu Francês!      

*
  
É claro que o Loureiro, embora impressionado com o caso, não deixava de afirmar que tudo aquilo sucedera por acaso... É natural. O pior cego é o que não quer ver.


Nesta história, tudo é verdadeiro, até os nomes dos personagens. 

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Falências...


Falências
Arnaldo S. Thiago
Reformador (FEB) Março 1943

Anda presentemente o mundo tão cheio de falências, que já ninguém acredita noutra prestabilidade do gênero humano e de suas bizarras instituições, senão para justificar o ceticismo de um Anatole France, ou a ironia de um Voltaire...

De tal modo se radicou, mesmo, nos ânimos essa ideia de generalizada falência, que um dos mais conspícuos e intrépidos cultores do Espiritismo, o nosso grande amigo Leopoldo Cirne (que, hoje, podendo melhor ouvir-nos e perscrutar o nosso íntimo, bem pode avaliar a estima que lhe consagramos) não trepidou em dar ao seu último trabalho - O AntiCristo -Senhor do Mundo - aquele subtítulo perfeitamente desastroso e de todo inconsequente – “A Falência do Espiritismo"!

Regra geral, isto sim, o homem faliu em face do Cristianismo: faliu como intelectual, como estadista e como religioso. Mas, deduzir-se dessa dolorosa constatação que possa ter falido o Espiritismo, que é sem dúvida o Cristianismo restaurado em sua pureza, não é possível, nem justo.

Os ouropéis de uma civilização abastardadora do caráter simples e sincero, que lhe deverá ter inspirado a Doutrina do Cristo, é que engendraram a falência dos homens, reduzindo-os a uma situação de cativeiro infamante, de que nem sequer tentaram libertar-se, porque a sua libertação implicaria grande esforço para se purificarem e desprenderem de hábitos rotineiros em que se comprazem todos, porque lhes fala mais alto aos sentidos essa modorra da consciência, do que á alma os clamores da mesma consciência, entorpecida por séculos de vida hipócrita, e contaminada de abjeções tremendas.

A ninguém, por isso, é possível prever as consequências do desmoronamento universal desta civilização edificada sobre o alicerce de fórmulas convencionais, tão contrárias à índole do Cristianismo, que aos próprios espíritas é sobremodo difícil vencer as dificuldades que se lhes deparam na prática da vida, para viverem de acordo com os princípios que sinceramente professam! Horresco referens!  

Mas, por misericórdia de Deus, jamais se verificará a falência do Espiritismo - porque não é ele de estrutura humana e sim espiritual, isto é, os seus mentores são Espíritos livres das convenções sociais, que no momento oportuno sabem dizer as coisas como as coisas são e jamais como as aconselha a exigência do bom-tom e da harmonia fraterna - rotulagem triste com que se disfarçam personalismos presunçosos, a se apresentarem como garantes únicos das boas diretrizes doutrinarias ortodoxas.

Devemos estar precavidos, pois que não podemos saber de que modo e a que horas chegará aquela justiça, aquele poder que surge subitâneo como o raio, no próprio dizer do Evangelho. O que é verdade é que a Civilização se contorce nas dores de um parto decisivo, de que nascerá para o Mundo ou um ciclo luminoso de conquistas alcandoradas do espírito humano, ou um doloroso ciclo de decadência (que seria simples repetição da História, aliás sempre a repetir-se) para expiação mais longa e profunda dos grandes crimes e dos pecados tremendos que, em geral, os homens estão a praticar destemerosamente, desde que se imaginaram os únicos competentes para lavrarem as suas próprias sentenças condenatórias ou absolutórias. Deus apenas deve assistir, impassível, ao desenrolar dos acontecimentos, dizem eles.

E o Cristo continua, do alto da cruz, a suplicar: "Pai, perdoa-lhes, porque eles não sabem o que fazem".

O homem faliu, evidentemente, em face da Lei Moral, do eterno Código divino. Mas, o Espiritismo, restaurador do puro Cristianismo, jamais falirá. Por amor do Cristo, irmãos, façamos um supremo esforço: unamo-nos, amando-nos, tolerando-nos, respeitando-nos e procurando amparar-nos reciprocamente, para que as nossas falências sejam repassadas e possamos todos voltar, humildes e arrependidos, ao redil das ovelhas do Mestre, pois que a falência não é somente de um, é de todos.


Do Blog: Leopoldo Cirne substituiu a Bezerra de Menezes na presidência da FEB onde permaneceu por 16 anos. Comandou a construção da sede da FEB na Av. Passos, 32 no Rio de Janeiro. Instituiu a Escola dos Médiuns que trouxe desconforto entre seus pares que articularam a substituição de Cirne na presidência da FEB. Daí à geração de ressentimentos e que tais. Detalhes? Cabe ler o livro citado. Ele está transcrito aqui no Blog até o ponto em que Cirne detalha a celeuma. Não valeria a pena ressuscitar o assunto.   

Ressureição é Reencarnação


Ressureição é Reencarnação
Antônio Túlio (Ismael Gomes Braga)
Reformador (FEB) Março de 1943

A Terceira Revelação projeta luz em muitos pontos obscuros das duas Revelações precedentes.

A Bíblia nos fala de Filhos de Deus que tomaram por esposas filhas dos homens, porque estas eram formosas. Noutros lugares nos dá como sinônimo de profeta o título de "homens de Deus". Nada disso é compreensível sem a Revelação Espírita, esclarecendo-nos que Espíritos muito mais adiantados do que os indígenas da terra vieram aqui habitar em missão e trouxeram uma nova civilização para o planeta. Em relação aos primitivos habitantes deste, tais Espíritos eram verdadeiros Filhos de Deus. Igualmente a vinda de grandes missionários, como verdadeiros enviados de Deus, homens muito superiores aos da terra, justifica o título de homens de Deus que a Bíblia frequentemente lhes aplica.

O profeta Isaias declarou que os mortos reviverão. Jesus pergunta aos seus discípulos quem dizem os homens que ele é. Respondem aqueles que as opiniões estão divididas, achando uns que ele é Elias ou João Batista, outros que é ou Jeremias, ou um dos profetas. Os judeus sabiam, portanto, que Jesus não era um simples habitante da Terra e procuravam entender quem sido em outra encarnação missionária, por não poderem perceber que ele era muito maior do que os seus antigos heróis nacionais.

As noções claras sobre a sobrevivência e a vida da alma não existiam, porém, entre os antigos Judeus. Por vezes, suas expressões parecem de materialistas, pois falam em cumprir a lei para viver longos anos na terra. Noutros lugares falam em condenação ou salvação eterna no seio de Abraão. Empregavam a palavra "ressurreição" sem definição clara. Ora supunham que o mesmo corpo ressuscitaria no fim dos tempos, ora achavam que o Espírito retomaria outro corpo, como no caso de suporem que Jesus seria a reencarnação de um dos antigos profetas. Acreditavam que Elias teria de voltar, mas não sabiam como. Jesus declarou que Elias já voltara como João Batista e os discípulos entenderam logo, sem mais Interrogações, que isso era a verdade mas desse exemplo não extraíram um princípio geral. Limitaram-se a crer sem compreender, sem raciocinar sobre a consequência teórica do fato
Afirmado.  

A Igreja teve que firmar dogma sobre a ressurreição e preferiu, infelizmente, a opinião mais popular e menos científica, do reaparecimento do mesmo corpo. Assim, a palavra ficou tendo sentido bem definido, mas com definição errada. Só a Terceira Revelação esclareceu e provou que reencarnação é uma das leis da natureza e que a velha ideia de reaparecer no mundo, depois de morto, expressa antigamente pela palavra ressurreição, é absolutamente verdadeira com um novo corpo, como reencarnação. Logo, ressurreição é sinônimo de reencarnação, doutrina religiosa universal e eterna, que a pouco e pouco se vai tornando verdade demonstrada pela experimentação, isto é, entrando para o domínio muito mais estreito da ciência positiva.

Pela observação dos fatos, espontâneos uns, provocados outros, pela concordância nos depoimentos dos Espíritos que se comunicam em toda a superfície do planeta, pelas recordações que algumas pessoas conservam da encarnação anterior, a reencarnação sai do domínio amplo da fé para o âmbito estreito do conhecimento. O mesmo se deu com a existência e sobrevivência da alma. De crença vaga, matéria de fé, passou para o domínio dos conhecimentos humanos, através de rigorosa experimentação e catalogação de fatos espontâneos observados em todos os tempos e em todos os lugares, entre povos bárbaros, primitivos, selvagens, tanto quanto entre os mais civilizados.

Embora a nossa inteligência seja curta para as coisas imateriais e só consiga bons resultados na observação da matéria, a sobrevivência da alma humana e a sua reencarnação se vão tornando materiais, verificáveis pelos mesmos processos da ciência materialista, porque já se verifica que o Espirito está sempre revestido de um corpo, que em certo sentido é material e em casos especiais pode ser observado pelos sentidos, dando provas concretas da sua presença.

Essa passagem do domínio da fé para o do conhecimento traz consigo imensas consequências para a futura civilização. A Religião e a Ciência estarão sempre de acordo, sem se hostilizarem ou julgarem incompatíveis. Serão as duas asas para os grandes voos do Espírito.

Tudo tende a fundir-se em um todo harmonioso. Religião, filosofia, ciência, moral hão de formar um conjunto único e harmônico para bem de todos, e não técnicas separadas, com seus especialistas divididos.

*

A demonstração de que a palavra "ressurreição", do Cristianismo e do Judaísmo significa na verdade o mesmo que "reencarnação" não é simples minúcia teológica para as sutilezas de discussão escolástica ou acadêmica. Ao contrário, é uma descoberta, dessas que alteram o curso da história do mundo, porque aproxima todas as religiões do Ocidente às grandes Religiões do Oriente. De fato, a grande divergência entre o Cristianismo ortodoxo das três grandes Igrejas cristãs - Católico-Romana, Ortodoxa Grega e Protestante - que ensinam a doutrina das penas eternas, e as grandes religiões do Oriente -- Budismo, Bramanismo e Xintoísmo - que ensinam a salvação universal através das fieiras infinitas de existências do mesmo espírito, está só nesse dogma. Todas as outras divergências decorrem dele.

Uma vez demonstrado que ele está errado, que, na verdade não existem penas eternas mas sim salvação universal; que o Cristianismo ensina, portanto, a mesma doutrina dos filósofos gregos e das revelações orientais, todos se acharão de acordo, todas as Igrejas poderão confraternizar para a obra comum de reformar a humanidade. Já os orientais, não terão razões de nos julgarem bárbaros, nem nós, de julgá-los fanáticos supersticiosos.

Três séculos de missões católicas no Oriente, tratando os povos reencarnacionistas como selvagens, deram resultados muito medíocres. Foi impossível induzir aquelas massas imensas a aceitar a doutrina das penas eternas, a aceitar a crença na graça, na predestinação, na remissão dos pecados e tudo mais que decorre do princípio da existência única. Uma convicção multisecular em contrário, a certeza de que a doutrina reencarnacionista está demonstrada e só ela explica as infinitas diferenças de caráter dos homens e as diferenças de sorte lhes fecham a alma aos dogmas das ortodoxias cristãs.

Verificado que as ortodoxias cristãs realmente estão erradas nesse ponto, não haverá mais repugnância entre o Oriente e o Ocidente em assuntos religiosos; poderemos entrar em fraterna colaboração, permutando ideias e nesse domínio todos temos muito a receber - ocidentais e orientais - e nós do Ocidente mais do que os do Oriente.

É missão do Espiritismo, portanto, aproximar o Cristianismo do Budismo e do Bramanismo, demonstrando que entre as duas grandes correntes religiosas só há diferenças de palavras, que na essência o ensino é o mesmo.

Louis Jacolliot, numa série de livros muito interessantes, já demonstrou que todos os fenômenos do Espiritismo são conhecidíssimos na Índia e já o eram muitos séculos antes de os estudarmos no Ocidente. Cabe ainda ao mesmo Louis Jacolliot a honra de haver estudado as grandes religiões da Índia, e demonstrado que a nossa Bíblia traz as mesmas ideias dos velhos livros hindus, ou, em outras palavras, a unidade da revelação.

Afastadas as diferenças de palavras, reinará a harmonia da essência, o fundo comum. Para lá caminha a humanidade. Tudo avança para a universalização, para a união, para Deus.

Nos domínios da matéria, essa uniformidade já está alcançada. A ciência, a técnica já se aplicam igualmente em todos os países do mundo. Todas as descobertas se universalizam rapidamente. Nesse domínio, tudo é positivo, demonstrável, e não resta campo livre à formação de seitas.

Em filosofia e religião, por serem temas mais abstratos, de mais difícil compreensão para o homem, formaram-se escolas e seitas diferentes; mas, a inteligência progride e a pouco e pouco vai descobrindo os erros que produziam
separações. Uma vez corrigidos esses erros, teremos chegado à união, teremos uma só religião, como já temos uma só ciência.

O conhecimento da doutrina reencarnacionista lança por terra uma série de erros seculares.


Morreu, acabou



Morreu, acabou
Leopoldo Machado
Reformador (FEB) Abril 1943

Eram inimigos rancorosíssimos.

O ódio que sentiam, reciprocamente, um pelo outro, não tinha limites.

Aguardava-se, para cada momento, uma explosão violentíssima desse ódio.

Só o assassínio de um podia solucionar, para o outro, a situação; podia trazer serenidade e segurança de vida ao outro.

E o assassínio veio.

Um tiro certeiro do mais ágil abateu, já morto, o rival, em plena praça da igreja, quando a vítima mal saia do templo.

Não houve flagrante. Um passo favorável para a defesa do assassino, que o júri absolveu.

Fora da cadeia, foi alvo de felicitações por parte dos amigos. Confiado, agora, na sua segurança e serenidade de vida, a todos declarava, confiante e sereno:

- Agora, posso viver tranquilo. Ele morreu, acabou-se...

*

Mas, não se havia acabado, não, que a morte não acaba coisa alguma: tudo continua.

Nem o criminoso teve mais serenidade e segurança, pois que súbita loucura o arrastou ao hospício. Aí, no quarto forte, era de vê-lo transfigurado, os olhos fora das órbitas, numa atitude que apavorava, a cavar, com os dedos escalvinhados e a sangrar, o ladrilho do chão; a marrar com a cabeça, como se fora res bravia, as paredes; a urrar ferozmente, de meter dó.

A psiquiatria foi impotente para debelar-lhe o mal.

As medidas enérgicas do hospício foram ineficientes para conte-lo quieto.
E o infeliz definhava dolorosamente, desnutrido, visto que não se alimentava, machucado e imundo.

Foi assim que apareceu, mais tarde, morto. Seu mal: terrível obsessão pelo assassinado.

Livre este então para agir com maior ódio, porque ódio velho acumulado e acrescido do que provocara seu assassínio, foi encontrar sua vítima ainda mais livre, por falta de fé pura em Deus, de uma vida uma e honesta, de muita oração e vigilância - que são as maiores garantias contra obsessões. O assassinado procurou então exercer redobrada vingança.

E tirou-a, sem piedade nenhuma, arrastando-o àquela obsessão pavorosa, a morte de seu corpo, a perseguição terrível de espírito para espírito, porque o ódio continuou post-mortem.

A vingança e o ódio.

Ódio e vingança que persistiram até que, numa sessão espírita, foram ambos doutrinados, abrindo-se-lhes diante dos olhos da consciência, o mapa de suas responsabilidades e das consequências de seus atos.

Morreu, acabou... já não é mais do nosso tempo, graças ao advento do Espiritismo...

A morte não extingue a vida, que continua para o bem ou para o mal.

Mais, talvez, para o mal, em face da condição de planeta inferior, de provas e expiações, peculiar à Terra. 

Se não podemos, às vezes, desvencilhar-nos de inimigos que vemos, porque de carne como nós muito menos o poderemos de inimigos invisíveis: que não ouvimos nem sentimos, mas que nos vêm perfeitamente, para os quais o nosso corpo é como se fosse de vidro; de inimigos que leem os nossos pensamentos e sentimentos, como nós vemos a água através do copo.

Que as forças invisíveis que nos rodeiam nunca possam ver, através do vidro do nosso corpo, a água dos nossos sentimentos e pensamentos turvada e negra pelas nossas impurezas e imperfeições. A ausência de impurezas e imperfeições é a melhor garantia contra aqueles que, cheios de ódio contra nós, desejam realizar aquilo que não puderam, encarnados, perpetrar.

A oração e a vigilância, eis outro meio fácil de empregar-se contra tais investidas do mundo invisível.




domingo, 17 de dezembro de 2017

Ante o grande Renovador


Ante o Grande Renovador
Irmão X por Chico Xavier
Reformador (FEB) Junho 1947

Senhor, lembrando a Tua crucificação entre malfeitores, sacrificado em Teu ministério de amor universal, ouvimos apelos de vários setores religiosos do mundo presente, invocando-Te o nome para incentivar os movimentos tumultuários da renovação política que convulsionam o Planeta...

Asseguram-Te a posição de rigor revolucionário de todos os tempos. Afirmam que abalaste os fundamentos sociais da ordem humana, que alteraste o curso da Civilização, que transformaste os povos da Terra.

Quem te negará, Senhor, a condição de Embaixador Celeste? quem desconhecerá teu apostolado de redenção?

Entretanto, divulgando a mensagem da Boa-Nova, jamais insultaste o governo estabelecido...

Amigo de todos os sofredores e necessitados, nunca congregaste os infelizes em sinistras aventuras de ódio ou indisciplina. Aproximavas-Te dos desamparados, curando-lhes as enfermidades, ensinando-lhe o caminho do bem, estendendo-lhes mãos benfeitoras e diligentes. Dirigindo-Te à massa anônima e desditosa, em nome do Eterno Pai, não preconizaste movimentos armados de desrespeito às autoridades legalmente constituídas. Ao invés do incitamento à revolta recomendavas que a Lei de Moisés fosse respeitada, que os sacerdotes dignos fossem honrados, asseverando que o Reino de Deus não surgiria com aparências exteriores e sim com a elevação espiritual do homem de qualquer raça ou nacionalidade, sinceramente interessado em aproveitar os dons divinos.

Expondo princípios superiores ao coração popular, não disputaste lugar saliente, junto ao romano dominador, a pretexto de patrocinar a liberdade e, sim, aconselhaste acatamento a César com a obrigação de resgatar-se o tributo que se lhe devia.

Erguendo novas colunas no templo da fé viva, conclamando mãos limpas e corações puros ao serviço do céu, não desprezaste a legião de pecadores e criminosos que se abeiravam de Ti, sedentos de transformação para a tarefa bendita... Não falaste a eles de uma tribuna dourada, acentuando fronteiras de separação... Comungaste com todos, no caminho da vida, a pleno chão, abraçando leprosos e delinquentes, avarentos e ricos, homens e mulheres desventurados. Não impunhas, no entanto, qualquer compromisso que envolvesse a administração dos interesses públicos, nem traçavas, com astutas palavras, qualquer insinuação ao desespero. Pedias tão somente renovassem o coração para que a Luz do Reino lhes penetrasse as profundidades do ser.

Sustentando o sublime ideal de obediência a Deus nunca ordenaste morte ou punição aos companheiros menos corajosos. Suportaste as fragilidades dos discípulos mais queridos, confiando no futuro, certo de que se podiam faltar a Ti, nos instantes mais duros, não falhariam para com o Pai, nas grandes horas, desde que não Te desanimasses na semeadura de fraternidade e proteção, pelo esforço da palavra e do exemplo no círculo educativo.

Se confiavas num mundo vasto, onde reinaria a solidariedade nas relações humanas, jamais tentaste apressar diretrizes absolutas pelo império da força.  Começaste sempre a propaganda dos propósitos divinos em Ti mesmo, revelando o próprio coração, cultivando o trabalho e a esperança, com suprema fidelidade ao Poder Mais Alto que marcou estação adequada à semente e à germinação, à flor e ao fruto. Em momento algum mobilizaste a violência, alegando necessidades do serviço superior, e, em todo o teu apostolado, jamais desdenhaste o menor ensejo de amparar o próximo, edificando-o.

Para isso, abraçaste os velhos e os doentes, os deserdados e os tristes, os aleijados e as criancinhas...

Nunca disseste, Senhor, que os discípulos deveriam dominar em Roma para serem úteis na Judéia, nem prometeste primeiros lugares nas Estradas da Glória aos companheiros diletos, ainda mesmo se tratando de João e Tiago que Te foram carinhosos amigos. Mas garantiste a vitória sublime a todos os homens que se fizessem devotados servos dos semelhantes por amor ao Pai Celestial!

Invariavelmente, solicitaste socorro e proteção, desculpas e auxílios para os que Te perseguiam, gratuitamente, irônicos e ingratos.

Tua ordem era de amor e paz para que todo o espírito se converta ao Infinito Bem...

Hoje, contudo, improvisam-se guerras sanguinolentas e sobram discórdias em Teu nome. Há companheiros que disputam situações em relevo, a fim de servirem à Tua causa, como se o sacrifício pessoal não constituísse a Tua senha na obra redentora. Outros Te recordam os ensinos para justificar a inconformação e a desordem...

Sim, foste em verdade, o Grande Renovador. Transformaste os séculos e as nações, trabalhando e perdoando, ajudando e servindo, esperando e amando sempre!..

Um dia, na praça pública, quando Te viste a sós com humilde e infortunada irmã, que se vira fustigada pelo populacho ignorante, perguntaste a ela, emocionadamente:

- Mulher, onde estão os perseguidores que te acusam?

Hoje, Mestre, lamentando embora o tempo que também perdi na Terra, iludido e envenenado quanto os outros homens, lembrando-Te ainda na cruz afrontosa, sozinho em tua exemplificação de amor e renúncia, abnegação e martírio, ouso interrogar-Te com as lágrimas de meu profundo arrependimento:

- Senhor, onde estão os renovadores que Te acompanham?


sábado, 16 de dezembro de 2017

Semeadura e Colheita


Semeadura e Colheita
Fontes de Luz
Reformador (FEB) Maio 1949

"Entesourastes para os últimos dias." – Tiago, 5:3

Na carta que escreveu aos gálatas, disse Paulo “que cada um levará a sua carga” (6:5) e que “aquilo que semear o homem, isso também segará” (6:8). O grande apóstolo não disse novidades, pois nada mais fez que reafirmar o preceito de Jesus: - “a cada um segundo as suas obras.”  

Confirmando e esclarecendo esses juízos, o Espiritismo trouxe à luz a lei de causa e efeito que rege a vida humana, demonstrando, a sobejo, que ninguém pode lançar à conta de injustiça os males de que padece, como se não pode, igualmente, atribuir a felicidade de alguém a uma ininteligível parcialidade da Divina Justiça.

Todavia, cristãos e espiritistas, sabedores de todas essas coisas, parecem não atinar com a realidade dos fatos, permanecendo num lastimável desequilíbrio d'alma, imersos no oceano turvo dos reclamos e das queixas contra a sorte.

Queixam-se - do mal que semearam; 
Irritam-se - com os insucessos a que deram causa;
Lastimam - as oportunidades que desbarataram;
Exigem - salários aos quais não fizeram jus;
Reclamam - facilidades não adquiridas;
Requerem - direitos não conquistados;
Suplicam - bênçãos que relegaram;
Choram - situações que construíram;
Inocentam-se - de crimes cometidos;
Inconformam-se - com a própria condição.

Contudo, esse modo de ser, de negativos resultados, nada edifica; antes, impossibilita ou dificulta qualquer reconstrução.

A inconformação e a revolta, a queixa e o desalento, são inimigos terríveis de qualquer coração desejoso de retificar caminhos para o ressurgimento interior.

Antes de tudo, deve o discípulo do Cristo identificar a sua situação, pondo-se à luta pela melhoria sempre maior da própria alma, exercitando-se no amor, na renúncia e no trabalho.

Se no presente a situação do seu espírito não é boa, pode faze-la melhor, de futuro, com o esforço perseverante da boa vontade construtiva; mas, pode faze-la pior ainda, pelo descaso da indiferença ou pelos prejuízos da rebeldia.


Se uma vida mal vivida traz por resultado uma aluvião de dores e remorsos, uma existência bem aproveitada possibilita uma colheita generosa de bênçãos e de paz. 

Estranhezas


Estranhezas
Hernani T. Sant’Anna
Reformador (FEB) Maio 1947

 Por mais estranho que pareça à gente,
Morre quem vive e quem falece nasce;
O tempo é simples ilusão fugace,
O humilde é sábio; o sabichão, demente!

O Sol é um ponto, apenas, do esplendente
Concerto sideral à imensa face... 
Pequeno é o grande, e o vencedor rapace
Não passa dum penado delinquente!

Mais do que o riso, a dor é uma ventura;
E tanto mais se felicita e avança,
Quanto mais sofre o ser e se amargura!

Quão mais descer em si, maior altura
Noss'alma, em proporção direta, alcança,

E quão mais se apagar, tão mais fulgura! 

Era fluídico o corpo de Jesus?


Era fluídico o corpo de Jesus?
A Redação
Reformador (FEB) Maio 1953

''Mundo Espírita", agora não mais sob a direção do saudoso confrade Lins de Vasconcelos, mas sob a orientação dos dirigentes da Federação Espírita do Paraná, transcreveu em seu nº 825, de 21 de Março do corrente ano, um artigo publicado no "Diário de S. Paulo" e subscrito com o pseudônimo de Irmão Saulo, e que tem por titulo o que encima esta coluna.

Nesse artigo conta o seu autor, velho adversário de Roustaing, que, assistindo a uma sessão espírita, presenciou a manífestação do antigo companheiro desta Casa, Frederico Figner, o qual teria declarado reconhecer agora o erro que diz conter a obra de Roustaing, e que havia tentado, SEM O CONSEGUIR, esclarecer esse ponto no livro "Voltei", que ditou sob o pseudônimo de lrmão Jacob.

A "afirmativa" atribuída a Figner, exposta vagamente como o foi no artigo a que aludimos, deixa crer que os obstáculos que se teriam anteposto ao seu desejo partiriam ou da Diretoria da Federação Espírita Brasileira, que editou o livro, ou do próprio médium que o recebeu, o nosso bom Francisco Cândido Xavier.

Uma e outra suspeita, para serem lançadas em letra de forma, imporiam, a quem as veiculasse, a obtenção, do Espírito comunicante, de elementos positivos que indicassem o verdadeiro ocasionador de suas dificuldades.

É contrário ao bom senso supor que um Espírito da altura moral de um Fígner viesse, em qualquer sessão, assacar uma acusação tão injuriosa quão injusta, a nós os da FEB, ou ao Chico Xavier, que ele tanto amou e admirou.

É também fora de toda a lógica o pensar que o Espírito de Fígner procurasse uma reunião familiar e estranha para confessar o seu erro, em vez de o fazer diretamente dentro da própria Federação Espírita Brasileira, por um dos bons médiuns do Grupo Ismael ou de outros Grupos que ali funcionam (nos quais ele se tem comunicado) ou mesmo no lar de algum diretor dessa instituição.

Por essas razões, estimaríamos que o autor do artigo tornasse bem claras as coisas que deixou no ar, perguntando ao tal Espírito, que se manifestou com o nome de Frederico Fígner, quem impediu que este escrevesse contra o corpo fluídico.

A ética jornalística e a dignidade exigem que acusações tão graves sejam apresentadas às claras, e não assim tão vagamente.


Que Irmão Saulo e ''Mundo Espírita" nos atendam ao pedido, é o que desejamos.

"Era fluídico o corpo de Jesus"


“Era fluídico o corpo de Jesus”
A Redação
Reformador (FEB) Agosto 1953

Respondendo à nossa NOTA sob o título acima, publicada em "Reformador" de Maio do corrente ano, "Mundo Espírita" escreve:

"Trata-se, ademais, de uma questão cediça, que só pode conduzir os espíritas a intermináveis e bizantinas discussões. E essas discussões nada de útil constroem."

E por que motivo foi "Mundo Espírita" tratar do assunto, transcrevendo um artigo calunioso, publicado em jornal profano, e dando-lhe até maior destaque?             .

Se é questão cediça (corrupta, quase podre, sabida de todos, corriqueira, antiquada), porque transcreve agora, no número de Junho, um artigo publicado em "Revue Spirite"?

Ora, para nós, e certamente para a veneranda Federação Espírita do Paraná, em cujas mãos se encontra atualmente "Mundo Espírita", a questão merece tratada com mais respeito, pois que há um Pacto, por ela subscrito, baseado no livro "Brasil, Coração do Mundo", no qual Roustaing é citado como MISSIONÁRIO DA FÉ, exatamente por haver publicado a sua grandiosa obra de estudo interpretativo do Evangelho.

*

O divulgador de tal "comunicação espontânea", velho adversário de Roustaing e da FEB, também voltou, pelo mesmo número de ''Mundo Espírita", de Junho, não para provar qualquer coisa, não para dizer às claras o nome do acusado, mas para continuar com as suas acusações vagas, imprecisas, falsas e maliciosas, ora à FEB, ora a Chico Xavier.
Ora, se um "Espírito" afirma qualquer coisa e essa afirmativa diz que foi cometido um crime por ‘a’ ou por ‘b’, cumpre ao propalador da notícia fazer que o "Espírito" acusador diga, pelo menos, quem é o inocente.

Sim, pois que servir-se duma acusação infundada e lançá-la ao ar, sem provas, deixando que O crime seja imputado a uma de duas pessoas, das quais uma deve ser inocente, pode ser tudo: leviandade, falta de escrúpulo, maldade, mas não é dignidade, principalmente dignidade de um espírita.

E o Interessante é que o apregoador da calúnia, após fugir à nossa interpelação, solidariza-se com o tal "Espírito" e nisso fica, procurando apoiar-se em outros colegas seus, que agiram de modo semelhante, e que, então, também fugiram ao convite que lhes dirigimos.

Se tivessem razão, certamente se teriam dirigido ao médium que recebeu o livro, mas isso não lhes convém, pois que o plano deles é lançar a semente venenosa, a fim de que os seus futuros colegas a espalhem em época em que, então, desencarnado o médium, com os processos de que usam e abusam, escreverão: - E Chico Xavier confirmou tudo isso, através de “uma carta" dirigida a "conceituado confrade".

Que gente!