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terça-feira, 1 de dezembro de 2015

O grande medo de Kardec...


        ...o grande medo de Kardec é que o espiritismo derivasse para a formalização religiosa do sacerdócio, do ritual, da hierarquização. Para Kardec, religião era toda uma estrutura venal, podre, pestilenta, falida, que engodara o homem durante quase dois mil anos e propiciara a consubstanciação do maior perigo para a humanidade: o aurorescer do materialismo! Tudo deveria ser feito, pois, para que nem um nem outro se repetissem.

            Ao mesmo tempo, Kardec não fazia mais do que assentar seu raciocínio e sua proclamação religiosa nos próprios postulados contidos em O Livro dos Espíritos. São Luís, por exemplo, respondendo à questão número 1010, informa:

            Os Espíritos, portanto, não vêm subverter a religião, como alguns o pretendem. Vêm, ao contrário, confirmá-la, sancioná-la por provas irrecusáveis. (...). Eis por que, daqui a algum tempo, muito maior será do que hoje o número de pessoas sinceramente religiosas e crentes.

            E, no capítulo V da Conclusão, já se podia ler: "O Espiritismo é forte porque assenta sobre as próprias bases da religião."

            Assim, o pensamento do Codificador pode ser nimiamente compreendido pela síntese que lemos em Obras Póstumas, primeira parte, capítulo "Os desertores" , e que é também a síntese do que eu mesmo expus até aqui:

            O Espiritismo é uma doutrina filosófica de efeitos religiosos, como qualquer filosofia espiritualista, pelo que forçosamente vai ter às bases fundamentais de todas as religiões: Deus, a alma e a vida futura. Mas, não é uma religião constituída, visto que não tem culto, nem rito, nem templos e que, entre seus adeptos, nenhum tomou, nem recebeu o título de sacerdote ou de sumo-sacerdote. Estes qualificativos são de pura invenção da crítica.

                  Obs 87      Em "Dos Alfarrábios - II", de minha autoria,
publicado no Reformador de fevereiro de 1972,
à página 37, eu já havia feito a transcrição
destas palavras de Kardec.

            E nesta mesma obra, sob o título "Futuro do Espiritismo", uma mensagem de Brion Dorgeval ao médium Jorge Genoullat sentencia: "O Espiritismo (...) restaurará a religião do Cristo" (...) e "instituirá a verdadeira religião, a religião natural."

            Mas o grande medo de Kardec, hoje, há de estar potencializado. O Codificador já percebeu, sem dúvida, que o movimento espírita enveredou por ilusório atalho e deve ser aguda e dolorosa a sua mágoa... Tudo quanto temeu está acontecendo ou por acontecer. Se ele retomasse, haveria de deplorar o esmero com que se sofisma para justificar todos os erros que, antes, já foram perpetrados e que aí estão, novamente, e no chamado Coração do Mundo, comprometendo a pureza da doutrina... Meu Deus! é preciso parar um instante, um segundo que seja, para a reflexão e a autocrítica. Observe-se a história, os seus anais, seus registros, seus processos filosóficos e religiosos. Medite-se sobre quanto ficou para trás relativamente às dores e tristezas a que o atalho levou os líderes religiosos de ontem. É preciso observar, friamente, o que está acontecendo. Meu Deus, é toda uma causa maravilhosa, sublime, transcendental que está em jogo! É a doutrina da Verdade que, confiada a nós, reencarnantes da Pátria do Cruzeiro, estabelecerá de fato o reinado do amor e da paz sobre a face da Terra, desde que não se repitam os equívocos do passado, na defenestração das lições amargas já aprendidas! O grande medo de Kardec é o meu próprio medo, é o medo imenso da Casa de Ismael! É o medo de que tudo se perca outra vez... Afastemo-nos, por um instante, da craveira comum dos fatos que passam e olhemo-los à distância do bom senso. Há diante de todos um caminho belíssimo, luzente e seguro; mas os pés avezados parecem preferir o atalho incerto e penumbroso... O movimento espírita precisa voltar, urgentemente, às suas origens! Porque muitos dos "melhores" e mais "eficientes" núcleos já estão completamente enovelados pelos baraços das impenitentes distorções humanas. A sua porta já não falta uma imagem qualquer de algum mago do espiritismo, fazedor de milagres. Na recepção, entre maus livros, editados mediante preponderante critério comercial, alguns títulos alarmam pela preocupação de "santificar" humildes, sinceros e inocentes médiuns. No interior, coros de jovens ou de adultos entoam peças do Hinário Espírita (?!), geralmente de mau gosto artístico, enquanto as paredes ostentam uma galeria de taumaturgos, ataviados com ramilhetes coloridos. Alguns deles - os mais "venerandos" - ganham até luzinhas devocionais, permanentemente acesas... Oradores esguelam-se em panegíricos a confrades ilustres, permeados da exaltação ao sentido ecumênico do movimento, de maneira a ficar muito bem justificada a presença de irmãos "tolerantes" em solenidades e rituais promovidos sob os auspícios do Concílio Vaticano II (88) As autoridades são convidadas a compor a mesa dos trabalhos, na qual nunca faltam as corbelhas e as alfaias de crepom. Os fotógrafos profissionais, convocados sofregamente pelos dirigentes, queimam seus flashes para depois venderem o "santinho" à porta do centro ou na sua própria livraria. Com essas fotos, fazem-se ainda chaveirinhos, medalhinhas, carteirinhas de fósforos, bandeirolas, plásticos para vidro de automóvel, etc. Os rádio-repórteres sarandam, aflitos, de microfone em punho, na esperança de arrancarem algum "furo" sensacional, a fim de garantir o Ibope do horário nobre! E, para arremate amargoso, incentiva-se a instituição de escolas, academias, institutos e universidades espíritas, a mostrarem que a nova escolástica vai muito bem, obrigada, graças à multiplicação dos cursos regulares que Kardec "teria" proposto, embora ninguém o visse ministrar algum... Em meio ao cursilho, o "professor" exalta a pujança da massificação espíritas esclarecendo ser ela o fruto "abençoado" da complexa organização que vige nas instituições, com grandes organogramas, diretorias executivas, conselhos, departamentos, divisões, seções, setores, comissões, além de técnicas moderníssimas de fazer a caridade, fluxogramas para a ajuda ao próximo, métodos auditoriais de amar ao semelhante, et caterva... Contrasenso fantástico o da atualidade do movimento espírita, quando enfocamos principalmente as lideranças mais ortodoxas. Ficam muito injuriados, muito indignados porque os umbandistas se dizem espíritas; mas devagarinho e sob mil disfarces vão copiando os mesmos rituais. Batuque e ponto são barbaridades antidoutrinárias; porém, hino e coral são apropriadíssimos. E isso é só um exemplo.

            Obs 88  Leia-se, a propósito, a mensagem de Irmão X
 intitulada "Religiões Irmanadas",
veiculada no Reformador de agosto de 1971,
página 171. Mas leia-se mesmo.
Vale a pena. Garanto.
E, depois, se desejar arrematar a boa leitura,
abra A Descida dos Ideais, de Pietro Ubaldi, primeira edição, 1967,
prefácio, página 9, onde o autor aborda o movimento ecumenista
 e afirma, referindo-se ao papel da Igreja:
"Em resumo, agita-se para salvar a sua posição de domínio."

            Obs 89 Leia-se a mensagem de Emmanuel,
recebida em Brasília e publicada no
Reformador de fevereiro de 1973, página 40.

            Pobre Kardec... Se seu medo fê-lo temeroso ao tempo em que codificou a
doutrina, agora o temor há de fazê-lo medroso dela, pelos muitos males que, nesse diapasão, há de causar à humanidade!...
             
páginas 60-61-62
do capítulo ‘O Grande medo de Kardec’
inO Atalho - Análise Crítica do Movimento Espírita
de Luciano dos Anjos
1ª edição 1994 - Publicações Lachâtre

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Obs 88 - Religiões Irmanadas
Irmão X por Chico Xavier
Reformador (FEB) Agosto 1971

            Comentávamos a conveniência de se irmanarem as religiões, em favor da concórdia no mundo, quando meu amigo Tertuliano da Cunha, desencarnado no Pará, falou entre brejeiro e sentencioso:

            - Gente, é necessário pensar nisso com precaução. Ideia religiosa é degrau da verdade e o discernimento varia de cabeça para cabeça. Exaltam vocês a excelência de larga iniciativa, em que os múltiplos templos sejam convocados à integração num plano único de atividade; entretanto, não será muito cedo para semelhante cometimento?

            Porque a pergunta vagueasse no ar, o experiente sertanista piscou os olhos, sorriu malicioso e aduziu:

            - Isso me faz lembrar curiosa fábula que me foi relatada por velho índio, numa de minhas excursões no Xingu.

            E contou:

            - Reza uma lenda amazônica que, certa feita, a onça, muito bem posta, surgiu na selva, imensamente transformada. Ela, que estimava a astúcia e a violência, nas correrias contra animais indefesos, escondia as garras tintas de sangue e dizia acalentar o propósito de reunir todos os bichos no caminho da paz.

            Declarava haver entendido, enfim, que Deus é o Pai de todas as criaturas e que seria aconselhável que todas o adorassem num só verbo de amor. Confessava os próprios erros. Reconhecia haver abusado da inteligência e da força. Despertara o terror e a desconfiança de todos os companheiros, quando era seu justo desejo granjear-lhes a simpatia e a veneração. Convertera-se, porém, a princípios mais elevados. Queria reverenciar o Supremo Senhor, que acendera o Sol, distribuíra a água e criara o arvoredo, animada de intenções diferentes. Para isso, convidava os irmãos à unidade. Poderiam, agora, viver todos em perpétua harmonia, porquanto, arrependida dos crimes que cometera, aspirava somente a prestigiar a fé única. Renunciaria ao programa de guerra e dominação. Não mais perseguiria ou injuriaria a quem quer que fosse.

            Pretendia simplesmente estabelecer na floresta uma nova ordem, que a todos levasse a se prosternarem perante Deus, honrando a fraternidade. Solenizando o acontecimento, congraçar-se-ia a família do labirinto verde em grande furna, para manifestações de louvor à Providência Divina. Macacos e cervos, lebres e pacas, tucanos e garças, patos e rãs, que oravam, em liberdade, a seu modo, escutaram o nobre apelo, mas duvidaram da sinceridade de tão alto discurso. Todavia, apareceram serpentes e raposas, aranhas e abutres, amigos incondicionais do ardiloso felídeo, aderindo-lhe ao brilhante projeto. E tamanhos foram os argumentos, que a bicharada mais humilde se comoveu, assentando, por fim, que era justo aceitar-se a proposta feita em nome do Pai Altíssimo.
           
            Marcado o dia para a importante assembleia, todos se dirigiram para a toca escolhida, repentinamente transfigurada em santuário de flores. Quando a cerimônia ia a meio caminho, com as raposas servindo de locutoras para entreter os ouvintes, as serpentes deitaram silvos estranhos sobre os crentes pacatos, as aranhas teceram escura teia nos orifícios do antro, embaçando o ambiente, os abutres entupiram a porta de saída, e a onça, cruel, avançou sobre as presas desprevenidas, transformando a reunião em pavoroso repasto... E os bichos que sobraram foram escravizados na sombra, para banquete oportuno...

            Nosso amigo fez longa pausa e ajuntou:

            - A união de todos os credos é meta divina para o divino futuro, mas, por enquanto, a Terra ainda está fascinada pelo critério da maioria. Como vemos, é possível trabalhar pela conciliação dos religiosos de todas as procedências; no entanto, segundo anotamos, será preciso enfrentar a onça e os amigos da onça... Onde o melhor caminho para a melhor solução?..

            Sorrimos todos, desapontados, mas não houve quem quisesse continuar o exame do assunto, após a palavra do engraçado e judicioso comentarista.

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Obs 89 - Mensagem de Emmanuel
Reformador (FEB) Fevereiro 1973

Senhor Jesus!

            Reunidos na Casa de Ismael, rogamos para que nos abençoes os propósitos de servir ante os problemas da atualidade terrestre.
            Deixa-nos saber que estamos todos interligados em teu coração compassivo e sábio, para que não venhamos a desertar da fraternidade que nos reúne!..
            Orienta-nos o raciocínio, de modo a verificarmos que as nossas necessidades e aspirações se irmanam no mesmo campo de experiência, a fim de que o respeito recíproco nos presida atividades e relações.
            Faze-nos observar, por misericórdia, que Deus não nos cria pelo sistema de produção em massa e que por isto mesmo cada qual de nós enxerga a vida e os processos da evolução de maneira diferente. Ainda assim, induze-nos a registrar que embora as nossas disparidades de interpretação diante dos fenômenos que nos cercam, todos podemos e devemos ser cada vez mais irmãos uns dos outros nas áreas de vivência e solidariedade, ação e tolerância.
            Ajuda-nos a entender que a Ciência pode governar a matéria no Plano Físico e eliminar as distâncias no Espaço Cósmico, entretanto, faze-nos reconhecer que nós outros, os obreiros da fé viva, fomos chamados para reacender a luz de teus ensinamentos nos corações, objetivando a edificação espiritual do futuro, a começar de nós mesmos. Para isso, Senhor, para que o título de servidores nos honorifique as tarefas, ampara-nos o desejo de trabalhar aprendendo e de servir elevando sempre!..
            E auxiliando-nos a desterrar qualquer fórmula de violência de nossas resoluções e atitudes, ensina-nos que somente o amor, em nossas realizações de cultura e de inteligência, pode construir em nós e por nós o teu reino de sabedoria e felicidade, no qual estaremos incessantemente contigo, tanto quanto já estás conosco, hoje e para sempre.

                                                                                                                      Emmanuel
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Religiões Irmanadas
Nota em Reformador (FEB) Março 1959

            Através de um telegrama procedente de Roma e publicado em nossos jornais no dia 26 de Janeiro, S. Santidade convocará um concílio ecumênico (universal), a fim de atrair os protestantes e outras seitas cristãs ao seio da Igreja Romana, da qual é ele o chefe supremo e único infalível.

            O concílio certamente será chamado - "Concílio das Religiões Irmanadas", mas, diremos nós, como irmanar, juntar, conglomerar concepções colidentes? - Talvez o consigam, mas no papel, apenas. Para fins políticos, tudo é possível, mas religiosamente nunca, salvo se o Catolicismo resolver voltar aos tempos realmente áureos do Cristianismo dos dois primeiros séculos.


            A boa vontade de S. Santidade não é suficiente, só com ela não será solucionada a questão, apesar da legião de 2.000 bispos que ao Concílio comparecerão, segundo informam os jornais.

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