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quarta-feira, 8 de abril de 2015

o Servo Insaciável


O Servo Insaciável
Irmão X  
por Chico Xavier
Reformador (FEB) Maio 1956

            Fatigado da imensa luta que sustentara nas esferas inferiores, Belino Castro rogou ao Senhor a bênção da reencarnação.

            Estava cansado, dizia.

            E porque chorasse, compungidamente, um Mensageiro Celeste arrebatou-o do império das sombras e o trouxe para a Terra.

            Encantado, Belino recebeu honrosa incumbência. Renasceria para a obra da fraternidade cristã.

            Além dos serviços naturais que lhe diziam respeito à própria recuperação diante da Lei, seria prestimoso benfeitor dos doentes. Protegeria os enfermos, distribuiria com eles a coragem e a consolação em nome de Deus.

            - Não precisa impressionar-se demasiado com a aquisição de elementos materiais para a execução da tarefa - disse-lhe o emissário divino  - mantenha as mãos no arado generoso do trabalho e o seu serviço atrairá os recursos de que necessite.

            - Mas - ponderou Belino, preocupado -, e quando surgirem dificuldades imprevistas e especiais?

            - Utilize a prece e, em seguida, canalize suas forças na direção do objetivo. O suprimento ser-lhe-á, então, entregue por nós, através de circunstâncias aparentemente casuais, para o serviço que lhe compete.

            E Belino tornou ao corpo num lar de excelente formação evangélica.

            Desde cedo, foi instruído para a verdade e para o bem.  

            Moço ainda, recolhia do Alto o apelo incessante ao ministério que lhe cabia e, por essa razão, costumava dizer:

            - Sinto que tenho abençoada missão a realizar, em favor dos enfermos. Muitas vezes, sonho a ver-me ao pé de numerosos doentes, enxugando lágrimas e limpando feridas. Não descansarei, enquanto não puder construir um grande hospital.

            Mas Belino condicionava a edificação a certos fatores que considerava essenciais e, por isso, lembrando instintivamente a recomendação do benfeitor divino, movimentava a oração, canalizando as próprias forças.

            - Poderia auxiliar os enfermos - dizia -, mas aguardava um emprego vantajoso.
E o emprego vantajoso lhe foi concedido.

            - Sim - afirmava -, agora, para adquirir segurança, tenho necessidade de um bom casamento.

            E o bom casamento lhe veio ao encontro.

            - Devo possuir filhos robustos que me auxiliem - ponderou.

            E os filhos robustos adornaram-lhe os braços.

            - Tudo prossegue regularmente - reconheceu -, mas uma casa própria é indispensável à minha paz.

            E a casa própria surgiu, confortável e ampla.

            Para ser útil aos enfermos - ajuntou -, não posso alhear-me dos bons livros.

            E preciosa biblioteca enriqueceu lhe o templo familiar.    

            - Sem bons negócios, não posso atirar-me à empresa - considerou.

            E os bons negócios vieram auxiliá-lo.

            - Um automóvel particular resolveria as minhas questões de tempo, alegou.

            E, em breve, um carro acolhedor incorporara-se lhe à propriedade.

            - Agora, é imperioso conquistar bons rendimentos - pediu ao Céu, em comovente rogativa.

            E bons rendimentos rodearam lhe o nome.

            - Quero mais rendas - insistiu a lamuriar-se.

            E mais rendas vieram.

            Nessa altura, os filhos já estavam crescidos e Castro implorou vantagens materiais para eles e as vantagens solicitadas apareceram. Em seguida, notando que os rapazes lhe afligiam o pensamento, suplicou a chegada de noras dignas para o ambiente familiar. E as noras chegaram.

            Belino, porém, continuou rogando, rogando, rogando...

            Certa feita, quando reclamava favores para os netos, chegou a morte e disse-lhe:

            - Meu amigo, o seu tempo esgotou-se.

            O interpelado, sob forte susto, clamou de si para consigo:

            - Meu Deus! meu Deus!  e a minha tarefa? Não posso deixar a Terra sem cumpri-la...
Ainda não pude sequer visitar um doente! ...

            A recém-chegada, contudo, deu-lhe apenas alguns instantes para a bênção da oração.

            Castro, ansioso, tomou o Testamento do Cristo, e, de mãos trêmulas, abriu-o precipitadamente. De olhos esgazeados, esbarrou com estas palavras constantes no versículo vinte, no capítulo doze das anotações de Lucas:

            - “...esta noite, exigirão tua alma e o que ajuntaste para quem será?"

            Mas, antes que Belino pudesse entregar-se a novas e desesperadas petições, a morte apagou lhe temporariamente a luz do cérebro e o reconduziu à Vida Espiritual.


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