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quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

O Silêncio do Justo


O Silêncio do Justo
Martins Peralva
Reformador (FEB) Setembro 1955


            Perguntou-lhe Pilatos: "Que é a Verdade?" João, 18:38.

            Aqui e alhures, desde o episódio de Pilatos até os nossos dias, a Humanidade não cessou de perquirir e meditar em torno do transcendente problema.

            O silêncio do Justo, deixando sem eco a pergunta do Governador Romano, continua oferecendo margem às mais amplas interrogações do espírito humano, inspirando empolgantes capítulos no campo da filosofia e da religião.

            Que é a Verdade? - perguntamos, também, com o preposto de Tibério.

            Desejaríamos tê-la facilmente ao nosso alcance, sem maiores esforços, como se possível fosse, sem a sucessão milenária de experiências acrisoladoras, condicionar tanta grandeza na pequenina taça de nossa indigência sensorial.

            Porém ela, altaneira e sublime, permanece incompreendida, imensurável, abrangendo a Humanidade toda, confundindo os homens em sua ânsia de indagações metafísicas.

            É preciso, em princípio, reconheçamos que as “nossas verdades”, essas pobres verdades que esmagam e ferem, não representam, absolutamente, a Grande Verdade que o Cristo não revelou a Pilatos, porque Pilatos não a entenderia.

            O esposo de Cláudia Prócula tinha a mente absorvida inteiramente pelas angústias da época e de sua posição.

            Era um imediatista, um político, homem do mundo, escravo do poder e da riqueza, patrimônios que lhe empolgavam a alma adormecida para as claridades divinas.

            Sombras de ambição e convencionalismo obliteravam lhe a consciência, insensibilizavam lhe o ação.

            Como poderia compreender a Verdade, mesmo que o Senhor lha houvesse revelado na agonia do do sacrifício?

            Jesus preferiu silenciar. Nas montanhas e e nos vales, nas aldeias e nas praias “ouviu-se" o Silêncio do Justo!

            O mundo inteiro “ouve" e sente, ainda, esse divino silêncio!

            Que poderia ter dito Jesus àquele que estava diante da Verdade e não na via?

            O Senhor preferiu aguardar que os milênios corressem, a fim de que o Espírito do representante de César, reencarnando-se, para aprender a evoluir, conquistasse valores imarcescíveis que permitissem a compreensão da Verdade.

            Já o teria conseguido?

            Só os elevados mensageiros do Senhor o sabem...

            Jesus não teve pressa em revelar a Verdade a quem não a podia compreender, embora afirmasse que viera "trazer fogo à Terra".

            Cada um de nós, que descerramos, levemente, a cortina do mundo espiritual, já começou, sem dúvida, a sentir um pouquinho dessa Verdade.

            A afirmativa do Cristo - "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida" - constitui o levantar do véu, permitindo-nos a perspectiva maravilhosa. Estrada imensa abre-se diante de nosso Espírito, concitando-nos para a grande marcha objetivando a integração com aquela Verdade que o Mestre não quis revelar a Pilatos.

            Cristo é a própria Verdade.

            Seguir os preceitos de Sua Doutrina, límpida como o Sol, é iniciação na Verdade.

            Quando, na esteira dos milênios futuros, que nos pedem fidelidade ao Senhor, transformarmos o Evangelho em espontânea realidade dentro de nosso coração, unificar-nos-emos com a Verdade.

            Jesus não mais no Ia ocultará, porque senti-la-emos na intimidade de nós mesmos, encontrando-a no perfume de uma flor, no trilar do inseto, no sorriso da criança.


            Deus é a Verdade. Jesus o é, também, porque o "eu e o Pai somos um" e o "se conhecêsseis a mim, conhecereis a meu Pai", são expressões que saíram dos seus divinos lábios. 

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