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domingo, 2 de novembro de 2014

03. O que nós estamos lendo?




Testemunhos
de Chico Xavier
por Suely Caldas Schubert

 
Suely Caldas Schubert


Prefácio
Francisco Thiesen
Edição FEB
 
Francisco Thiesen


             "Quando Wantuil de Freitas assume a Presidência da Federação Espirita Brasileira, as Portarias policiais ainda vigoravam constrangendo as instituições espíritas a cumprirem exigências descabidas, em desacordo com a liberdade de culto existente no Pais. Wantuil lançou-se, então, à luta, para que o Espiritismo tivesse a igualdade de direitos concedidos às demais religiões." ("Testemunhos de Chico Xavier", p. 53.)

           Antônio Wantuil de Freitas não quis continuar concorrendo à reeleição para o cargo de Presidente da Federação Espírita Brasileira, em agosto de 1970, por motivo de saúde e de sua avançada idade, desencarnando em 11 de março de 1974.            
           
            Por várias vezes conversamos com o antigo Presidente – cuja experiência era enorme, haja vista que foi diretor da FEB por trinta e quatro anos consecutivos, sendo os últimos vinte e sete no posto máximo – sobre assuntos de interesse do trabalho espírita, no Movimento, e sobre questões ligadas notadamente à atividades que estávamos exercendo na Casa Máter do Espiritismo no Brasil.

            Numa tarde, em sua residência, disse-nos Wantuil o seguinte: “Thiesen, quero que saiba que se existe o Departamento Editorial, que você está administrando por delegação do atual Presidente, Armando de Oliveira Assis, devemo-lo, em grande parte, à existência de um homem sem o qual a obra do livro espírita talvez não tivesse prosperado - Francisco Cândido Xavier." E, depois de estender-se em considerações interessantes quanto ao livro espírita, aduziu: “Quero recomendar-lhe, com os olhos voltados para o futuro, que entenda habitualmente as hostilidades e ataques à Federação com a maior naturalidade, e sempre que acusações nos sejam endereçadas não se preocupe em a elas responder, porque a nossa Casa está suficientemente preparada para resistir ao assédio de adversários gratuitos, graças à sua experiência quase secular. Mas, se porventura formos levados a defender-nos, evitemos expor o médium a dificuldades a que ele, como homem, compreensivelmente talvez não possa resistir por longo tempo. Preservá-lo, portanto, é para nós simples dever."

*

            Ocorrida a desencarnação de seu pai, Zêus Wantuil entregou à Federação os livros e papéis que o ex-Presidente ainda conservava em seu poder. Como se sabe, Wantuil havia transformado parte de sua residência no escritório central do qual comandava todos os labores febianos.

Zêus Wantuil


            Zêus, no entanto, consultou-nos sobre se devia também entregar, ou não, as cartas dirigidas a A. W. de Freitas por Chico Xavier e por algumas outras personalidades. Pensara mesmo, num primeiro momento, em incinerá-las, com o louvável propósito de prevenir divulgações extemporâneas de documentos não suficientemente analisados e explicados, caso caíssem em mãos de pessoas descomprometidas com os altos fins da Doutrina, do. Movimento Espírita e da Casa de lsmael. Sugerimos-lhe, na oportunidade, que no-las confiasse à guarda, esperando o desenrolar dos acontecimentos e os conselhos do tempo.

            Foi assim que nos tornamos depositário desse acervo de imenso valor. Levando em conta os alvitres de Wantuil e a confiança com que Zêus nos honrou, poucas vezes estampamos em "Reformador" cartas de Chico Xavier e de outros confrades, só o fazendo quando esse procedimento podia ser útil aos leitores para sua melhor elucidação a respeito da linha doutrinária da Federação, para esclarecimento de fatos históricos da Unificação ou para dirimir dúvidas de vulto.

            Selecionadas, mais tarde, em dois grupos, as cartas principais tiveram seu arquivo acompanhado de indicações, peça por peça, de seus conteúdos. Oportunamente, excertos dessas missivas foram datilografados e com eles formamos um volume de regular proporção. Pensávamos em escrever um livro, mas o considerável trabalho administrativo e a precariedade da resistência física cedo nos demoveram desse intuito.

            Mantendo-nos no propósito de dar à publicidade alguns tópicos dessa correspondência, já que o tempo e as circunstâncias atuais afastaram, em grande parte, os temores referidos por Wantuil, deveríamos designar, como de outras vezes o fizemos, alguém para realizar a tarefa. A escolha recaiu na pessoa de Suely Caldas Schubert, dedicada médium e estudiosa da Mediunidade há longos anos. Era necessário, segundo pensávamos, que o trabalho fosse executado por quem estivesse familiarizado com a teoria e a prática da Doutrina Espírita e com os assuntos e fatos gerais do Movimento; que bem conhecesse a pessoa e a obra de Chico Xavier; que estivesse para maior facilidade de consultas e contatos, ligado à Administração da Federação Espírita Brasileira e fosse, por isso mesmo, merecedor de sua confiança, e, se possível, com trabalho já publicado e bem aceito sobre temas pertinentes à Mediunidade. A autora de “Obsessão / Desobsessão - Profilaxia e Terapêutica Espíritas", convocada ao cometimento - dentro das coordenadas preestabelecidas - dispôs-se à obra, efetuando, inclusive, contatos pessoais com Chico Xavier e deste obtendo sugestões de valia e explicações para pontos menos explícitos de determinadas missivas.

            Transcorridos quatro anos, o livro ficou concluído. Recebeu a contribuição de companheiros na revisão a que foram submetidos os originais. Devidamente satisfeitas as formalidades legais com a obtenção da autorização especial do médium Francisco Cândido Xavier, para utilização, pela Federação Espírita Brasileira, da correspondência dirigida a A. Wantuil de Freitas, o trabalho está pronto para o prelo. As cessões de direitos autorais à FEB, sempre gratuitas, são, neste livro, da autora e do missivista.           

            De futuro, certamente, outras cartas integrarão novos estudos e comentários, pois, por ora, somente parte das cartas aludidas está sendo objeto de publicação.

*

            Bem documentada para responder às agressões contínuas a que a submetem pessoas afoitas, nem por isso se abalançou a Federação a dar-lhes resposta, cônscia de seus deveres e responsabilidades, atenta às diversificadas áreas de sua atuação no Movimento, cuidando da divulgação da Doutrina e impondo-se pelas obras que realiza, ocupada com as atividades da Unificação dos Espíritas, com a Educação Espírita das Gerações Novas e com o Estudo Sistematizado do Espiritismo. Sua revista "Reformador", centenário porta-voz da Casa de lsmael, continua primando pelo equilíbrio e pela sensatez, enquanto os demais órgãos e serviços da Casa prosseguem trabalhando e o Espiritismo estende em todas as direções a sua influência. A presença da Federação transcende as fronteiras do País e neste é sentida nos empreendimentos e realizações mais respeitáveis.

            A obra do livro espírita ganha proporções jamais vistas, assegurando a continuidade da Revelação progressiva da Doutrina dos Espíritos.

            Por intermédio de Chico Xavier temos recebido do Plano Mais Alto - e bem assim através de um pugilo valoroso de outros médiuns cristãos - desenvolvimentos e esclarecimentos dos ensinos que foram confiados a Allan Kardec e à Equipe de seus abnegados auxiliares e cooperadores.

            A Federação Espírita Brasileira, publicando os “livros-astros" da Espiritualidade Superior, ao longo de decênios dessa transferência de conhecimentos avançados, o fez graças à sintonia ideal estabelecida entre Chico Xavier, Emmanuel e Wantuil de Freitas, o que fica demonstrado por palavras simples e precisas do médium e da coordenadora/ comentadora da correspondência que para esse fim lhe confiamos.

            É o compromisso da Mediunidade com Jesus, permitindo e facilitando às pessoas simples de coração e aos sedentos da alma - ao povo faminto de consolação e de esclarecimento -, mas valorizando a inteligência, o estudo e o trabalho em todos os níveis de evolução dos seres humanos, o acesso à Mensagem excelsa do Consolador prometido e enviado pelo Senhor.

            Mostrando, por dentro, o processamento de luminosas e sacrificiais realizações, este livro cumpre a sua finalidade.

            Os detalhes necessários às elucidações ficaram a cargo da autora. Neles não precisamos entrar. Concordamos com as considerações e ponderações dela, com as
transcrições e citações de textos de apoio doutrinário e evangélico, de páginas de Allan Kardec, Léon Denis e credenciados escritores e médiuns.

                                                                                   *
  
            O Porvir reservar-nos-á ensejos novos de estudo da Grande Planificação Espiritual que deu origem às contribuições de Chico Xavier / Emmanuel, interessando milhares de Espíritos que seguem as inspirações do Cristo de Deus e, no Brasil, do Guia Ismael, cuja Casa, na feliz definição de Chico Xavier, é “comparável a um Estado da Espiritualidade na Terra".

            Encerrando estas linhas, queremos consignar aqui, de maneira explícita e muito sincera, a nossa solidariedade à conduta exemplar de Francisco Cândido Xavier, também carinhosamente conhecido pelo nome de Chico Xavier.

            Que a Paz de Jesus, Nosso Senhor e Mestre, seja com todos nós.

Brasília (DF), 14 de julho de 1986
Francisco Thiesen
Presidente da Federação Espírita Brasileira



 Antônio Wantuil



Apresentação

            A correspondência de Chico Xavier a Wantuil de Freitas, ora parcialmente tornada pública pela gama de ensinamentos que transmite, é impressionante depoimento sobre a vida desse autêntico missionário do Cristo que é FRANCISCO CÂNDIDO XA VIER.

            Através dos trechos dessas cartas, a verdade dos fatos vem à tona de maneira cristalina, apagando vestígios de possíveis distorções e dirimindo dúvidas.

            Ao nos inteirarmos do conteúdo dessa correspondência, enorme e profundo sentimento invadiu-nos. À emoção unia-se a admiração e a perplexidade. Comovemo-nos por encontrar o Chico na intimidade de suas lutas. Jamais ele aparecera assim aos olhos do mundo. Aqui estão seus depoimentos pessoais, os seus sentimentos mais íntimos, a sua vivência de cada dia portas adentro do próprio coração.

            Em muitos instantes a confissão de seus sofrimentos, de suas reações ante as perseguições soezes, as calúnias torpes que lhe eram lançadas, as criticas ferinas e agressões que com espantosa frequência se repetiam em seu cotidiano causou-nos impacto muito grande.

            A verdadeira dimensão da figura humana de Chico Xavier surge assim através de suas cartas. Estas representam o sinete da autenticidade da vida missionária de um dos maiores médiuns psicógrafos que o mundo conhece.

            Passo a passo vamos acompanhando-lhe a trajetória. A sua vida é a mais lídima mensagem de amor e paz do nosso tempo.

            Sua obra se reveste de característica singular, pois fala não apenas por ele mesmo, mas também por Emmanuel, a nobre entidade que é o seu guia espiritual; por Bezerra de Menezes, que durante mais de meio século dirige a sua mediunidade receitista; por Humberto de Campos e André Luiz; por centenas de poetas e muitos escritores, perfazendo um sem-número de autores para um único médium!

            A oportunidade de comentar parte da riquíssima correspondência de Chico Xavier para Wantuil de Freitas, no tempo em que este ocupou a Presidência da Federação Espírita Brasileira, trouxe-nos também o ensejo de constatar a notável coerência de seus depoimentos ao longo dos anos. É admirável encontrarmos nessas cartas muitas das citações que ele faz em entrevistas as mais diversas, realizadas mais de 30 ou 40 anos depois, em todas mantendo sempre o mesmo relato fiel e coerente.

            Chico Xavier! Nome repetido, amado e respeitado!

            Quantos são os consolados, os esclarecidos, os acordados para a vida, os salvos da morte, os redimidos, os que reviveram na esperança, os que aprenderam a amar, os que retornaram ao Cristo através da sua mediunidade abençoada?

            Quantos renasceram para a vida após serem atendidos por ele?

            Quantos ingressaram no Espiritismo graças às suas páginas psicográficas?

            Quantas obras assistenciais foram inspiradas por ele?

            A força dessa figura humana exponencial, frágil na sua aparência, dimana principalmente do exemplo, da sua extraordinária vivência evangélica.

            Estas cartas propiciam-nos uma visão mais completa de Chico Xavier.

            Lendo-as, vamos gradativamente descobrindo que os testemunhos dolorosos fazem parte da “subida através da luz” na feliz expressão de Emmanuel sobre o livro "Luz Acima", comentado por nós no transcurso desta obra.

            As lutas, as dores, as perseguições são íntimas companheiras do médium e lhe maceram o corpo e a alma, deixando cicatrizes profundas. São as "marcas do Cristo" de que nos fala o apóstolo Paulo.

            Os comentários que fazemos dessa correspondência não trazem o intuito do elogio, mas sim o de reconhecer a verdade que está diante dos nossos olhos. A pretexto de não elogiarmos, não podemos incorrer no engano de permanecermos indiferentes ou omissos.

            A figura veneranda de Chico Xavier inspira-nos respeito e amor.

            O seu maior livro é a sua vida, que ele escreve página a página com as tintas do próprio suor, com sofrimentos e lágrimas na jornada sacrificial a que se impôs.

            Entretanto, fá-lo com amor e por amor.

            A sua obra psicográfica e caritativa é a mais eloquente lição de Doutrina Espírita. O tempo só faz consagrar a autenticidade de sua mediunidade.

            Os nossos comentários têm o propósito de evidenciar a programação espiritual entre Emmanuel e Chico Xavier, envolvendo a FEB, Wantuil de Freitas e uma equipe de trabalhadores dedicados; a vivência evangélica de Chico Xavier; a sua coerência doutrinária e a mediunidade com Jesus.

            Esperamos ter alcançado os nossos objetivos. Essa correspondência é riquíssimo filão de ensinamentos. Muita coisa mais poderá ser escrita a partir de agora.

            Estamos felizes pela honrosa incumbência que recebemos do Presidente da Federação Espírita Brasileira, Francisco Thiesen, de comentar parte das cartas de Chico Xavier para Wantuil de Freitas, no período de 21 anos desse intercâmbio.

            Leitor amigo! Você vai encontrar, a partir de agora, o mundo particular de Chico Xavier. Como nós, você  certamente ficará surpreso.

            Almejamos que este livro seja um estimulo definitivo para todos nós. Um estímulo que nasce da força viva do exemplo, das lições silenciosas que ele, Chico, nos transmite, das sementes que brotam nessa semeadura de quase 60 anos, dos frutos que o tempo sazonou, da coragem e da fé que sentimos renascer no recôndito de nosso coração ante a coragem é a fé de que ele dá testemunho dia após dia, dessa existência, enfim, que é um livro sublime.

            Erasto nos fala da missão dos espíritas:

            "Ide e pregai a palavra divina. É chegada a hora em que deveis sacrificar à sua propagação os vossos hábitos, os vossos trabalhos, as vossas ocupações fúteis. Ide e pregai. Convosco estão os Espíritos elevados. Certamente falareis a criaturas que não quererão escutar a voz de Deus, porque essa voz as exorta incessantemente à abnegação. Pregareis o desinteresse aos avaros, a abstinência aos dissolutos, a mansidão aos tiranos domésticos, como aos déspotas. Palavras perdidas, eu o sei; mas não importa. Faz-se mister regueis com os vossos suores o terreno onde tendes de semear, porquanto ele não frutificará e não produzirá senão sob os reiterados golpes da enxada e da charrua evangélicas. Ide e pregai!

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            Ide, pois, e levai a palavra divina; aos grandes que a desprezarão, aos eruditos que exigirão provas, aos pequenos
e simples que a aceitarão; porque, principalmente entre os mártires do trabalho, desta provação terrena, encontrareis fervor e fé. Ide; estes receberão, com hinos de gratidão e louvores a Deus, a santa consolação que lhes levareis, e baixarão a fronte, rendendo-lhe graças pelas aflições que a Terra lhes destina." ("O Evangelho segundo o Espiritismo", cap. XX, item 4.)

            Esta é a própria Vida de Chico Xavier.

Juiz de Fora (MG), abril de 1985

Suely Caldas Schubert


             



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