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domingo, 2 de fevereiro de 2014

Maravilhas do Evangelho


Maravilhas do Evangelho

Sylvio Brito Soares
Reformador (FEB) Janeiro 1962

            O homem, ou melhor, nós que nos encontramos na Terra, para lutar contra nossos próprios pendores e sentimentos, impeditivos, por sua natureza, do nosso progresso espiritual, quase sempre nos deixamos embair pelas exterioridades, e, através dessa simples e superficial observação, firmamos conceitos relativamente às coisas e às pessoas que nos cercam.

            Essa maneira de proceder leva-nos muitas vezes, a quedas dolorosas, decepções amargurantes e a situações delicadíssimas.

            Paulo, o grande apóstolo dos gentios, já advertia sobre esse erro de observação, ao escrever, em sua II Epístola aos Coríntios (10-7): Olhais as coisas segundo a aparência.

            E no entanto estas palavras do extraordinário apóstolo eram, "mutatis mutandis", as registradas por Samuel, em seu 1º Livro, (16-7), em que diz: "Olhas para o que está diante dos olhos, mas Jeová olha para o coração.”

            Desde que procuremos, neste mundo em que prolifera tanta miséria moral e tantas indignidades, ler nos corações humanos, verificaremos, jubilosos, que nem tudo está perdido, pois que existem muitas criaturas, embora humildes e de vida simples, que são verdadeiras fontes de amor, desse amor que perfuma espíritos, encantando-os pelas suas maravilhosas fragrâncias!

            Manuel Bernardes, exaltando a necessidade de não nos deixarmos seduzir pelas falsas aparências, contou-nos um episódio, cuja citação vem muito a propósito. Em síntese, é o seguinte:

            Certo Rei, em passeio com o faustoso acompanhamento de sua Corte, encontrou dois homens, vestidos mui desprezivelmente.

            Saltando da viatura, abraçou os com visíveis demonstrações de afeição muito sincera. Escandalizaram-se os cortesãos, fazendo sentir ao Rei que, com esse proceder, envilecia sua real pessoa, mas o Rei permaneceu em silêncio e prosseguiu a jornada. Mais adiante, porém, mandou ele confeccionar quatro cofres de madeira; dois deles mui ricamente forrados com pregaria, fechaduras, e chapeados de ouro e prata; e dois, tão toscos, que foram breados com pez e betume. Dentro de uns e outros meteu o que julgou aconselhável. De regresso a palácio, determinou que fossem à sua presença aqueles cortesãos que se haviam escandalizado com a sua maneira de proceder. Mostrou-lhes os cofres, ordenando ao mesmo tempo que dissessem quais deles estimavam mais.

            Responderam; todos, que os dois dourados deviam ter, em seu bojo, joias e tesouros reais, que os outros breados nem para ver eram dignos quanto mais para serem colocados na sala real.

            Bem sabia qual seria o vosso julgamento, obtemperou o Rei, porque facilmente vos deixais impressionar pelas aparências exteriores.

            Abertos os cofres dourados, deles exalou-se um fétido intolerável, pois estavam cheios de ossos de defuntos. Esses, disse-lhes o Rei, são os que se portem ao estilo do mundo: por fora, pompa e fausto; por dentro, vícios e misérias. E, a seguir, ordenou que abrissem os dois outros cofres indignos, como alegaram, da sala palacial.

            Abertos, e com surpresa geral, deles saiu uma fragrância suavíssima, e isto porque, além de muito ouro, prata e pedras preciosas, continham espécies aromáticas de alto preço.

            Estes são os que vivem desprezados pelo mundo, porque, renunciando às suas grandezas falíveis procuram encher-se de virtudes, que são os tesouros imperecíveis.

            Magnífica lição, e que ela nos seja proveitosa, porque o homem simples, humilde e virtuoso passa, geralmente, despercebido pelos caminhos do mundo, em razão de sentirmos, infelizmente, certo atrativo e sedução por tudo aquilo que não tem curso nem valor na pátria espiritual, olhamos as coisas segundo as aparências, sempre enganadoras e falíveis!



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