Pesquisar este blog

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

'Reencarnações Abonadas'


Reencarnações
 Abonadas
por Martins Peralva
Reformador (FEB) Julho 1961

            Quantos de vós fostes abonados, aqui, por generosos benfeitores, 
que buscaram auxiliar-vos, condoídos de vosso pretérito cruel?
 - (Preleção de Telésforo - "Os Mensageiros", cap. VI)

            Um dos pontos da Doutrina Espírita que os livros de André Luiz vieram elucidar, com simplicidade e clareza, é o das reencarnações que se processam sob a responsabilidade de Amigos dos reencarnantes, ou seja, das “reencarnações abonadas” para nos servirmos de uma definição adequada ao conhecimento geral.

            Exemplifiquemos.

            Suponhamos exista, na Erraticidade, alguém desejoso de reencarnar, para a retificação de erros ou resgate de débitos que lhe estejam afligindo a consciência, mas, pelos mais diversos motivos, não encontra um lar que o receba para a bênção do recomeço.     

            O Espírito, ansioso por uma nova oportunidade, atormentado e inquieto, prossegue, todavia, na procura de uma família que o queira, possa ou deva acolher. As portas, contudo, se lhe fecham, indiferentes umas, hostis outras. Como procede, nestes casos, o Espírito que tantas oportunidades desperdiçou, que tantos abençoados ensejos malbaratou?

            O único recurso é a luta pela intercessão de amigos.

            A tábua de salvação é a busca de almas queridas, incansáveis na ajuda e prestas no socorro, que se compadeçam do seu estado, que se apiadem do seu problema.

            Tais almas, movidas pelo Amor, interferem junto a Entidades Superiores, assumindo, destarte, a responsabilidade pelo bom uso da reencarnação que vai ser concedida, por misericórdia, ao necessitado.

            Abona-a, como alguém que, nas operações normais da Terra, avaliza um título a favor de terceiro, ou lhe dá uma fiança de qualquer natureza.

            Atendido, assim, em sua pretensão reencarnatória, volta o Espírito ao mundo.

            Recebe um novo corpo, para o abençoado serviço da redenção e do progresso.

            A dádiva de um lar, traduzindo proteção e reconforto, lhe é mais uma vez dispensada.

            É recepcionado, entre sorrisos de esperança, por novos genitores, irmãos, familiares e amigos.

            Renasce, enfim...

            Há um aspecto, entretanto, que não pode, nem deve ser omitido: com o reingresso da Alma “nas correntes da vida física», não cessa a responsabilidade do intercessor”.

            Não desaparece o seu endosso, como não se extingue, nas operações bancárias, a responsabilidade de um aval com a simples operação do desconto de uma promissória.

            Permanece, inalterável, com as prerrogativas da lei, o vínculo da responsabilidade comum, da coobrigação, da solidariedade: o “pacto-adjeto” moral.

            O abonador fica comprometido na Espiritualidade, uma vez que se empenhara, junto aos Departamentos Planejadores das Reencarnações, para que o evento se concretizasse, para que o perdulário doutros tempos fosse atendido.

            A intercessão, em quaisquer circunstâncias, humanas ou divinas, implica sempre em responsabilidade.

            A posição de quem assim retorna ao mundo é bem delicada, pois envolve Alguém, respeitável e digno, que se vinculou ao seu comportamento, ao seu destino.

            Alguém que se condoeu da sua infelicidade. Que movimentou relações, que utilizou seu prestígio.

            Que pediu, e, pedindo, assegurou aos Maiores do Espaço que a nova oportunidade, dificilmente obtida, seria bem aproveitada.

            Quem assim reencarna, portanto, sob a responsabilidade de Alguém cuja nobreza e respeitabilidade facultaram a concessão, assume o compromisso moral de palmilhar os caminhos terrestres com mais cuidado, com mais firmeza.

            Em oração e vigilância, para não ceder às tentações.

            Deverá caminhar com segurança, para que o objetivo seja alcançado: o aproveitamento integral da oportunidade.

            Se fracassar, o Abonador responderá, moralmente, pelo fracasso.

            Quem sabe estaremos nós - e o confrade e amigo que nos lê - com a atual experiência evolutiva vinculada ao nome de Alguém, de Alguém que não podemos nem devemos decepcionar?!

            Quem sabe na Espiritualidade se encontra Alguém, apreensivo e aflito, acompanhando nossa vida e nossos passos, inseguros e trôpegos, chorando as nossas quedas ou alegrando-se ante as nossas atitudes acertadas?!

            O companheiro que nos esteja a ler, perguntar-nos-á, sem dúvida: Como proceder, então, ante tal incerteza?

            E a resposta, ver-se-á, não é tão difícil, como parece.

            O cumprimento de nossos deveres, em face do próximo, representa absoluta garantia de que estaremos fazendo Alguém sorrir, feliz, no Plano Espiritual.

            O afeiçoamento de nossa vida à moral cristã.

            A aquisição do conhecimento doutrinário, o serviço de auto regeneração, sincero e constante.

            Uma coisa é certa, porque racionalmente doutrinária e misericordiosamente evangélica: os nossos Abonadores não exigem mais do que lhes possamos oferecer, na pauta das nossas realizações íntimas.

            Esperam, simplesmente, que, não esquecendo compromissos, permaneçamos no Bem; na Moral, no Estudo edificante .

            O esforço para fugirmos ao Mal e aderirmos ao Bem é levado em conta pelos benfeitores espirituais.


            Sabem eles que a soma dos pequenos esforços dar-nos-á, um dia, a vitória que almejamos e pela qual estamos lutando com toda a força de nosso coração: a supremacia do interesse espiritual sobre o material.

            É tão infeliz e lastimável o comportamento do homem que, aqui na Terra, põe em má posição um avalista, um fiador, quanto o do Espírito que, recebendo o tesouro de uma “reencarnação abonada”, coloca aquele que por ele se responsabílizou em situação melindrosa perante os Instrutores da Vida Mais Alta.

            A “reencarnação abonada” é um problema moral muito sério e que a literatura de André Luiz aclara com muita segurança e objetividade.

            Deve merecer a nossa atenção.


Nenhum comentário:

Postar um comentário