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domingo, 3 de novembro de 2013

XXIa. et XXIb. Apreciando a Paulo



XXI a
‘Apreciando a Paulo’
      comentários em torno
    das Epístolas de S. Paulo
   por Ernani Cabral

Tipografia Kardec - 1958

«Admoesto-te pois, antes de tudo, que se façam deprecações,
orações, intercessões, e ações de graças por todos os homens;
.....................................................................................................
“Porque isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador,
Que quer que todos os homens se salvem,
e venham ao conhecimento da verdade.
Porque há um só Deus e um só Mediador entre Deus
e os homens, Jesus-Cristo homem.”
(Paulo – 1ª Epístola a Timóteo, 2: 1, 3 e 4)

            São Paulo recomenda que se façam orações por todos os homens, pois reconhece que todos somos irmãos. Ele não tinha a concepção exclusivista, limitada ou parcial de certos religiosos, que olham só para os de sua seita.

            Aliás, Jesus - o modelo da Humanidade, o Mediador, como diz Paulo, isto é, “o médium de Deus” - sempre deu esse exemplo. - Quando curava ou quando ensinava, não escolhia pessoas nem as distinguia por suas crenças ou por suas raças. Tanto advertiu a samaritana como sarou a mulher cananeia; tinha palavras de consolo para com todos, fazia o bem indistintamente, e mesmo na cruz teve misericórdia para com um ladrão.

            “Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento.” (Mateus, 9:13)

            E como Dimas foi tocado pelo arrependimento, mesmo na hora da morte, ele teve compaixão do “bom ladrão” e lhe declarou:

            “Hoje estarás comigo no paraíso.” (Lucas, 23:43)

            Eis uma passagem bíblica muito explorada pelos que negam a reencarnação, apesar de o Divino Mestre ter enunciado esta lei em João, 3:3 e em Mateus, 11:13 e 14.

            Realmente, Jesus prometeu o paraíso àquele pecador arrependido, mesmo antes que ele produzisse “os frutos do arrependimento” a que se refere em Lucas, 3:8.

            Sabemos que há regiões espirituais paradisíacas. Desencarnando na cruz, o Espírito de Dimas foi levado para uma destas, conforme a palavra do Cordeiro de Deus. Não podemos julgar “o bom ladrão”, pois não sabemos quais os motivos que o induziram ao mal e nem tampouco se houve em seu caso um erro da justiça humana, que é falível. Temos certeza somente de que Dimas, ao contrário de Gesta, “o mau ladrão”, mostrou-se humilde perante o Nazareno, crendo nele e suplicando: “Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino.” (Lucas, 23:42.)

            E Jesus, que sempre apreciou a humildade, como se vê em Mateus, 18:4, e em outros textos bíblicos, prometeu-lhe aquela graça. Note-se que a graça não é arbitrária, mas sempre determinada por motivos que a justificam ou que impelem a misericórdia divina .

            Contudo, prometendo a Dimas o paraíso, Jesus não afirmou que ele estaria isento da reencarnação.

            Um Espírito pode desencarnar e merecer logo uma região espiritual superior. Mas isto não quer dizer que esteja livre da reencarnação e de pagar, se for o caso, e quando se tornar oportuno, “até o último ceitil”.

            Dirão que isto é um “nunca acabar” de lutas e de sofrimentos. Mas a lei divina é perfeita e ela não tem pressa. Há em nossa frente a eternidade, e a evolução do Espírito dura mesmo muitos séculos ou milênios, porque, como disse o apóstolo Paulo, “Deus quer que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade.”

            Como poderão todos os homens vir ao conhecimento da verdade, como disse São Paulo, nesta Primeira Epístola a Timóteo, se alguns nascem e morrem no estado de selvajaria? Como conciliar essa lição de Paulo de Tarso com a doutrina cristã, senão admitindo a lei da reencarnação?

            Mas os teólogos fecham os olhos a esse e a outros versículos bíblicos (Lucas, 3:6; João, 12:32 e Isaías, 52:10) para admitir uma só existência do Espírito na Terra, o que importa em proclamar a falta de equidade divina para com as suas criaturas e a vida de seres privilegiados. Por que uns são inteligentes e outros curtos de ideia, mesmo estudando? Por que essa diversidade econômica na Terra? Por que alguns contraem moléstias horríveis, que lhes servem de flagelo a vida toda, e outros não? Por que crianças nascem em lupanares e outras em berços reais? Para onde irá um idiota depois da morte? Para o céu? Se tal se desse, não seria melhor que a Humanidade toda fosse idiota, para ser salva, totalmente? Não seria mais misericordioso do que sujeitar alguns homens às penas eternas do inferno, que nossos irmãos católicos e protestantes dizem existir, tomando a Bíblia ao pé da letra?

            O certo é que, não aceitando a reencarnação, que Jesus enunciou com tanta clareza em seus Evangelhos, o teólogo cairá em ilogismos tais que farão o homem duvidar da Justiça de Deus, ou achar que está cercado de tantos mistérios, que só lhe servirão para gerar o pavor, a dúvida ou a fé cega, se quiser crer. Mas acabará, no íntimo, achando que Satanás é mais poderoso, pois tem ao seu lado a maioria... Ou então, possuindo um Espírito forte, sorrirá dessas coisas como de histórias para crianças. É o estado mental de muitos que não querem saber de religião, porque acham que isto só serve para ocasionar discussões sem resultado prático, enquanto flui a luta pela vida, com a preocupação pelas coisas materiais, é de maior proveito.

            Infelizmente, as religiões dogmáticas, que negam a lei da reencarnação como processo evolutivo do Espírito, jogaram a maioria dos homens nos braços da dúvida ou da indiferença. Eles não se querem dar ao trabalho de raciocinar sobre sua destinação espiritual, vão à missa de vez em quando, por descargo de consciência, mas declaram-se sem tempo para tratar desses assuntos. Deixam que os padres ou os pastores pensem por eles, porque estudaram tais coisas ... Mas, quando têm uma decepção na vida, tornam-se revoltados contra Deus e contra os homens, porque não podem compreender tanta injustiça na Terra, e alguns morrem com um vazio no coração, por culpa das religiões que lhes não souberam incutir, com lógica, a noção da justiça divina.

            A evolução do Espírito não se processa de maneira simplista ou arbitrária. Só atingem a perfeição os que a conseguem por esforço próprio ou consciente, através de vidas sucessivas na Terra e em outros mundos. Jesus mesmo confessou: “Ainda tenho outras ovelhas que não são deste aprisco” (João, 10:16) e disse também: “Na casa de meu Pai há muitas moradas.” (João, 14:2)

            Os idiotas são Espíritos de grandes pecadores em outras vidas, que agora se redimem através do sofrimento que purifica, já que não são inteiramente inconscientes.

            A perturbação dos desequilibrados mentais, maior ou menor, conforme o caso, prende-se a culpas velhas ou atuais, como sinal de expiação.




XXI b
‘Apreciando a Paulo’
      comentários em torno
    das Epístolas de S. Paulo
   por Ernani Cabral

Tipografia Kardec - 1958

            Tudo tem uma explicação lógica, dentro do Espiritismo.

            Falando deste modo, não aludimos ao aspecto material do fato, pois bem sabemos que, sob o ponto de vista médico, a loucura ou qualquer outra psicose é um estado patológico, motivada por favores, diversos, como a sífilis, as lesões cerebrais, etc., havendo também as que não acusam causas determinantes de ordem material, pelo menos na aparência, mas que seriam provocadas por fobias, neuroses ou por qualquer outro distúrbio psíquico. Mas queremos referir-nos ao Espírito que anima o físico de um louco qualquer ou de um imbecil; este foi ligado pela justiça divina a um corpo doente, por motivos hereditários ou por outros quaisquer, a fim de que a lei se cumprisse. E quando não há causa material determinante, então a moléstia será exclusivamente da alma, como na maioria das esquizofrenias, mas, de qualquer maneira, o fato se prende ao cumprimento da lei, que é justa. Tanto isto é certo que, nem sempre, a hereditariedade se manifesta, mas somente no corpo cujo Espírito merece tal influência. Há filhos de leprosos que não se tornam portadores do mal de Hansen, enquanto que outros o são. Por quê? A resposta somente pode ser dada admitindo-se a lei da reencarnação, cujo mecanismo se processa, como tudo que vem de Deus, com absoluta perfeição, com inteira justiça, atendendo-se ao Espírito, de preferência, pois que a matéria vive em função da alma, é mera roupagem desta, substituída nas vidas sucessivas, e tanto mais sadia será quanto o for o Espírito que a anima. Os romanos já diziam: mens sana in corporo sano, o que é uma verdade.

            Ao fazermos aquela afirmativa sobre os filhos dos hansenianos, não desconhecíamos a teoria que declara não ser a lepra moléstia hereditária, e que os descendentes de leprosos, quando afastados dos pais, logo após o nascimento, não contraem a morfeia.

            Mas a prática nos preventórios vem demonstrando que nem sempre é assim. A maioria dos filhos de tais doentes, quando afastada de seus genitores, logo após o nascimento, não contrai o terrível mal, bem o sabemos. Algumas crianças porém, às vezes com poucos anos e outras já púberes, criadas nos preventórios desde os primeiros dias de vida, aparecem atacadas do mal de Hansen, de um momento para outro, inexplicavelmente, e logo são levadas para os leprosários, onde às vezes não têm cura!

            Mas, por que tanto sofrimento apenas para algumas criaturas? Qual a religião que explica isto com lógica, senão o Espiritismo, que reconhece a justiça divina operando através da lei da reencarnação, dando “a cada um segundo as suas obras”?

            Todavia, dirão, que proveito tirará o Espírito de uma criança dessas, se não se lembra de seu passado, se não poderá reconhecer a justiça de Deus?

            Voltando ao plano invisível, é dado ao Espírito, geralmente, a lembrança de suas vidas pregressas. Então, ele compreenderá porque sofreu tanto. Se se recordasse, já neste mundo, da causa de seus males, isto viria agravar ainda mais os seus sofrimentos atuais, com a recordação de um passado delituoso.

            Portanto, o esquecimento, longe de ser um mal, é uma bênção. Mesmo porque o Espiritismo lhe explicará ainda aqui, se quiser compreender através de tais ensinamentos, que tudo tem sua razão de ser, restando ao nosso irmão leproso resignar-se ante seu destino, pois que tem a eternidade na frente, e algum dia será muito feliz. Além disto, tal moléstia, hoje em dia, em muitos casos, tem cura.

            Não fomos criados para o sofrimento, mas para a felicidade eterna. O sofrimento é transitório, enquanto existirem as imperfeições, e é o remédio de Deus para a purificação do Espírito. Algum dia bendiremos os padecimentos, quando atingirmos a perfeição e quando tivermos séculos sem fim de felicidade à nossa frente. Então compreenderemos que Deus é bom, como disse Jesus (Mateus, 19:17). Mas Ele quer que alcancemos a felicidade, merecidamente, isto é, por nossos próprios esforços em busca da perfeição, certos de que nosso sofrimento, algum dia, terá fim.

            Aquele que crê deve confiar no Senhor e convencer-se de que o Pai Celestial a ninguém desampara. Ele quer, como disse Paulo, “que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade.”       

            A vida eterna já é um consolo para quem nela acredita. Ao demais, os grandes sofrimentos, quase sempre, são sinal do fim das provações neste mundo, e só são dados aos Espíritos fortes. Mas é preciso ter fé, resignação e confiança em Deus, para suportar a cruz, indispensável ao progresso espiritual e à felicidade futura.

            Lembremo-nos da lição do Cristo de Deus:

            “Se alguém quiser vir por mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me.” (Marcos, 8:34)

            No final dos versículos ora comentados, da Primeira Epístola a Timóteo, Paulo afirmou:

            “Há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus-Cristo homem.”

            Esta passagem é a confirmação da inexistência do dogma da Santíssima Trindade, cujos comentários fizemos no XVI artigo desta série.

            Paulo, na Epístola aos Filipenses (2:6), disse ainda com clareza que Jesus “não teve por usurpação ser igual a Deus”. Ele é o Mediador entre Deus e os homens, como ora reitera, o protetor e o governador de nosso planeta, conforme bem diz a “Revelação da Revelação» de J. B. Roustaing. Ninguém irá ao Pai senão por seu intermédio, isto é, senão através de seus ensinamentos, que são “espírito e vida” e cuja síntese é o amor.

            Mas Paulo de Tarso, o apóstolo dos gentios, baseando-se sempre na Boa Nova do Cristo, desdobrou-a com a clareza e com a sinceridade, que defluem de seu Espírito de escol, para que ela se tornasse sempre viva, sempre oportuna, sempre presente à nossa indignidade e às nossas imperfeições, que clamarão eternamente por aquele roteiro de luz, a fim de que possamos ser desviados das trevas do erro e da ignorância, compreendendo a justiça de Deus, através do conhecimento da verdade, fonte da libertação eterna.








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