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terça-feira, 19 de novembro de 2013

A Grande Doutrina dos Fortes

 

A Grande
Doutrina dos Fortes

Frederico Francisco / (Yvonne A Pereira)

Reformador (FEB) Setembro de 1963

            De quando em vez chegam aos nossos ouvidos queixas de irmãos em crença, cuja sensibilidade não se conforma com certos deslizes praticados por espíritas, que parecem não estar à altura da importante tarefa confiada pelo Invisível aos adeptos da Terceira Revelação. Temos procurado reconfortar quanto possível esses delicados irmãos, chamando-lhes a atenção para determinados pontos de Doutrina, capazes de explicar também essa particularidade em torno dos mesmos adeptos. E isso para que os queixosos não se dobrem ao desânimo, fazendo periclitar a própria fé, o que é sempre possível aos adeptos que se atenham a uma fé sorvida no que ouviram outros adeptos dizerem, em vez de se dedicarem aos livros da legítima Doutrina Espírita e às observações daí consequentes, indispensáveis sempre à boa instrução de cada um. O estudo eficiente do Espiritismo esclarece de tal forma os aspectos gerais da vida, como a situação dos espíritas, que, a ele nos dedicando devidamente, não mais surpresas nem vacilações nos chocarão em qualquer setor. Seremos então espíritas preparados para os entrechoques das múltiplas facetas da existência... e saberemos que o Espiritismo e o próprio Evangelho exigem que, para servi-los, sejamos realmente fortes, capazes de enfrentar quaisquer situações difíceis, seja no ardor das próprias provações, nas lutas do trabalho em geral ou diante das fraquezas e imperfeições dos irmãos em crença.

            Meditando sobre o Evangelho, vamos observar que, para podermos praticá-lo, deveremos, acima de tudo, ser vigorosos de ânimo, corajosos a toda prova. Os primeiros discípulos do Nazareno e os primeiros cristãos foram espíritos fortes por excelência, idealistas audazes, práticos e não místicos, caracteres de ação, porque a tarefa a realizar seria volumosa demais para os ombros de um contemplativo.

            Um caráter tíbio, por exemplo, como romperia ele com as tradições milenárias do Judaísmo ou do Paganismo, para renovar totalmente as próprias convicções? Como enfrentaria, o tímido, a necessidade de se curvar à palavra revolucionária de Jesus, palavra que arrojaria por terra antigos preceitos de domínio e até de crueldade, para aceitar a união das criaturas através do Amor, quando a força era que ditava leis? E como suportaria o indeciso a ordem divina de compreender num mendigo, num leproso, numa pecadora, num publicano ou num samaritano o irmão a quem deveria amar e proteger, quando o ódio de casta ou de raça e o desprezo pelos pequeninos eram recomendações seculares? Como se haveria o impressionável, sob o imperativo de morrer pelo amor do Cristo à frente da espada dos herodianos ou nas arenas dos Circos de Roma, dando-se como repasto às feras? E, sem a coragem da própria fé - porque a fé é uma expressão de coragem -, como poderiam apor as mãos sobre um endemoninhado, um paralítico ou um leproso e curá-los em nome do Senhor? E ainda sem a fortaleza do ânimo, como acreditariam eles na vitória daquela estranha Doutrina saída de uma obscura província dominada pela águia romana, Doutrina que eles próprios deveriam espalhar pelo mundo, onde só a força, o egoísmo e o orgulho lavravam leis?.. O próprio Jesus, expondo a sua Grande Doutrina, lança sentenças impressionantes, que seriam como ordenações irretorquíveis, próprias para espíritos fortes, que os pusilânimes demorariam a compreender e aceitar:

            "Seja o vosso falar: Sim, sim; não, não."

            "Aquele que ama a seu pai ou a sua mãe mais do que a mim, não é digno de mim.

            “E aquele que não renunciar a tudo o que tem, não pode ser meu discípulo."

            "Em verdade te digo que ninguém pode ver o reino de Deus, se não nascer de novo."

            "Eu não vim trazer paz à Terra, mas a espada; vim separar de seu pai o homem, de sua mãe a filha, de sua sogra a nora; e o homem terá por inimigos os de sua própria casa. Vim lançar fogo à Terra e desejo que ele se acenda."

            "Se o teu olho ou a tua mão te servem de escândalo, corta-os e lança-os fora de ti; porque melhor te é que se perca um ou dois dos teus membros do que todo o teu corpo vá para o inferno."

            "Se alguém te ferir na face direita, oferece também a outra; e àquele que tirar a tua túnica, larga-lhe também a capa."

            "Amai a vossos inimigos, fazei bem aos que vos têm ódio, e orai pelos que vos perseguem e caluniam."

            "Porque, se vós não amais senão os que vos amam, que méritos haveis de ter?"

            "Se vossa justiça não for maior e mais perfeita do que a dos escribas e fariseus, não entrareis no reino dos Céus."

            "Assim, luza a vossa luz diante dos homens, que eles vejam as vossas boas obras, e glorifiquem a vosso Pai que está nos Céus."

            "Sede, pois, perfeitos, como vosso Pai Celestial é perfeito."

            São, como vemos, ordens de comando revolucionário, impelindo paladinos para a grandiosa batalha de encontrar Deus em si próprios! E, se mais não citaremos, será porque iríamos longe com a observação.

            O Evangelho, pois, se é uma escola onde aprendemos as doçuras do Amor, é onde também encontraremos as atitudes corajosas do herói do ideal divino.

            Nas mesmas condições encararemos os espíritas. Os caracteres fracos, tímidos, indecisos, demorarão a se integrarem nos embates fornecidos pelo Espiritismo. Também este é Doutrina para os fortes, ou seja, para aqueles que, em migrações terrenas do, pretérito, tanto erraram, e no Além-Túmulo tanto sofreram por isso, que agora se dispuseram a uma reforma geral do próprio caráter através do Espiritismo. E, com efeito! Combater as próprias imperfeições diariamente, não ignorando que, se o não fizer, desonrará a própria Doutrina a que se julgou filiar; socorrer necessitados sem possuir recursos suficientes para o mandato, confiante no auxilio do Mestre Nazareno; medicar enfermos sem haver cursado Medicina; subir a uma tribuna diante de assembleia numerosa, que espreita pronta para a crítica, a fim de defender a Verdade, sabendo que esse é um dever a que não poderá fugir, porque ainda ontem, em existências transatas, deprimiu a mesma Verdade; enfrentar obsessores e fazê-los recuar dos abismos do Mal para as suaves trilhas do Amor e do Perdão, certo de que é apenas intérprete das forças do Céu, porque não possui virtudes para tão alto feito; investigar o Invisível com a própria fé e as forças do coração, porque sabe não ser anjo nem sábio; arvorar-se em secretário de entidades aladas para a produção de compêndios de Moral, de Filosofia ou de ciências transcendentes, e apresentá-los ao mundo impiedoso com suas críticas, não sendo escritor e tão pouco possuindo diplomas universitários; submeter-se à vontade dos Mentores Espirituais e executá-los, sobrecarregando-se, dia a dia, das mais pesadas responsabilidades perante os homens e os Espíritos; ser levado, por amor a Jesus, a perdoar e esquecer os ultrajes que lhe ferem o coração e conturbam o espírito; renunciar a cada dia, às vezes até mesmo às mais doces aspirações do coração, morrendo para si mesmo a fim de ressurgir para Deus, e, acima de tudo, filiar-se às falanges dos discípulos de Jesus e dos baluartes da Terceira Revelação - não será dispor de forças supremas na Terra, não será ser corajoso por excelência? E convenhamos que é desses tais que Jesus precisa agora, como ontem precisou dos pecadores, dos mendigos, dos malvistos pela sociedade para a propaganda da Sua Doutrina, únicos indivíduos que, apesar das imperfeições que portavam, estiveram à altura de compreender e executar os sacrifícios necessários à difusão da Grande Nova que surgia.

            Muitos de nós, realmente, ainda não somos verdadeiros espíritas nem verdadeiros cristãos. Mas também já não seremos homicidas, nem roubadores, nem traidores, nem devassos, nem ébrios, nem adúlteros, nem suicidas. Observaremos, então, que nosso progresso dentro do ensino espírita há sido fabuloso, pois ainda ontem fomos tudo isso, não obstante alguns deslizes que mais ou menos ainda praticamos. Devemos, portanto, ver uns nos outros espíritos valorosos que lutam contra as próprias imperfeições, sob a redentora proteção do Consolador enviado pelo Cristo de Deus! Não vejamos em nossos irmãos de crença, ainda imperfeitos, espíritas indesejáveis, mas pupilos de uma Doutrina Celeste, recém-libertados de terríveis correntes malignas. E se, por nossa vez, nos julgamos harmonizados com os esplendores da Verdade, estendamos até eles nossos afetos, auxiliando-os quanto possível a se integrarem na verdadeira essência da Doutrina Espírita, que é poderosa bastante para reeducar os necessitados de forças renovadoras e de luzes espirituais. E todo esse trabalho, que somos chamados a executar, será labor para espíritos fortes ... porquanto, tal como aconteceu aos primeiros discípulos do Nazareno, também teremos de desenvolver lutas árduas para o estabelecimento das verdades celestes sobre a Terra - supremo ideal daqueles que já conseguiram predisposições para a comunhão com a Força Suprema do Eterno Bem.


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