Pesquisar este blog

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

XVII. 'Apreciando a Paulo'



XVII
‘Apreciando a Paulo’
      comentários em torno
    das Epístolas de S. Paulo
   por Ernani Cabral

Tipografia Kardec - 1958


“Segui a caridade e procurai com zelo os dons espirituais,
 mas principalmente o de profetizar.
Porque o que fala língua estranha não fala aos homens,
senão a Deus; porque ninguém o entende,
e em espírito fala de mistérios.
Mas, o que profetiza fala aos homens
para edificação, exortação e consolação.
O que fala língua estranha edifica a si mesmo,
mas o que profetiza edifica a igreja.
E eu quero que todos vós faleis línguas estranhas,
 mas, muito mais, que profetizeis, porque o que profetiza
 é maior do que o que fala línguas estranhas,
a não ser que também interprete para que
a igreja receba edificação.”
(1ª Epístola aos Coríntios, 14:1 a 5)

            Paulo de Tarso, o apóstolo dos gentios, o divulgador do Cristianismo, o mais douto e operoso dos discípulos de Jesus, em várias passagens de suas epístolas refere-se aos dons espirituais, a respeito dos quais não deseja que sejamos ignorantes, como frisa no capítulo doze dessa 1ª Epístola aos Coríntios, voltando aqui, neste capítulo catorze, a referir-se a esses mesmos dons, notadamente ao de falar línguas estranhas, ao de profetizar e ao de interpretar, sendo que este ele também o destaca, pois que serve “para a edificação da Igreja”.

            Portanto, lendo as epístolas de Paulo, temos de convencer-nos de que, entre os primeiros cristãos, os dons espirituais eram cultivados, e que só por motivos supervenientes deixaram de o ser, descurando-se depois os seguidores do Evangelho, durante séculos, do amanho desses dons ou dessas virtudes, que os espíritas agora procuram fazer ressurgir no seio da cristandade. Restauramos assim os fenômenos que eram comuns entre “a gente do caminho”, renovamos a prática das profecias, o dom “de discernir os espíritos” (I Cor., 12:10), a faculdade de interpretar os textos evangélicos, e exercitamos ainda outras mediunidades ou outros dons espirituais, que de certo eram também praticados pelos primeiros cristãos, que bem os conheciam, como se conclui, logicamente, dessa lição de Paulo.

            É por isto que o Espiritismo, além de ser o Consolador prometido por Jesus (João, 14:26 e 16:12 a 14), é ainda o restaurador do verdadeiro Cristianismo, pois que o praticamos tal
como os primitivos cristãos, dando assinalado valor aos dons espirituais, que procuramos cultivar, confiados no Cristo e “para a edificação de sua Igreja”.

            Compreendemos que a Igreja do Senhor Jesus é composta de todos os cristãos, de qualquer seita ou de qualquer plano da vida, e sabemos também que não monopolizamos o Cordeiro de Deus, o qual pertence a toda a cristandade, ou melhor, é de todos aqueles que se amam e que cumprem os seus mandamentos:

            “Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros.” (João, 13:34 e 35)

            “Se me amardes, guardareis os meus mandamentos.” (João, 14:15)

            Portanto, não temos a ideia estreita de jungir Jesus a qualquer seita, porque ele a todas transcende, mas procuramos respeitar os seus ensinamentos, adorando a Deus “em espírito e verdade” (João, 4:23) e objetivando um Cristianismo puro, onde há o cultivo do amor e dos dons espirituais, como era praticado pelos primeiros cristãos, de conformidade com as recomendações de Paulo, seu apóstolo e nosso apóstolo, seu servidor e nosso guia.

            “Segui a caridade, diz o orientador dos gentios, e procurai com zelo os dons espirituais, mas principalmente o de profetizar.”

            Tenhamos em vista que a caridade é virtude excelsa e que, como dizem os Espíritos, “fora da caridade não há salvação”. Porém, outrossim, procuremos com zelo os dons espirituais, porque eles são capazes de elevar nossa alma, pondo-a em sintonia com os planos celestiais, de onde defluem as mais puras emanações da divindade!

            Busquemos fazer o bem, mas exercitemos nossas faculdades superiores em busca do Pai Celestial, cumprindo e praticando os ensinamentos de nosso Divino Mestre e as recomendações de seus apóstolos, que são o legítimo roteiro de nosso procedimento cristão e os guias seguros de nossa mais pura religiosidade.

            Cristianismo sem cultivo de caridade ou de nossos dons espirituais é flor sem perfume, é quadro deslumbrante, mas de beleza morta, porque não palpita, porque não se exterioriza, porque não manifesta as coisas de Deus, limitando-se ao culto externo, maquinal e vazio dos rituais estratificados na forma, ou no mero respeito aos dogmas forjados nos concílios, porém sem a essência purificadora do amor, sem a sublimidade desse sentimento que eleva o crente às regiões superiores da espiritualidade, onde ele comunga, verdadeiramente, com o Espírito de Deus!

            O Pai Celestial une seus filhos pela força universal e eterna do amor e manifesta-se aos homens por intermédio dos dons espirituais destes, que são verdadeiras antenas erguidas aos céus, prontas a entrarem em sintonia com os eflúvios carinhosos da divindade, cujo reino “vem a nós”, conforme o Senhor Jesus assegurou, através da oração dominical.

            Destarte, como poderemos ser legítimos cristãos, se negarmos os dons espirituais, cujo cultivo o apóstolo Paulo tanto recomenda? Como poderemos ser bons cristãos desprezando as coisas da espiritualidade, negando o Espiritismo?

            Não chegamos a ponto de afirmar, intolerantemente, que fora do Espiritismo não haja salvação. Mas dentro dele, cultivando a caridade e os dons espirituais, acharemos o caminho reto que nos conduzirá a Deus, de maneira segura e genuína, sem tergiversações, sem obliquidades, sem indecisões, mas com firmeza, confiança e fé, porque nele está o Cristianismo redivivo em toda a sua pureza primitiva, de vez que é o próprio Consolador que o Cristo Jesus prometeu à Humanidade e que viria dos céus, nos tempos prescritos, para complemento das revelações de Deus.

            E as vozes dos Mensageiros do Senhor persistem em entrar em sintonia com os novos cristãos, através de seus dons espirituais, estabelecendo a legítima comunhão com o Divino Mestre, “em espírito e verdade”, na prática do Cristianismo puro, como era feita nos tempos apostólicos e como hoje se cumpre, através do Espiritismo-cristão, pelo exercício das diversas mediunidades.

            Consoante disse o apóstolo Paulo, nesta 1ª Epístola aos Coríntios, “o que profetiza fala aos homens para edificação, exortação e consolação”.

            Entretanto, há cristãos hoje em dia que, infelizmente, apegados ao seu sectarismo intolerante, negam os dons espirituais e o seu cultivo, esquecidos dessa e de outras lições de Paulo de Tarso, que tanto recomenda a prática desses dons, “para a edificação da Igreja”.
Mas, para esses, ainda presos ao dogma, recordemos tais palavras do apóstolo dos gentios, que são fonte de ensinamento perene e de água viva, capaz de dessedentar aquele que queira beber, sem prevenções, o néctar puro que o apóstolo-mártir nos legou em suas epístolas, e que jorra perenemente, para nossa salvação e para nossa felicidade.

            Procuremos sentir a sublimidade e a singeleza dessas lições; não as neguemos, jamais; sigamo-las com firmeza e fé. E compreendamos que o Espiritismo é baseado na Bíblia, na palavra divina que deflui do maior dos livros, “para edificação, exortação e consolação” da Humanidade, tão necessitada desse caminho de luz!


Nenhum comentário:

Postar um comentário