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quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Existe vida depois da morte?


Existe Vida
depois da Morte?
O testemunho daqueles
que “voltaram”
Geoffrey Bocca
Reformador (FEB) Outubro 1958

            Existe vida depois da morte? Para esta pergunta existe uma só resposta precisa: SIM.

            No ano passado um médico americano de 65 anos de idade caiu morto na rua. Teve a sorte de morrer perto de um hospital e de receber ajuda médica. Meia hora depois de um tratamento elétrico e de massagens vigorosas, ele foi restituído à vida. O caso foi relatado pelo Dr. Claude Beck, eminente cirurgião do “Journal of the American Medical Association”.      

Abstrato e incoerente

            Todo ano há pessoas que são restituídas à vida depois de morrerem quase sempre de ataques cardíacos. O caso mais recente sucedeu em Atenas, em Maio deste ano, quando uma jovem de 22 anos, chamada Eleni Kargiani, foi revivida pelo Dr. Karagiorgis, depois de ter estado morta durante cinquenta e sete minutos. Na Inglaterra já se fundou até um clube de pessoas que morreram e foram ressuscitadas.

            A morte pode durar um par de minutos ou pode durar até uma hora. O problema que nos interessa é o de saber o que acontece nos minutos que se entremeiam entre a morte e a ressurreição, quando o Espírito se separa do corpo.

            A maior parte das declarações a respeito é incoerente e abstrata. Alguns não se lembram de nada, como Rose Gale, de Filadélfia; que foi restituída à vida depois de ter estado morta durante cinquenta minutos. Lembra-se, apenas, de que “aconteceu alguma coisa de maravilhoso, mas que ela não pode dizer o que foi”. Um médico escocês, que morreu em 1954, disse que se sentiu conscientemente acordado e que teve uma sensação de calor e de bem-estar.

A experiência de dois médicos

            Algumas pessoas, porém, voltaram dos momentos de morte contando detalhadamente o que tinha acontecido. Os dois casos mais interessantes e mais divulgados foram de dois médicos: o primeiro é do Dr. Wiltse, no fim do século passado, e o segundo o de um médico anônimo, mas cujo caso foi relatado à Royal Medical Society de Edinburgh pelo falecido Lord Geddes, pouco antes da guerra. Ambos estes médicos expiraram na presença de testemunhas e ambos retomaram à vida excitados e afoitos para narrar aos presentes as aventuras que tinham “vivido”.

            O Dr. Wiltse estava rodeado de parentes chorosos quando morreu. Toda a aldeia tomou conhecimento de sua morte pelos sinos que repicavam fora do quarto. Todos ficaram muito chocados, exceto - é não é motivo de surpresa o próprio Dr. Wiltse.

            - Vi que ainda estava dentro do meu corpo - disse ele depois de revivido -; porém, meu corpo e eu nada mais tinham em comum um com o outro, comigo, com o meu “eu” real, que começou a sentir-se bloqueado como se estivesse dentro de uma sepultura de barro.

Levantando-se como bolha de sabão

            Pouco a pouco, Wiltse teve a sensação de que se estava levantando; saindo de dentro do corpo. Durante um minuto ele ficou espantado, tremendo como uma “bolha de sabão na ponta de uma varinha”, até que se sentiu libertado e subiu de repente para o teto do quarto, uma sensação de loucura, mas, sobretudo, muito agradável. Sentia que atingira a estatura de um homem comum, mas que era translúcido e que estava envolvido numa coloração azulada.

            - Voltei-me e encarei as pessoas presentes - disse Wiltse -; elas, porém, não me perceberam. Então vi meu corpo morto. Estava ali, os pés juntos e as mãos cruzadas em cima do peito. Fiquei surpreendido com a palidez do meu rosto. Percebi que havia várias pessoas em pé, em volta da cama, e que elas estavam chorando. Não pude reconhecê-las. Só pude distinguir os homens das mulheres, nada mais.

Risonho e exuberante

            Tentei, então, chamar a atenção deles, confortá-los, e também assegurá-los de que eram imortais. Fiz uma curva diante deles, alegremente, e saudei-os... Aquela situação me parecia tão engraçada que comecei a rir. Eles, na certa - pensei eu -, deviam ter ouvido quando ri, porém ninguém se mexeu. Continuaram todos olhando fixo para meu corpo. Então eu disse para mim mesmo: - Eles só podem ver com os olhos do corpo. Estão observando o que pensam que seja eu; porém estão muito enganados. Aquilo ali não sou eu. Eu sou este aqui e nunca estive tão vivo quanto agora. A alma do Dr. Wiltse saiu pela porta, livre e feliz como um passarinho, para a rua e para o céu.

            - Como me sinto bem, gritou ele. Nunca mais morrerei.

            Olhando para trás, percebeu uma coisa inesperada, um cordão fino e leve como uma teia de aranha que saía de um de seus ombros e o prendia ao corpo morto.

            Olhei para cima e distingui o céu e as nuvens à distância em que eu estava acostumado a vê-los. Lá em baixo, via as copas verdes das árvores. Estavam a uma distância de mim igual à distância em que eu via as nuvens.

            A sensação mais extraordinária, porém, era a de que ele sentia que alguém o estava acompanhando e explicando-lhe todas as coisas. Logicamente, este alguém deveria falar em inglês, embora ele não estivesse em condições de garantir tal detalhe.

            Estava a um passo do céu, segundo o que lhe fora dado entender, quando houve uma confusão.

            - Uma pequena nuvem densa e negra apareceu diante de mim e me envolveu o rosto. Eu sabia que fora obrigado a parar. Senti que o poder de me mover me tinha abandonado. Minhas mãos ficaram inertes ao meu lado, minha cabeça tombou para frente e não sei mais o que houve.

Devo morrer de novo?

            De repente, os olhos do corpo inerte sobre o leito estreito se abriram para a felicidade e alegria dos que o pranteavam em volta da cama. O Dr. Wiltse estava vivo de novo. Porém, a alma de novo alojada dentro do corpo doentio era bem diferente daquela alma alegre que havia circulado pela eternidade, momentos antes.

            - Que foi que aconteceu comigo? - perguntou o Dr. Wiltse pesada e descontentem ente.

            - Será que devo morrer de novo?

            A referência que Wiltse fez ao cordão leve é muito interessante. O “cordão de prata” é o símbolo tradicional que significa um vínculo excessivamente forte ao útero. É, também, um símbolo para o misticismo e para a teologia, sobretudo, no Oriente. (1)

            (1) o "cordão de prata", referido até pelo autor de Eclesiastes (cap. XII, v. 6), estudado por Max Heindel, Geoffroy Hodson, Lindsay-Johnson, Sylvan Muldoon, Hewat Mackenzie, William Reid, Montandon e outros autores, - por AlIan Kardec foi chamado cordão ou laço fluídico, muitas vezes visível por médiuns videntes nos fenômenos de bicorporeidade, em certas sessões mediúnicas, em pessoas dormindo e no momento da desencarnação.
            É este cordão perispiritual, espécie de cordão umbilical, que liga o Espírito ao corpo físico quando se acham afastados um do outro. A morte definitiva só se dá com o rompimento deste laço.
            Não sendo brusca, no momento da morte, a separação do Espírito, pois o perispírito só pouco a pouco se desprende, o cordão fluídico ainda permanece por algum tempo ligando o Espírito ao corpo, resultando daí a possibilidade, dentro de certas circunstâncias, de se operar uma aparente ressurreição, tal como as que a Medicina tem registado, principalmente nos últimos tempos. (Nota de "Reformador".)

            A experiência de Wiltse tem vários pontos de contato com a relatada por Lord Geddes, antigo embaixador da Inglaterra nos Estados Unidos. O fato se passara com um amigo do ex-embaixador, um médico anônimo a que ele chamava, no livro, Robinson. Este médico, certa noite, sentiu que ia morrer de gastrenterite. Tentou chamar alguém e não conseguiu; então, placidamente, se dispôs a morrer.

            Da mesma maneira que o Dr. Wiltse, sentiu que sua consciência se separava de outra consciência que pertencia ao corpo.

Alguém lhe explica

            Róbinson se apegou a esta nova consciência e com grande alegria viu que podia distinguir não apenas seu corpo morto, mas, também, toda a casa em que morava e mais o jardim. Quis ver outras coisas e percebeu Londres e a Escócia e passou a ver tudo o que sua imaginação fixava. Foi então que percebeu, como o Dr. Wiltse, que estava sendo dirigido.

            - Alguém estava explicando os fenômenos para mim, disse Robinson. Não sei quem era, mas lembro-me de que eu mesmo me referia a ele como um mentor. Ele me fez compreender que eu estava livre dentro de uma dimensão temporal do espaço onde o “agora” equivalia ao “aqui” nas três dimensões comuns do espaço da vida de cada dia.

            Nesta altura, o Dr. Robinson não soube mais como descrever adequadamente o que vira e teve de se valer das seguintes palavras para continuar:

            - Na realidade não há palavras que possam descrever. Embora não tivesse corpo tinha o que se pode chamar a visão perfeita de dois olhos, e tinha, também, a impressão de ser visível e iridescente.

Uma nuvem que parecia azul

            Meu mentor continuava explicando todas as coisas para mim e me pareceu que eu era uma espécie de condensação que na linguagem comum poderíamos comparar a uma nuvem; a impressão visual que eu tinha de mim mesmo era de estar azul. Paulatinamente, comecei a reconhecer que havia pessoas em volta de mim e que todos tinham a mesma condensação física igual à minha. Quando senti que ia compreender alguma coisa, vi alguém que entrava no meu quarto de dormir. Percebi que esta pessoa levou um choque terrível ao me ver e que saiu correndo na direção do telefone. Vi meu médico que estava em outro lugar, longe de minha casa, deixar seus pacientes e dirigir-se para onde eu estava, a toda pressa.   

            Robinson descobriu naquele momento que sua aventura de homem morto começava a acabar. Ouviu que o médico falava com ele, mas não podia responder. O médico tomou de uma seringa e injetou no corpo morto alguma coisa que Robinson mais tarde soube que era cânfora.

            - Quando meu coração começou a bater mais forte, fui puxado para trás com grande descontentamento da minha parte, pois estava muito interessado e começava a entender onde eu estava e o que estava vendo. Voltei para meu corpo bastante contrariado de ter sido puxado para trás, pois toda aquela capacidade de compreensão das coisas e de tudo desapareceram; e fiquei reduzido a um fio de consciência misturado com a dor.

            A experiência por que passei não tende a se desvanecer como acontece com os sonhos, nem a racionalizar-se. Desde que as injeções me trouxeram de novo para a vida, a experiência não mais se repetiu, não tive mais aquela clareza de compreensão que gozei quando estava livre do meu corpo.

Às portas da Eternidade

            A narrativa de Sir Auckland Geddes termina com estas palavras:

            - Que devemos pensar de tudo isso? - 'pergunta ele aos leitores. - De uma coisa, pelo menos, devemos estar certos. Não se trata de um caso de mistificação. Se eu não estivesse certo disto, não teria narrado o caso para vocês.

            Pois bem, que devemos pensar de tudo isto? É provável que tanto o Dr. Wiltse quanto o Dr. Robinson não estivessem “tão” mortos como os outros que voltaram à vida sem se lembrarem de coisa alguma. Esta circunstância, porém, não diminui o valor da experiência que ambos tiveram. Eles não sonharam. Os dois estiveram às portas da Eternidade.

            Por enquanto é tudo o que podemos dizer a respeito. Revelamos o a que o Dr. MartinRuber chama “a avidez da raça humana para desvendar o segredo da morte”.

Exultante

            O relance de eternidade que foi dado aos Drs. Wiltse e Robinson entrever foram tão maravilhosos que a linguagem com que os descreveram, às vezes, pareceu ridícula. Qualquer um, porém, pode perceber, através desta barreira formada pelas palavras inadequadas, o - sentimento que encheu a experiência que ambos fizeram, o sentimento da alma que compreende tudo e que goza de um estado de exultação que deve ser o prêmio das orações que os homens de todas as fés proferiram desde o princípio dos tempos.
(Ext. do “Correio da Manhã", de 22-3-58.)


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