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domingo, 25 de agosto de 2013

V. 'Apreciando a Paulo'


V
‘Apreciando a Paulo’
      comentários em torno
    das Epístolas de S. Paulo
   por Ernani Cabral

Tipografia Kardec - 1958
  

“Mas em breve irei ter convosco, se o Senhor quiser,
e então conhecerei, não as palavras dos que andam inchados, mas a virtude.
Porque o reino de Deus não consiste em palavras, mas em virtudes.”
Iª Epíst. aos Coríntios, 4:19 e 20

            Se o conhecimento é suave ao espírito, como se lê em Provérbios, 2:10; se a sabedoria é ali considerada como coisa principal (idem, 5:7) porque dá a consciência do bem e do dever, é também verdade que, como diz Paulo, “o reino de Deus não consiste em palavras, mas em virtude”.

            Pregar ou escrever é relativamente fácil para quem possui pendor para divulgar a moral evangélica. E isto não é inútil, porque elucida e consola. Todavia, o problema fundamental do cristão é a instalação do reino de Deus dentro de sua alma, o que se consegue pela transformação do próprio eu e pela prática reiterada do bem.

            O início da ascese está no arrependimento:

            “Desde então começou Jesus a pregar, e a dizer: Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus.” (Mateus, 5:17)

            Sabemos que é grave a responsabilidade de quem fala ou de quem escreve, porque, antes de tudo, está falando ou escrevendo para si mesmo; se infringir o que disse, pecará sem atenuantes, isto é, conscientemente.

            Assim, por vezes, no ardor de uma dissertação, talvez inspirado pela misericórdia divina, temos a consciência plena de que as palavras proferidas são ditas, antes de tudo, para nós mesmos.

            Recebemos certa vez o recado de um Espírito: “Já conheces bem o Evangelho, meu amigo. Aplica-o agora em tua vida e procura também ser humilde e tolerante.” Longe de nos aborrecermos, agradecemos-lhe, de coração, a advertência, convicto como estamos de que muito temos ainda a evoluir.
           
            Vem a propósito mais um provérbio de Salomão (8:13):

            “O temor do Senhor é aborrecer o mal.”
            Mas como é difícil ao “homem velho” deixar de ser “inchado”, para usarmos a expressão do apóstolo, já que a vaidade é defeito comum e até - pode-se dizer - uma das características do gênero humano!

            Foi por isto que o Eclesiastes afirmou (1:2): “Vaidade de vaidades! É tudo, vaidade.” Entretanto, este livro bíblico tirou, afinal, uma conclusão (12:13) :

            “Teme a Deus e guarda os seus mandamentos; porque este é o dever de todo homem.”

            E o seu verdadeiro caminho, acrescentamos...

            Sim, mais agradável ao Senhor é a prática do bem, o respeito aos mandamentos, do que o simples uso de palavras ou as discussões em torno da doutrina. Foi a divergência ou a intolerância religiosa que levou muita gente às fogueiras da Inquisição. Ardem ainda as consciências no remorso, recordando tão hediondo fruto do fanatismo. Matar ou perseguir em nome de Deus, é talvez a mais abjeta das heresias.

            Consola-nos saber que a difusão da verdade, sem imposição, é também obra proveitosa e uma das maneiras de resgate dos débitos, já que a semente do Evangelho pode cair em terreno fértil ou preparado para a germinação, chamando irmãos ao redil, em nome do Senhor.

            É por isso que apreciamos e recomendamos as boas leituras. Ademais, “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”, como diz a sabedoria popular.

            Realmente, em contato cotidiano com os bons livros e, sobretudo, com a palavra edificante da Bíblia, muito poderemos aproveitar.

            É preciso que nos transformemos para Jesus, não por simples misticismo, mas para nossa própria felicidade.

            Quem estuda, procura evoluir. E quem transmite, seja pela palavra escrita ou falada, dá o testemunho da crença e um pouco do coração aos seus semelhantes.

            Assim, não busquem saber de que vaso jorra a palavra ou se a nascente é poluída; olhem para o sentido e para a qualidade da doutrina. Basta que o regato tenha sido purificado pelo crisol eterno, isto é, que a água esteja filtrada nos ensinamentos de Jesus para merecer ponderação.

            Paulo também dali se abeberou. O convertido de Damasco legou-nos suas epístolas imortais, que tanto serviram e tanto servirão ainda para vulgarizar a Doutrina Cristã.

            E até hoje, quase vinte séculos depois, notam-se o mesmo brilho e o mesmo perfume que se evolam de tais ensinamentos, desdobrando e comentando os do Divino Mestre, que são a síntese da moral evangélica e o roteiro da salvação.

            Examinando as Epístolas de Paulo, o que se observa, além dos conceitos, é a linguagem em que foram vazadas, clara, escorreita, exata, admirável mesmo, sobretudo tendo-se em conta que elas foram escritas há tantos séculos. Nós, que cremos, temos a convicção de que o Espírito Santo o assistiu, dada a facilidade que teve para escrever em linguagem tão simples e tão edificante, mas sempre atualizada para os séculos a fora.

            Entretanto, recordando ou apreciando a Paulo, tenhamos sempre presente sua imorredoura lição:

            “O Reino de Deus não consiste em palavras, mas em virtude.”

            Esta afirmativa corresponde à base da justiça divina, que está no Novo como no Velho Testamento:

            “A cada um será dado segundo as suas obras.” (Mateus, 16:27; Isaias, 59:18.)

            Não basta a fé, nem bastam as palavras. É preciso que os atos correspondam àquilo que diz o coração.


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