Ideias Novas

Ismael Gomes Braga

Ideias Novas

Lincóia Araucano (Ismael Gomes Braga)

Reformador (FEB) Fevereiro 1961

            Carlos Richet nos demonstra que as ideias novas são sempre hostilizadas, só pelo fato de serem novas, de não estarmos habituados a elas. Depois que ficam velhas, são aceitas sem discussão, só porque já nos acostumámos com elas.

            Um homem que via mais do que os seus contemporâneos notou que a Terra gira em torno de seu próprio eixo, dando-nos a ilusão de que o Universo todo gira em volta dela. Achou-se essa ideia absurda, criminosa, e o sábio foi preso e intimado a se desmentir; como não o podia fazer, pois estava certo da verdade, esteve sete anos nas masmorras da “Santa” Inquisição e finalmente foi queimado vivo na Praça das Flores, em Roma, no dia 17 de Fevereiro de 1600. Seu nome era Giordano Bruno.

            Hoje, essa verdade - de girar a Terra em torno do seu eixo - já ficou velha e todos a aceitamos, mesmo sem demonstração, como verdade axiomática.

            Um navegador disse que havia grande continente desconhecido e que ele seria capaz de descobri-lo. Fizeram dele, durante anos, a maior zombaria; mas ele descobriu a América Hoje, os raciocínios de Cristóvão Colombo nos parecem os ,mais simples e lógicos, só porque já nos habituamos com eles e não ousamos negar a existência da América.

            Assim ocorre com todas as ideias novas: são combatidas até ficarem velhas; depois se tornam a coisa mais lógica e natural do mundo.

            É o que se dá com o Espiritismo: é uma ideia nova, o mundo não está acostumado com ela e a hostiliza, escreve grossos volumes cheios de estultícies para provar sua inexistência, para acha-la imoral e nociva ao bem público. Mas, esse mesmo mundo que a combate aceita a Bíblia inteira só porque é velha. Os fenômenos registrados na Bíblia, que serviram de base às grandes religiões do Ocidente, são absolutamente os mesmos do Espiritismo e não foram rigorosamente verificados e testemunhados, como o são no Espiritismo. No, entanto, incalculáveis gerações de judeus, católicos, ortodoxos, protestantes, aceitam sem nenhuma discussão o que foi escrito pelos profetas, pelos antigos escribas, pelos evangelistas, só porque estão acostumados com esses velhos relatos. Mas quando eram novos esses escritos, essas revelações, não eram aceitos: mataram profetas, crucificaram a Jesus, lançaram os cristãos às feras no circo romano. Passou o tempo e tudo que era hostilizado e até condenado, como sendo o mal, passou a ser aceito como bom, verdadeiro e dominou o mundo, só porque aquelas ideias novas ficaram velhas e com elas os homens se habituaram.

            O Espiritismo não poderia constituir uma exceção nessa psicologia dos homens. Ele é uma ideia muito nova para a imensa maioria dos terrícolas.  A psicografia de Chico Xavier, as curas por intermédio de Harry Edwards, na Inglaterra, os romances de Yvonne Pereira, estão ocorrendo hoje; mas os séculos terão de fazer sua obra; um dia esses fatos, esses livros, serão velhos e aceitos sem relutância por toda a gente, e então não se compreenderá como todos os que não viram os fatos podiam negar o testemunho concorde de milhares de pessoas que os viram e estudaram.

            Os negadores não têm autoridade alguma para se pronunciarem sobre os fatos, porque não os conhecem, não os compreendem; negam por sistema, fazendo lembrar a anedota de um acusado a quem o Promotor disse: “Eu posso apresentar duas testemunhas que viram o acusado cometer o crime”, ao que este respondeu: “E eu posso apresentar quatro testemunhas que não me viram cometer tal crime!”

            Os afirmadores têm autoridade, porque falam do que viram e lhes foi explicado; por isto mesmo o Espiritismo progride, ganha terreno, e os negadores ficam circunscritos a suas rodas de eternos discutidores. Estes negadores mesmos proclamam que o Espiritismo está vitorioso no Brasil, está levando de vencida todos os seus opositores.

            Um desses opositores diz em grosso volume que o movimento espírita brasileiro é muito maior do que aparece nos recenseamentos oficiais, que esses documentos oficiais não expressam a verdade.

            O Brasil já se tornou a nação líder do movimento espírita mundial. Aqui, para muita gente estudiosa, o Espiritismo já não é uma ideia nova: é ideia velha e aceita como verdade absoluta.

            Quando decorrerem mais alguns séculos ninguém ousará negar o Espiritismo; todos o aceitarão e procurarão modelar sua conduta pelos ensinos dos Espíritos superiores que nos trazem a Doutrina da Terceira Revelação.

            Não nos preocupemos com os negadores nem tentemos convertê-los. Só o tempo os converterá. Eles voltarão aqui para receberem com simplicidade e pureza as mesmas ideias que hoje lhes são inaceitáveis só por serem novas.

            Quando essas ideias ficarem velhas elas terão a mesma sorte dos ensinos bons contidos na Bíblia. A parte boa da Primeira e da Segunda Revelações entrou para os costumes, passou para as leis civis, já sem o cunho de revelação, passou a ser moral ideal e até os mais renitentes ateus e materialistas vieram a aceitá-la como sociólogos e tentam impô-la ao mundo por todos os meios, até a ferro e fogo.

            Ninguém pode negar que tudo que de melhor existe na legislação social moderna - defesa dos pobres, doentes, desajustados; limitações ao direito de propriedade; educação geral; proteção à criança; o culto ao trabalho; o respeito à criatura humana etc. vem da Revelação, está nos velhos livros revelados, já foi ideia nova e combatida. Os negadores de hoje não percebem seu cunho de Revelação e continuam negando a Revelação em sua nova fase. Dizem-se ateus e materialistas, ou sacerdotes e espiritualistas, mas sempre negando com a máxima arrogância as mesmas ideias que terão de aceitar no futuro, talvez com outros rótulos.

            Como todos eles são varões (*) orgulhosos de seus títulos terrenos, podemos até esperar que regressem em lindos e delicados corpos femininos e serão ternas mãezinhas que ensinarão aos seus belos rebentos a Doutrina reencarnacionista, mostrando-lhes a infinita bondade de Deus, que salva todas as Suas criaturas com o mesmo amor com que as criou.

            Como serão felizes então velhos teólogos celibatários e cheios de preconceitos contra a parte melhor da Humanidade, quando eles mesmos tiverem os encantos da maternidade feliz e radiosa!

            Não podemos conceber que alguma das criaturas de Deus fique para sempre privada da grandiosa filosofia espírita, da mais sublime concepção da Vida e do Universo que ao homem já, foi revelada. Seria deserdar um dos filhos de Deus; seria uma clamorosa injustiça privar alguém para sempre de compreender essa majestosa solidariedade fraterna que liga todos os seres vivos do passado, do presente, do porvir, num presente eterno, numa única família universal, sem limites no tempo nem no espaço, família infinita e eterna, criada e animada em todos os rincões do Universo pela mesma Fonte de Vida que é o Amor de Deus.

            O Espiritismo nos revela a mais grandiosa concepção da Vida e do Universo que já pode entrar na frágil cabeça e no débil coração do homem e nos mostra que a Infinita Sabedoria dispõe dos meios necessários para salvar a todos, sem uma única exceção.

            Passar por esse majestoso corpo de filosofia sem o ver, obcecado pelo espírito de negação, é enfermidade passageira, demência perfeitamente curável em algumas encarnações.

            Para compreender e amar essa sublime concepção da Vida, bastam algumas encarnações, de preferência em corpos femininos, exercendo a missão divina da maternidade que aprimora o espírito para o amor universal.

            Esse bem imenso nós o desejamos para todos os nossos irmãos, mesmo para os mais obstinados adversários.

            (*) Merece menção o fato de não haver mulheres entre os negadores: nunca lemos um livro, um artigo, de mulher negando o Espiritismo. A mulher é mais intuitiva, tem mais mediunidade natural, mais apurados os sentimentos e não se alista entre os negadores.