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sexta-feira, 2 de agosto de 2013

30. 'Rimas do Além Túmulo'



30
‘Rimas do Além Túmulo’
Versos Mediúnicos de
 Guerra Junqueiro

Grupo Espírita Roustaing
Belém do Pará 1929

Casa Editora Guajarina


Evolução e Decadência


Para o espírito investigador de Almerindo Martins de
Castro, irmão a quem dedico extraordinário afeto.


A Ciência progride; aumenta a crueldade,
a vertigem do Erro empolga a Humanidade,
e os castigos tremendos caem sobre a Terra:
ciclones, terremotos, catástrofes, guerra,
a fúria das procelas e os rios transbordados
parecem declarar que os tempos são chegados
Mas é bem triste ver-se as cegas criaturas
deste orbe entregues todas a fatais loucuras:
adoram, cultuando o santo deus - Milhão,
no templo- Decadência- a deusa Corrupção.
A ilusão bem falaz dos gozos multicores
abafa o coro uníssono de aflitas dores.
Esperançoso sempre em melhorar um dia,
o mendigo se estorce em vascas de agonia,
chorando muita vez a falta de alimento,
na dor e no martírio, em triste isolamento.
O ambiente é pesado, porém a Evolução
vai seguindo o seu curso sem interrupção.
E, ao par de tanta glória, tantas invenções,
entrechocam-se, em fúria, os ódios e as paixões.
Meditai bem sobre isto, irmãos trabalhadores:
se o planeta é de magoa, expiação e dores.
não é porque Deus queira vos fazer sofrer;
porém, compenetrai-vos que é vosso dever
progredir moralmente. Assim, desencarnado,
contemplo, com pesar extremo, o desregrado
bando de almas que formam triste aluvião
seres que não têm moral, nem têm Razão.
Época de progresso e de desregramento,
em que a Virtude é poeira vã lançada ao vento.
Já a Honra e a Família, dignidade e amor,
são uns rotos fragmentos, coisas sem valor,
que a boemia esmaga aos pés vitoriosa,
num pouco de champanhe e essência vaporosa,
aplaudindo a nudez, o descalabro, a orgia!
O amor conjugal é mera fantasia!
A prostituição é sorvedouro imundo,

que tenta aniquilar, açambarcar o mundo,
espalhando-se assim de forma bem fatal;
faz da Mulher um monstro horrível, um chacal
disforme e carcomido em vício e embriaguez,
que às vezes vai dormir na furna de um xadrez,
por praticar desordens ou ter pronunciado
palavras torpes, em calão acanalhado!
E trata-se a Mulher como uma fera astuta,
que se prende em jaula por demais corrupta
O Respeito passou a pálida quimera.
Bem raro é o lar onde a moral impera,
onde a palavra – Mãe - incute obediência
aos filhos, que mal saem do berço da inocência.
É bem frequente ver-se em ruas, nas esquinas,
um bando adolescente, em frases libertinas,
falando, com prazer, no jogo ou na bebida,
com audácia mordaz, ferina e desmedida.
Tudo isso por que?- Porque não há moral;
a serpe da Cobiça, traiçoeira e fatal,
se enrosca tenebrosa em todo coração.
Ao lado do Progresso, marcha a Perdição
vertiginosamente; e, para procurar
destruir tão mortal veneno, exterminar
pra sempre esse inimigo, que faz do encarnado
um verme pestilento, um ser desnaturado,
é mister acabar com toda a atrocidade,
por termo à Corrupção, combater a Vaidade
com a moral enérgica e firme de heróis.
Importam-vos as chagas? São mais tantos sois
os espinhos que cercam o trilho - Bondade;
e, enquanto o Erro enterra as unhas à Verdade,
tentando estrangular lhe o retumbante grito,
- apóstolos da Fé, bradai pelo Infinito:
Somos filhos de Deus! Recua, Iniquidade!
vai cessar para sempre a crassa autoridade
que exerces sobre nós! a Humanidade inteira
formará, bem unida, a colossal barreira
- bronzeia, inquebrantável, e assim não poderá
jamais o Mal vencer: o Bem triunfará!
Levante-se a mulher da negra podridão
em que se acha imersa; a luz da Redenção
seja o foco de Paz, viril, libertador,
que aponte à decaída o trilho de Honra e Amor.
Libertai-vos do lodo vil que vos oprime;
banhai-vos no Jordão do pranto que redime!
As lágrimas sinceras são pedras preciosas,
são perolas de Luz, são gotas perfumosas
 aroma sutil alenta e diviniza,
e, como orvalho mago, coalesce (junta com força) e cicatriza
a chaga mais profunda, a chaga do Pecado,
que faz do homem livre um pobre degredado,
um perdido, um descrente, um ser que, por final,
só tem inclinações mesquinhas para o Mal.
Porém, quando de Deus lhe baixa o olhar paterno
e transforma num céu belíssimo esse inferno
que o culpado trazia na alma ocultamente
guardado, como guarda um rico avaramente
o seu tesouro, e quando, poderoso
e intrépido, o Remorso lhe diz: Criminoso,
que não te arrependes de haver cometido
as faltas que te fazem triste, combalido?
a fronte ergue-a, sem pejo e sem temor,
Já estás regenerado, graças ao Senhor!
O criminoso sente um bem indescritível.
e, na Graça de Deus, compreende que é possível
um monstro transformar-se em meigo cordeirinho;
um ébrio erguer-se de entre a lama do caminho,
na mesma rapidez com que uma borboleta
sai do casulo e voa, alegre e satisfeita,
nos Espaços abrindo as asas pequeninas,
pressurosa buscando as flores das campinas...
Também a criatura, por pior que seja,
quando implora de Deus a chama benfazeja
do Perdão, cai sobre ela, brandamente,
um orvalho, balsâmico e luzente,
lhe circunda a alma pecadora
uma auréola de Luz libertadora!


Fevereiro de 1929

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