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segunda-feira, 29 de julho de 2013

3.3 Licantropia


3.3 Licantropia
por Zêus Wantuil
in Reformador (FEB) Março 1978


             Finalmente, escreve: "Sob o ponto de vista do Espiritismo, este fato oferece importante matéria de estudo; a obsessão ai se apresenta sob um aspecto novo quanto à forma e quanto à causa determinante, mas que nada tem de surpreendente após o que nos tem sido dado ver todos os dias. São Benedito muita razão tem ao dizer que estamos longe de ter esgotado todas as aplicações do Espiritismo, bem como abarcado tudo o que ele nos pode explicar; tal como ele se nos apresenta, oferece-nos uma rica mina para explorar, com o auxílio das leis que ele nos torna conhecidas."

            Não faremos comentários sobre esta longa narração, pois o leitor inteligente facilmente saberá analisá-la e comentá-la com o que já dissemos no artigo anterior.

            Entremos agora no estudo interpretativo das alterações Iicantrópicas da personalidade, segundo a ciência terrena e respeito aos seres humanos.

            Os psiquiatras estudam-nas entre as psicoses esquizofrênicas, e o Dr. Vallejo Nágera, Professor de Psiquiatria da Universidade de Madrid, no seu volumoso Tratado de Psiquiatria (1944), enquadra-as no capítulo das ideias delirantes metamorfósicas, que são as que conduzem aos transtornos da personalidade, com sintomatologia esquizofrênica primária, isto é, "emergem sem motivo e resultam incompreensíveis" (Kohle).

            O emérito professor diz então (pág. 154) que nessas ideias delirantes "a sensação de transformação se reporta à mudança de posição interna do paciente, relativamente ao meio ambiente - fenômeno denominado transitivismo, por Wernicke".
           
            "No transitivismo o paciente crê haver passado ao corpo de outra pessoa ou ao de um animal, num típico fenômeno, neste último caso, de personificação em animal" - observa ainda o Dr. Nágera.

            Nota-se, nesses doentes, o predomínio da Introversão sobre a extroversão, o empobrecimento da atividade psíquica e alterações outras que tornam a personalidade
esquizofrênica clinicamente "inabordável, incompreensível, versátil, extravagante, brutal".

            O professor de Madrid considera que "o conteúdo dos delírios esquizofrênicos se acha ligado às paixões, recordações, aos temores e remorsos: a tudo o que se deseja e teme, a todo o vivido e pensado".

            É interessante comparar esta observação com a que nos faz Gúbio, ao referir-se em Libertação, capítulo V, à senhora licantrópica: "O remorso é uma bênção, sem dúvida, por levar-nos à corrigenda, mas também é uma brecha, através da qual o credor se insinua, cobrando pagamento. A dureza..."

            Como se vê, apesar das insinuantes definições, a licantropia e as esquizofrenias em geral continuam obscuras ao entendimento dos médicos encarnados, pelo menos. Teorias e hipóteses inúmeras, constituídas em Escolas a se digladiarem, cada qual desejosa de impor presunçosamente o seu ponto de vista, multiplicam-se no campo da gênese dos fenômenos esquizofrênicos, sejam elas puramente organicistas, puramente psíquicas, ou psico orgânicas.

            Comentando essas controvérsias, Calderaro declara a André Luiz que "tal conflito é, em verdade, lamentável e bizantino, de vez que ambas as correntes (psíquica e orgânica) possuem razões substanciosas nos argumentos com que se digladiam". (No Mundo Maior, André Luiz, capítulo 11, página 170)

            Eis como o Dr. Vallejo Nágera se expressa sobre esse ponto, à pág. 579 de sua obra já citada: "Polimorfica en sus manifestaciones, desconcertante por sus extranos sintomas - Incomprensibles psicológicamente -, misteriosas sus causas Intimas, constituye la esquizofrenia capitalisimo punto de interés psiquiátrico y eje de Ia Psiquiatria. EI deslinde de Ia esquizofrenia ha sido trabajosísimo, y hoy todavia discuten Ias distintas Escuelas su verdadera etlopatogenia y unidad de sus sintomas."

            Tristemente, esse mesmo médico chama à esquizofrenia - "peste branca da humanidade civilizada", enquanto o nosso Dr. Heitor Pires afirma ser "0 Moloque a desafiar e desapontar os estudiosos da Psiquiatria".

            André Luiz lamenta, do Além, o avassalador pandesequilíbrio mental, dizendo melancolicamente: "É tão grande a quantidade de doentes, neste particular, que não nos
sobra outro recurso além da resignação. Continuamos, desse modo, a atender superficialmente, esperando, acima de tudo, da Providência Divina." (Obreiros da Vida
Eterna, capítulo 11, págs.30 e 31)

            Acreditamos que se os psiquiatristas conhecessem melhor a alma e suas ligações com um passado ainda vivo no presente, através das noções reencarnacionistas, e aplicassem uma "terapêutica à base dos sentimentos cristãos, antes de qualquer recurso à hormoterapia e à eletricidade" (Obreiros da Vida Eterna, pág. 31), certamente sustariam muitos casos cuja evolução tende para o desequilíbrio completo.

            Em alguns hospitais norte-americanos, 10 a 25 por cento dos doentes esquizofrênicos se restabelecem espontaneamente, sem qualquer tratamento farmacológico - declara George W. Gray em sua obra The advancing front of Medicine. Essa cura - perguntamos - não será devida talvez à terapêutica cristã de que fala André Luiz, direta ou indiretamente aplicada a esses doentes?

            Para nós, espíritas, muitas dessas doenças mentais têm origem extraterrena, o que vem sendo confirmado por cientistas de renome. Citaremos os testemunhos de dois deles: os Drs. Webster e WiIliam James, ambos da Associação Médica Norte-Americana.

            O primeiro declara: "Muitos insanos há, tidos por loucos incuráveis, que, no entanto, apenas se acham subjugados pela ação opressora de Espíritos ou falanges de Espíritos." O segundo, professor de Psicologia da Universidade de Harvard, dirigindo-se à classe médica, anunciou: "Torna-se cada vez mais evidente que a obsessão é a causa determinante de muitos casos de loucura e que estes podem curar--se. A atenção médica terá de voltar-se para tais problemas, ou a matéria médica perderá o domínio do assunto."

            "Com exceção de raríssimos casos, todas as anomalias de ordem mental se derivam dos desequilíbrios da alma” - firmou mais preciso e sabiamente, do Além, o Espírito do médico André Luiz (Obreiros da Vida Eterna, pág. 30).

            Embora muitos casos se catalogam, aos nossos olhos, entre os de origem orgânica, mesmo estes podem ser contados nos desequilíbrios profundos da alma, em vidas passadas, desequilíbrios que se refletiram no corpo perispirítico preexistente e modelador do corpo físico, que, por sua vez, fatalmente apresentará as falhas consequentes àquelas imprevidências do pretérito.

            Por seu lado educativo, citaremos a interessante hipótese de F. Gross (1918), que agrupa as esquizofrenias no quadro das teorias psíquicas. Darei a palavra ao Doutor Nágera que, em seu Tratado de Psiquiatria, às págs. 604-5, assim expõe aquela hipótese: "Supõe o autor que as enfermidades mentais radicam em duas condições prévias: uma, negativa, representada pela falta de adequado impulso ao bem; outra, positiva, representada pelas inibições cerebrais ao mal. Nos casos em que o impulso congênito ao bem se desenvolve em completa liberdade em todos os aspectos, o fator positivo somático não pode engendrar enfermidade cerebral alguma: a pureza jamais enlouquece, só enlouquece a culpa." (Destaque nosso.)

            "Entende-se por fator negativo a vida afetiva muito afastada do ideal, na que radicam os extravios, que conduzem à paixão e, com ela, à disposição para a enfermidade mental. As paixões são a mãe de todas as enfermidades mentais." (Grifo nosso.)

            "0 homem obra por uma série de motivos corporais e espirituais, rompendo o corpo alterado a cadeia de motivos, consequentemente, na esquizofrenia tratar-se-ia de causas corporais e motivos psíquicos, com difícil separação analítica de uns e outros."

            A Psiquiatria marcha para mais altas e mais efetivas realizações dentro da terapêutica das doenças mentais.

            O Espiritismo alegra-se com Isso, conquanto, de outro lado, sinta alguma tristeza por ver a falsa compreensão que ela tem da Doutrina dos Espíritos.

            Não nos revoltemos, porém, nós os espíritas, e nem lastimemos tal estado de coisas. A ciência psicossomática já é um passo dado para que, no futuro, a Psiquiatria se abrace ao Espiritismo e entre, então, numa nova fase de mais amplas possibilidades, senão para o extermínio, pelo menos para a significativa diminuição dos doentes nervosos que preocupam a Humanidade.

            Até lá, prossigamos distribuindo o que nos for possível entre os necessitados da mente e da alma, orando sempre, confiantes no Médico Divino - Jesus.


FIM

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