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segunda-feira, 8 de julho de 2013

27. 'Revelação dos Papas' - Leão XIII

Leão XIII

27

‘Revelação dos Papas’
(Obra Mediúnica)

- Comunicações d’Além Túmulo -


Publicada sob os auspícios da
União Espírita Suburbana
Rua Dias da Cruz 177, Méier

Officinas Graphicas d’A Noite
Rua do Carmo, 29
1918


Leão XIII, papa


Desenha-se aos olhos do médium uma figura de homem de altura regular,
 rosto liso, risonho e simpático, trajando vestes escuras, com uma faixa na cintura
e tiara na cabeça. Luzes branca e roxa circundam o espírito.

______________________

          Estou neste momento, escrevendo para o mundo onde me foi dado cumprir parte da minha provação.

          Sinto-me jubiloso ao tocar a Terra, onde tive a missão de dirigir a cristandade, exercendo o mais elevado cargo a que pode aspirar um sacerdote.

          Hoje, porém, venho contar-vos as minhas surpresas e as minhas desilusões ao entrar na vida espiritual, para onde vim depois de haver cumprido o meu dever de homem e de papa, encaminhando os interesses da igreja para as soluções práticas e proveitosas, harmonizando esses interesses particulares com os do mundo, que vai marchando para o progresso definitivo, para a consolidação dos puros ensinamentos de Jesus.

          Como papa, procurei sempre caminhar de acordo com a minha consciência cristã, agir de modo que os interesses da fé não sofressem os choques e os abalos das revoluções sociais da minha época. Procurei conduzir pela brandura e pelo amor o carro de S. Pedro através das agitações da ocasião, sem outro intuito que não fosse apaziguar, harmonizar o espírito religioso com o espírito progressiva e reformador do momento que o mundo atravessa durante o meu pontificado.

          Papa, fui sempre calmo e refletido, moderado e conciliador; homem, fui sempre prudente e cauteloso, procurando colocar a fé ao abrigo do embate das paixões e do choque violento das ambições políticas de então. Suavizei quanto pude o que encontrei irritado, aplacando a fúria das revoltas que irrompiam do seio da Cúria quando iniciei o meu pontificado.

          Examinei com atenção todos os negócios do estado pontifício, e deste exame resultou para mim a convicção de que, se o papa não devia viver subordinado aos interesses políticos mundanos, não podia entretanto, conservar-se indiferente à sorte dos estados políticos, embora não conviesse aos interesses religiosos do momento a interferência direta do papa na vida íntima do referidos estados.

          Tive plena ciência do que se procurava fazer naquele tempo para modificar a ação do papa no tocante à política mundial. Tinha também conhecimento da má vontade reinante em torno do trono pontifício, e do alto dele dissimulei os meus receios de se tornarem um dia realidade as aspirações dos que pretendiam transformar o representante de São Pedro em mero prisioneiro, negando-lhe até a faculdade de pensar e de agir em defesa dos interesses da religião. Não me conformei com as imposições feitas pelos interessados em conservar o papa indiferente à sorte do mundo, ao rumo e destino da cristandade. Resisti às pretensões dos pseudo defensores da fé, mas somente da fé apoiada nos interesses momentâneos. Agitei questões, ventilei soluções, propus alvitres e tracei normas aos que mostravam desejos de se orientar pela minha palavra, obedecer ao meu gesto. Fui fiel companheiro dos que desejavam estabelecer harmonia entre os interesses espirituais e as necessidades sociais da época, e, jamais, procurei contrariar quaisquer tentativas de reforma, quer de ordem política, quer de ordem moral e social. Nunca me preocuparam os movimentos reformadores e libertários, pois tinha convicções de que esses fenômenos sociais jamais atingiriam os interesses da Igreja ou poriam em sobressalto o Vaticano na hora extrema das reivindicações almejadas.

          Fiz o que pude para dissuadir os inimigos da Igreja de que esta fosse sua inimiga, tendo máxima tolerância para com os revolucionários de todas as revoluções mesmo daquelas que visavam diretamente a derrocada da Igreja, que eu tivera o cuidado de conservar afastada das lutas profanas e das convulsões sociais e políticas.

          Concebi um governo pontifício agindo sempre, ininterruptamente, na defesa da causa da fé e, ao mesmo tempo, adaptando os interesses cristãos às necessidades sociais do momento, assim harmonizando as coisas sagradas com as profanas, evitando choques, lutas, abalos e comoções que, se tivessem realizado, acarretariam para o Catolicismo dias amargurados e, certamente, teriam feito soçobrar a barca de São Pedro, da qual, por força das circunstâncias, era eu o timoneiro.

          Abreviei, quanto me foi possível, os processos, sempre moroso, usados no seio da Cúria Romana para resolver os problemas que exigiam solução pronta e imediata, e jamais consenti que no meu pontificado fossem violados os acórdãos e decisões dos concílios. Nunca emprestei força a quem quer que buscasse implantar o desrespeito aos tribunais sagrados, cujas sentenças sempre acatei, ainda mesmo quando contrariavam a minha opinião.

          Estive sempre ao lado dos chamados liberais, militei nas fileiras dos que procuravam avançar no caminho do progresso de acordo com o espírito da época tão exigente e cioso dos seus ideais de reforma e remodelação de todas as coisas. Não guerreei, ao contrário, fui sempre tolerante para com os que se batiam pelas grandes e generosas reformas democráticas, por entender que nenhuma instituição existia mais democrática do que essa da qual eu era, na Terra, o principal representante.

          Fui, portanto, se não o ideal dos papas, pelo menos um pontífice razoável, moderado, tolerante, prudente e conciliador. 

          Não me acusa a consciência de haver cometido crime ou sacrilégio durante o tempo que pontifiquei no meio da cristandade, aqui na Terra. Fiz os maiores esforços para ser justo, procurando sempre o caminho reto do dever e da honra, quer pessoais, quer da instituição que representei e dirigi.

          Não abusei do meu poder, não me excedi, nem ultrapassei limites demarcados pelos interesses da moral e da religião. Não tive a preocupação de dominar, não me avassalaram ideias de mando e absolutismo. Tomei sempre para norma dos meus atos os ensinamentos de Jesus; jamais abandonei o caminho da sua santa doutrina, jamais enveredei por atalhos e caminhos tortuosos. A linha reta foi a minha estrada; a razão, a fé, a justiça, o direito, a tolerância e a prudência foram os meus guias e os meus melhores conselheiros nos momentos difíceis.



'O Dízimo' 
revista alemã 'Simplicissimus'




          Sinto-me hoje relativamente feliz, gozo de felicidade e paz, sou mais feliz que infeliz; mas, ainda assim, não me escuso do dever de também vir dizer-vos que muitas contrariedades e desgostos me afligiam ao desprender-me do invólucro material, muitas vicissitudes experimentei ao entrar no mundo espiritual, onde não encontrei o que sonhara na Terra, o que imaginara, o que me parecia não poder deixar de existir!

            Grandes desilusões sofri, muitas decepções encontrei onde supus iria achar a confirmação das minhas ideias, a realização dos meus sonhos de papa e de crente!

          Peço-vos eu - que fui um dos últimos a dirigir-vos espiritualmente, uma das últimas vozes pontificais que ouvistes aqui na Terra - escuteis os conselhos que vos estão sendo ministrados pelos espíritos; não vos enganeis; aprendei com os que conhecem a verdade por experiência própria, os que já não se podem enganar, nem a si nem aos outros, aqueles que tem sofrido o que não podeis imaginar nem conceber, pelo fato de terem contrariado a verdade, de não terem sabido cumprir melhor o seu dever de pastores dos rebanhos do  Senhor.

          Eu vos convido a observar, a estudar, a ler e a acompanhar estas revelações, a fim de vos instruirdes e vos preparardes para a vida futura, que será sempre vós outros penosa e aflitiva, se vos descuidardes agora do aperfeiçoamento do vosso espírito.

          Sede, portanto, bons, humildes e caridosos; não façais o mal, ainda mesmo quando vos tenham feito mal; não prevariqueis, não claudiqueis; evitai, quanto puderdes, os erros e os crimes que tantas amarguras acarretam para os espíritos, que os praticam, ao entrarem na vida espiritual.

          Confiai em Deus e na Sua justiça; não duvideis da Sua existência, nem da existência de uma outra vida mais feliz do que essa que ides vivendo e na qual desejo encontreis as maiores e as mais consoladoras felicidades.

          Adeus!
Leão XIII, papa
Julho de 1916

Informações Complementares

            Papa de 20 de Fevereiro de 1878 a 20 de Julho de 1903 – Inspirador do Sílabo e defensor do poder temporal. As divergências com o Estado Italiano permaneceram. Leão XIII acreditava que a igreja tinha resposta para tudo, chegando a afirmar Ego sum Petrus (Eu sou Pedro!).
Fonte: Santos e Pecadores por Eamon Duffy
Ed. Cosac & Naify 1998

Leão XIII e seu séquito

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