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sábado, 6 de julho de 2013

14. 'Mediunidade e Compreensão'.



14) Mediunidade e Compreensão.
  

por Indalício Mendes


Reformador (FEB) Abril  1959

            A mediunidade nem sempre é perfeitamente compreendida por algumas pessoas que procuram beneficiar-se dela. Sua finalidade é nobre, elevada e edificante. Entretanto, elementos desconhecedores da Doutrina kardequiana, isto é, da Doutrina ditada pelos Espíritos e codificada pelo grande missionário Allan Kardec, buscam-na persuadidos de que lhes será sempre mais fácil resolver negócios comerciais, problemas de natureza sentimental e questiúnculas terrenas, por meio de entidades do Além. Semelhante prática, que denota absoluto desconhecimento dos postulados doutrinários, não é isenta de perigos, quer para os consulentes, quer para os médiuns, e deve ser, tanto quanto possível, evitada. O objetivo das manifestações mediúnicas é muito outro. Usada para tais fins, a mediunidade é subestimada e se presta ao cultivo de meras superstições, porque, em vez de contribuir para o aprimoramento moral dos consulentes e dos médiuns, pode levá-los a consequências deploráveis, em virtude das vibrações inferiores que a influenciam, atraindo cada vez mais Espíritos trevosos, que se comprazem na exploração da credulidade malsã. Muitos casos de obsessão partem daí, dessa leviandade que o Espiritismo Cristão procura destruir através do ensino persistente da Doutrina em comunhão com as lições evangélicas.

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            Admite-se que, excepcionalmente, um Espírito seja solicitado a opinar sobre um caso material sério, uma enfermidade, um distúrbio familial, enfim, algo que justifique perfeitamente a intervenção superior de uma entidade do Além. Todavia, usar a mediunidade para assuntos frívolos, dúbios e pecaminosos até, será como que pretender-se apagar incêndio, lançando lhe líquido inflamável. Evidentemente, não é só no Espiritismo que a superstição faz ronda. Em outras religiões, o mesmo acontece. No entanto, o Espiritismo tem meios de demonstrar positivamente o perigo que isso representa. Em “O Livro dos Espíritos” e “O Livro dos Médiuns”, principalmente, há os mais completos esclarecimentos acerca das relações entre o mundo físico em que vivemos e o mundo invisível, onde vivem os Espíritos desencarnados. Estudar a Doutrina não é fazer uma leitura superficial e gravar algumas passagens que possam interessar mais em determinados casos. Estudá-la é assimilar seus ensinamentos e cultivá-la por meio de uma exemplificação tão fiel e constante quanto possível. Procurar um médium para saber qual o número que será premiado na loteria ou se determinada intriga amorosa será resolvida satisfatoriamente para uma das partes, já não se pode chamar apenas leviandade, visto que representa também uma ofensa à pureza do Espiritismo, um desrespeito ao médium e à mediunidade, assim como um desafio a Espíritos levianos ou malévolos, que andam sempre à espreita de oportunidades para gracejos de mau gosto ou irreparáveis maldades.

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            Todos os Centros, todos os diretores de casas espíritas, dirigentes de sessões de trabalhos mediúnicos, finalmente, quem quer que esteja ligado ao Espiritismo por qualquer modo, deve estudar a Doutrina e propagá-la o mais possível. A educação espírita tem a vantagem de favorecer, aos que dela se valem, com um conhecimento diferente da vida e do mundo. Quando os inimigos da Terceira Revelação insistem em falar de fraudes e mistificações, como se tudo no Espiritismo fosse realmente falso e mentiroso, o fazem com o propósito de desacreditá-lo. Acontece que o espírita compenetrado de seus deveres doutrinários é o primeiro a exercer severa vigilância para evitar ou denunciar os casos que, porventura, venham a ocorrer, dando margem a que deles suspeitem como fraudulentos ou fingidos. Basta que se percorram as obras de maior importância, no passado e no presente, subscritas por espíritas de grande autoridade moral, intelectual e científica, para se ter a convicção absoluta de que ninguém mais do que nós deseja ver o Espiritismo livre de especulações duvidosas e de indivíduos que não possuem real autoridade para representá-lo. A maneira mais fácil e positiva de defender a Terceira Revelação está em divulgar por todos os meios e modos a Doutrina codificada por Allan Kardec, explicando-a, interpretando-a corretamente, para que o mais humilde ouvinte ou leitor possa sentir-se capaz de apreender tão úteis lições.

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            A mediunidade não faz “milagres”, pois o médium não tem poderes para reproduzir as lendas de que está abarrotada a história de certas religiões. Estas mesmas, depois de haverem feito “milagres” espantosos há séculos, quando a Humanidade vivia nas trevas da ignorância e proibida de penetrar determinados setores do conhecimento humano, porque a liberdade de investigar e pensar estava interdita, esgotaram os “stocks” de “milagres”. O Espiritismo veio mostrar, de um lado, e a Ciência, de outro, que tudo estava mal explicado ao povo, que os pretensos milagres poderiam e podem ser explanados pela Terceira Revelação ou pela Ciência, conforme o caso. Assim, a aparição de um Espírito, tida como milagre, em que a imaginação popular, cega pela incultura, naquelas épocas de obscurantismo, cria estar vendo um santo ou uma santa, nada mais era que um corriqueiro fenômeno mediúnico. Do espanto do povo, aproveitaram-se habilmente os usufrutuários da ingenuidade popular para tirarem partido, e bom partido. O Espiritismo veio estabelecer normas novas, perfeitamente explicáveis, sem necessidade de mistérios que apenas servem para prolongar a exploração das massas não intelectualizadas. O desenvolvimento da mediunidade e seu exercício amplo têm contribuído muito para destruir a crendice que se tornou, durante séculos, generosa cornucópia de graças.


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