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terça-feira, 18 de junho de 2013

O Conquistador Diferente


O Conquistador diferente

Irmão X
por Chico  Xavier

in  “Reformador (FEB)  Nov 1945


            Os conquistadores aparecem no mundo desde as recuadas eras da selvajaria primitiva. E, há muitos séculos, postados em soberbos carros de triunfo, exibem troféus sangrentos e abafam, com aplausos ruidosos, o cortejo de misérias e lágrimas que deixam à distância. Sorridentes e felizes, aceitam as ovações do povo e distribuem graças e honrarias, cobertos de insígnias e incensados pelas frases lisonjeiras da multidão. Vasta fileira de escritores congrega-se-lhes em torno, exaltando lhes as vitórias no campo de batalha. Poemas épicos e biografias romanceadas surgem no caminho, glorificando lhes a personalidade que se eleva, perante os homens falíveis; à dourada galeria dos semideuses...

            Todavia, mais longe, na paisagem escura, onde choram os vencidos, permanecem as sementeiras de dor que aguardarão os improvisados heróis na passagem implacável do tempo. Muitas vezes, contudo, não chegam a conduzir para o túmulo as medalhas que lhes brilham no peito dominador, porque a própria vida humana se incumbe de esclarecê-los, através das sombras da derrota, dos espinhos da enfermidade e das amargas lições da morte.

            Dario, filho de Histaspe, rei dos persas, após fixar o poderio dos seus exércitos, impôs terríveis sofrimentos a Índia, a Trácia e a Macedônia, conhecendo, em seguida, a amargura e a derrota, a frente dos gregos.

            Alexandre Magno, por tantos motivos admirado na história do mundo, titulou-se generalíssimo dos helenos, em plena mocidade, e, numa série de movimentos militares que o celebrizaram para sempre, infligiu inomináveis padecimentos aos lares gregos, egípcios e persas; todavia, apesar das glórias bélicas com que desafiava cidades e guerreiros, fazendo-se acompanhar de incêndios e morticínios, rendeu-se à doença que lhe imobilizou os ossos em Babilônia.

            Aníbal, o grande chefe cartaginês, espalhou o terror e a humilhação entre os romanos, em sucessivas ações heroicas que lhe imortalizaram o nome na crônica militar do Planeta; contudo, em seguida à bajulação dos aduladores e à falsa concepção de poder, foi vencido por Cipião, transformando-se num foragido sem esperança, suicidando-se, por fim, num terrível complexo de vaidade e loucura.

            Júlio César, o famoso general que pretendia descender de Vênus e de Anquises, constituiu um dos maiores expoentes do engenho humano; submeteu a Gália e desbaratou os adversários em combates brilhantes, governando Roma, na qualidade de magnífico triunfador; no entanto, quando mais se lhe dilatava a ambição, o punhal de Bruto, seu protegido e comensal, assassinou-o, sem comiseração em pleno Senado.

            Napoleão Bonaparte, o imperador dos franceses, depois de exercer no mundo uma influência de que raros homens puderam dispor na Terra, morre, melancolicamente, numa ilha apagada, ao longo da vastidão do mar.

            Ainda hoje, os conquistadores modernos, depois dos aplausos de milhões de vozes, após a dominação em que se fazem sentir, magnânimos para os amigos e cruéis para os adversários, espalhando condecorações e sentenças condenatórias, caem ruidosamente dos pedestais de barro, convertendo-se em malfeitores comuns a serem julgados pelas mesmas vozes que lhes cantavam louvores na véspera.

            Todos Eles, dominadores e tiranos, passam no mundo, entre as púrpuras do poder, a caminho dos mistérios do sofrimento e dos desencantos da morte. Em verdade, sempre deixam algum bem no campo das relações humanas, pelas novas estradas abertas e pelas utilidades de civilização, cujo aparecimento aceleram; todavia, o progresso amaldiçoa lhes a personalidade, porque as lágrimas das mães, os soluços dos lares desertos, as aflições da orfandade a destruição dos campos e o horror da Natureza ultrajada, os acompanham por toda parte, destacando-os com execráveis sinais.

            Um só conquistador houve no mundo, diferente de todos pela singularidade de sua missão entre as criaturas. Não possuía legiões armadas, nem poderes políticos, nem mantos de gala. Nunca expediu ordens a soldados, nem traçou programas de dominação. Jamais humilhou e feriu. Cercou-se de cooperadores aos quais chamou "amigos". Dignificou a vida familiar, recolheu crianças ao desamparo, libertou os oprimidos, consolou os tristes e sofredores, curou cegos e paralíticos... E, por fim, em compensação aos seus trabalhos, levados a efeito com humildade e amor, aceitou acusações para que ninguém as sofresse, submeteu-se à prisão para que outros não experimentassem a angústia do cárcere, conheceu o abandono dos que amava, separou-se dos seus, recebeu, sem revolta, ironias e bofetadas, carregou a cruz em que foi imolado e sua morte passou por ser a de um ladrão.  


            Mas, desde a última vitória no madeiro tecida em perdão e misericórdia, consolidou o seu infinito poder sobre as almas e, desde esse dia, Jesus-Cristo, o conquistador diferente, começou a estender o seu divino império no mundo, prosseguindo no serviço sublime da edificação espiritual, no Oriente e no Ocidente, no Norte e no Sul, nas mais variadas regiões do Planeta, erguendo uma Terra aperfeiçoada e feliz, que continua a ser construída, em bases de amor e concórdia, fraternidade e justiça, acima da sombria animalidade do egoísmo e das ruínas geladas da morte. 

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