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sexta-feira, 14 de junho de 2013

Eles viverão...


Eles viverão

Irmão X
por Chico Xavier
Reformador (FEB) Jan 1959

            Onze anos após a crucificação do Mestre, Tiago, o pregador, filho de Zebedeu, foi violentamente arrebatado por esbirros do Sinédrio, em Jerusalém, a fim de responder a processo infamante.

            Arrancado ao pouso simples, depois de ordem sumária, ei-lo posto em algemas, sob o sol causticante...

            Avançando ao pé do grande templo, na mesma praça enorme em que Estêvão achara o extremo sacrifício, imensa multidão entrava-lhe a jornada.

            Tiago; brando e mudo, padece, escarnecido.

            Declaram-no embusteiro, malfeitor e ladrão.

            Há quem lhe cuspa no rosto e lhe estraçalhe a veste.

            "- À morte! à morte!.."
            Centenas de vozes gritam inesperada condenaç
ão, e Pedro, que de longe o segue, estarrecido, fita o irmão desditoso, a entregar-se humilhado.

            O antigo pescador e aprendiz de Jesus é atado a grande poste e, ali mesmo, sob a alegação de que Herodes lhe decretara a pena, legionários do povo passam-no pela espada, enquanto a turba estranha lhe apedreja os despojos.

            Simão chora, sozinho, ao contemplar-lhe os restos, voltando, logo após, para o seu humilde refúgio.

            Depois de algumas horas veio a noite envolvente acalentar lhe o pranto.

            De rústica janela, o condutor da casa inquire o céu imenso, orando com fervor.

            Porque a tempestade? porque a infâmia soez? O pobre amigo morto era justo e leal...  Incapaz de banir a ideia de vingança, Pedro lembra os algozes em revolta suprema.

            Como desejaria ouvir o Mestre agora!.. que diria Jesus do terrível sucesso?!..

            Neste instante, levanta os olhos lacrimosos, e observa que o Cristo lhe surge, doce, à frente.

            É o mesmo companheiro de semblante divino.

            Ajoelha-se Pedro e grita-lhe:

            - Senhor! somos todos contados entre os vermes do mundo!.. porque tanta miséria a desfazer-se em lama? Nosso nome é pisado e o nosso sangue verte em homicídio impune... A calúnia feroz espia-nos o passo...

            E talvez porque o mísero soluçasse de angústia, o Mestre aproximou-se e disse com carinho, a afagar lhe os cabelos:

            - Esqueceste, Simão? quem quiser vir a mim carregue a própria cruz...

            - Senhor! - retrucou, em lágrimas, o apóstolo abatido - não renego o madeiro, mas clamo contra os maus ... Que fazer de Joreb, o falsário infeliz, que mentiu sobre nós, de modo a enriquecer-se? que castigo terá esse inimigo atroz da verdade divina?

            E Jesus respondeu, sereno, como outrora:

            - Jamais amaldiçoes. .. Joreb vai viver...

            - E Amenab, Senhor? que punição a dele, se armou escuro laço, tramando-nos a perda?

            - Esqueçamo-lo em prece, porque o pobre Amenab vai viver igualmente...

            - E Joachim ben Mad? não foi ele, talvez, o inspirador do crime? o carrasco sem fé que a todos atraiçoa? Com que horrenda aflição pagará seus delitos?

            - Foge de condenar, Joachim vai viver...

            - E Amós, o falso Amós, que ganhou por vender-nos?

            - Olvidemos Amós, porque Amós vai viver...

            - E Herodes, o rei vil, que nos condena à morte, fingindo ignorar que servimos a Deus?

            Mas Jesus, sem turvar os olhos generosos, explicou simplesmente:

            - Repito-te, outra vez, que quem fere, ante a lei será também ferido... A quem pratica o mal, chega o horror do remorso... E o remorso voraz possui bastante fel para amargar a vida... Nunca te vingues, Pedro, porque os maus viverão e basta lhes viver para se alçarem à dor da sentença cruel que lavram contra eles mesmos...

            Simão baixou a face banhada de pranto, mas ergueu-a em seguida, para nova indagação...

            O Senhor, entretanto, já não mais ali estava.


            Na laje do chão só havia o silencio que o luar renascente adornava de luz...




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