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sexta-feira, 28 de junho de 2013

21. 'Revelação dos Papas' - Leão X


Leão X


          21

‘Revelação dos Papas’
(Obra Mediúnica)

- Comunicações d’Além Túmulo -


Publicada sob os auspícios da
União Espírita Suburbana
Rua Dias da Cruz 177, Méier

Officinas Graphicas d’A Noite
Rua do Carmo, 29
1918

Leão X

O médium vê um homem alto, magro, com os cabelos caídos sobre os ombros,
trajando túnica branca e tendo na cabeça a tiara; traz em uma das mãos uma cruz
e com a outra empunha o cetro pontifical. Não pode, porém, a vidente distinguir
as feições do espírito, por ser muito intensa a luz que o circunda.
_______________________


         Compareço também à barra deste grande tribunal para depor contra o meu pontificado, acusando-me, perante Deus e os homens, como o papa que na Terra deu as maiores provas de impiedade e falta de fé e de ausência do verdadeiro espírito cristão. Está presente o espírito do papa que maiores males produziu durante o seu pontificado. Aqui está, diante do maior tribunal que até hoje se constitui na Terra, o papa cuja ação provocou os mais vivos e enérgicos protestos, cujos atos deu lugar as mais severas e acres censuras, as mais intensas e merecidas acusações. Tendes na vossa presença um dos maiores réus que até hoje compareceram perante os tribunais da humanidade; ides julgar um dos grandes criminosos que tem comparecido ante a justiça de Deus e dos homens, neste planeta.

          Aqui está Leão X com todas as suas culpas, vergado ao peso dos seus erros, sucumbindo ante o juízo imparcial da história, humilhado, abatido, cabisbaixo, ruído pelos remorsos, atormentado pelas tristes recordações dos pecados e dos crimes que cometeu quando papa aqui entre vós.

         Quem hoje aparece a barra deste importante tribunal é o espírito de um papa que foi mais homem que sacerdote, mais da Terra que do céu.

          Ele vem guiado pela luz da graça divina, mas a sua alma está ainda presa às recordações nefastas, às reminiscências cruéis, às lembranças horríveis; pairam lhe ainda no espírito densas nuvens que a instantes, toldam o céu azul onde hoje a sua alma se deleita na contemplação dos esplendores e das belezas da vida espiritual, que desfruta - graças aos imensos esforços, aos grandes e incalculáveis sacrifícios feitos para merecer de Deus a permissão de poder viver na luz e repartir esta mesma luz com os que necessitam dela para iluminar lhes o caminho da vida.

          Leão X vem a vossa presença para se declarar culpado e criminoso dos mais abjetos crimes, de nefastos erros e injustificáveis faltas que cometeu como papa, na qualidade de chefe supremo da cristandade; sente-se porém feliz, porque, ao mesmo tempo que paga uma dívida de honra, contraída com os cristãos, pratica também um ato de humildade cristã, mostrando aos homens como são falsos e pueris as honras e galardões que o mundo nos confere quando ali nos achamos à frente de alguma instituição humana, à testa de qualquer governo terreno, na chefia de um estado, sagrado ou profano.

          Dá o papa Leão X provas da sua obediência à vontade de Deus escrevendo esta mensagem, na qual se confessa culpado e, ao mesmo tempo, mostra a grandeza e a perfeição infinita da justiça do Pai, que o condenou e absolveu, dando-lhe sucessivamente aquilo a que fez jus pelas suas boas e más obras. Cumpre o maior de todos os deveres que um espírito pode almejar, qual o de instruir os seus irmãos acerca do que com ele se passou na vida espiritual, onde sofreu as mais fortes desilusões, experimentou as mais cruéis e pungentes dores quando a sua consciência, enegrecida pelos atos reprovados que ele praticou, o acusou perante Deus.

          Leão X foi dos papas o que mais se deixou arrastar pelas coisas da Terra, o que mais amor e apego teve ao que era mundano. Foi de todos os pontífices o que maiores provas de orgulho e vaidade deu perante o mundo; foi o menos tolerante dos papas, o mais autoritário e desumano de todos os pontífices católicos. A sua vida, eivada de erros, eriçada de atos impiedosos intemperantes, cruéis alguns, desumanos muitos, envergonham a sua época, cobre de lodo e amesquinha a Igreja cujo governo e destino estiveram confiados a sua guarda.

          A vida deste papa que ora vos fala é um conjunto de erros gravíssimos, de crimes nefandos, de abusos, de intolerantes, de perversidades inqualificáveis, que o apontam ao juízo imparcial da história como réu autor dos mais graves delitos que a mesma história registra e condena.

          Fui papa no tempo em que o espírito cristão, abalado pela barbaria que reinou durante a idade média, necessitava de calma, da ação branda e moderada de um papa que, possuindo clarividência e sentimento cristão da religião, aliasse o mais extremado e meticuloso cuidado, pugnando pela causa do Cristianismo e tendo, ao mesmo tempo, como principal objetivo, o apaziguamento dos ânimos, o arrefecimento dos ódios e do espírito irrequieto dos povos que acabavam de sair das lutas encarniçadas da idade média. Era de mister um pontífice que se impusesse mais pela cordura, obediência aos princípios sagrados da doutrina de Jesus, que pela vontade pessoal autoritária e absoluta, que foi sempre o traço característico do papa Leão X. Precisava o mundo neste tempo, ouvir uma voz consoladora e meiga que, falando de paz e de concórdia, fosse um toque de rebate, não para a guerra, mas para o congraçamento de todas as facções em que se achavam divididos os estudos europeus; necessitava a humanidade escutar uma palavra autorizada, repassada do verdadeiro sentimento de fé, ungida pelos hábitos de um crente fervoroso, saída da boca de um homem que lhe falasse com a fé e a pureza no coração, que lhe desse exemplos de firmeza e não de tirania, lhe ensinasse a verdade com carinho e amor, mas a não impusesse despótica e atrabiliariamente.

          Exigia o espírito da época muita tolerância e complacência, moderação e brandura, energia associada a uma bondade natural, nascida do conhecimento exato das coisas sagradas, tendo por base o amor dos homens e a confiança nos destinos gloriosos do cristianismo.

          Nesses dias, que já vão longe para vós outros, mas que posso ainda rever daqui neste momento, era necessário a frente da cristandade um homem que tivesse a força e o critério para resistir ao espírito de revolta e, ao mesmo tempo, contemporizar com os revolucionários a fim de impedir o surto violento da revolução, retardando lhe a marcha, dispondo as coisas de modo a atenuar lhe os efeitos, caso não fosse possível sustar a explosão que ameaçava abalar todo o mundo cristão, dividindo os crentes em pequenos grupos e seitas, estabelecendo assim a confusão hoje reinante na Terra. Havia necessidade de um braço e uma cabeça que agissem de acordo, resistindo um, enquanto a outra procurasse achar a solução para o delicado problema da unidade religiosa, que então se impunha de maneira absoluta e insofismável.

          Havia, além de tudo isso, tradições a manter, patrimônios a zelar, legados preciosos do passado, relíquias de um valor inestimável que ao papa cumpria defender.

          Era chegado o momento decisivo da reconstrução do edifício que vinha sendo abalado pelo espírito impiedoso e iconoclasta da idade média; era a hora da reivindicação de todos os direitos dos quais a Igrejas havia sido despojada. Soará o momento em que todas as forças deviam estar aparelhadas para a luta que, mais dia, menos dia, havia de ser travada entre o verdadeiro espírito cristão e o egoísmo e as ambições da época. Tudo fazia crer ter chegado a hora principal em que a fé devia ficar para sempre consolidada no espírito humano radicada na consciência dos homens. Apareciam já os sintomas alarmantes da decomposição moral em que jazia o mundo; sinistros clarões do incêndio que, dentro em pouco, lavraria em toda a Europa, se divisavam no horizonte. Por toda parte se faziam sentir os rumores que precedem as grandes comoções, aos cataclismos sociais. Todas as consciências sentiam o aproximar dessa hora tristíssima e lutuosa para a humanidade cristã; reinava em todos os espíritos as mais torturantes e aflitivas dúvidas; incertezas produziam profunda mágoa em todos os corações.

          A Reforma veio afinal; o protesto tomou vulto, conquistou adeptos, granjeou simpatias, fez prosélitos, penetrando por toda parte, desde a choupana ao palácio; estendeu-se por toda a Europa, foi à Ásia, atingiu a América, em suma, empolgou o mundo inteiro!

          O papa, sempre indiferente às questões sagradas, preso, ligado aos mais pueris preconceitos, tendo mais interesse pelas coisas do mundo profano, pelas quais abandonava as de ordem moral e religiosa, manteve-se firme, inabalável nos seus erros, limitando-se a lançar anátemas e maldições contra a revolução que ele e os seus antecessores haviam ateado com os seus erros, faltas e crimes, com as devassidões que escandalizam o mundo e as luxurias que deram causa à revolta e à indignação de que os homens sensatos, honestos e puros se acharam possuídos ante a intemperança e desbragada volúpia dos pontífices.

          Nada fez o papa Leão X para por termo à revolução que estalara sem que partisse do Vaticano uma medida preventiva para refrear a fúria indomável dos inimigos da fé cristã. Nenhum ato de sabedoria e prudência praticou o representante de Cristo na Terra para por cobro à desordem que avassalara todos os espíritos, dominara as consciências, abalando profundamente o Cristianismo, que ficou enfraquecido pela depressão dos fieis, pela divisão dos crentes a invasão do sectarismo que se implantou no mundo, estabelecendo a Babel religiosa em que vive hoje a humanidade.

          O papa Leão X não teve, nesse caso, força, clarividência, cautela, critério, prudência, tolerância, fé e sabedoria - os principais predicados indispensáveis a todo o grande sacerdote incumbido de velar e zelar pelas coisas sagradas, confiadas à sua guarda. É, portanto, culpado, criminoso, responsável pela invasão da onda sectária que dominou a Terra, pela formação desses igrejas que nada valem, coisa alguma ensinam e só servem para agravar a situação moral e religiosa em que se debate o mundo.

          Cabe a Leão X toda a responsabilidade, é ele o maior culpado das vossas infelicidades, homens da Terra; por isso aqui está, diante de vós, a implorar o vosso perdão e a misericórdia de Deus para as suas faltas e os seus crimes. Compadecei-vos dele; tende pena da sua miséria, piedade da sua fraqueza e desdita, e ouvi, apesar de tudo, o aviso que ele traz dizendo-vos:

          “Sede sempre bons, crentes e piedosos, cumprindo o melhor possível os vossos deveres cristãos, procurando sempre merecer a misericórdia e perdão de Deus, que é um pai amantíssimo, bondoso até o inferno, do mesmo modo o céu, tal como o concebeis, não existe também. Ficai certos de que o infinito, razão por que vos anuncio não existir o inferno, do mesmo modo o céu, tal como o concebeis não existe também. Ficai certos de que o inferno só existe nas consciências dos maus e dos perversos, assim como o céu está na consciência dos bons, dos justos, dos santos e dos anjos; logo, podeis desde já viver no céu ou no inferno, e isto depende da maneira pela qual vos conduzirdes na vida terrena. Tende, portanto, fé e esperanças, porque não existem pena eternas, nem pecados irremissíveis. Deus perdoa sempre a quem se arrepende sinceramente dos seus crimes e aceita com prazer a condição, que Ele impões, de depurar-se em existências sucessivas. Quem vos fala neste momento já aqui voltou quatro vezes em existências amarguradas, nas quais expurgou grande parte das suas imperfeições e dos seus defeitos, poliu o seu espírito, para poder hoje apresentar-se perante vós cercado da luz da Misericórdia Divina. Não vos esqueçais nunca de Jesus; tende sempre em mente as suas palavras e os seus ensinamentos; observai as suas lições, ouvi o que, em nome de Deus, vos dizem os papas nesta “Revelação”.

          Assim, despeço-me de vós com a alma banhada de alegria, inundada de prazer, por se me ter proporcionado para falar-vos, para confessar-me criminoso diante de vós, pedindo-vos persevereis sempre no caminho da moral e do bem, na prática da caridade e de todas as virtudes cristãs, para poderdes um dia, quando abandonardes o corpo material, gozar a felicidade eterna que já começa a desfrutar o espírito do papa Leão X, que vos diz daqui um afetuoso adeus, abençoando-vos em nome de Deus, a quem rogará sempre pela vossa felicidade nesta e na futura vida, onde entrareis hoje ou amanhã.

          Que assim seja.

          Adeus.
Leão X
Outubro de 1916

Informações complementares

            Papado de 11 de março de 1513  a 1º de Dezembro de 1521
            Ainda segundo Eamon Duffy, Leão X, papa Médici, filho de Lorenzo, o Magnífico, de Florença, foi ordenado clérigo aos sete anos de idade e nomeado cardeal aos treze. Quando papa, aos 37 anos, passou a governar ao mesmo tempo Roma e Florença (Firenze). Foram as indulgências que ele traficava para custear as obras da reforma da basílica de São Pedro que levaram Lutero a publicar as Noventa e Cinco Teses e precipitaram a Reforma. Ao morrer, deixou a igreja dividida e o papado à beira da bancarrota.

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