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sábado, 11 de maio de 2013

1/4 Causa de Ismael




Causa de Ismael
Alberto Nogueira Gama

1
Reformador (FEB) Janeiro 1964

            Depois daquele solene momento em que o Cristo de Deus entregou ao Anjo do Senhor a flâmula olímpica de Sua Alma, na qual Ismael gravou a inspirada e sublime divisa - "Deus, Cristo e Caridade" - muita coisa aconteceu no dobar dos anos, dentro da marcha incessante do Tempo.

            Disse-lhe o Mestre de Nazaré, naquela memorável oportunidade:

            "- Ismael, manda o meu coração que doravante sejas o zelador dos patrimônios imortais que constituem a Terra do Cruzeiro. Recebe-a nos teus braços de trabalhador devotado da minha seara, como a recebi no coração, obedecendo a sagradas inspirações do nosso Pai. Reúne as incansáveis falanges do Infinito, que cooperam nos ideais sacrossantos de minha doutrina, e inicia, desde já, a construção da pátria do meu ensinamento. Para aí transplantei a árvore da minha misericórdia e espero que a cultives com a tua abnegação e com o teu sublimado heroísmo: Ela será a doce paisagem dilatada do Tiberíades, que os homens aniquilaram na sua voracidade de carnificina. Guarda este símbolo da paz e inscreve na sua imaculada pureza o lema da tua coragem e do teu propósito de bem servir à causa de Deus e, sobretudo, lembra-te sempre de que estarei contigo no cumprimento dos teus deveres, com os quais abrirás para a Humanidade dos séculos futuros um caminho novo, mediante a sagrada revivescência do Cristianismo."

            Daí por diante muita coisa sucedeu (e são todos os fatos que abrem e formam capítulos na História do Brasil), até que um acontecimento, de funda repercussão espiritual, ocorresse na sequência das horas que assinalam os episódios marcantes de um povo, de uma nacionalidade: a Proclamação da República. O Brasil atingia sua maioridade coletiva.

            Nos planos mais altos da Espiritualidade, congrega o Senhor as falanges de Ismael e dos seus dedicados colaboradores e, ante o Infinito povoado de miríades de luzes tremeluzentes, proclama:

            "- Consolidareis o templo de Ismael, para que do seu núcleo possam expandir-se, por toda a extensão territorial da pátria brasileira, as claridades consoladoras da minha doutrina de redenção, de piedade e de misericórdia. Ensinareis aos meus novos discípulos encarnados a paciência e a serenidade, a humildade e o amor, a paz e a resignação, para que a luta seja vencida pela luz e pela verdade.
            Abrireis para a caravana do Evangelho, que marcha ao longo dos caminhos da sombra, a estrada da revolução interior, cujo objetivo único é a reforma de cada um, sob o fardo das provas, sem o recurso à indisciplina perante as leis estatuídas ao mundo e sem o auxílio das armas homicidas."

            A mudança da forma de governo tumultuou algum tanto a situação, redundando, inicialmente, em certos embaraços e transtornos, cujos reflexos se faziam sentir sobre a marcha do Espiritismo no Brasil. Tornava-se imperiosa a união dos espiritistas, sob pena de terem que assistir, impassíveis e indefesos, a um calamitoso esfacelamento de suas mais cariciosas esperanças de cultivadores da Doutrina nascente.

            Ismael ora ao Senhor Jesus, que, compassivo, lhe acorre aos rogos e a ele transmite a inspiração mais adequada às circunstâncias:

            - Ismael - disse-lhe o Senhor -, concentraremos agora todos os nossos esforços a fim de que se unifiquem os meus discípulos encarnados, para a organização da obra impessoal e comum que iniciaste na Terra. Na pátria dos meus ensinamentos, o Espiritismo será o Cristianismo revivido na sua primitiva pureza, e faz-se mister coordenar todos os elementos da causa generosa da Verdade e da Luz, para os triunfos do Evangelho. Procurarás, entre todas as agremiações da doutrina, aquela que possa reunir no seu seio todos os agrupamentos; colocarás aí a tua célula, a fim de que todas as mentalidades postas na direção dos trabalhos evangélicos estejam afinadas pelo diapasão da tua serenidade e do teu devotamento à minha seara. E como as atividades humanas constituem, em todos os tempos, um oceano de inquietudes, a caridade pura deverá ser a âncora da tua obra, ligada para sempre ao fundo dos corações, no mar imenso das instabilidades humanas. A caridade valerá mais que todas as ciências e filosofias, no transcurso das eras, e será com ela que conseguirás consolidar a tua Casa e a tua obra."

            Dentre as muitas coisas que aconteceram, desde aquela memorável hora da augusta presença de Jesus e Seus Emissários no "coração geográfico do orbe", destacamos estas que mostram de maneira inequívoca e iniludível o empenho do próprio Mestre em sagrar o Brasil como celeiro espiritual do Mundo e a Federação Espírita Brasileira como fonte de abastecimento dos seus valores eternos, radicada na Alta Espiritualidade.

            Não sendo nosso intuito fazer um histórico da Casa de Ismael, que é extenso e intenso, cingir-nos-emos apenas à apresentação das principais realizações que justificam à evidência a realidade dos transcendentais ascendentes de natureza divina que lhe determinaram o aparecimento entre os homens.

Fundação

            Precedida do Grupo "Confúcio"; da Sociedade de Estudos Espíritas "Deus, Cristo e Caridade"; da Sociedade Acadêmica "Deus, Cristo e Caridade"; do Grupo Espírita "Fraternidade"; do "Grupo dos Humildes", também conhecido pelo nome "Grupo do Sayão", posteriormente "Grupo Ismael", que mais tarde veio a pertencer-lhe, a 1 de Janeiro de 1884 é concretizada a ideia de fundação da Federação Espírita Brasileira, depois das providências preliminares tomadas na reunião de 27 de Dezembro de 1883, especialmente convocada para esse fim. Foram doze, número bastante simbólico, os espíritas que fundaram a Federação, sendo de notar que as sessões se realizaram na rua da Carioca nº 120, sobrado, residência e local de trabalho de Elias da Silva, um dos principais incentivadores daquele projeto.

            No dia 2 de Janeiro, procedeu-se à eleição da primeira diretoria da FEB, cujos componentes merecem ser aqui lembrados: presidente, Francisco Raimundo Ewerton Quadros; vice-presidente, Manuel Fernandes Figueira; secretário, João Francisco da Silveira Pinto; tesoureiro, Augusto Elias da Silva; arquivista, Francisco Antônio Xavier Pinheiro.

Reformador

            Nesse mesmo dia e ano, foi transferido à novel entidade o direito de propriedade de "Reformador", por proposta do seu fundador, o abnegado seareiro Augusto Elias da Silva, que .o havia lançado à circulação e o mantinha a expensas próprias desde 21 de Janeiro de 1883. A folha doutrinária trazia a qualificação - "órgão evolucionista".

Primeiros livros

            Integrado na nova Instituição, o "Grupo dos Humildes", silencioso e só, desenvolvia fecundo trabalho em sua intimidade, dando à publicidade os livros "Trabalhos Espíritas" e "Estudos Evangélicos", ambos de autoria de Sayão, este último reeditado depois com o título "Elucidações Evangélicas". Não tardou muito e outras novidades editoriais vinham a lume: "A Casa de Deus", de Júlio César Leal (a biblioteca do Blog tem este livro. Um dia postaremos...); "Revelações de Além-Túmulo", do Dr. Antão de Vascancellos (idem); "A Divina Epopeia", de Bittencourt Sampaio; "Diálogos Espíritas", de Augusto José da Silva; o primeiro volume de uma série de três, de "O Espiritismo -... Estudos Filosóficos", de Max (Bezerra de Menezes); "Jesus perante a Cristandade", do Espírito de Bittencourt Sampaio; etc. Não arrolamos aqui as obras de Kardec e várias outras de procedência estrangeira, traduzidas e publicadas sob os auspícios da Federação nos primórdios de sua existência.

            Essa foi a primeira safra de uma seara que se tornaria exuberante e dadivosa pelos tempos afora.







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