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sexta-feira, 22 de março de 2013

24. 'Fenômenos de Materialização'



            24

Fenômenos de Materialização
por     Manoel Quintão
 Livraria Editora da Federação Espírita Brasileira
 1942

            Um fato típico e ilustrativo do acerto, aqui merece lembrado.

            Em 1907 reunia-se em Haia a notável "Conferência da Paz", na qual se deram entrevista os mais lídimos expoentes da civilização contemporânea.

            Todos os povos ditos policiados, as pátria de maior lustre na historia do mundo para a hora planetária que transcorria, ali se achavam representados pelo que de mais são se pudera julgar de suas capacidades de pensamento e ação predominantes.

            Em memorável plenário de inteligência e sabedoria, ali se firmaram projetos e desígnios da mais alta moralidade coletiva, ao mesmo passo que do maior alcance politico, social, internacional, para orientação e progresso pacífico da humanidade.

            Nada obstante, sete anos depois, quase de súbito, estalou a guerra europeia, que bem se pode dizer mundial nas consequências!

            A esse prélio nefando e diabólico, em espasmos de verdadeira loucura concorreram, no mesmo nível de bruteza e ferocidade, aqueles mesmos povos - oh! irrisão! - ditos cristãos e civilizados, ao aceno daqueles mesmos patronos e dirigentes que lhes haviam outorgado, anos antes, um Congresso da Paz!

            Ninguém queria a guerra, afirma-se ainda hoje e nós o acreditamos, mas a guerra se fez e todos a fizeram!

            No momento crítico, no momento psíquico da catástrofe, não houve um cérebro de estadista, uma voz de imperante capaz de sustar a conflagração!

            Seria que a guerra fizesse ou faça parte integrante da evolução coletiva de nossa humanidade?

            Seria que esse atentado à lei maior do amor, universalmente consagrada em todas as Teogonias, e, no mínimo, tão nefando quanto o homicídio, passível de penalidade cominada por todos os códigos de legislação humana, se enquadrasse nos desígnios da Providencia?

            Ninguém o diria, ninguém o dirá, senão que a Providencia se conjuga, na espécie, ao livre arbítrio humano, para que tenha cada qual a responsabilidade de seus atos, proporcional ao grau de sua consciência e à tarefa que escolheu.

            Ninguém queria a guerra, coletivamente falando, é certo; mas, individualmente, todos a previam e ninguém de boa fé se propunha combater o germe latente de suas possibilidades entrevistas.

            Quem, no entanto, poderia prever lhe as consequências imediatas ou remotas, bem como o momento e o pretexto no qual e pelo qual deflagraria?

            Mas, pergunta-se: teriam os Guias desses povos deixado correr à revelia o advento abominável?

            A que se reduz, então, o seu missionarismo, se não lhes é permitido desviar de seu curso fatal os acontecimentos?

            Nossa presunção é que esses Guias procuram, sem violentar a Lei, esclarecer as consciências, suscitando aos responsáveis diretos pelos problemas terrenos as soluções convinháveis.

            Não podendo eles, contudo, desmantelar a entrosagem das causas e ascendentes de tais choques - ainda mais porque cada povo, como cada indivíduo, tem de entesourar a sabedoria pela experiência e, o que é mais - resgatar as culpas coletivas, os atentados de concerto cometidos no transcurso dos séculos -limitam-se a atenuar lhes os efeitos, tirando desses pravos (injustos, maus, perversos) acontecimentos, desses flagelos, o proveito aleatório possível, fazendo desde logo germinar e florir de esperanças a sementeira da desolação e da dor.

            Rasgam-se, assim, no céu da humanidade, ao refazimento sucessivo das gerações alternadas, horizontes novos, e o que se verifica é que, dos planos com que cada povo entrou na liça, nenhum se realizou integral, na exata medida das previsões humanas.

            Eles, só eles, esses Guias Espirituais, poderiam sabe-lo, porque só eles podem reivindicar a investidura de intérpretes do pensamento divino, que conduz povos, humanidades, mundos ...

            Meditem um instante, os que porventura recusam este arbítrio imanente, na inocuidade de quantos Congressos, Tribunais, Conferencias e Ligas se hão ajustado post-bellum para concertar o mundo, vendo esvaecerem-se lhes os propósitos a cada passo, como espumas flutuantes de mares encarneirados .

            Admitamos, porém, que os governantes possam volver-se para o mundo das causas; que, em vez de confiarem na força dos próprios raciocínios e na força das próprias armas, se apropinquam à intuição manante sempre dos planos superiores; que, em vez de Machiavel, de Mazzini, de Maetternich ou Richelieu, meditem o Evangelho de Jesus; que, ao invés da glória de póstumas consagrações - no fundo inconsequentes, porque são eles os primeiros a duvidar da sobrevivência da alma - lobriguem a hipótese de uma reencarnação planetária com todas as consequências de sua atual conduta!

            Esses Guias entrariam desde logo a modificar a face do mundo, e a politica deixaria de ser a arte de governar povos oprimindo povos, deixaria de os conduzir pelo servilismo inconsciente à chacina eventual e calamitosa.

            Seria, ao contrário, a arte benemérita de felicitar os povos, a fim de ascenderem maiormente na escala espiritual, porque digno é o trabalhador do seu salário, como bem o disse o Legislador de todos e para todos os tempos.

            Força é, contudo, reconhecer quão longe ainda nos encontramos dessa etapa, em virtude da qual a influência das relações entre encarnados e desencarnados se fará sentir na vida pública e, o que é mais - na vida dos povos entre si.

            Ainda por décadas, quiçá por séculos, o preconceito de casta, de nacionalidade, de hierarquia social e política - fórmulas do ingênito, humano egoísmo - se fará sentir como impasse maior à felicidade coletiva, o predito reinado da paz entre os homens.

            Porque, evidentemente, para atingir esse estágio, haverá o homem de o realizar antes, em si e na família, para o transportar de seguida à vida pública.

            Ora, a família humana, no dizer de um pensador do espaço, ainda se compõe de alianças heterogêneas, sem força coesiva para alcançar o seu objetivo, objetivo que não pode ser outro senão o afeiçoamento dos Espíritos em reencarnações iterativas e conjugadas para a obra mais lata da confraternidade universal.

            É debalde que se pretende melhorar a sorte das crianças por meio de legislações meramente convencionais, desde que se lhes não faça compreender a finalidade superior da existência em suas naturais vicissitudes e contingencias.

            Melhorar o, homem; mas melhora-lo racional e substancialmente, sem violências, sem coações de consciência, eis o problema!

            Postos assim de manifesto, todos os problemas atuais da humanidade se achanarão, e no quadro nebuloso do futuro se delinearão, desde logo, os traços de um cooperativismo bem entendido, isento de hegemonias, opressões e rivalidades.

            Cada povo compreenderá que a sua posição histórica, política, geográfica, deixa de ter significação exclusiva e absoluta, ou privilegiada, para entrosar no determinismo universal.

            O mais forte, o mais rico, o mais poderoso, o melhor aquinhoado na partilha transitória, compreenderá que a vantagem, que toda a vantagem é ilusória, vã, até contraproducente e negativa, se se não filiar a objetivos gerais de benefício comum.

            Assim como um homem egoísta, avarento, a insular-se entre pobres e famintos cria em torno de si ambições e perigos que lhe ameaçam tesouro e vida; assim como o sábio, egoisticamente confinado entre ignorantes, engendra hostilidades e sacrifícios da incompreensão mesma do seu saber; assim os povos exclusivistas, autoritários, egoístas, se condenam ao aniquilamento de si mesmos.

            E porque o quem com ferro fere com ferro será ferido não se restringe à esfera individual e tem, ao demais, como toda a palavra do Cristo, acepção universal, vemos nós, no decurso da História, os velhos impérios desaparecidos, ou simplesmente transmudados em colônias secundárias, incapazes de dar uma ideia da sua passada opulência, do esplendor de seus fastos.

            Tebas, Nínive, Babilônia, Atenas, Cartago, Roma, onde estão?

            E os Tutmés, os Ciros, os Alexandres, os Césares? Mais modernamente, Carlos Magno, Felipe lI, Napoleão?

            E o próprio sonho de Guilherme lI, lançando ao mundo pasmo o desafio da sua formidolosa máquina guerreira, a que se reduz, encarado sob este prisma, à luz da realidade contemporânea?

            Relutam os governos em abdicar do tradicional critério, arrogando-se poderes de árbitros do Futuro: cristãos presuntivos, esquecem que o Cristo disse - meu reino não é deste mundo e quando, em meio ás tempestades por eles engendradas, estala o raio da provação, maldizem o raio e loucos, e cegos, e orgulhosos, não se precatam que o aniquilamento, a evaporação, dos próprios, quiméricos sonhos, - falam de um Determinismo providencial, que lhes escapa, sempre que nele não incidem, inconscientes embora de sua influência. 


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