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segunda-feira, 11 de março de 2013

19. 'Fenômenos de Materialização'


19

Fenômenos de Materialização
por     Manoel Quintão
 Livraria Editora da Federação Espírita Brasileira
 1942

Abecedário dos Médiuns

                (Elaborado pelo autor, como delegado, e adotado pela Comissão Organizadora aos trabalhos do Conselho Federativo.)


            Missões coletivas - Influência dos Guias na evolução das nacionalidades. - Constituição das raças. - Papel do Brasil no futuro do planeta, como centro irradiador do Evangelho: doutrina universal. - Exercício da mediunidade.

            Considerada genericamente, a mediunidade não pode nem deve ser tida como patrimônio exclusivo, ou seja um dom especial do individuo para entrar em comércio com os Espíritos desencarnados.

            Todo homem, podemos dizer, é no mínimo, médium de seu Guia Espiritual, que o toma desde o início de sua integração no reino da consciência individual, até à plena posse do Universo e no conhecimento da Verdade, que é Deus.

            Se houvéssemos de admitir Adão na sua acepção etimológica, que não simbólica, diríamos ter sido ele o primeiro médium desta nossa humanidade terrícola, na verdade mirrado rebento da incalculável floração de vida sideral.

            Na luta aberta com os elementos cósmicos em constante ebulição, buscando a anfractuosidade das rochas, ou idealizando abrigos flutuantes, o troglodita e o lacustre não deixavam de refletir a intuição de seus Patronos, sabidamente encarregados de propulsar o progresso planetário, por etapas ascendentes e sucessivas e, neste sentido, foram médiuns.

            Depois, no curso evolutivo da História, no estudo de todas as Religiões, quantas provas da intervenção, velada ou ostensiva, das entidades extracorpóreas, nos domínios humanos!?

            Sem recuar na apreciação de elementos mais pristinos (antigo, primeiro, primitivo, original), basta-nos evocar aqui a Bíblia e a série de Profetas, médiuns todos altanados (altaneiro, altivo. soberbo, orgulhoso), do melhor quilate. 

            E os Apóstolos? E os próprios Doutores da Igreja em sua fase inicial?

            Isto, no campo religioso, que, no profano ou leigo, médiuns intuitivos poderíamos considerar todos os grandes vultos da ciência, como das artes.

            Não é, porém, com essa amplitude que pretendemos versar a faculdade mediúnica, neste escorço, e sim no estrito âmbito de sua aplicação e serventia doutrinária.

            Assim, discriminaremos a mediunidade como elemento probatório, direto ou indireto, ostensivo ou velado, da manifestação dos Espíritos desencarnados, a colimar a ética da Revelação codificada e decorrente de sua praticagem comum.         

            Considerada sob este aspecto, o Brasil se apresenta como, das províncias coletivas do Globo, uma das melhor aquinhoadas pela Providência para o acionamento efetivo das novas ideias que hão de transformar, regenerando-o, o nosso padrão moral.

            De fato, desde a primeira hora e quase simultaneamente, a eclosão mediúnica aqui se verificou e, coisa notável, enquanto na Europa e na América do Norte o fenômeno insólito se circunscrevia,  sisudo e grave, aos gabinetes de sábios perquiridores isolados, hieráticos, céticos, contraditórios, aqui no Brasil ele se grupava em torno de homens poucos, capazes de o estudar e definir teoricamente, de o divulgar também praticamente, mas, sobretudo, dispostos a dar-lhes uma interpretação eficientemente regenerativa de costumes, ou melhor dito - religiosa, no bom sentido da palavra.

            Obra de coração antes que de cérebro.

            Essa característica inconfundível, assinalada por toda parte - em que pesem discrepâncias de prismas secundários meramente pessoais, que não atingem o cerne da Causa - essa característica, por seus ascendentes, não é arbitrária nem aleatória, antes reivindica alcance histórico extraordinário para a finalidade predita e já esboçada, dos tempos vindouros, aqueles que deverão anteceder o Reinado de Jesus em espirito e verdade.

            Não foi por acaso - disse-o Bittencourt Sampaio - um dos pioneiros da primeira hora -. que o navegador Português, ao avistar a terra maravilhosa, em arroubos de inspiração denominou-a da Vera Cruz!

            Terra do Evangelho - dizem-no ainda outros Espíritos - fadada a caldear descrenças, taras e preconceitos de velhas raças, apropinquando-as (acercando; achegando; aproximando; avizinhando) ao Amor Universal, que será o lema inelutável de todas as conquistas coletivas do amanhã.

            Sim! queiram ou não acredita-lo os que desconhecem o tamis (peneira) da nossa evolução ética e a sua renovação constante, pelo afluxo de gentes de todos os quadrantes, a verdade já comprovada por fatos isolados, mas em aumento progressivo, é que um terço, pelo menos, do nosso proselitismo é composto de estrangeiros aqui vindos para receberem o batismo da nova crença, os quais se mostram perfeitamente emancipados de sua bagagem psíquica ancestral, graças à influência de um ambiente que jamais lograriam em seus países de origem.

            E porque o liame espiritual é o mais forte e o mais lídimo dos parentescos, bem se deixa ver que essa comunhão, essa afinidade de ideias e de emoções vão transformar-se nas premissas da fraternidade verdadeira, quando houverem todos, no Espaço, de eleger a pátria contingente do amanhã.

            Porque, neste caso, já não é a atração dos interesses materiais aqui improvisados, e mantidos, que exercerá influência sobre esses irmãos nossos, mas o próprio estado de consciência que eles se preparam e lhes vai diluindo, desde já, em novo cenário de novas atividades, ideias e preconceitos, estratificados e transportados de gerações a gerações.

            Interessante atentar para o que chamamos humoristicamente a propaganda de torna-viagem, constituída de grupos espíritas formados na Espanha, na Itália, em Portugal, por confrades vindos desses países e que, depois de mourejarem aqui, para lá regressam convertidos ao novo credo, orientados na Doutrina Espirita, como jamais o seriam se de lá jamais saíssem.

            Mas... dir-se-á: precisa Deus destes movimentos migratórios para transformar as criaturas, para lhes acelerar o ritmo do progresso? Absolutamente. O que se diz e pode, dizer-se, é que a lei é de atividade e permuta e, dentro dessa lei, cada individuo, como cada povo ou unidade de indivíduos, tem a sua missão de influências reciprocas, de ação e reação.

            A missão do Brasil é originariamente pacifista, di-lo a sua história, afirma-o de seu povo a índole, que deve constituir por sem dúvida, um reflexo da aura de seus Guias Espirituais.

            Formação político-social extreme de lutas de conquista, como de preconceitos de raça e de casta, de solo vastíssimo quão fértil, nosso país pode e deve presumir-se o grande laboratório de todas as atividades espirituais sadias, em o qual se elaborem os destinos grandiosos da humanidade póstera, já entrevistos e assinalados iterativamente pelos vexilários (porta-estandarte)  do Cristo de Deus.

            Mas, nesse movimento renovador, cujos limites no tempo nos escapam a previsões quaisquer, a mediunidade copiosa, difusa, constitui, como de princípio assinalamos, a melhor das premissas.

            Dentre as faculdades, avulta, incontestavelmente e com características inconfundíveis, a curadora ou receitista, a que não é lícito negar o principal, se não único fator de eficiência na propaganda.

            Não há hoje, por assim dizer, cidade ou vilarejo onde se estude o Espiritismo, que não tenha um médium receitista ou curador, a registar fatos dignos de nota e a produzir conversões.

            Aos médiuns de passes, chamamos também curadores.

            Esses não prescrevem remédios quaisquer, limitando-se a orar e a estabelecer com os enfermos afinidades magnéticas por contato. Em regra, são homens simples, de rudimentar cultura mesmo, mas, em compensação, de moral ilibada, a evocarem os tempos e processos apostólicos.

            Os receitistas, esses prescrevem comum ente a Homeopatia, tendo, com raras exceções, no seu ativo, curas por vezes averbadas de miraculosas, com grande repercussão no conceito público -  circunstância que a mais de um tem conduzido à barra dos tribunais.

            Seja, porém, dito em abono da nossa legislação libérrima, que, em todos os processos a condenação tem falhado à falta de provas, não das curas, mas de interesse profissional, visto que nenhum desses abnegados serventuários da Doutrina mercadeja as suas faculdades, antes procuram todos dar de graça o que de graça recebem, segundo o preceito evangélico.

            Esta orientação é típica e diz bem da superioridade de vistas dos que planearam a diretriz da Revelação Espirita em nosso país, dela fazendo um verdadeiro apostolado evangélico.

            E de que nele, no Evangelho, se condensam os pródromos da Verdade Divina, o alvo superior dos Espíritos prepostos à execução da lei de regeneração e progresso universais, se pode inferir a existência desta entidade coletiva (1), íntegra de quase meio século, a consolidar-se progressivamente, enquanto outras agremiações, de caráter meramente teórico-especulativo, se improvisam e se dissolvem sem deixar vestígios na consciência das massas. 

            (1) A Federação Espírita Brasileira.

            Nem são, já, adesões convencionais a esse programa, que fortalecem a nossa convicção; mas verdadeiros brados de alerta que chegam do Além, à revelia nossa, suscitando espontâneas incorporações de atividades em torno do mesmo ideal...

            A prática estabelecida e tradicionalmente consagrada é de simplicidade tocante, a dispensar quaisquer improvisações de hora, lugar e meio.

            Um médium receitista conhecemos, dos mais felizes na sua atividade mediúnica (1), que tanto receitava picograficamente, em casa ou na repartição, como o fazia verbalmente, na rua, no trem ou no bonde.

            (1) Domingos de Lima Figueiras.

            Outro (2), proprietário de uma farmácia (mas não farmacêutico), fazia-o naturalmente, conversando à porta do estabelecimento e sempre com acerto e felicidade notáveis.

            (1) Francisco Nascimento.

            De uma feita, conta-se, entre amigos discreteando prazenteiro, dele acerca-se alguém que lhe estende um papel contendo nome e residência de um enfermo grave...

            Sem pestanejar, a sorrir, com a maior naturalidade deste mundo, o nosso médium sentenceia: Este enfermo acaba de falecer às tantas horas e o senhor pode, a caminho, passar pela Santa Casa e contratar o enterro. Era a verdade!

            Em diagnósticos era também admirável este médium, que os dava bastas vezes em contradita a médicos abalizados, e sempre adstritos à mais rigorosa técnica.

            A Federação Espirita Brasileira, desde sua fundação, teve médiuns receitistas ao seu serviço, mas só há poucos anos (e cremos ser isto fato singular na história da propaganda espiritista em todo o mundo) estabeleceu oficial e publicamente esse trabalho, aliás daí por diante mantido sem intercadências, a despeito de maiores ou menores hostilidades do misoneismo (repulsa a tudo o que é novo ou contém novidade) oficial.

            Os médiuns que aí se tem sucedido e permanecem, nenhum título, nenhuma credencial possuem, que os recomende, além do seu devotamento à causa da verdade espírita, por bem do próximo.

            Não se cogita ali, de fato, da classe, cor ou credo do recorrente e, se preferências e distinções se, concebessem em tal ministério, elas haveriam de recair nos mais necessitados e humildes de condição. E os médiuns são, de ordinário, modestos funcionários ou artistas, que sacrificam lazeres e repouso em prol do simples alívio ou da cura dos seus semelhantes.

            A sua clientela, que se pode aferir por dezenas ou centenas de milhar, anualmente, como provam as estatísticas, é composta, na sua grande maioria, de proletários e gente da pequena burguesia, que ali acorre anônima e cheia de esperanças, recebendo talvez maiormente, e só por isso, o melhor quinhão dos benefícios.

            Um acontecimento de grande repercussão na Capital e em todo o Brasil, foi, certamente, o da pandemia de gripe - pitorescamente batizada "a espanhola" - que assolou o mundo em 1918.

            Nessa eventualidade apavorante, quando a metrópole populosa de 1.300.000 almas apresentava ao observador atônito e contristado o aspecto de vasta necrópole, com dezenas de milhar de casas fechadas; com o seu movimento paralisado e as ruas por vezes transformadas em depósito de cadáveres, a nossa Federação manteve suas portas abertas e atendeu a multidões que se sucediam, distribuindo-lhes, com os remédios do corpo e a dieta aos mais carecidos, a verdadeira esmola do conforto moral - que essa, sim, se chama Caridade.

            Em compensação, as graças choveram do alto, ostensivas e copiosas, a ponto de, esgotadas as últimas reservas de medicamentos, produzirem-se as curas com simples copos d'água magnetizada e pela só imposição das mãos, ou ainda mediante singelas preces, acompanhadas de exortações.

            Era de ver-se, então, como doentes combalidos, de olhar esgazeado, vítreo, no delírio da febre presto se calmavam e, aliviados e restabelecidos exclamavam: Ah! bem me diziam que viesse até aqui para ficar bom... Bom... Mas... eu estou bom, sinto-me curado, graças a Deus!

            Sugestão? Fluidos? Sim, uma e outra coisa a discutir, mas, certa, inegável, a misericórdia divina.

            Pois o que aí se fez "grosso-modo", nesse período de sofrimento agudo e generalizado por toda uma população, continua a fazer-se parcialmente, dosadamente, todos os dias. 

            No fato de serem os recorrentes humildes os mais agraciados, há um ensinamento precioso decorrente da palavra messiânica - o de que o Cristo, ontem como hoje, veio para os mais humildes.

            Não é com isto dizer que membros qualificados da sociedade não tenham sido nem possam ser partícipes da opima dádiva.

            A verdade é que, com eles, ela, a dádiva, se dá presumidamente "in-extremis", isto é: quando já desenganados da ciência oficial se propiciam a recebe-la, não já como meio, mas como fim de conversão, morte de ceticismo, elemento de fé.

            Há quem increpe de místico, devoto, sectarista, anticientífico, este Espiritismo de fundo religioso, evidentemente, mas não há quem possa, de boa fé, contestar os fatos e a sua eficiência moral e social, como regenerador de costumes, públicos e privados.

            Os que vivem a gritar que o Espiritismo é uma ciência, abraçados a Kardec, deviam considerar que Kardec o codificou como sendo "o Consolador prometido" por Jesus e não consta que Ele, o Cristo de Deus, houvesse jamais frequentado Areópagos.

            E os que arengam e conclamam que a Doutrina não tem dogmas? Pretenderão que a ciência os não tenha? Mas, nesse caso, deveriam começar por definir a matéria em si, a energia, a força, a vida e a fonte primária - Deus!              

            De resto, como a provar que a diretriz da causa não pertence aos homens, mas aos Espíritos, suscitam estes, espontaneamente, inesperadamente, os casos mais estupendos, nos meios mais refratários.

            Dentre mil que pudéramos relatar, destacamos estes três, de antecedentes e consequentes capazes de infirmar as mais sólidas convenções e teorias científicas:



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