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sábado, 16 de fevereiro de 2013

8. 'Fenômenos de Materialização'


8

Fenômenos de Materialização
por Manoel Quintão
 Livraria Editora da Federação Espírita Brasileira
 1942

            Mas, senhores, fechemos este longo parêntese. Como vos dizia, a entidade invisível escrevera e assinara - João. Para o fazer na face do papel assente no solo, teria de o virar. Isto não se deu; o caderno almaço estava no mesmo lugar e posição em que o colocáramos, mantendo sobre uma das bordas a sola do sapato. Desta, da sua pressão, podereis ver aqui os vestígios. Aqui temos, pois o fenômeno da "escrita direta", porquanto o "médium" mantinha, à vista de todos, as mãos sobre a mesa e nem ele, nem ninguém poderia praticar uma intervenção direta.

            Em seguida, "João", pela voz do médium, pediu-nos - a mim e ao Dr. Pereira de Barros, assentado defronte de mim, que conservássemos na palma da mão um lenço e levássemos a mão para baixo da mesa. Assim praticando, não tardou sentíssemos um leve contato de mão, subindo do pé direito, puxando a calça, tamborilando no joelho e, por fim, arrecadando sutilmente o lenço.

            Foi-se-me o lenço, disse, olhando para o Dr. Pereira Barros. O meu ainda aqui está, respondeu ele. É preciso esperar, obtemperou o "médium".  Decorridos minutos, o doutor acusa a retirada do seu lenço e quase simultaneamente acusamos a restituição do nosso. Antes de qualquer consideração, antes mesmo de retirarmos a mão de sob a mesa, o lenço do doutor cai à frente dele, projetado como do teto: e do ângulo da sala, que ficava atrás de nós. Os lenços estavam (o nosso ides vê-lo) artisticamente enovelados, semelhando uma flor ou uma fruta, como queiram, mas, de qualquer forma, inteligentemente manipulados.

            Se quisermos atribuir estes fenômenos de transporte e efeitos ditos físicos, a forças desconhecidas, ao subliminal e quejandas (similares) hipóteses mais ou menos abstrusas e rebarbativas, teremos de infirmar as próprias leis da física, segundo as quais força alguma atua que não seja em linha reta. Ora, neste caso, forçoso é convir que essa força não atuou em linha reta, antes, no mecanismo do fenômeno, operou de modo complexo, descreveu muitas figuras geométricas. Apreendendo um lenço aqui, outro ali, depois de os amarrar inteligente, artisticamente, devolve-os quase de jato, um por debaixo da mesa, com requintes de delicadeza, outro de cima, bruscamente projetado!
           
            Retirada, em seguida, a mesa, foram trazidos dois baldes comuns contendo: um cera de carnaúba quente, e outro água fria. Em torno desses baldes fechamos um círculo, ou antes uma elipse de cadeiras. De propósito citamos a cera derretida, liquefeita, porque a sua temperatura, qual a tomamos, tateando o vasilhame, não a suportaria impunemente a nossa epiderme (1).

            (1) Calculamos 70 ou 80 centigrados.

            No Pará, contaram-nos que, para responder a uns tantos censores e conjecturistas (que dão opiniões sem fundamento) do fenômeno, o maestro Bosio expôs um modelo de pé e reptou os incréus a produzirem coisa igual, mediante premio de 5:000$000. Sempre houve, ao que parece, uns três simplórios que o tentaram, queimando-se inutilmente e mais gravemente um deles, que sofria de eczema ou varizes, se bem nos lembramos do relato. Mas, ainda assim, admitida a possibilidade de moldagem, graças à aplicação de qualquer substância refratária ao calor, sobre a epiderme, nem por isso estaria removido o maior óbice - a retirada do pé ou da mão sem quebra do molde (2).

            (2) E dizer-se que o inefável Dubois atribui tais fenômenos ao concurso de tubos fosforescentes!




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