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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

5. 'Fenômenos de Materialização'



5
Fenômenos de Materialização
por Manoel Quintão
 Livraria Editora da Federação Espírita Brasileira
 1942


            Vejamos: Para a ciência oficial, o homem biológica, anatômica e filosoficamente considerado, não passa de um complexo celular, de uma trama de moléculas animadas, e a expressão mais alta da sua existência, o que nós chamamos faculdades da alma - memoria, discernimento, vontade, etc. - é simplesmente a soma, a totalidade de consciência dos neurônios.

            É isso o que afirma, não um "louco" como nós, mas um sábio de tomo, qual Le Dantec. E porque a nós não nos sobre autoridade cientifica para confutá-lo, valha-nos a opinião de sábios por sábios.

            Le Dantec conjetura, Geley experimenta; e este, na sua obra já citada, após relatar diversos casos de trepanação e ablação parcial do cérebro, assim conclui:

            "Donc, les hypothèses materialistes, qui faisaient de Ia pensée une secretion du cerveau et vouIaient assigner des centres aux facultés mentales, sont erronées: - "Il n'y a pas des centres speciaux présidant l'un à l'abstraction, l'autre aux émotions, un troisième à Ia memoire; un autre à l’imagination. Cette mythologie cerebrale est abandonée; notre activité spirituelle n'obéit à de divinités locales, erigées par des savants crédules dans les dlfferents coins de Ieurs schémas cerebraux!" (*)

            (*) Portanto, as hipóteses materialistas, que faziam do pensamento uma secreção do cérebro e pretendiam localizar as faculdades mentais, estão em erro: "Não há centros especiais a presidirem a abstração, as emoções, a memória, a imaginação. Esta mitologia cerebral caducou, nossa atividade espiritual não obedece a divindades locais erigidas por sábios crédulos nos diferentes escaninhos dos seus esquemas cerebrais!
             
            Mas, na verdade e sem recorrer a grandes acrobacias mentais, o que nós não concebemos e os materialistas não explicam, é como simples movimentos celulares se transformam em pensamentos e sentimentos.

            Outra coisa que, de boa fé, escapa ao raciocínio lógico, é o fato de poder a simples célula geratriz produzir a diferenciação dos tecidos, cartilagens, músculos, ossos, nervos, vísceras e mais: a morfologia orgânica, a conjugação dos órgãos em molde específico e a unidade de funções, como se tudo se passasse visando um fim inteligente - a vida! A vida! E que é a vida?

            O Dr. Ferraz de Macedo, médico português ilustre, ao falar da vida "post-mortem" (1) diz: Nunca me lembrei de que, ao analisar anatomicamente um corpo morto, lhe não podia descobrir a vida, porque ela o tinha abandonado.

            (1) ‘Do País da Luz’ - 1. II.

            E linhas abaixo, referindo-se ao corpo abandonado à terra: - Por que parou de trabalhar, quando continuava a ter todo que o fazia trabalhar até então?

            São problemas de alta filosofia, estes, que se não podem tratar minuciosamente nos limites de uma palestra, nem nos sobra, repetimos, maior autoridade para fazê-lo.

            Montesquieu, citado por Gíbier (1) dizia que, preferível a esgotar um assunto, era dizer dele o suficiente para fazer pensar.

            (1) ‘Analyse des Choses’ - cap. II, pág. 22

            Acolhendo o conceito e por vos não molestar com muitas citações clássicas, contrárias ao materialismo, nós vos inculcamos a obra em que o Dr. Geley, com o método de um sábio verdadeiro, reuniu todas as teorias correntes, provando com fatos da própria ciência que a maior parte delas não passa de mero verbalismo convencional.

            Assim, por exemplo, entestando a teoria da evolução, afirma e demonstra que ela não pode recusar, antes só pressupõe a existência de um dínamo-psiquismo superior, que condiciona os organismos e que a eles preexiste e subsiste.

            Um fato só, ilustrativo do assunto - a histólise (fenômeno da reabsorção dos tecidos, para sua renovação) do inseto - é de molde a infirmar os fatores clássicos da Embriologia, para justificar a evolução especifica.

            Há, diz Geley, um himenóptero (diz-se do inseto que tem quatro asas membranosas e nuas, como as abelhas, certas formigas, etc.) que, saindo da terra, precisa, para garantir a espécie, depositar o óvulo em certa lagarta. A imobilidade da lagarta é, porém, condição indispensável ao desenvolvimento do germe e, então, o que se dá é o seguinte: o himenóptero ataca a lagarta de maneira duplamente inteligente, isto é, dosando o seu veneno "quantum satis" (quanto baste, quanto for suficiente) para não matar o inimigo e ferindo-o precisa, matematicamente, nos centros nervosos da
locomoção.

            Ora, comenta o ilustre cientista, esse inseto saiu da terra, seus antepassados não existiram para ele, nem tempo teve de lobrigar um coetâneo (que tem a mesma idade, que viveu na mesma época) de sua espécie... Como explicar esse instinto original, se a função de espécie fosse, como querem os partidários de Darwin e Lammark, decorrente da adaptação, da experiência, da amplificação hereditária?

            Mas, senhores, não é a própria ciência que nos afirma que o "complexus celular", que o nosso corpo, como o dos animais e as próprias plantas são cadinhos em constante transformação?

            Por uma tal afirmativa, a só estrutura específica, anatômica, tanto quanto a euritmia (regularidade, justa proporção, entre as partes de um todo) fisiológica, assume proporções de enigma indecifrável.

            E se quiséssemos à luz de semelhantes postulados encarar a identidade moral do ego, esse quid que afirma que existimos porque pensamos, sentimos, queremos, amamos?

            Entretanto, meus senhores, fato é que, de todos os tempos, em todas as teogonias, na tradição religiosa e mesmo profana de todos os povos, vamos encontrar assinalados os fenômenos anímicos, os da manifestação das almas, hoje controlados pela ciência, mau grado ao misoneísmo da própria ciência, que ora tenta negar "a priori", ora afirma com "camouflage", como aconteceu com o magnetismo, travestido em hipnotismo, e está sucedendo com o Espiritismo mascarado de alucinação, metapsiquismo, histerismo, dinamismo, subconsciente, etc.

            Ah! o misoneísmo da ciência vale bem pelo dogmatismo das religiões!

            Foi ele, foi esse misoneísmo que fez o grande Arago dizer que nunca se chegaria a conhecer a composição química dos astros. Mas a espectrometria desmentiu Arago...

            Foi ele que levou o grande Lavoisier a dizer: "Como hão de cair pedras do céu, se no céu não há pedras?" E a astrofísica desmentiu Lavoisier.

            Foi ele, ainda, que levou BoilIeau a insultar o representante de Edison, chamando-o ventríloquo impostor, diante do fonógrafo.

            Foi ele, sempre ele, que lançou o ridículo sobre o grande Galvani, despercebido que da rã bailarina se originaria uma das maiores conquistas do século - a aplicação da eletricidade, também desconhecida em sua essência.

            E o outro? O farisaísmo, irmão siamês daquele, hoje seu êmuIo (rival, contrário, adversário), senão mentor, na guerra ao que lhe escapa da rotina interesseira e regalista?

            Envenenou Sócrates...
           
            Crucificou Jesus...

            Queimou Joana d'Arc...

            Encarcerou Gallileu...

            Matou Coligny...

            Calcinou João Huss...

            Excomungou Allan Kardec.

            Mas, senhores, seria um libelo interminável. Respigai nas páginas da História e vereis quanto se há feito em nome da Religião e da Ciência, substancialmente separadas nos seus princípios, quando uma afirma e outra nega a Deus, mas virtualmente conjugadas e até reciprocamente enamoradas, quando atingidas no que julgam privilégios seus, como se a inteligência e a razão fossem delas patrimônio exclusivo!

            Vejamos agora como essa mesma ciência exclusivista, inquinada de presunção e orgulho, procura nas malhas da própria inanidade, desobrigar-se do problema que se criou e impôs, para definir as manifestações da inteligência, por exemplo. Não podendo já atribuí-la à quantidade nem à qualidade da massa cinzenta do cérebro, imagina fatores como o artritismo e até a sífilis! Fatores patogênicos, nada mais.

            Rides? Mas, senhores, não sou eu quem o diz, é o Dr. Geley, comentando os seus compares. Diz ele (1):

            "Ainsi, tout ce qui, au point de vue intellectuel, serait, soit ou dessous, soit au dessus de Ia normale, serait le fait de Ia maladie" (*). E acrescenta: "O Dr. Chabaneix fala de autointoxicação e "surmenage" nos predispostos: -"Une des maladies du cerveau, e'est l'automatisme ou l'apparition du subconscient" (**). Singular doença, obtempera Geley, que em vez de ser uma causa de perturbação e diminuição para o indivíduo, aumenta as suas capacidades e o seu poder. Mas, se perguntássemos a Chabaneix - que vem a ser esse subconciente?

            (1) De ‘L'Inconsctent, au conscient’, Pág. 112.

            (*) Assim, tudo o que do ponto de vista intelectual estivesse abaixo ou acima do normal, seria causa da moléstia.

            (**) Uma das moléstias do cérebro é o automatismo ou a aparição do subconciente.

            O padre Florencio Dubois, que tão galharda e ''cristãmente'' nos recebeu em Belém, esparrimando (ou esparramando) a sua bilis icorosa (que soa horrivelmente) pelas colunas de honra da "Folha do Norte", tambem nos falou da "massa parda" ... Mas o Padre, coitado, é sempre um energúmeno e de sobra conhecemos a sua ética - "O cristão pode obrar precisamente como homem e despojar-se da personalidade de cristão, naquelas ações que são próprias do homem cristão.” (pág. 3) (2).

            (2) Teses do Jesuíta Caen - Ecos de Roma, do Padre Guilherme Dias, pág. 35.

           A teoria da sífilis... Senhores, não queremos privar-vos do sabor da originalidade e assim damo-la aqui "ipsis Iitteris" no idioma do genial autor.

            "Si Ia siphylis, conclut gravement Ie Dr. Paschal Serph (1) fait le mal que tout Ies medicins sont unanimes à reconnaitre et à craindre pour l'humanité, elle lui donne, en revanche, Ia possibilité de perfectioner ses moyens d'actions et compense ainsi, das une certaine mesure, par son action hipertrophiante cérébrale, créatrice des idées particuliéres géniales, ses mefaites redoutables."

            (1) ‘Gazete mèdicale de Paris’, 12 Juillete 1916.

            Não será o caso de darmos parabéns aos sifilíticos?

            Mas, admitido, por argumentar, o valimento da teoria da morbidez para justificar os fenômenos psicológicos, é preciso considerar que as nevroses, como a loucura, do ponto de vista da anatomia patológica ainda são puros enigmas para a ciência médica. E não é dizendo simplesmente que o gênio é nevrose ou loucura, que se fará compreender o mecanismo das produções geniais.

            Mas, senhores, se nós considerarmos o fato (e o fato é real) de um louco que, em estado de hipnose, recobrava as suas faculdades normais? Aqui mesmo, no Rio, conhecemos um homem, um amigo que esteve no Hospício como louco e era um simples obsidiado.

            Restabelecido pelo Espiritismo, dele fez-se adepto fervoroso e era de ver-se como contava o que denominava pitorescamente - "as memórias da sua loucura". Eram puros fenómenos mediúnicos, de vidência e audição, que ele não podia rechaçar por lhes ignorar a origem e que, provado está, não se combatem a soros nem a ducha, nem a capacetes de gelo.

            Voltando a considerar com Le Dantec que o pensamento é função do corpo vivo, como explicar o haver Walter Scott escrito "lvanhoé" em completo delírio febril (1)? E os fatos de lucidez e clarividência?

            (1) Alberto Seabra, ‘O Problema do Além’, pág.101.

            Dentre muitos e mil mais, que se contrapõem à hipótese materialista, permitido nos seja citar um só, narrado pelo Sr. Roberto Bruce:

            "Navegando perto da Terra Nova, absorvido em seus cálculos, ao passar pelo camarim do capitão, julgou vê-lo sentado à mesa; mas; atentando melhor, verificou que era um estranho a olhá-lo fixa e admiradamente. Surpreso com a ocorrência, vai interrogar o capitão e este lhe assegura que ninguém lá poderia estar. De fato, a verificação foi negativa; mas, insistindo o oficial que o homem que vira estava escrevendo na ardósia, encontraram nesta as palavras: "Toquem para noroeste" .

            "A increpação de que fosse a letra do próprio capitão e feita a contra prova da caligrafia, não só deste como de todo o pessoal de bordo, verificado que nenhum dos presentes escrevera na ardósia, o comandante deliberou seguir o rumo indicado e três horas depois divisaram um "iceberg" e, junto dele, um navio ao desamparo. Transbordados dele passageiros e equipagem, Bruce comovido reconhece entre eles o homem do camarim. Chamado a explicar-se e solicitado a escrever na outra face da ardósia as mesmas palavras, ficou demonstrada a perfeita identidade da grafia. E contou que, precisamente um pouco antes de meio dia, fatigado adormecera e sonhara que estava a bordo de um outro navio. Contara o sonho ao capitão e agora o que lhe admirava era parecer-lhe tudo quanto via muito familiar, quando, certo, ali nunca estivera."

            Aqui, comenta judiciosamente o nosso ilustre patrício Dr. Alberto Seabra, está um caso de desdobramento inconsciente. Ele serve, diremos nós, e vós de certo já o inferistes, para provar que o Espírito pode agir material e fisicamente, fora do invólucro carnal.

            É postulado pacífico da psicologia oficial que todas as faculdades psíquicas dependem de localizações cerebrais, precisas e nítidas: nihil est in intellectu quod non prius fuerit in sensu... (nada há no intelecto que não tenha primeiramente estado nos sentidos. Aristóteles) Entretanto, aqui estão, nesta obra, fundamentalmente consignadas as conclusões do Dr. Guépin, comunicadas à Academia de Ciências de Paris em 24 de Março de 1917, a saber (1):

            (1) De L'Inconscient, au conscient, pág. 82.

            1º) que a amputação do cérebro no homem é possível, relativamente fácil e salva certos feridos, que os tratados clássicos condenam ainda à morte certa, ou, pelo menos, a enfermidades incuráveis.

            2º) que esses operados demonstram, as vezes, não haverem perdido tal ou tal região cerebral.

            O célebre Dr. Laveran regista a comunicação mais surpreendente ainda, do presidente da Sociedade Antropológica de Sucre (Bolívia), fato ocorrido na clinica do Dr. Nicolas Ortiz. Trata-se de um rapaz de 12 a 14 anos, falecido no pleno gozo de suas faculdades intelectuais, e cuja autópsia revelou as meninges hiperemiadas (a hiperemia é um aumento da quantidade de sangue circulante num determinado local, ocasionado pelo aumento do número de vasos sanguíneos funcionais) e um grande abcesso ocupando quase todo o cerebelo, uma parte do cérebro e a protuberância.

            Todos sabemos que a hemiplegia é uma lesão cerebral, que se caracteriza pela paralisia de um dos lados do corpo, o oposto ao da lesão. Pois bem: conhecemos um jornalista de talento, o Dr. Tomaz Gomes dos Santos, filho do conselheiro desse nome, o qual, em idade avançada, redigia o seu jornal em Vassouras e praticava com proficiencia a odontologia. Era um intelectual.

            Conclusão única: nem quantidade, nem qualidade de massa encefálica para justificar a existência da alma como epifenômeno (fenômeno que vem juntar-se a outro, mas sem influenciá-lo), no dizer de Huxley. Melhor fora confessar com Charles Richet: que importa ao fisiologista toda essa extraordinária complexidade das células nervosas com suas dendrites, arborescências, ramificações, corpúsculos, se ele ignora o uso destas partes ? (1)

            (1) ‘0 Fenômeno Espírita’, pág. 122.

            Não citaremos mais fatos, fatos e fatos, mesmo porque, esta palestra não se adstringe a fatos concretos e ao relatá-los, de escantilhão e sem ordem sistemática, desejamos, de preferencia, realçar a doutrina pela indução filosófica dos fatos.

            Em poucas palavras: para nós, mais alto que todas as comprovações da cirurgia, da anatomia, da fisiologia, falam da imanência do ser, da sobrevivência do espírito, da mônada consciente, desse dinamismo psíquico superior evolvendo e fazendo evolver os organismos - mais alto para nós, repetimos - falam os fenômenos de pura intelectualidade. E desses citaremos aquele que de longa data guardamos, como dos mais categóricos.

            Eis como a ele se refere Eugène Nus em seu livro ‘Choses de l' Autre Monde’: "Nossa tripeça não se embaraçava com tão pouca causa e desafio todas as academias literárias a formularem instantaneamente, sem, preparo prévio nem, reflexão alguma, definições circunscritas a doze palavras, tão completas e por vezes tão elegantes, como as improvisadas pela nossa mesa, à qual concedíamos no máximo e a custo, a faculdade de formar uma palavra composta por um traço de união...

            Vejamos algumas dessas definições:

            Infinito - Abstração puramente ideal, acima e abaixo do que é concebido pelos sentidos. 

            Espírito. - Suntuosidade do pensamento. Galanteria harmoniosa das relações, das comparações e das analogias.    

            Harmonia. - Equilíbrio perfeito do todo com as partes e das partes entre si.

            Mas, basta. E os ditados musicais pela mesma tripeça?

            Pergunta-se: quem respondia? O subconciente de um assistente? O conjunto de todos eles? Mas, o mecanismo do fenômeno em si? E, por que o não tentam os céticos, por que não experimentam com essa fraude, esse ilusionismo que alardeiam tão fácil, reproduzi-lo, efetiva-lo em igualdade de condições e controle? Ah! os explicadores de inverossímeis com impossíveis!

            Então, se um ser rústico, boçal e até anormal, (é o caso da histérica de Charcot escrevendo mediunizada uma sentença de PIatão em grego antigo) chega a tais prodígios, então, é o caso de dizer-se que a fraude ultrapassa todas as inteligências humanas!

            Venham os opugnadores, os caluniadores, os infirmadores destes fenômenos, vistam eles batina ou empinem beca, venham todos os basófios reproduzir essas fraudes e nos retrataremos.



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