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domingo, 13 de janeiro de 2013

73. 'Doutrina e Prática do Espiritismo'



73


X - Progresso Indefinido dos espíritos. Para onde vamos. Pluralidade,  hierarquia e solidariedade dos mundos habitados.  Colaboração dos espíritos na execução do plano divino.  Os Messias, o Cristo. Infalidos. Ampliação da parábola do Filho Pródigo.


            Acabamos de percorrer pelo pensamento, na rápida súmula mal contida nas páginas que precedem, a dupla curva, descendente e ascensional, descrita pelo espirito, desde a sua origem e mediante o lento e remotíssimo processo de individualização através das series naturais, até ao estado de plenitude consciente, em que tanto pode, consecutiva e ininterruptamente, prosseguir a sua evolução no plano espiritual, como depois da queda ser "humanizado" e vir buscar, incorporado a nossa espécie, os meios de progresso que a merecida proscrição interrompera.

            Posto assim o problema das nossas origens, isto é, estabelecido, com os nossos possíveis elementos de indagação, de onde viemos, trata-se agora de resolver o problema dos nossos destinos ou, do mesmo modo, indagar para onde vamos, não já nos contentando em saber, como o procuramos em capítulos anteriores demonstrar, que para a continuidade da vida no plano invisível e espiritual, senão buscando por antecipação conhecer vem que nos tornaremos e a que altitudes de perfeição temos o direito de aspirar.

            Para os espíritos culpados- que o somos todos os que palmilhamos esta terra de exílio - o plano terrestre é o campo, mais que natural, necessário de nossa atividade, e aqui voltaremos, de reencarnação em reencarnação, tantas vezes quantas sejam suficientes para reparar os nossos desacertos, acumulando experiências tanto mais salutares quão mais dolorosas, até que por elas convenientemente lecionados, libertos das ilusões da carne e dos sentidos, estejamos amadurecidos para a vida interior e espiritual, aptos numa palavra, pela iluminação do entendimento e a espiritualização dos sentimentos, para encerrar aqui o ciclo expiatório e, como o pássaro liberto da prisão, levantar o voo para outras, afortunadas regiões. 

            Não carecemos de insistir neste lugar - pois que ainda há pouco o assinalamos - sobre a aceleração que a tais propósitos trará o socorro divino expresso no perdão, às remanescentes criminalidades deferido, a partir da hora do sincero, do profundo arrependimento e interior abjuração às iniquidades do passado. Recordaremos simplesmente que, mercê do poderoso sustentáculo do Alto, jamais recusado ao que, de coração simples, o procura, uma ou algumas poucas existências virtuosas, em limitado número, bastarão para resgatar dezenas de outras insensatamente dissipadas em criminosos desvarios. O ponto é que, abominando definitivamente todo o mal, enverede resolutamente o espírito pelo caminho interior do bem no pensamento, no ato e na palavra - cada uma de cujas divinas vibrações é como a centelha de luz intensa que dissipa turbilhões de trevas.

            Se lançamos o olhar em torno e consideramos a obstinação com que os homens, longe de se amarem, sistematicamente se hostilizam; se observamos até que ponto a predominância das paixões inferiores, com o egoísmo à frente, e o espírito de separatividade concorrem para perpetuar entre as criaturas a necessidade de reparações, até que se tenham convertido ao espírito de fraternidade pela reconciliação, não será difícil reconhecermos que para a massa geral da humanidade a Terra continuará a ser, por sucessivas gerações, enquanto de seus olhos não cair o ilusório véu e em seu entendimento não penetrar, com a luz da Sabedoria, o conhecimento de seus verdadeiros imortais destinos, um centro de irresistível convergência, para expiação, reparação e doloroso aprendizado, em suma.

            No meio, porém, dessa imensa multidão de cegos, hoje como outrora - que tal é a periódica marcha do progresso humano - espíritos suficientemente evoluídos, remotos predecessores na incessante romaria, ou mais diligentes que outros no aproveitamento das lições da vida, vão atingindo a meta de progresso que lhes pode o meio terrestre facultar e adquirem o direito de prosseguir em mais dilatados horizontes a sua trajetória evolutiva.

            Para onde vão?

            Não se trata aqui da imediata localização post mortem, de que nos ocupamos precedentemente, em qualquer das superpostas camadas fluídicas do invisível, para cada espírito correspondente a sua própria elevação e em coerente afinidade com o seu grau de densidade perispiritual pois já vimos que, ao desencarnar, são os espíritos atraídos para as regiões apropriadas às suas aspirações, tendências e capacidades, tanto podendo permanecer na atmosfera terra-a-terra, se aí os retêm grosseiros apetites de que, por essa mera passagem, não se libertaram, como remontar a consideráveis, luminosas altitudes, a que os atrai a sede de liberdade e de infinito.

            A permanência em tais camadas sucessivas do invisível, para os ignorantes e imperfeitos, atormentados de inquietações e de remorsos, denominada propriamente “erraticidade," varia ao infinito, conforme a necessidade, para os espíritos, de se instruir ou expiar, podendo ainda aí retê-los, missões e ocupações, quer peculiares ao meio espiritual, quer relacionadas com os sucessos humanos, em cuja marcha e realização - já o temos indicado - exercem os invisíveis uma ação preponderante.

            Mas não é dessa atividade extra e supraterrestre que nos queremos ocupar. Sem dúvida o plano espiritual, imenso reservatório de energias, fonte originária de todas as criações, oferece ilimitado campo de exercício às mais variadas aptidões dos seus habitantes, que aí podem, em condições que a nossa ignorância nem ousa suspeitar, entregar-se a fecundos estudos e labores, não somente úteis ao seu progresso pessoal, mas em harmonia com a execução do plano divino, como voltaremos adiante a apreciar. O tema que nos propomos desenvolver é o da ascensão gradual dos espíritos às inumeráveis terras do céu, essas diferentes "moradas da casa do Pai," de que falou Jesus.

            Banido, com efeito, como há tanto o foi, o erro geocêntrico e, com ele, o erro antropocêntrico, isto é, a dupla e mesquinha concepção que fazia da Terra o centro do universo e do homem o objeto central da criação, as nossas vistas naturalmente se voltam para a pluralidade dos mundos que povoam o infinito e cuja habitabilidade, em face das modernas observações da astronomia e sobretudo depois que a análise espectral permitiu determinar a composição química dos astros, constituindo uma positiva demonstração científica, já não é licito por em dúvida.

            É aí, nessas múltiplas esferas, centros de atividade e de progresso, oficinas de aprendizado e aperfeiçoamento, umas inferiores, outras incomparavelmente superiores à nossa exígua Terra, que para os espíritos decaídos dos esplendores da pura espiritualidade se realiza a jornada de reabilitação e de integração em seus magníficos destinos.

            Vinculados por uma indissolúvel solidariedade, esses mundos não cessam de permutar entre si os seus habitantes, e submetidos eles próprios às leis da eterna evolução, à medida que descrevem o giro inflexível de suas respectivas órbitas e que o trabalho das humanidades que os povoam lhes extrai da massa e utiliza os materiais com que embeleza e aperfeiçoa as condições de vida em sua superfície, vão sofrendo uma lenta e continua transformação que os há de conduzir ao estado fluídico, pela progressiva diminuição de sua densidade, com a dispersão final de seus grosseiros elementos, privados então de coesão e reabsorvidos, para novas recomposições, no oceano cósmico infinito. Que esse é o perpetuo fluxo e refluxo da
criação universal: condensação, a princípio, da substância originaria até a gradual formação de mundos, em que a diversificação da matéria, primitivamente idêntica, dá lugar ao aparecimento dos seres, cujos invólucros são assim constituídos dos seus mesmos elementos componentes; utilização dessas formas transitórias, até ao esgotamento do princípio vital que as sustentava; diminuição, até completa cessação, da vitalidade física e, por último, abandono do que se poderá chamar a carcaça planetária, verdadeiro cadáver flutuante, que um acidente cósmico transformará em pó e cujas moléculas dispersas, restituídas à eterna fonte que as gerou e aí regeneradas, irão servir, mediante novas e incessantes combinações, à criação
de novos mundos.             

            Mas, ao mesmo passo que nem uma só dessas moléculas se perdeu e apenas se transformou, entrando a percorrer outros ciclos no dinamismo universal, tampouco desapareceu o mundo de que fizeram parte; porque, como no homem e, ao demais, em todos os seres vivos, o cadáver restitui ao meio planetário, isto é, ao grande laboratório da natureza, convertidos em gases impalpáveis os seus grosseiros elementos e subsiste a parte etérea e a com o espírito imortal que os animava, assim também - pois que tudo é idêntico na criação - quando, ao fim do completo ciclo de sua evolução, um mundo físico entra na dispersão final, o seu duplo etéreo subsiste ainda e continua a ser - quem sabe? -- o teatro de uma vida mais bela e mais intensa, e os seres que o habitam prosseguem, sob novas e transfiguradas formas, a sua, jornada evolutiva.

            A Revelação, nesse capítulo da pluralidade e hierarquia dos mundos, nos fala não somente das terras visíveis, superiores umas, outras inferiores como a nossa, em que uma imperfeitíssima e atrasada humanidade se ensaia no aprendizado da sabedoria e no resgate de seus reincidentes desacertos, enquanto naquelas a felicidade e a paz são a partilha dos seus adiantados habitantes, mas também das esferas fluídicas, habitadas por espíritos que já não tem necessidade de corpos materiais e ali encontram um campo de atividade e de trabalho apropriado às suas condições de adiantamento, estâncias transitórias entre o grau de evolução que atingiram, para cuja continuidade ainda necessitam, não de encarnação, mas de “incorporação" em mundo circunscrito, posto que de natureza etérea; e a pura e ilimitada espiritualidade, em que se consumarão mais tarde seus destinos.

            Devaneio? - Mas quem haverá tão presumido de conhecer todas as modalidades da vida, nos sucessivos planos do universo, que ouse dizer dessa concepção: "é impossível"? Já não estamos certamente aqui no rigoroso domínio científico. Se, porém, não falham as leis da analogia e a esta ordem de indagações é aplicável o método indutivo, nada se opõe a admitirmos, consoante o ensino da Revelação, a existência desses mundos etéreos, que a ótica é, sem duvida, impotente para revelar, mas que não cessarão por isso de fazer parte desse universo invisível em que há de a vida necessariamente revestir as mais deslumbrantes e, para nós, inesperadas formas, acessíveis somente à percepção direta dos desencarnados.




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