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sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

5. 'O Cristianismo do Cristo e o dos seus vigários'



5

 “O Cristianismo do Cristo
e o dos seus Vigários...
           
Autor: Padre Alta (Doutor pela Sorbonne)
Tradução de Guillon Ribeiro
1921
Ed. Federação Espírita Brasileira
Direitos cedidos pela Editores Vigot Frères, Paris



            De fato, se nos decidirmos a consultá-la seriamente, em vez de maquinalmente seguirmos os nossos hábitos e prejuízos, a Razão nos esclarecerá e instruirá.

            Considerai e compreendei, antes de tudo, a palavra.

            Religião, do simples ponto de vista humano, quer, evidentemente, dizer o que religa os homens entre si e não o que os divide. Ora, efetivamente, conheceis uma só religião que, pelas suas pretensões dogmáticas e disciplinares, não faça, dos seus fiéis, sectários e que não imponha, aos seguidores das outras religiões, como condição de comunhão, a renúncia e, até, o anátema às suas ideias teológicas, às formas do culto que professem e à organização hierárquica a que estejam sujeitos?

            Esta necessidade, porém, de oprimir, sob o pretexto de religião, só irrompeu no Cristianismo em começos do 4º século, quando os perseguidos de ontem protegidos se tornaram dos Césares romanos. Mas, desde logo, risível se mostra a contradição, tanto quanto deplorável, nos decretos de ortodoxia - pois, dali em diante, os prelados só falam por decretos, como prefeitos do Império - nos decretos daqueles 318 ou 110 bispos que se reuniram em Niceia, em Constantinopla, em Êfeso, na Calcedônia, etc., formando assembleias, que se intitulam ecumênicas ou católicas, quer dizer; "universais", como também se intitularam os seus assessores, os Imperadores do Baixo Império, assembleias essas que, para realizarem a unidade religiosa, declaram "anátemas, excomungados, cismáticos e heréticos" milhares de bispos e milhões de cristãos que compreendiam a incompreensibilidade divina, divergindo do bispo Atanásio, do bispo Cirilo, da imperatriz Elena, ou da imperatriz Pulquéria.

            E o pretenso Catolicismo ainda se conserva aferrado a esse gênero de religião, isto é, de união. O patriarca católico romano, recentemente nomeado para a Mesopotâmia pelo papa Benedito XV, será julgado herético - e lhes retribuirá com o mesmo testemunho de fraternidade religiosa - pelo patriarca nestoriano de Babilônia e pelo patriarca jacobita de Mossul, que também se intitulam "católicos" e que contam, só os dois, mais de 500.000 adeptos espalhados, desde o século V, pela Tartária, pela Índia, pelo Ceilão, pela China, pelo Egito, pela Síria.

            Os ortodoxos russos e gregos, em número de muitos milhares, acabam, a seu turno, de dar a si mesmos, muito recentemente, um patriarca, para reconstituir a unidade que entre eles era mantida pela autoridade do Czar e que a revolução bolchevista privou do respectivo centro. Além dessas grandes ortodoxias ou heterodoxias organizadas em guerra umas contra as outras, milhões e milhões de protestantes divididos em multidões de seitas, na Europa e na América, se intitulam, igualmente, "cristãos" e, com efeito, prestam honras ao Cristo, mas permanecem dogmaticamente estranhos e mesmo hostis uns aos outros.

            Tal a maneira por que, na hora presente, os cristãos ainda cumprem o pedido que fez o Cristo algumas horas antes da sua morte: "Que os meus discípulos sejam um, como meu Pai e eu somos um!" Razão, pois, assiste aos espiritualistas inteligentes, ah! sim, para inquirir qual será "a religião do futuro", visto que a atualidade, tanto no Reino do Espírito, como na Sociedade das Nações, somente pratica a divisão e não a religião, isto é, a união.




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