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sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

19. 'As Vidas Sucessivas'



19

‘As Vidas
Sucessivas’

por  Adauto de Oliveira Serra

 Livraria Editora da Federação Espírita Brasileira

1943


PLURALIDADE DOS MUNDOS HABITADOS

            A doutrina católica geocêntrica, fazendo da Terra o centro do sistema planetário, há muito foi rejeitada, apesar de Josué ter feito "parar" o sol e do silêncio forçado de Galileu. Desse primeiro erro decorreu o segundo: o organocentrismo tendo a Terra como único planeta habitado, onde vivemos uma única existência, para depois a alma subir ao céu ou paraíso, ou descer ao inferno ou purgatório.

            Os outros planetas, os milhões de sóis, os satélites, são adornos do céu que circundam o nosso mundo para deleite de nossa vista. Essas afirmativas são por demais pueris e não resistem ao sopro de uma análise, por mais rudimentar que seja.

            Por esses motivos. a doutrina da pluralidade dos mundos habitados interessa sobremaneira à ciência, à filosofia e principalmente à religião, não como simples conjetura, mas como certeza filosófica, constituindo hoje uma das mais importantes e fecundas questões da moderna metafisica,  pois como bem o diz Flammarion, a astronomia deve ser doravante a bússola da filosofia.

            O planeta Plutão foi visto pela primeira vez em 1932. Antes dessa data, porque ainda não o conhecíamos, deveríamos crer que esse planeta não existisse? Se pudéssemos, disse um grande astrônomo, colocar no último astro que enxergamos além os nossos poderosos telescópios, novos astros descobriríamos na imensidade do infinito.

            Já na antiguidade, dizia Lucrécio: "Todo este universo visível não é o único na natureza e devemos crer que há, noutras regiões do espaço, outras terras, outros seres e outros homens".

            "Os Vedas", o livro mais antigo que se conhece, descreve a pluralidade dos mundos habitados e a transmigração das almas para outros mundos, segundo as suas obras.

            Os povos druidas e egípcios também professavam essa crença. Os versos órficos dão cada estrela como um mundo e o próprio Anaximandro ensinava a pluralidade dos mundos, o mesmo fazendo Epicuro, Orígenes e Descartes.

            Baílly afirmava que a opinião sobre a pluralidade dos mundos foi adotada por todos aqueles filósofos que tiveram bastante gênio para compreender quanto ela é grande e digna do Autor da Natureza.

            Anaxágoras cria na existência de seres na Lua, no movimento da Terra, em contradição com Pitágoras. sendo que Copérnico era da mesma opinião do primeiro.

            Heraclide e Xenófanes também abraçavam a doutrina da pluralidade dos mundos. Petron de Himére, na Sicília, sustentou a existência de cento e oitenta e três mundos habitados e Plutarco diz que essa opinião já era generalizada na Índia.

            Epicuro, ensinando a pluralidade dos mundos, fundamentava-se neste argumento: "que as causas que produziram o mundo sendo infinitas, os efeitos destas causas devem ser infinitos".

            Orígenes era de opinião que Deus criava e aniquilava, alternativamente, uma quantidade infinita de mundos. Todas essas opiniões foram empanadas pelas errôneas concepções aristotélicas pela teoria bíblica, também falsa, da imobilidade terrestre.

            Na Idade Média outros se levantaram a favor da pluralidade dos mundos: Nicolau de Cusa, Giordano Bruno, que foi queimado vivo. Miguel de Montaigne, Galileu, Tycho-Brahê, Descartes e Campanela, que escreveu a "Cidade do Sol"

            Na França. Pedro Borell escreveu uma obra inédita, que tinha por titulo: '''Discurso novo provando a pluralidade dos mundos: que os astros são terras habitadas e a Terra uma estrela; que a Terra está fora do centro do mundo, no terceiro céu e gira diante do SoI, que é fixo; e outras coisas muito curiosas."

            Na Inglaterra. Francisco Godwin faz a descrição da Lua e de seus habitantes em seu livro "Viagem estática".

            Fontenele escreveu "Conversações sobre a Pluralidade dos Mundos", publicadas há mais de duzentos anos e ainda hoje admiradas. Negarmos a pluralidade dos mundos é "prescrevermos limites ao poder de Deus", como dizia Montaigne.

            As "loucas" afirmações de Julio Verne não foram considerados utópicas e muitas delas não se vêm realizando?

            Um planeta é muito menor em relação ao universo, do que uma ilha em relação ao globo terrestre, dizia Montaigne. E Luiz Cousin declara: - Estes milhões de sóis tem, cada um, como o nosso sol, seus planetas particulares e entrevemos ao redor de nós uma multidão incalculável de mundos que servem de morada a diferentes ordens de criaturas, povoados, como a nossa Terra, de habitantes que podem admirar e celebrar a magnificência das obras de Deus.

            São opiniões de pensadores de todas as escolas e de filósofos de todas as crenças, favoráveis sempre à pluralidade dos mundos habitados, porque "o estudo da natureza faz nascer e consolidar no espírito do homem a ideia da pluralidade dos mundos. Para que fim, pois, devemos supor criadas as estrelas, se não vermos nesses vastos e admiráveis aparelhos que nos cercam, habitações destinadas a outras raças de seres vivos? exclamava Herschel.

            Compare-se ainda a insignificância da Terra em relação a qualquer estrela. Julgamos falsamente quando supomos que a Lua é maior que uma estrela, porque a vemos maior, por se achar mais próxima de nós.

            O Sol, que é um milhão e quatrocentas mil vezes maior do que a Terra, também não se nos apresenta muito menor do que esta? E o sol é um globo obscuro como os planetas, envolto em duas atmosferas, das quais a exterior teria por função refletir para fora essa luz e esse calor, e preservar dele o globo solar. É a opinião autorizada de William Herschel e de outros astrônomos que estudaram a constituição física do sol.

            E é sob a gravitação universal que planetas, satélites, asteroides, cometas, meteoros cósmicos, gravitam em torno do astro central.

            Pois todos esses planetas mais ou menos afastados do sol, do qual recebem menor ou maior intensidade de luz e calor, oferecem campos propícios ao desenvolvimento da vida animal e vegetal, em condições, naturalmente, diferentes das nossas. Leia-se a respeito o estudo comparativo dos planetas, feito por Flammarion, e toda dúvida desaparecerá ante os argumentos convincentes do ilustre astrônomo, quanto a possibilidade de vida animal em outros mundos.

            A ideia de habitantes noutros planetas foi como a descoberta da América: Havia uma vaga hipótese da existência de terras desconhecidas no oriente: pairava no ar uma dúvida que abatia os mais arrojados em suas convicções. E Colombo é tido como louco e depois de suas viagens, morre pobre, escarnecido e esquecido de todos, por ter dado à Terra um Novo Mundo.

            Flammarion está no mesmo caso, para os céticos e dogmáticos, como utópico e visionário. Entretanto, ele comprova com a ciência as suas afirmativas, também abraçadas por eminentes pensadores de todos os tempos, não só comparando a constituição física dos planetas, como os estados dos corpos e as suas transformações diversas, e até da natureza atmosférica de cada planeta e sua densidade.

            E se o diâmetro de Marte é duas vezes inferior ao nosso, o de Júpiter é 1.400 vezes maior!

            Fontenelle nos diz, ainda, que é o orgulho insuportável do homem que faz pensar que a natureza foi feita só para ele, e ver o Sol como se fosse verossímil, acendido exclusivamente para amadurecer suas nêsperas e enrepolhar suas couves!

            Da "Gazeta", de 5 de Agosto de 1939 - notícia recente, portanto - extraímos o seguinte com referência a Marte: "As observações reforçam a crença de que existe profusa vegetação naquele planeta. O astrônomo da Academia Real de Londres, Sr. H. Spencer Jones, mostra-se favorável a tal hipótese, acrescentando que a questão da vida animal em Marte "E' DE SOMENOS IMPORTANCIA". "As ligações entre a vida animal e a vida vegetal seriam muito mais estreitas do que entre a "não-vida e vida vegetal". Diz ainda o conhecido astrônomo: "As observações do planeta Marte tornam agora DIFÍCIL A DEFESA DA TESE de que a vida terrena é a resultante de algum ato especial e exclusivo da criação."

            E que diríamos de Vênus, planeta das mesmas dimensões da Terra, tendo suas montanhas e planícies, estações e anos, dias e noites tão semelhantes às nossas?

            Da mesma "A Gazeta", diário vespertino de S. Paulo, de 22- 1-1940, extraímos o seguinte, publicado sob o titulo - "Há vida em Marte": "Os canais de Marte foram fotografados eficientemente pela primeira vez, na história da astronomia. Como resultado a existência de vida em Marte parece mais provável hoje do que em qualquer tempo, desde que tão debatida questão passou a preocupar os cientistas" ... "Os astrônomos, continuou o Dr. Nassau, serão unânimes em classificar essas fotos como o maior triunfo astronômico de 1939"... "Os chamados canais de Marte, foram apontados pela primeira vez em 1877, pelo astrónomo italiano Schiaparelli"... "O falecido prof. Percival Lowell, fundador do observatório que tem o seu nome, em Flagstaff, (USA) , devotou parte de sua vida ao estudo desses canais, traçando mapas em que assinalou mais de 400 deles" ... "Todavia, muitos astrônomos persistiram em afirmar que tais canais não passavam de fruto da imaginação de seus defensores". E termina: "E isto é um argumento de peso para aqueles que estão convictos que são obras de irrigação, construídas para conduzir as águas dos seus degelos polares ao resto da superfície de tão falado planeta."

            Há quase 4 séculos Giordano Bruno era queimado vivo, em Roma; pelo crime de asseverar a possibilidade de vida nos outros planetas.



2 comentários:

  1. Parabéns Aron. O que alguns compreendem facilmente para outros é inverossímil, afinal de contas existem espíritos nos mais diversos graus evolutivos. Como disse Carl Sagan: "A ausência da evidência não significa evidência da ausência". Quando Jesus falou das muitas moradas na casa do pai deixou claro que existe vida fora da Terra. Quem tiver ouvidos para ouvir que ouça. Abraços.

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