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segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

17. 'As Vidas Sucessivas'



17

‘As Vidas
Sucessivas’

por  Adauto de Oliveira Serra

 Livraria Editora da Federação Espírita Brasileira

1943


DEUS – como deve ser compreendido


Tudo que há Deus a confessar me
[obriga;
E para crer num braço, autor de tudo.
Não só da fé ,mas da razão me ajudo.
Bocage


A impossibilidade em que me vejo de provar que Deus não existe,
revela-me a sua existência. Pascal

Os homens imaginam que os deuses nascem,
vestem-se e tem corpos e vozes iguais a eles.
Xenófanes( 600 anos antes de Cristo)

Hoje, quase 2000 anos depois de Cristo,
ainda os homens continuam a pensar da mesma forma...


Deus é a síntese das aspirações da alma humana.
Cristovam Camargo


            É impossível fazermos uma ideia, ainda que imperfeita e distanciada, do que seja Deus. Deus em si é indefinível e inexplicável, pois Ele não pode andar assim tão ao alcance da relatividade em que nos encontramos.

            Toda ideia que até agora católicos e protestantes tem de Deus, é simplesmente absurda, falsa e cheia de fantasias pueris.

            O Deus bíblico não resiste ao sopro da mínima análise: Fabricante da Terra como único planeta habitado; - nesse caso nós somos mais "inteligentes" do que Ele, pois, em pensamento, já criamos outros mundos, também povoados e superiores ao que habitamos; - criador de astros para ornamento do céu e deleite dos terrestres; - que precisou do barro para fazer o homem e da costela deste para criar a mulher; - que se sente cansado desse trabalho realizado em seis épocas, descansando no sétimo dia; - que deixou um deus antagônico do bem - Satanás - para perder a humanidade que Ele mesmo quer salvar; - que desdenha da oferta de Caim, irritando-o; - que se arrepende de haver criado o mundo; - que mora acima
das nuvens, olimpicamente sentado; - que amaldiçoa a serpente para que ela, andasse de rastro, como se fosse possível um animal sem pernas andar de outra maneira; e, sobretudo, que se encoleriza, que castiga eternamente, guardando ressentimentos, rancores e ódios.

            Um Deus nessas condições, assemelha-se a nós, com as nossas imperfeições e fraquezas.

            Por esses motivos. dizemos com A. Karr: "Cremos no Deus que faz os homens, e não no Deus que os homens fizeram".

            Deus é onipotente, é bom, é justo, é perfeito, é Infalível, é infinito e suas leis são eternas, imutáveis e também infinitas. A natureza aí está vigilante e Insubordinável, zelando pelo cumprimento fiel das leis divinas.

             O Deus bíblico é produto da obra humana, que empolga a imaginação sem convencer a razão. E sendo Deus perfeito e infinito. não pode ser analisado com tanta facilidade, porque se a perfeição e o infinito fossem explicados tão naturalmente, deixariam de ser a perfeição e o infinito. E se Deus não fosse infinito e perfeito não seria Deus.

            Spinoza, que teve a mais profunda visão de Deus, segundo uma frase de Renan, disse que é próprio do homem transferir a Deus seus próprios atributos e imperfeições. Assim fazendo, nós estamos criando um Deus à nossa imagem e semelhança, ao contrário do que afirma a Bíblia. Se fôssemos um triângulo, teríamos de Deus uma ideia triangular e se fôssemos um círculo, d'Ele teríamos uma noção circular. Os negros africanos não podem acreditar que exista um Deus branco...

            É ainda Spinoza - que foi excomungado por apontar as contradições bíblicas - quem nos auxilia, dizendo que tudo no universo se move mecânica e matematicamente, com exceção de Deus e da alma.

            Qual é a ideia, então, que devemos fazer de Deus? Deus, (em latim), segundo o grego, Zeus e no sânscrito, Di, significa Céu. Daí a ideia errônea de um Deus habitando sobre as nuvens, criando-se frases como esta: "o céu te proteja!". E os trovões seriam prenúncios da cólera divina, como os raios a manifestação do seu poder e as doenças o castigo para os filhos relapsos...

            Hoje, que todos esses fenômenos estão explicados cientificamente, podemos afirmar que a ideia de Deus não surge do medo conforme afirmação de Lucrécio na antiguidade e sim da esperança que alimenta o ideal da vida.

            Foi a ignorância quem criou um Deus imperfeito como nós. A história antiga está cheia de práticas e superstições. algumas ainda em voga, oriundas da falsa ideia de Deus. Uns criam no céu como Deus - Urano; outros, na Lua - Selena: outros, na Terra - Gea; outros, no mar - Poseidon,vou mitologicamente, Netuno. Ideias pagãs aguardando as cristãs.

            Os obstáculos que impedem a compreensão de Um Deus único, eterno, causa primária de tudo quanto existe, são os preconceitos, o orgulho, a sensualidade e a propensão politeísta do povo: favorecida com criações multiformes de "santos" e a diversidade cada vez maior do nome de Maria como "mãe" da humanidade .

            Ernest Renan, em sua "Vida de Jesus", pág.  62. nos dá uma ideia mais ou menos compreensível de Deus: "Jesus não tem visões; Deus não lhe fala como a quem está fora dele; Deus está nele; ele sente-se como Deus, tira do seu coração o que diz de seu Pai. Vive no seio de Deus por uma comunicação de todos os instantes; não O vê, mas ouve-O, sem carecer de trovões nem de sarça ardente, como Moisés; de tempestades reveladoras, como Jó; de oráculos, como os antigos sábios gregos; de Espirito familiar, como Sócrates; de Anjo Gabriel, como Maomé. A imaginação e alucinação de uma Santa Tereza, por exemplo, nada valem aqui. O alheamento do soufi que se proclama idêntico a Deus, também é coisa muito diversa. Não há um momento em que Jesus anuncie a sacrílega ideia de que ele seja Deus".

            A exemplo de Renan, definamos Deus com as nossas ações, sintamo-Lo amando o nosso próximo e adoremo-Lo no íntimo de nossas mais puras idealizações porque Deus sendo absoluto "constitui a negação de tudo o que é limitado e não pode ser nem descrito nem compreendido pelos processos ordinários do intelecto". - disse Buda.









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