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quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

11 (e final). 'Guia Prático do Espírita'




 11
 ’Guia Prático
 do Espírita’

por  Miguel Vives y Vives

3ª Edição

 Livraria Editora da Federação Espírita Brasileira
1926


COMO DEVEM SER OS CENTROS ESPIRITAS?

            Os Centros espiritas devem ser a cátedra do Espírito de Verdade, pois a não ter o espírito de luz a sua cátedra, teria sua influência o espírito do erro, e desgraçados daqueles espíritas que estão sob a influência do espírito das trevas, porque pouco, muito pouco adiantarão na via do progresso. Por isso se tem visto centros espiritas caírem em graves aberrações, porque, em consequência de sua falta de exame, ou por não seguirem uma conduta adequada às circunstancias, tem sido dominados por influências perversas e contraído tremendas responsabilidades, em lugar de progredir e aperfeiçoar-se.

            A Igreja católica diz que o púlpito é a cátedra do Espírito Santo; mas nós sabemos que não há santos no verdadeiro sentido da palavra, e sim espíritos mais ou menos adiantados, mais ou menos perfeitos, mais ou menos puros; sabemos também que o Espírito de Verdade pode, em circunstancias dadas, inspirar a um político, a um sacerdote, a um homem de ciência, sejam quais forem suas crenças, segundo a importância do assunto de que trate, que desenvolva, ou discuta, mas não por privilégio algum, e sim porque é o meio de que a Providencia se serve para fazer com que a humanidade progrida; é o meio que o AItíssimo emprega para que se vá mudando o estado de coisas que se hão de regenerar; mas nunca se poderá a si mesma atribuir nenhuma escola, nem religiosa, nem política, nem social,
a assistência exclusiva do Espirito de Verdade.

            Penso, entretanto, que os Centros espíritas devem ser cátedra do Espírito de Verdade, e digo-o, porque nos Centros espiritas se celebram sessões; nestas, como o sabem todos os meus irmãos, se recebem comunicações; são ditadas por espíritos, que inspiram ou dominam os médiuns; si esses espíritos não são de verdade, até onde serão levados os que forem dirigidos por espíritos do erro?

            Deve-se ter em consideração que as comunicações são ouvidas com suma atenção, e que a maioria dos irmãos que concorrem às sessões mediúnicas ligam muito mais importância e se conservam mais atentos à comunicação dos espíritos que às exortações do espírita mais entendido; de sorte que, se essas comunicações são inspiradas pelo Espirito de Verdade, justifica-se muito bem, e é de grande proveito, essa atenção; mas se o espírito que se comunica é leviano ou espírito do erro, não resta dúvida que a influência que exercerá sobre a maior parte dos presentes será perniciosa e prejudicial. Por isso deve-se procurar a todo custo que nos Centros Espíritas seja o espirito de verdade o que domine e exorte; e como não é o lugar nem a fórmula o que atrai o Espirito de Luz, é necessário guardar certas regras para atrai-lo e tornar-lhe agradável a permanência entre nós.

            Entendo, pois, que os Centros espíritas devem ser centros de amor, de caridade, de indulgência, de perdão, de humildade, de abnegação, de virtude, de bondade, de justiça, a fim de atrair os bons espíritos.

            O presidente ou diretor de um Centro espírita deve ser modelo em tudo, porque, se os demais irmãos que compõem o centro devem procurar observar uma conduta modelo, tal procedimento incumbe ainda mais ao que dirige e ensina; este deve ser em extremo paciente, nunca precipitado, não pode deixar-se levar por influências particulares, e sim agir segundo o bem geral dos irmãos que dirige; se é possível, deve estudar, no que a prudência indique, o caráter e tendências de cada um dos irmãos que estão sob a sua direção, para encaminhar, instruir e dirigir a cada um, segundo as necessidades de sua índole e sua maneira de ser; não deve olvidar que, achando-se investido de um cargo, que embora nada valha entre os homens, é de muita importância ante Deus, e que, se por desídia ou falta de previsão, que com cuidado possa ter, ou por falta de amor e de caridade entre os seus, se permite deficiências ou maneiras que possam prejudicar moralmente aos que dirige, serão altamente responsável.

            Não deve esquecer todo presidente ou diretor de um Centro espirita que tem na direção de seus irmãos um depósito sagrado, que um dia lhe produzirá grandes benefícios, se souber dirigi-los bem, mas lhe trará grandes responsabilidades, se não proceder como deve. Por isso todo diretor ou presidente deve estar sempre apercebido, tendo e conservando o seu pensamento muito elevado; deve ser amante da oração mental; deve conhecer perfeitamente a lei divina (Evangelho); deve recordar a abnegação, o sacrifício e o amor do Senhor e Mestre, a fim de em todas as ocasiões de sua existência ter presente a maneira de agir como espírita, para que possam admirá-los os que o seguem, e nunca censurá-lo; porque em seu centro ele é a luz, é o encarregado da Providência para dirigir os que o seguem, é o guia espiritual visível que tem os seus irmãos, para direção, instrução e consolo na presente existência, é finalmente o que pode evitar, aos que lhe são confiados, as quedas,
preocupações e trevas do mundo.

            Por isso, com sua doçura, seu amor e sua palavra persuasiva, sempre mansa e tolerante, deve corrigir todo aquele que possa ser causa ou motivo de que o espírito das trevas possa encontrar meios para intrometer-se nos ensinos e exortações que se recebam no centro; deve procurar que dentro do centro não se travem conversações sobre coisas levianas, muito menos sobre assuntos que possam redundar em crítica ou murmuração sobre irmãos ausentes; não deve esquecer que a caridade e o amor ao próximo nos obrigam a não tratar do ausente quando não se fale bem dele. Se acaso a necessidade obriga, proceda-se do mesmo modo como se fosse uma pessoa a quem se ama muito, sofrendo-se quando ela se desvia. Deve procurar todo presidente ou diretor que, ao abrir a sessão; os irmãos tenham consciência e estejam prevenidos do ato que vão realizar, a fim de não só evitar que más influências se introduzam, mas que se possa receber a influência e as instruções do Espírito de Verdade.

             Por outro- lado, os irmãos que concorrem e formam o centro devem ter obediência e respeito ao que Deus lhes deu para guia e consolo; que grande coisa é, encontrar na Terra quem nos encaminhe para o Pai e nos indique os escolhos da vida e nos afaste das quedas, que tão caras custam no futuro.

            Essa obediência, porém, esse respeito não devem ser nem fanáticos, nem obcecados, e sim o resultado das obras, praticadas pelo que tanto se esforça em servir-lhes de exemplo. O homem não deve, de forma alguma, abdicar da razão e do livre exame, mas deve ser respeitador e tolerante com o que trabalha para seu adiantamento, e não deve esquecer que ninguém pode atingir a infalibilidade; assim é que, se chega a notar deficiências ou distração no que dirige, nunca deve recorrer à murmuração, nem à critica, e sim à prudência, para saber o que há a relevar e o que há a corrigir; e se se dá o caso de que se tenha de adotar a exortação ou o aviso, é preciso não esquecer que, antes de praticá-lo, deve recorrer aos irmãos de maior critério, prudência e caridade, em consulta de sua opinião; e se resulta que a exortação se impõe, deve procurar-se ocasião e modos para agir com o tato e prudência que o caso requer, não esquecendo os serviços e trabalhos prestados pelo presidente ou diretor.

            No centro que assim agir, estou certo de que o Espírito de Verdade influirá em suas sessões de Espiritismo, e aqueles irmãos progredirão e prepararão para si um bom futuro. Tenho ouvido alguns irmãos dizerem: Que felicidade ter conhecido o Espiritismo!

            Por minha parte observarei: verdadeiramente, é uma grande vantagem, para empregar bem o tempo em nossa existência; mas também o ter conhecido o Espiritismo nos, traz grandes deveres a cumprir. Nós não podemos viver como o comum dos demais homens; temos de combater nossos defeitos, temos de adquirir virtudes, de viver preparados, de ser a luz e o exemplo, para que os homens admirem o Pai e se convertam e entrem na via de depuração.

            A luz, a calma, o consolo e a segurança do futuro que nos dá o conhecimento do Espiritismo são a parte doce e de bem-estar que nos dão tais conhecimentos; mas a correção que devemos fazer em nós próprios (porque ninguém é perfeito), o combater-se defeitos e afastar superfluidades e aperfeiçoar a virtude e a humildade, tudo isto nos leva a uma observação e a um trabalho constantes; porque, se nos extasiasse-mos a gozar das vantagens que nos traz o Espiritismo e esquecêssemos a correção e a aquisição de virtudes, que seria de nós?

*

            Prescrevi regras e modos de conduta para os presidentes e diretores de Centros espíritas; mas eu digo a mim mesmo: tu, que tantos anos tiveste para exortar e ensinar, cumpriste essas regras? Foste tão tolerante, amoroso, caritativo e humilde como devias ser? Foste calmo, discreto e abnegado como aconselhas? Duvido, todavia não posso afirmar nem negar neste caso; meus irmãos, os que tantos anos me observaram, os que tantos anos me seguiram, esses são os que podem julgar; creio que não me terão faltado deficiências; sei que tive defeitos; sei que quase nunca estive à altura de meu cargo; mas suplico a meus irmãos que me perdoem; suplico que, se alguma coisa observaram que não fosse correta, não me sigam; suplico mais, suplico que me observem, e se alguma coisa virem em mim que não seja bastante sã, correta e caritativa, que se em minhas palavras e em minhas obras não houver a caridade, a humildade e a justiça que deve haver, que me exortem, que me avisem; mas que o façam com caridade, que não esqueçam, em tal caso, que os amo e que desejo ser amado por eles; que me falem como fala uma mãe a seu filho, que eu farei o mesmo; e se os não atender da primeira vez, o que poderá suceder, sendo tão mau como sou, que não se cansem; farão verdadeira obra de caridade. Posso acaso julgar-me a mim mesmo? Posso crer que tudo faço bem?

            Para convencer-me, pois, necessito de vosso julgamento, conhecer vossa opinião; mas suplico que sejais amáveis e benévolos comigo, como eu o tenho sido convosco, que esta é a verdadeira caridade.

            Deus meu! Deus meu! Terei cumprido fielmente minha missão? Terei sido para meus irmãos o que devia ser? Terei sido bastante agradecido aos benefícios que vós, meu Pai, me tendes feito? Quando me lembro dos dias de minha incredulidade, quando me lembro daquelas noites passadas entre o sofrimento e a solidão, perdida toda a esperança, perdidos todos os seres caros, e comparo os dias de esperança, cercado de verdades e consolos, prodigalizados por aqueles mesmos que eu supunha perdidos; quando comparo os bens imensos, consoladores, adquiridos graças ao Espiritismo, meu amor se eleva a vós, meu Pai, e compreendo que todos os sacrifícios e todos os trabalhos realizados em beneficio de meus irmãos são mui pouca coisa ao lado dos bens que recebi de vós. Por isso, com toda a minha alma vos peço perdão de minhas deficiências, das faltas que, sem dúvida, terei cometido, da falta de abnegação que terei tido, de minha pouca humildade e caridade com meus irmãos, e vos peço luz, para que no pouco tempo que me resta a ficar na Terra, possa reparar e corrigir-me no que haja em mim de erros, de imperfeições, para que em minha insignificante missão vos possa ter demonstrado o meu reconhecimento e o meu amor; e, nos dias aziagos que tenham de vir, fazei, Pai meu, Bem meu, Grandeza minha, que me lembre do grande exemplo do Mestre divino, do Senhor dos senhores, do Puro, do Imaculado Jesus.

            Ah! quão ditoso serei, se nos dias de prova souber recordar-vos e amar-vos; quão ditoso serei, se nos dias de angústia vos souber contemplar, quando coroado de espinhos subis a encosta do Calvário com a cruz; quão ditoso serei Senhor meu, se nos transes de dor souber praticar como vós, sofrendo sem fazer sofrer a ninguém e demonstrando serenidade e calma, como vós demonstrastes em vossa crucifixão. Dai-me, Senhor, a verdadeira consciência da importância que tem para meu progresso o saber sofrer bem; dai-me, Senhor meu, amor de minha alma, a verdadeira consciência, o verdadeiro conhecimento do que significa o exemplo que nos legastes para nosso bem, para alívio de nossas aflições; dai-me a verdadeira convicção do que poderei alcançar, se for paciente, submisso, abnegado, caritativo, não para alcançar méritos, e sim para chegar à tranquilidade de meu espírito, que deseja o que não acho na Terra, sinto que o não encontro aqui; meu espirito deseja amor - verdade, fraternidade- verdade, indulgência-verdade, e compreendo que, para achar o que anhela meu espírito, não o posso encontrar na Terra e sim em outras moradas; por isso, Senhor de minha alma, vos peço luz, amor, paciência, virtude, para que, quando chegar a hora de partir da Terra, possa habitar entre os que se amam, se toleram, se afagam e seguem pelo caminho que vós nos traçastes, caminho que no fim nos levará às moradas de felicidade.

            Irmãos todos, - os que dirigis e os que escutais e aprendeis, os que tendes a missão de exortar e os que seguis segundo as instruções dos do espaço e dos da Terra, amai-vos muito, tolerai-vos e corrigi-vos com indulgência; fixai todas as vossas esperanças na vida que há de vir; sede abnegados e caritativos, moral e materialmente, até onde cheguem vossas forças, e não duvideis de que, acrescentando a tudo isso um grande respeito e admiração ao Pai, até onde possa chegar a vossa admiração, o Espírito de Verdade terá a sua cátedra em vossos centros e vos ensinará a seguir praticamente o que Deus nos enviou como modelo, e que, segundo as suas próprias palavras, é o caminho, a verdade e a vida; ele vos ensinará a fazer dos centros espíritas um éden de felicidade, onde reinará a paz dos justos, e sentiremos, já entre nós, o prelúdio da paz que há de vir; a nossa missão deslizará tranquila na Terra, comunicaremos a nossa paz e a nossa esperança a muitos, e seremos a luz do mundo, inspirados e educados pelo Espírito de Verdade.


FIM



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