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sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

2. 'As Vidas Sucessivas'


2

‘As Vidas
Sucessivas’

por  Adauto de Oliveira Serra

 Livraria Editora da Federação Espírita Brasileira

1943


O HOMEM ATUAL E OS PROBLEMAS ESPIRITUAIS

"O conhecimento é a asa que nos conduz ao céu.”
 Shakespeare


            Todas as religiões tiveram os seus fundadores e os Seus profetas, que deviam ser respeitados, seguidos e obedecidos pelos seus adeptos. Desde Moises, Elias, Zoroastro, Buda, Confúcio, Krishna, Maomé, as religiões constituíam rituais e práticas externas e internas observadas pelos seus sectários, algumas das quais fechadas em misterioso hermetismo para impressionar os neófitos .

            O Espiritismo não tem profetas e não teve fundadores. Apareceu com o mundo e suas leis. Kardec não fundou o Espiritismo, apenas codificou-o, separando o joio do trigo e unificando numa só doutrina, a moral evangélica, a filosofia e a ciência. Cristo - que não veio redimir nem salvar a humanidade, mas tão somente ensinar-lhe a salvação, também não foi o seu fundador, pois anteriormente à era cristã já estava generalizado o princípio da pluralidade dos mundos habitados, a transmigração das almas e os Espíritos já se manifestavam no plano material, como podemos ver através da Bíblia e nos livros mais antigos, como por exemplo. - "Os Vedas".

            Os Espíritos também não foram os Fundadores do Espiritismo. Eles vieram cumprir a promessa de Jesus sobre o Consolador, para relembrar aos homens a Doutrina que já haviam esquecido e deturpado.

            O Espiritismo nasceu com a criação do mundo e suas leis. Viveu, vive e viverá subordinado a elas, descobrindo-as e tirando as conclusões que servirão à diretriz do espírito humano. O Espiritismo é uma ciência experimental, baseada em fatos positivos, passíveis de análise, investigação e deduções. Estudar as leis que nos regem, esclarecer o homem em todas as suas finalidades, apontar o caminho certo e seguro que conduzirá à posse da Verdade. Eis em síntese o que visa a Doutrina Espirita.

            O homem atual não é mais o embrutecido das cavernas pré-históricas que vivia imerso em sua própria ignorância. O homem atual não é mais o supersticioso das eras remotas que vivia obscurecido, sob o jugo de terrores infundados. O homem atual não é mais o ente passivo da Idade Média, obrigado a crer no absurdo ou morrer torrado na praça pública. O homem moderno é inteligente, é ativo, é pesquisador; é enfim o homem racional. Desde que a física explicou o fenômeno atmosférico, desde que a biologia desvendou a origem das enfermidades, desde que as conquistas científicas dissiparam o véu do mistério dos "porquês" da existência, o homem venceu a ignorância, compreendeu que não existe o milagre nem o sobrenatural, dominando com sua inteligência reflexiva, todas as incógnitas que embaraçavam o seu progresso material e a evolução de seu espírito.

            O tempo dos dogmas, das imposições, da fé cega, do absurdo, do maravilhoso, já passou. O tempo agora é outro, outra é a humanidade. Todas as religiões fracassaram. E a prova mais formal, mais positiva, mais atual da falência das religiões é a guerra que neste momento (1) ensanguenta o solo europeu.

            (1) 2ª Guerra Mundial 1938-1945 (Do Blog)
           
            Quanto mais se falava em desarmamentos, quanto mais se discutiam tratados de paz, quanto mais se orava a Deus mais a guerra se tornava inevitável, até que irrompeu brutal, sanguinária, cruel, destruidora, dantesca. Países religiosos, religiões da maioria, povos religiosos empenhados numa luta terrível de extermínio: uns defendendo o seu território, outros conquistando o alheio.

            O direito submeteu-se à força e a força bruta voltou a imperar.

            Entretanto, em uma guerra jamais há há vencedores quando computadas as funestas consequências morais e as grandes perdas materiais dos países beligerantes. Toda guerra é lamentável, quaisquer que sejam os fatores que a determinem. Só uma doutrina moral capaz de entrelaçar novamente os sentimentos dispersos; só uma filosofia capaz de explicar ao homem as suas necessidades; só uma ciência experimental capaz de convencer o ceticismo e a indiferença humana, poderão restabelecer a tão almejada paz, unindo as raças humanas, desfraldando a bandeira da fraternidade, conquistando racionalmente todas as consciências livres e honestas.

            O Espiritismo é a Doutrina Moral fadada ao reerguimento dos afetos humanos; é a filosofia esclarecida para 'os que têm fome de Verdade; é a ciência positiva que alargará o horizonte das conquistas espirituais.

            Como Moral, o Espiritismo interpreta, em Espírito e Verdade, os ensinamentos sublimes do Evangelho, restaurando-o das cinzas do passado para ensinar ao povo a prática do bem, o desenvolvimento da virtude, a pureza de um ideal.

            Como filosofia ele explana e faz compreender a responsabilidade pessoal, desfazendo as desigualdades sociais, pela compreensão exata do seu passado, presente e futuro, assegurando a todos a certeza absoluta de que não há privilégios nem prerrogativas, penas ou recompensas eternas, tabus funestos ou maldições irreparáveis. Como ciência ele descortina, amplia, alarga, enriquece a ciência materialista com a ciência do espírito, descobrindo forças ocultas, curando enfermidades ignoradas, favorecendo o conhecimento dos mundos habitados e dos seus habitantes, tornando compreensíveis as leis do Universo.

            E quanto mais essas leis forem estudadas, compreendidas e, sobretudo, postas em prática, mais se compreenderá o Deus que as criou. E como Deus é infinito e eterno, essas leis são imutáveis e também infinitas.

            Com a moral evangélica o homem atual saberá amar o seu próximo; compreenderá que a sua evolução depende de seus atos e não de rituais, ou de mitos religiosos; terá uma noção mais clara, mais rica, mais nobre dos deveres a cumprir; será bom, útil, honesto e trabalhador e, neste sentido, veramente religioso, isto é, ligado a Deus.

            Com a filosofia espírita, o homem moderno resolverá todos os enigmas, satisfará todas as interrogações da vida humana, decifrará todos os problemas mais intrincados do destino, responderá, convincentemente, a todas as dúvidas do seu espírito insatisfeito.

            Com a ciência espírita alargará as noções do cognoscível ao incognoscível, ajudando o desenvolvimento das demais ciências positivas. Só assim o homem hodierno será o homem integral, Integral em corpo e espírito. Completo em matéria e perfeito em alma.

            O Espiritismo é pois, a ciência que satisfará todas as aspirações dos emaranhados problemas sociais. Foi um cientista, um físico como Crookes, foi cientista um astrônomo como Flammarion; foi cientista um médico como Gibier: foram cientistas Findlay, Zollner, Aksakoff, Delanne...

            Que se rasgue o véu de Ísis que inutilmente procura empanar os mistérios da vida; que se rompa o manto de Cibele que tenta em vão obscurecer as conquistas intelectuais; conheçam-se as ciências invisíveis para não ignorar o próprio Deus; conquistem-se as leis naturais que regem os mundos e nos governam; quebrem-se os laços do convencionalismo ridículo, que tolhe a nossa sinceridade; esclareça-se o sobrenatural; afaste-se a superstição; expliquem-se os milagres e sobretudo evitem-se, dissipem-se, afastem-se os fanatismos religiosos.

            Ajudai-vos, homens de boa vontade, a reerguer o nível moral e intelectual do Espiritismo, a fim de que esta Doutrina Moral, Filosófica e Científica não fracasse como fracassaram todas as religiões ritualísticas, dogmáticas e impositivas.

            Unamo-nos na defesa e propaganda do nosso ideal para que, pela renovação mundial que ressurgirá das cinzas do atual conflito, ressurja uma nova mentalidade, um novo conjunto harmonioso de sentimentos bons, uma nova humanidade capaz de empreender e enfrentar, convicta e livre, os seus próprios destinos.

            Só a ciência fará o homem livre, porque livre será no dia que tudo conquistar com seu próprio esforço. Bem razão tinha Kardec quando disse: "O Espiritismo será científico ou não subsistirá".

            Só então se cumprirá o que vinham anunciando os videntes da Gália, as pitonisas da Grécia, as sibilas do Paganismo, os profetas da Judeia, porque o Evangelho de Jesus foi restaurado para todos os povos, para todos os países, para todas as confissões filosóficas, unindo a humanidade num amplexo de AMOR fraternal.

            Só então, o homem moderno será livre, porque não mais escravo de suas próprias paixões e vícios. E tudo isso conseguiremos pelo estudo calmo, profundo e refletido da ciência espírita, analisando, observando, investigando todos os seus atos.



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