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terça-feira, 11 de dezembro de 2012

19b e final. 'À Luz da Razão' por Fran Muniz





19b
“À Luz da Razão”

por   Fran Muniz

Pap. Venus – Henrique Velho & C. – Rua Larga, 13 - Rio
1924



            E nem é outro o Consolador prometido para ensinar todas as coisas, senão a intervenção espiritual exercida no nosso meio, quando a época é a do apogeu para as conquistas intelectuais, e a do perigeu para os sentimentos morais.

            Propícios tempos, portanto, são estes para recebermos os mensageiros do Senhor. Lúcida está a nossa razão para apreendermos os seus ensinamentos e deles sentimos necessidade premente olhando o fundo do abismo a que iríamos de roldão parar, se a fúria dos nossos ímpetos de besta humana não tivesse de ser contida e sofreada.

            “Eu vou mandar-vos o dom que vos está prometido por meu “Pai”, disse Jesus aos apóstolos.

            Não é claro que eram os espíritos superiores que viriam assistir aos discípulos em suas missões? Não será isso um “dom” do Pai?

            O próprio Lucas afirma que escreveu o seu Evangelho por inspiração “dos que desde o principio viram as coisas com seus próprios olhos e foram os ministros da palavra”. Esses espíritos, pois, seriam demônios que inspiraram o evangelista sobre as narrações dos ensinos do Mestre?

            Quando os discípulos foram enviados a pregar a lei, Jesus lhes disse: “Não vos inquieteis com o que ides responder à presença dos governadores e dos reis porque o Espírito Santo falará em vós o que haveis de dizer”. Não é claro que os discípulos eram médiuns que seriam influenciados pela assistência dos bons espíritos?

            O Espírito Santo, tem-se que admitir por força de lógica, é um nome coletivo para exprimir a falange de espíritos luminosos, que são os anjos. Considera-lo Deus ou um terço de Deus que baixasse às paragens terrestres para vir ditar palavras aos apóstolos, seria presumir que o Senhor dos mundos, Todo Poderoso, fosse o mais pobre de poderes, que em ninguém mandasse, que de um servo, ao menos, não dispusesse para transmitir as suas ordens.

            A Escritura Sagrada nos diz ainda que, no devido tempo, os velhos profetizariam, os filhos teriam visões, os moços sonhariam, etc. É a mediunidade servindo de veículo às comunicações entre os vivos e os mortos que se está dando por toda a parte do mundo, porque estamos nos tempos preditos.

            Militas outras provas da lei de comunicação podem ser verificadas no Evangelho, por isso deixamos de cita-las aqui. Estas são bastantes para fazer compreender que se Jesus, os anjos, os profetas e os mortos se revelaram em aparições ou visões, falando e ensinando aos homens, fica definitivamente provada a comunicação entre o mundo visível e o invisível; portanto os que asseveram ser somente o diabo que se comunica procedem de má fé e faltam com o respeito até mesmo para com espíritos superiores.

            Essa descortesia tem concorrido para afastar os sensatos das doutrinas incoerentes, pois não é possível ser a inteligência de hoje equiparada a da época em que se organizou a igreja de Roma.

            Demais, começa o tempo do progresso a substituir o do atraso e a protervia (petulância) cede lugar à ciência.

            Na Espanha, um grupo de padres abandonou a igreja romana e constituiu uma Associação Espírita dando publicidade a todas as hipocrisias eclesiásticas no livro “Roma e o Evangelho”.

            Por toda parle sucede o mesmo, quase diariamente, com os que, ávidos de liberdade e fartos de servir ao papa, mandam a religião às urtigas.

            Aqui, nas plagas de Santa Cruz, o Catolicismo caminha num declínio espantoso. É que o povo vai perdendo a fé nos sacramentos remunerados. Os homens vivem cansados de dar dinheiro à igreja, e as mulheres, entediadas de ouvir latim, desertam os templos.

            Os seminários permanecem às moscas, porque a mocidade atual é animada por espíritos clarividentes que buscam a liberdade e o progresso pelo trabalho. A batina é o ergástulo da inteligência e o padre já se torna um motivo de chufas e pilherias para os próprios que vão às igrejas.

            É surpreendente o número de sacerdotes romanos que, atualmente, frequentam centros espíritas.

            São os que, confundidos por se verem ministros de Deus, preferem se tornar agora discípulos de Cristo.

            À proporção que o Espiritismo intensifica as suas fileiras, a religião de hóstias e rosários vê, atônita, debandar o seu exército. É a vitória da luz contra as trevas, “separando o joio do trigo” e “os bodes das ovelhas.”

            De todos os lados. atritam-se as armas do progresso com as do atraso e, de quando em vez, estrondeia do Vaticano a voz de comando:

            Avante! Firam! Firam com a palavra escrita e falada, visto não ser mais possível matá-los com o veneno e a fogueira!

            Então cresce o fervet opus. O pavor domina e encoleriza todas as batinas e batinistas. Sua eminência resolve esmagar o “Colosso” atirando-lhe bulas ou bolas de papel. Irrisão! O “Colosso” sobe sempre, o “Colosso” se tornará infinitamente grande e um dia, símbolo realizado da escada de Jacó, ligará terra e céu - o homem e Deus.

            Em todos os templos ribombam as vozes iracundas dos vassalos do papa, que esquecendo as palavras e os exemplos de amor e perdão do Cristo, atassalham (fazer em pedaços) a honra e a dignidade dos espíritas, chamando-os de bandidos, ladrões e quejandos (similar) epítetos (postos de lado).

            Outros publicam “Catecismos anti espíritas” para derrocar a nova doutrina, mas em vez de combate-la com a ciência e o raciocínio, apresentam estas armas ferrúginas e bolorentas: Adão e Eva, serpente do Paraiso, diabos e milagres.

            O livro é trocista e mal educado, pois nele, os espíritas são também acoimados de broncos, estúpidos, desonestos e até de coiceiros (pessoa grosseira que responde com maus modos) . É um vocabulário próprio do seu autor de batina. Em todo caso, pode estar certo de que alguma coisa conseguiu:  Acumulou a compaixão de todos os detratados.

            Os beatos obedecem, também, é imposição romana e entram na liça.

            Aparece para logo os ”Casos reais a registrar” com o fim de demolir a Ciência de Luz. O autor, porém, não foi mais comedido que o seu colega de estola: distrata, igualmente, os espíritas e faz pilhéria de pantomina. Contudo alguma coisa do opúsculo se aproveita, ficando como se fica sabendo de proclamar o autor! “que os seus talentos são já bastante conhecidos”, que é erudito em latim e “sobrinho de um bispo”. Retire a maior utilidade desse parentesco e, dos outros dons, são os nossos votos e ainda nos sirva o ensejo para louva-lo na habilidade revelada do aproveitamento do tempo quando se inculca sumidade médica para melhor reclamo do seu consultório.

            Mas, apesar dessa pugna ingente, titânica, encarniçada, o Espiritismo recrudesce, avulta, fortifica-se, irrompe, e, por toda a parte se estende: invade templos, devassando trevas e mistérios, penetrando até no próprio Vaticano onde foi levado por um médico de Sua Santidade - o Dr. Lapponi. 

*

            É o sinal dos “tempos” preditos. E o Brasil está inscrito entre as nações para ser um dos pioneiros no advento espiritual. Proclamamos isto, sem ligação alguma a ideais nacionalistas, que nos seria vedado possuir pelos conhecimentos que temos da reencarnação; mas porque não há negar que nenhum outro povo nos excede em sentimentalismo - o que já quer dizer Espiritualismo. Dentro em pouco o nosso caro país dará o exemplo ao mundo, mostrando que não é por acaso que se acha sob a égide de um CRUZEIRO DE ESTRELAS.

*

            Mas, elevemos os nossos corações!..

            Ofertemos este livro aos irmãos de todos os credos.

            Há de nossa parte a maior sinceridade na dedicatória. Uma ou outra vez, sentimos bem, a nossa voz aumentou de timbre. Teve exaltações. Que nos perdoem estes excessos e os atribuam só à imperfeição humana que se deixou tomar de assomos de vaidade, arrogando-se primazia de irmão mais velho, a quem os outros devem ouvir os ralhos.

            Dos sumos pontífices da igreja católica não há que apelar para a sua misericórdia: Excomungados somos por atos e pensamentos.

            Louvado seja o Senhor por tanta graça! Louvado seja o Amantíssimo Pai que permite ao mais obscuro dos filhos executar os seus conselhos, humilhando-se no amor aos inimigos: Por eles roga, por eles intercede a sua fraca súplica.

            Claridade, Pai, em nossos espíritos e possa em breve chegar até Vós o cântico de amor desferido em prece, uníssono de sentimento, acorde na harmonia do texto bíblico “Glória a Deus nas alturas e paz na Terra aos homens de boa vontade!” 


Fim






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