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terça-feira, 4 de dezembro de 2012

14. "À Luz da Razão" por Fran Muniz



14
“À Luz da Razão”

por   Fran Muniz

Pap. Venus – Henrique Velho & C. – Rua Larga, 13 - Rio
1924


O MATRIMONIO

            O casamento é ainda outro manancial inesgotável que, disfarçado pela benção nupcial, vem, desde há muito, encanando ouro para as arcas do Catolicismo.

            Antes, porém, de comentarmos a nulidade do matrimônio religioso, ouçamos o que diz a igreja a respeito:

            “0 matrimônio santifica a união entre o homem e a mulher para darem filhos à Igreja e a Cristo, pelo batismo e pela fé.”

            Logo, para começar, a doutrina falta à verdade, porque há milhares de filhos, cujos pais foram santificados pelo matrimônio, e que não querem saber da igreja.

            Outros há, até, que nem ao Cristo se submetem; portanto a igreja falhou na sua previsão.

            “...e sem este sacramento, continua a igreja, não passa tal união de torpe concubinato, diz s. s. papa Leão XIII” (1)

            (1) Goffiné -Manual do Christão, pág. XXXVIII.

            Quando a sociedade estiver mais esclarecida, mais civilizada, obrigará o Catolicismo a retirar da publicidade semelhante insulto atirado contra a honra dos casados civilmente.

            É o cúmulo do desprezo pela dignidade de um povo!

            “A igreja improva com toda a energia os casamentos de católico e protestante: quando porém, por graves motivos, os autoriza, impõe-lhes condições que atenuam o perigo da salvação, tais são as seguintes: 1ª - os filhos que nascerem serão todos educados na religião católica: 2ª- o consorte não será levado a terras onde não possa praticar o seu
culto: 3º - o católico fará toda a diligência para reduzir o consorte ao catolicismo.”. (1)

            (1) Obra citada, pág. XXXVIII.

            Como se vê, o catolicismo procura, por todos os meios, apertar o círculo de ferro contra os que se deixam imbuir pelas suas manhas. Tais condições impostas equivalem a tolher a liberdade de atos e pensamentos de cada um, implantando a divisão de povos e raças e, por conseguinte, impelindo-os ao erro, ao ódio e ao crime.

            É a mania tola e absurda de que todo o mundo há de ser católico, quer queira quer não queira. Uma reminiscência, afinal, dos tempos do “crê ou morre”.

            Esquece-se, porém, a igreja, de que a humanidade, não podendo mais ser assada em suas fogueiras, irá, pouco a pouco, fugindo de dogmas tão antiquados, o que lhe valerá salvar a sua inteligência e o seu dinheiro.

            Mas falemos ainda desse “torpe concubinato”, em que vivem os casados fora da casa de S. S. Leão XIII, no que vale muito a pena insistir.

            Diz a igreja que o casamento religioso é o único legal, por ser abençoado por Deus, representado num ídolo de gesso ou coisa que valha, no altar, ante o qual se realiza a união conjugal.

            Primeiro que tudo, devemos recordar que só alguns séculos após a era cristã, foi o casamento considerado pela igreja como exclusivo privilégio seu e, prevalecendo-se ela da aceitação natural daqueles tempos, fez dele uma cerimônia aparatosa e ostensiva, como são todos os seus atos.

            Cumpre, todavia, perguntar à igreja: Antes dela tomar a si o casamento a seu modo, todos os povos viviam em concubinato, como os que se casam pelas leis civis?

            Por outro lado, torna-se preciso saber, até que ponto a igreja reduz a posição de um Pretor.

            Pois não é ele revestido de plenos poderes para executar a lei de uma Nação?

            Pensamos que sim, porque essa lei tem de ser cumprida por todos os seus habitantes, enquanto que a da igreja só será pelos que a aceitarem.

            Então a igreja tem a audácia de denominar - torpe concubinato - um ato legal de um governo?

            Além disso, com que autoridade fez ela também do casamento uma propriedade sua?

            No Evangelho não se encontra o mais leve vestígio dessa instituição, nem sequer consta que Cristo tivesse casado alguém, a fim de que a igreja, ao menos, pudesse expandir o seu vício de imitar o Mestre para gáudio e admiração dos crentes.

            Demais, se Deus só abençoa os esponsais religiosos, porque há, então, tantas uniões infelizes e até mesmo desgraçadas, entre as que se realizam sob os auspícios da religião?

            Conhecida a onisciência de Deus, é claro que a sua benção não seria dada para depois sofrer anulação.

            Não podendo, portanto, prevalecer esta hipótese, o que dirá a igreja para explicar as desventuras de tantos matrimônios... abençoados?

            Depois, que entende a igreja por bênção de Deus? Supõe, porventura, que qualquer ser humano pode merecer dele tão suprema graça pelo simples fado de ser católico?

            Forte banalidade! A igreja está muito distanciada do progresso e precisa avançar nele para ficar sabendo que a benção de Deus é uma felicidade eterna que só a merecem aqueles que estão já elevados aos mais altos páramos da perfeição, visto que nunca mais poderão errar.

            É muita tolice acreditar que Deus possa abençoar criaturas que logo ao deixarem o altar, vão praticar, às vezes, atos indignos e até infames...

            O casamento nada mais é do que um contrato estabelecido pelas sociedades e indispensável à moralização da humanidade, visto que, sem essa medida, a lei de procriação seria cumprida com depravação: a honra desapareceria da face da Terra e a mulher seria um simples objeto para as satisfações impúdicas dos depravados, quando, perante Deus, ele tem o mesmo valor que o homem.

            Seria o que acontece com os que, fingindo castidade, se tornam celibatários para clandestinamente cumprirem essa lei da natureza em prevenção da qual, a Escritura nos diz:- “O Senhor disse a Moisés: Não é bom que o homem seja só.”

            Esse contrato, para a união de dois seres, porém, não se realize como se supõe, pelo fato de ambos se amarem reciprocamente: mas porque são, em geral, atraídos um para o outro, por uma força oculta que se chama magnetismo.

            Vejamos se isso pode ser admissível, sem a pecha de absurdo, tão usada pelos ignorantes.

            O magnetismo é a lei principal da natureza, porque tudo no universo é magnetismo.

            É ele que delimita a lei de atração entre os planetas; que mantém os Inumeráveis mundos na amplidão infinita. A rotação e translação da terra; a força centrífuga e centrípeta, são consequências do magnetismo, variando os nomes, apenas, para distinguir as espécies. É o magnetismo que faz crescer o arbusto e florescer o prado; que dá perfume ao lírio, variedade às cores é instinto aos animais; que regularize as fontes e dirige as águas.

            É por ele que obtemos a matéria para o nosso corpo e nos atraímos uns aos outros; é ele, em suma, a vida e o agente universal.

            Pela atração magnética, por tanto, é que as criaturas se procuram e se unem. A prova disso, é ver-se, por exemplo, indivíduos deixarem milhões de patrícios seus para virem casar com estrangeiros, de Nações, às vezes, bem distantes.

            Isto nos faz refletir que há uma força, uma razão precedentemente traçada para essa união.            

            Assim, exprime-se uma verdade, quando se diz que – “casamento e mortalha no Céu se talha (corta).”

            Há, todavia, casamentos que nulificam essa atração e rescindem a convenção contraída anteriormente, porque todos temos o livre arbítrio de fazer, ou deixar de fazer o que nos aprouver.

            É então quando se dá o matrimônio pela vaidade de se conservar o nome de família; quando se faz dele um comércio, visando o interesse mais do que o amor, etc., e que, geralmente, são sempre desastrosos.

            Fora disso, o casamento pode ser a união de dois espíritos que se amam desde anteriores encarnações e reencarnam, embora em lugares diferentes, para mais tarde, unindo-se sob a força da lei natural, constituir família e, desse modo, estreitar os laços da fraternidade que será um dia universal.

            Esse é um casamento feliz, mesmo sem a benção do padre.
             
            Outras vezes, acontece que espíritos inimigos, reconhecendo no espaço que sem o amor não pode haver o progresso de que eles necessitam para se elevar a mundos melhores, pedem a reencarnação para se unirem pelo casamento, a fim de que o ódio seja substituído pelo amor, que é aumentado consideravelmente, com o nascimento dos filhos,

            Se eles conseguem vencer a luta, tornando-se dóceis e amorosos entre si, teremos ainda um casamento feliz, mesmo não sendo religioso; se, ao contrário, esquecendo eles o compromisso assumido na vida espiritual, se deixam tomar de assalto pelo antigo ódio interrompido e se atiram novamente à luta, então temos aí um casamento infeliz, ainda que haja sido até abençoado pelo papa.

            O casamento, pois, nada mais é do que isso, variando, apenas, de condições.
Muitos, ainda, se submetem ao matrimônio do Catolicismo, devido à retumbância e ostentação dos aparatos, que não raras vezes acabam em misérias e desventuras para os consortes.

            Benção existe, de fato, no casamento, mas, ao contrário do que se supõe, ele parte dos nubentes para o padre, no célebre envelope fechado.

            É muito natural, pois, que a igreja procure envidar todos os esforços para manter o seu manancial aurífero, com essa tabela de benção de Deus.

            A observação, porém, de fatos diários, em que os cônjuges abençoados se separam escandalosamente, e, não raro, tragicamente, vem infirmar a validade de tal sacramento, aliás, dos mais caros que a igreja impinge aos seus fiéis.





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