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quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

1. 'Guia Prático do Espírita'




1
 ’Guia Prático
 do Espírita’

por  Miguel Vives y Vives

3ª Edição

 Livraria Editora da Federação Espírita Brasileira
1926


PREFACIO

            Não sou escritor, mas sou médium; pelo que nunca poderei ter a pretensão de haver feito alguma coisa de bom por mim só; pelo contrario, se alguma coisa sair da minha pena  que mereça a aprovação de meus irmãos, será e é dos bons Espíritos que me assistem; tudo quanto se note ou se tenha notado de deficiente no que haja escrito e escreva, é obra da minha inteligência; espero, porém, que os meus irmãos espiritas, que tão indulgentes têm sido comigo, continuarão a sê-lo como até agora, sabendo compreender o bom, que se deve aos espíritos e o insuficiente, que é meu.
           
            Assentes estes princípios, não hesito em entregar-me à inspiração, depois de havê-lo pedido muito ao Pai ao Senhor e Mestre e aos bons Espíritos, a fim de poder escrever um Guia Pratico, para que os espiritas tenham no primeiro ensejo que se lhes ofereça e, sem grande trabalho, onde consultar nas diferentes situações da vida.

            Todos nós sabemos que no muito que há escrito sobre o Espiritismo, e principalmente nas obras fundamentais de Allan Kardec, se encontra o suficiente para achar a regra de conduta que nós os espiritas devemos seguir; pelo muito que há a ler, porém, são muito poucos os espiritas que se dão ao trabalho de estudá-la, talvez por falta de tempo, ou por outras circunstâncias de que a vida está cheia.

            Assim, pois, neste Guia Prático do Espírita encontrarão meus irmãos alguns conselhos que lhes podem ser úteis seguir para achar a paz na presente vida e alcançar uma boa posição no espaço.

            Já disse que sou médium e o tenho provado de tal maneira, que nenhum dos meus irmãos de Tarrasa (x) e de fora, que me tenham ouvido falar alguma vez, o duvidarão. 

(x) Do Blog – Para saber mais sobre Tarrasa leiam  “Memórias do Padre Germano” Edição FEB.

            Meu Deus! Que era eu antes de ser espírita? Um ente verdadeiramente esquecido por todos e incapaz de tudo; criatura tal, que me achava sumido na mais critica e obscura situação em que um homem, nos dias mais formosos da sua juventude, se pode encontrar. Tinha perdido a saúde; haviam-se separado de mim todos os meus amigos; não tinha forças para trabalhar, tendo estado cinco anos sem poder sair de casa; que tal maneira que a não ser a proteção dos pais de minha primeira esposa, aos quais nunca serei bastante agradecido, teria que refugiar-me num hospital. Havia cinco anos que esta situação durava, quando uns cunhados meus se mudaram de Sabadell, em cuja povoação tinha vivido desde a minha infância, para Tarrasa, e por misericórdia, mais que por outra causa, me levaram, a ver se a minha saúde mudaria.

            Era no ano de 71 do século passado (1871) ; ao cabo de meio ano de viver em Tarrasa; fui um dia a Sabadell, onde meu irmão carnal me falou de Espiritismo. No momento pareceu-me aquilo causa muito extraordinária; mas, como meu irmão me falou tão formalmente e eu sabia quanto ele era sério e reto em todas as circunstâncias de sua vida, compreendi logo que algo havia de verdade no que me dizia; pedi-lhe algumas explicações e ele por única resposta mandou-me as obras de Allan Kardec. Ler as primeiras páginas e compreender que aquilo era grande, sublime, imenso, foi obra de um momento. Meu Deus, exclamei, que se passa em mim?

            Eu, que tudo havia renunciado, acho agora que tudo é vida, que tudo é progresso, que tudo é infinito; caí prostrado e admirado diante de tanta grandeza e tomei a deliberação de ser espirita, de verdade, e de estudar o Espiritismo e empregar todas as minhas forças em propagar uma doutrina que me havia dado, de novo, a vida, e me havia ensinado, de maneira tão clara, a grandeza de Deus.

            Comecei a estudar e a propagar o Espiritismo; com alguns irmãos fundamos o Centro Espírita de Tarrasa “Fraternidade Humana”. Como durante minha enfermidade me havia dedicado ao estudo de medicina, nos poucos momentos que os meus sofrimentos me permitiam, comecei a curar enfermos, e foi tal a proteção -que me foi concedida que muitas vezes os meus doentes ficavam curados antes de tomar remédios, podendo citar alguns casos de curas surpreendentes nestas condições.

            Como a minha propaganda espírita produzia os seus efeitos, adquiria cada dia novas adesões, e começavam a manifestar-se ódios implacáveis; no entretanto, a minha cabeça era um vulcão de ideias. Antes de ser espirita era incapaz de pronunciar uma pequena oração ante uma dezena de pessoas; depois de ser espírita cobrei valor e serenidade tais que nada me impressionava nem me impressiona.

            Para demonstrar o poder da mediunidade direi que fui dez anos médium falante semi inconsciente; durante esses dez anos não estive numa só festa em que não recebesse e desse comunicação, gozando durante todo esse tempo de saude muito regular.

            Depois desse período tive que deixar a mediunidade, por causa de uma enfermidade que me impediu de assistir a reuniões espiritas, cerca de quatro meses, único período de tempo em que deixei de assistir a elas durante os trinta e dois anos que conto como espirita, ora como médium, ora como presidente de sessões; e ainda hoje a minha inspiração é tão potente e tão clara que basta estar numa sessão espirita para que me sinta inspirado para falar todo o tempo que quero.

            Para dar uma prova do que afirmo, vou contar o que se deu comigo pelo Natal do ano passado.

            Fazia vinte e cinco anos que eu recebera uma comunicação muito extensa e muito expressiva sobre um dos pastores que foram adorar o Messias no estábulo de Belém.

            Aquela comunicação deixou muito impressionados os irmãos que se reuniram no Centro de Tarrasa naquela época. Dias antes do Natal, um dos irmãos que ainda se recordava daquela comunicação trouxe-a  à lembrança; vieram-me, pois, desejos de possuí-la; logo que me senti impulsionado, pus-me a escreve-la, e em duas horas escrevia tão perfeito, que os que a tinham ouvido naquela época, exclamaram admirados: é igual; não falta nem um conceito, nem um detalhe! Digo isto para provar a força da minha mediunidade. Oh!, meu Deus! Quão grato vos devo ser! Quão grandes são vossos desígnios! foi quiçá necessário que eu passasse por uma grande e prolongada aflição antes que me viesse a luz do Espiritismo! se tivesse gozado boa saúde, ter-me-ia engolfado nas distrações do mundo, e distraído e preocupado com as coisas da Terra, não teria feito caso daquilo que hoje tanto amo e tanto me tem servido e me há de servir no futuro. Graças, meu Deus; meu Onipotente, meu Soberano! Hoje reconheço vossa grandeza, vosso amor, vossa previsão, e reconheço que a vossa providência chega a todos e que sempre dais a todos e a todas as coisas, o melhor, e o mais justo. Eu vos amo, vos aplaudo, vos adoro com toda a minha alma, e o meu reconhecimento para convosco é tamanho que não tem limites; vejo a vossa grandeza em toda a parte e em tudo vos admiro, vos amo e vos adoro; e sobretudo onde vejo mais sublime a vossa grandeza é na lei de humildade que estabelecestes para que nós os homens cheguemos a nos amar como verdadeiros irmãos.

            Quando medito sobre o drama do Calvário e vejo o Ser maior que veio a encarnar-se neste mundo, submetido a tanto sofrimento e a tanta dor, exclamo:

            - Se Aquele que era e é mais de que todos que habitamos neste mundo, não veio para cingir uma coroa e empunhar um cetro, mas para ser o mais humilde, o servo de todos, o que curou as doenças da humanidade, o que sofreu todas as impertinências, todos os suplícios e deu tão grande exemplo de paciência, humildade e perdão, e que é Pai, oh! Vós, Senhor, não admitis categorias nem grandezas humanas, nem ostentação, mas virtude, amor, pureza, sacrifício, caridade; e a vossa lei exalça o abatido, consola o aflito, e o mais humilde é o maior se é virtuoso e bom.

            Então, busco a lei proclamada pelo Humilde dos humildes, o Bom dos bons, o Pacífico dos pacíficos, o que por sua elevada conduta é o Rei de todos os corações justos, o que dirige todas as consciências puras, o que encaminha todos os que queremos ir a Vós; por isso eu o admiro na lei proclamada, nos exemplos dados, e me inspiro nas palavras que pronunciou; e como ele disse que devemos perdoar, perdoo todas as ofensas; e como ele disse que devemos amar, amo a todos os meus irmãos; e como ele disse que o que quisesse segui-lo devia carregar a sua cruz, eu a carrego sem me queixar e a sua figura me parece tão grande, que, depois de Vós, meu Pai, é Ele o meu amor, a minha esperança, o meu bem, o meu consolo! Senhor! Seguindo-vos, acharemos a nossa felicidade, o nosso gozo, a nossa vida eterna; seguindo-vos, sentiremos paz na alma, porque seremos pacíficos e humildes; seguindo-vos, teremos nosso espírito cheio de esperança; por isso vos sigo, como o criado segue o amo, como o inocente segue sua mãe, e quando me acabrunhem os sofrimentos, olho-vos cravado na cruz e sigo firme até o Calvário da minha vida, não afastando de mim a recordação do grande exemplo que nos destes e levando em meu coração a gratidão e o respeito de que sois credor por tão sublimes virtudes praticadas por Vós, para nos ensinar o caminho que conduz à felicidade eterna.

            Peço indulgência ao leitor por haver-me alongado nas considerações anteriores; consideraria, porém, falta de gratidão e de respeito ao que tudo pode, se antes de entrar no assunto do Guia Prático do Espirita não desse testemunho de amor e de adoração ao Pai e de gratidão e submissão ao Senhor e Mestre.

     Miguel Vives



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