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segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Acenda a tua lanterna




Acenda a
tua lanterna
por José Brígido
(Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Nov 1946

            Pega teu arado, ó homem, e lavra o campo adusto que te espera, solícito. Fecunda o seio da terra com a semente da iniciativa própria e ela te recompensará o esforço com uma colheita farta. Rasga o solo generoso, fere-o com a enxada do trabalho honesto e a terra, em vez de permanecer indiferente, transformará em frutos sazonados as dores que lhe causares na santa faina da lavoura. Nós somos filhos da terra e ela, mãe generosa, nos dá tudo de que necessitamos para viver. Não se importa com a nossa ingratidão, porque é mãe, e quando a nossa vida carnal se extingue, é ela que nos guarda os despojos, como num amplexo de piedosa ternura. Terra bendita, mãe desvelada, que os homens, filhos desnaturados, não sabem prezar como devem! És também o campo de experiências em que se adestram os Espíritos para jornadas futuras! Tudo nos dás sem pedir contas, mas, na conformidade das leis que regem as coisas, tudo retoma naturalmente às tuas entranhas para que no-lo devolvas em outras oportunidades!..

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            Ó companheiro! Abandona essa atitude egoística que te faz olhar a vida às avessas. Se não o fizeres, dentro em pouco estarás palmilhando a senda escura dos desiludidos. A vida acabará por perder para ti o colorido. E o teu coração, em vez de se fortalecer com os impulsos sadios da fraternidade, se petrificará num individualismo doentio. Pensas demasiadamente nos teus interesses e não te lembras nunca de que o mundo não é só teu e que não estás sozinho no mundo. Cada criatura é como que um elo de imensa cadeia. Todos nós nos achamos mais presos uns aos outros do que imaginas. Os preconceitos humanos não têm força para alterar ou sustar as leis universais. Muitas vezes, um pária se acha mais unido a um potentado do que parece... Portanto, companheiro, para um instante, um instante apenas. Olha para os outros homens com serenidade, sem rancores nem prevenções, porque os sentimentos inferiores são deletérios. Olha para a vida sem indiferença e sem ódio, porque a vida só é má quando os homens querem que ela se abastarde ao contato com a maldade que eles praticam ...

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            Não adianta procurares a felicidade. Ela somente poderá aproximar-se de ti através do trabalho, do amor, da caridade, do perdão e da renúncia. Todos somos viajores demandando um ponto único. De nós dependerá o destino que nos espera, porque somos nós que o construímos, com os nossos pensamentos e os nossos atos. Cada um de nós forja, segundo a segundo, minuto a minuto, hora a hora, dia a dia, o seu destino. A Humanidade é uma caravana que segue para o Desconhecido: uns vão mais depressa, outros mais devagar, outros se atrasam no caminho... Mas todos chegarão um dia ao fim da jornada. Por conseguinte, companheiro, atenta bem para o que fizeres hoje, a fim de que o amanhã te seja benéfico.

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            Diz um provérbio árabe: "Quem não sabe que não sabe, é tolo. Foge dele. Quem não sabe e sabe que não sabe, é humilde. Ensina-o. Quem sabe e não sabe que sabe está dormindo. Acorda-o. Quem sabe e sabe que sabe, é sábio. Segue-o." Mas, por Maomé, como poderemos fugir dos tolos, se seu número é infinito?!

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            Deve-se a Marco Aurélio esta sentença lapidar: "Não há refúgio mais tranquilo do que aquele que o homem encontra na sua própria alma". Essa tranquilidade, porém, depende das condições morais da alma. Faze o bem, cumpre teu dever, cultiva com carinho o sentimento de fraternidade cristã, e tu alma será esse refúgio de que falou Marco Aurélio. Se, no entanto, deixares que te envolvam sentimentos inferiores, tua alma, em vez de se tornar um abrigo, te parecerá uma Geena presa de chamas eternas... Busca desde hoje a paz, construindo-a com o que há de melhor dentro de ti. Não esqueças do que ensina Alexis Carrel: "Quer a inteligência, quer o senso moral se atrofiam, como os músculos, por falta de exercício".

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            Fazendo somente a ti todo o bem, não serás feliz. Se, entretanto, o fizeres a outrem, esquecido de ti e sem aguardares reconhecimento, a vida se desvendará aos teus olhos e compreenderás onde se encontra verdadeiramente a felicidade.

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            Acende a tua lanterna e põe-te a caminho. A jornada é longa, o caminho áspero e a carga pesada. Mas começa desde agora a caminhada, evitando os atalhos. Neles se esconde o perigo.

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