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sábado, 1 de setembro de 2012

A Surpresa do Crente





A Surpresa do Crente

Reformador (FEB)
Out 1946

Irmão X
por Chico Xavier

            O devoto, feliz, experimentava a doce comoção do espetáculo celeste. Mais que a perspectiva do plano divino, porém, via, extasiado, o Senhor à frente dele.

            Chorava,  ébrio de júbilo. Sim, era o Mestre que se erguia, ali, inundando lhe o espírito de alegria e de luz.

            Sentia-se compensado de todos os tormentos da vida humana. Esquecera espinhos e pedras, dificuldades e dores.

            Não vivia, agora, o instante supremo da realização? não esperara, impacientemente, aquele minuto divino? suspirara, muitos anos, por repousar na bem-aventurança. Recolhera-se em si próprio, no mundo, aguardando aquela hora de imortalidade e beleza. Fugira aos homens, renunciara aos mais singelos prazeres, distanciara-se das contradições da existência terrestre, afastara-se de todos os companheiros de humanidade, que se mantinham possuídos pela ilusão ou pelo mal. Assombrado com as perturbações sociais de seu tempo e receoso de complicar-se, no domínio das responsabilidades, asilara-se no místico santuário da adoração e aguardara o Senhor que resplandecia glorificado, ali, diante dos seus olhos.

            Jesus aproximou-se e saudou-o.

            Oh! semelhante manifestação de carinho embriagava-o de ventura. Sentia-se mais poderoso e mais feliz que todos os príncipes do mundo, reunidos! ...

            O Divino Mestre sorriu e perguntou-lhe:

            - Dize-me, discípulo querido, onde puseste os ensinamentos que te dei?

            O crente levou a destra ao tórax opresso de alegria e respondeu:

            - No coração.

            - Onde guardaste - tornou o Amigo Sublime - minhas continuadas bênçãos de paz e misericórdia?

            - No coração - retrucou o interpelado.

            - E as luzes que acendi, em torno de teus passos?

            - Tenho-as no coração - repetiu o devoto, possuído de intenso júbilo.

            O Mestre silenciou por instantes e indagou, novamente:

            - E os dons que te ministrei?

            - Permanecem comigo - informou o aprendiz - no recôndito da alma.

            Interrompeu-se o Cristo e, depois de longo intervalo, inquiriu, ainda:

            - Escuta! onde arquivaste a fé, as dádivas, as oportunidades de santificação, as esperanças e os bens infinitos que te foram entregues, em meu nome?

            Reafirmou o discípulo reverente e humilde:

            - Depositei-os no coração, Senhor! ...

            A essa altura, interrompeu-se o diálogo comovente, Jesus calou-se num véu de melancolia sublime, que lhe transparecia do rosto.

            O devoto perdeu a expressão de beatitude inicial e, reparando que o Mestre se mantinha em silêncio, indagou:

            - Benfeitor Divino, poderei doravante abrigar-me na paz inalterável de tua graça? já que fiz o depósito sagrado de tuas bênçãos em meu coração, gozarei o descanso eterno em teu jardim de infinito amor?

            O Mestre moveu tristemente a fronte e redarguiu:

            - Ainda não! o trabalho é a única ferramenta que pode construir o palácio do repouso legítimo. Por enquanto, serias aqui um poço admirável e valioso pelo conteúdo mas incomunicável e Inútil. .. Volta, pois, à Terra! Convive com os bons e os maus... justos e injustos, ignorantes e sábios, ricos e pobres, distribuindo os bens que represaste! Regressa, meu amigo, regressa ao mundo de onde vieste e passa todos os tesouros que guardaste no santuário do coração para a oficina de tuas mãos! ...

            Nesse momento, o devoto em lágrimas notou que o Senhor se lhe subtraía ao olhar angustiado. Antes, porém, observou que o Cristo, embora estivesse totalmente nimbado de intensa luz, trazia nas mãos formosas e compassivas os profundos sinais dos cravos da cruz. 

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