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sexta-feira, 7 de setembro de 2012

17b. "Amor à Verdade"





17b
“Amor à Verdade”
por Alpheu Gomes O. Campos
Marques Araújo & C. – R. S. Pedro, 216
1927



 A Caridade

            Muito se tem dito sobre a caridade; nada obstante, entre os homens, interpreta-se erradamente essa virtude.
           
            Acreditam-na favorecidos da fortuna mera distribuição de algum dinheiro, não raro esquecendo que a mão esquerda mal deve saber o que dá a direita. Na verdade, esses já receberam a recompensa na satisfação de sua vaidade.

            Se é esmola o matar a fome do corpo, maior sê-lo-á saciar a sede do espirito. E quantos de nós, muita vez, alimentando o organismo, não sentimos o ânimo despedaçado pela dor e pela vergonha, acrescidas com o juízo que a nosso respeito forma a sociedade!

            Quanto rico pobre e quanto pobre rico!

            Caridade é amor. É água cristalina em que se banham as chagas sangrentas das provas e expiações por que uns passamos hoje, outros amanhã.

            É virtude sublime, que não constitui apanágio de ninguém senão do que sabe abençoar a dor, reconhecendo nela a misericórdia divina. Tanto o rico como o pobre, podem faze-la: porque ser caridoso é ser clemente; é compreender o alheio sofrimento; é enxugar uma lágrima; é ensinar; é guiar, com sinceridade, o cego que para o abismo se encaminha; é abrir o peito ao amor até do inimigo, a exemplo do Nazareno, que orava ao Pai pelos que o perseguiam;  trazer a luz da verdade ao obscuro; ser justo, mas indulgente; e grande sem humilhar; e dar sem aviltar; é elevar-se elevando o próximo; é ser cristão; compreendendo os ensinos de Jesus, não ocultá-los e colocar bem alto a lâmpada para que todos a vejam; não ver na desigualdade das posições sociais nenhum privilégio ou real superioridade, a fim de não aumentar as mágoas ao aflito, a dor ao desesperado.

            Pelo inverso: negar a luz aquele que a procura, clamorosa descaridade é; e tanto maior quanto nela mal se disfarça a ganância de acumular fazenda. Ora, esta por si só não cura as mazelas da alma e, sujeita à deterioração mais aos ladrões, não pertencerá nunca ao espirito, que, em nova encarnação, virá mendigar e sentir o que a outros ou fez sofrer, ou não soube suavizar.

            Daí, logo, meus irmãos, a oblata do amor, do amparo, da instrução, da lealdade, do progresso e, quando a isto puderdes juntar a moeda, fazei-o, sem ostentação, bem no segredo, a surdina, para que não se veja humilhado o vosso vizinho.

            Santificai vossa esmola, por tal sorte que de Deus também recebais igual; essa jamais a perdereis, porque ficará em vossa alma, que mais e mais ascenderá para a perfeição.

            Fala agora um Maior.

            “Glória a Deus nas alturas, paz na Terra aos trabalhadores de boa vontade.

            “A mais sublime das obras é a que propele os homens ao amor de Deus e do próximo,

            “Jesus quando pregava a seus irmãos, tinha, sem dúvida, um escopo - a divulgação das prédicas; e mandava que as repetissem seus discípulos para que os incrédulos tivessem oportunidade de conhecê-las.

            “As diferentes seitas que se formaram, não souberam guardar o mesmo cuidado; antes pelo contrário, ocultaram certas verdades, reservando-as qual monopólio de seus principais chefes.

            “Exemplos contínuos eram trazidos às multidões pelos fenômenos espíritas e pelas revelações; mas acabavam abafados e circunscritos a limitado número.

            “Tendo-se isto tornado hábito, resultou permanecerem os povos na ignorância, influindo, à sua parte, depois, para que se distanciassem cada vez mais da      verdadeira doutrina.        

            “Espíritos maus, egoístas, coagulados de imperfeições, ora encarnados, ora no espaço, animados de todos os sentimentos condenáveis, espíritos que, por falta de mérito, sofrem ao despertar, nada mais vendo senão as coisas terrenas, tornaram-se de tal modo endurecidos, que nem a dor nem o amor conseguiram enternecê-los. Crentes de que só a força bruta pode vencer, experimentados nas mais perigosas e várias aventuras, senhores dos homens, sim, mas também escravos, cobrem de sombra a humanidade inteira, que geme ainda sob o peso de seus tetros erros.

            “Não pedia Jesus que empanassem os ensinos: ao revés, que pusessem a luz bem alto para que todos a vissem. Mas assim não tem sido desde aqueles tempos até os dias de hoje.

            “Ensinar ao próximo sem fazer mistério dos conhecimentos - eis a obrigação de todo aquele que os recebeu.

            “Pedi, e ser-vos-á dado: dizia o Mestre. Todo aquele que pede, obtém; no entanto, pagam para se implorar a Deus aquilo que só uma prece fervorosa e pronunciada com amor pode conciliar.

            “Os erros veem de séculos, tendo sua origem no egoísmo. Se os que pretenderam continuar a pregação de Cristo, não sub rogassem os seus verdadeiros ensinamentos, a cegueira que ainda infelicita a humanidade ter-se-ia dissipado já, e a paz reinaria entre os homens.

            “Guerras e mais guerras se fizeram no passado; e agora de novo assaltam o espirito das criaturas a dúvida e a descrença.

            “Não se toma o reino dos céus com violência...  e com violência é que se procura impor preconceitos humanos com o rótulo de ordenações divinas.

            “Cruéis que são tais seitas! ditam o que não sentem; fanatizam, com pompas, um sem número de almas simples, que podiam mais e muito mais se elevar pelo amor e pela fé raciocinada.

            “Foi tão simples e humilde Jesus, que nada absolutamente pode aceitar como recompensa de suas revelações, e não cessava de recomendar a seus discípulos que não tivessem nem pão, nem bordão, nem moeda no cinto, e fossem transmitir as suas verdades, que encontrariam abrigo na casa do justo.

            “Meu carinhoso amigo: revelo o meu mais ardente desejo de instruir-te, para que outro tanto faças a teu irmão; por isso, deves orar por ti e pelos que te odiarem, certo de que, se guardardes tão somente para ti o aprendido, incorres nota de egoísta e mau, impedindo que a luz chegue também a iluminar teu próximo.

            “Tens, como não ignoras, alcançado o bastante para fazer-te feliz; porém, muito infeliz serás se não difundires o que aprendes, o que sentes e o que vês: recebes também um talento, conforme a parábola, e dele deves ser fiel depositário.

            “Deus, em sua infinita misericórdia, permitiu que os alunos de Jesus volvessem à Terra, em missão de novamente esclarecerem a humanidade, que não logrou receber, em estado de pureza, as lições do sublime Semeador. Neste pressuposto, estão sendo chamados os espíritas para colaborarem a prol da verdade. A todos: calma, reflexão, muito cuidado; que as almas daqueles que, por egoísmo e subalternos interesses, meteram a luz “debaixo do alqueire”, constituem temerosa hoste, e, apoiadas em seus infelizes sectários, continuam a devorar a casa das viúvas...

            “Não vos esqueçais, espíritas, daquele banquete simbólico, a que os convidados deixaram de comparecer: vós sois os maltrapilhos, indistintamente postos à mesa.

            “Saciastes a fome e a sede; e da água que tomastes, - da mesma natureza e fonte da que Jesus oferecia à Samaritana - jamais encontrareis entre os orgulhosos, que saboreiam capitosos vinhos e pretendem fazê-lo sangue redentor.

            “Embora os tempos sejam outros e a desigualdade das posições sociais tenha feito surgir exigências desconhecidas ao tempo do Crucificado, compete aos cultores da fé e do amor uma coisa somente, pouco importando que sejam pobres ou ricos - serem sempre caridosos, porque fora da caridade não há salvação.

            “A lei do progresso quer-nos provados já na fartura, já na pobreza; em nenhum caso, porém, deve o homem recusar o seu óbolo, quer em moeda, quer em ensino, ou carinho.

            “Almas em expiação, arrastando os andrajos da miséria material, porém muita vez maiores que os monarcas e milionários, de maior caridade precisam para aguentarem-se na dor do que na fome. Dar uma esmola é, não raro, pelo preço de um níquel, evitar a presença de um ente talvez querido, por quem se experimenta repugnância, quando amor é que se devia sentir.

            “Espíritas: lembrai-vos de que ser caritativo é perdoar aos adversários e mostrar-lhes, com brandura, o caminho da Vida. Guardar ressentimentos e despeito é tornar-se egoísta, não partilhando com o seu pensamento o pão que lhe falta, o pão espiritual.

            “A luz que iluminar os simples e caridosos, jamais se apagará; e Jesus os conduzirá ao Pai.

            “Glória, a Deus , nas alturas, paz na Terra aos trabalhadores de boa vontade. - João.”



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