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quarta-feira, 29 de agosto de 2012

O Desmoronamento da Igreja


O Desmoronamento
da Igreja


            Ao folhearmos os Evangelhos, vemos o Mestre proferir sentenças condenatórias, objetivando o nosso esclarecimento, para que não caiamos no erro de nos iludir com as aparências.

            Aproveitava Ele as ocasiões que se lhe apresentavam, como seja aquela em que seus discípulos chamaram-lhe a atenção para a grandiosidade da estrutura do templo do qual acabavam de sair; Sem mais rodeios, assim falou: "Em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derribada." Jesus não queria com isso recriminar a estética dos templos de oração, mas sim o orgulho da casta sacerdotal que se julgava superior às demais. A mesma sentença condenatória ressoa hoje aos nossos ouvidos, se contemplarmos as grandes catedrais construídas pela Igreja e o orgulho de seus ministros em querer impor a sua crença, teimando assim em oficializá-la, para melhor manietar a consciência dos que lhe não são submissos.

            A Igreja deixou de ser cristã para ser política e perdeu por essa razão toda a sua moral. Já não somos nós os espíritas que o dizemos, são os seus adeptos que não cessam de o afirmar em suas reuniões íntimas.

            Há dias ouvimos ler uma carta na "Rádio Cruzeiro do Sul", pelo locutor Jota Domingues, de uma senhora católica que declarava de público o seu desligamento da irmandade à qual pertencia, alegando que, quando ia à missa, o padre, em lugar de se dedicar ao ato religioso, só se ocupava de política. E dizia mais: ter assistido a uma missa campal, onde havia tanques, canhões e metralhadoras, em contraste com os ensinos do meigo Rabi da Galileia, cujos soldados só devem estar armados de fé e amor.

            A Igreja receia perder o seu prestígio e, para que tal não se dê, os seus ministros se servem do púlpito para atacar os partidos políticos ou os credos religiosos que porventura possam por a verdade acima da mentira convencional.

            A debandada nos meios católicos começou a tomar grande incremento no dia em que se realizou a sabatina entre o padre Saboia e o Sr. Crispim. De que o sacerdote não se saiu bem, não há nenhuma dúvida; nem se saiu melhor nas conferências que realizou com o fim de esclarecer o seu fracasso. Não porque lhe faltasse inteligência, mas porque está preso a dogmas, dos quais não pode desembaraçar-se sem romper com os seus superiores clericais.

            Soube o padre Saboia definir a democracia teoricamente, pois, dentro da Igreja Católica ela não existe; os seus fiéis tem que obedecer cegamente as ordens emanadas dos santos pontífices, que são os ditadores perante os quais se devem curvar todos os católicos. Os que ousaram discordar de suas santidades, não tiveram apelação; entre as centenas de milhares de vítimas que experimentaram a suavidade da democracia jesuíta, basta citar Joana d'Arc que, por receber mensagens do Céu, foi condenada à fogueira; João Huss e Giordano Bruno sofreram a mesma pena, apesar de serem frades, por terem divisado novos horizontes através do nosso sistema planetário; Galileu esteve entre a vida e a morte, por ter dito que a Terra girava em torno do Sol, contrariando assim os ensinos da Igreja. Ainda é bem recente a excomunhão do bispo de Maura, por ter prefaciado O Poder Soviético e por ter dito, além disso, umas verdades que em nada honravam a democracia católica.

            Quanto mais a Igreja se mete em política, mais se aproxima do seu fim. A desunião que se verifica entre os nossos irmãos católicos, por causa da política, serve muito bem de lição para os espíritas que querem a todo transe servir a Deus e aos políticos, fazendo do Espiritismo escada para galgar postos superiores na Terra.

            Nestas eleições, os espíritas tiveram oportunidade de observar que, para bem da causa espírita, não devem arregimentar os seus irmãos em crença, para com eles formar um partido político. Os que teimam em fazê-lo, bem demonstram ter mais inclinação para políticos do que para espíritas, errando dessa forma a sua vocação ao ingressarem no Espiritismo. É de lamentar que, entre essas criaturas, se encontrem confrades ocupantes de cargos de responsabilidade em entidades espíritas.

            Os católicos acusam a Igreja, com ou sem razão, de ter favorecido -um candidato em prejuízo de outro. Não nos sucederia o mesmo se em iguais condições tivéssemos que nos definir por um ou outro candidato? Cremos que sim, contribuindo isso para aumentar a desunião já existente entre nós.

            Pensem bem os nossos irmãos e vejam que seria um dos maiores absurdos, justificável apenas na vaidade dos que acreditam desprezarem os espíritas o seu livre arbítrio e bom senso, para votar de olhos fechados, só porque o presidente de uma sociedade espírita lhes indicou um candidato.

            Se até agora não fomos capazes de confraternizarmo-nos em nome do Cristo, quanto mais difícil não será, em se tratando de política?

            Basta sabermos haver espíritas desde os mais conservadores até os mais liberais, o que nos levaria a termos diversos partidos. E a prova temos ao observar que muitos deixaram de votar nos candidatos espíritas, para votar em outros candidatos que, embora não pertencendo ao seu credo, satisfaziam mais de perto às suas aspirações. A nosso ver é assim que se deve proceder; a doutrina espírita não é doutrina de fanáticos.

            Quem tiver a missão de ser político deve filiar-se ao partido que melhor satisfaça aos anseios de sua alma de idealista. É nesse meio que, com sua influência, poderá atuar como o fermento do Evangelho, moralizar e combater as injustiças dos homens.   

            Formar partidos com elementos espíritas para entrar em atritos com outros partidos, é desconhecer a missão do espírita idealista, que consiste em irmanar e confraternizar os homens e manter o Espiritismo na sua mais alta pureza, sem jamais o mesclar nas competições políticas.

            Só agora é que podemos perceber porque uma parte dos militantes espíritas não se confraternizava com os demais. Longe estávamos de, em nossa ingenuidade, conceber a ideia de que tudo decorria de serem eles espíritas políticos!!!

            O Cristianismo conservou-se puro nos seus primeiros séculos, até que a Igreja o deturpou. O Espiritismo, que é o Cristianismo redivivo, codificado por Allan Kardec, começa a ser ameaçado pelo "morbus" da política, que levou a Igreja Católica à falência de sua missão cristã. Urge, portanto, realizar a mais perfeita união de todos os seus adeptos, para enfrentar a tempestade que se aproxima. Que não nos aconteça o mesmo que acaba de suceder aos nossos irmãos católicos ao serem chamados para colaborar na transformação moral e espiritual da Humanidade; o Senhor os encontra desunidos e contaminados pela política. Não nos esqueçamos de que o Espiritismo é uma doutrina que nos é ministrada, gradativamente, por Espíritos superiores. A sua defesa só pode ser exercida pela força moral e espiritual de seus adeptos e não pelo número de votos nas urnas.


Luiz Gomes da Silva
in 'Reformador' (FEB) 
Janeiro 1946



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