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segunda-feira, 23 de julho de 2012

Um Missionário da Luz



Um missionário da Luz

            A grandeza moral de Allan Kardec, analisada que seja por qualquer dos aspectos de sua marcante personalidade, revela-nos as características dum Missionário. Foi essa inteireza moral, sob o influxo das forças espirituais do Invisível, uma das ponderáveis razões da vitória da Terceira Revelação, malgrado os obstáculos opostos à sua propagação pelo intransigente e feroz sectarismo religioso de seu tempo, fortalecido por multifários e arraigados preconceitos.

            Desbravador destemeroso, Allan Kardec enfrentou o poder das trevas em sua sólida organização terrena e quando, em Barcelona, as chamas das mesmas fogueiras que haviam calcinado corpos inocentes, devoraram os livros doutrinários do Espiritismo, sentiu o Codificador que estava assegurado o triunfo integral dos postulados espiríticos.

            A biografia de Kardec é, por si mesma, um exemplo de trabalho e de fé. Tendo recebido a missão de codificar os ensinamentos dos Espíritos, oferecendo-os à Humanidade, para que esta se liberte das algemas do facciosismo religioso, sem, contudo, atolar-se nos pauis do materialismo; Allan Kardec foi, do ponto de vista espiritual, a maior figura do século XIX. Forrado de ciência, cheio de credenciais terrenas que lhe conferiam incontestável autoridade moral e científica entre seus contemporâneos, teve sua atenção despertada para os fenômenos espiríticos, que, de começo, não aceitava. Não tardou, porém, a compreender a importância extraordinária dos estudos a que se entregara, capacitando-se de que notável tarefa lhe estava assinalada, a qual era mister cumprir integralmente, quaisquer que fossem os sacrifícios a enfrentar.

            Apropriando-nos da feliz expressão de André Luiz, diremos que ele foi um legítimo "Missionário da Luz". As obras que trazem sua chancela - "O Livro dos Espíritos", "O Evangelho segundo o Espiritismo", "A Gênese" e "O Céu e o Inferno", que constituem o "pentateuco do Espiritismo" - revelaram ao mundo uma nova era, referta de possibilidades risonhas para todos os homens de boa vontade que desejarem alcançar o Reino dos Céus. Pelo seu estudo cuidadoso, o homem pode libertar-se das cadeias do materialismo corrosivo e do mórbido misticismo dos credos que proscrevem o uso da razão e pregam a fé cega a dogmas incongruentes.

            Allan Kardec desenvolveu intensíssima atividade doutrinária. Cumpriu, e bem cumprida, sua missão terrena , Mas, conhecendo a tendencia que os homens têm de promover o endeusamento dos próprios homens, o Codificador, sempre esclarecido, sublinhou que o Espiritismo não é obra humana, mas de Deus, porque dos Espíritos, de entidades de inteligência superior que povoam o Invisível, exercendo benfazeja influência sobre os encarnados. Alertou o sentido dos espiritistas para as traições do dogma, que conduzem às obnubilações do fanatismo.

            Tantos anos depois da vinda do Codificador, suas palavras não perderam o viço nem suas lições doutrinárias desmereceram. Continuam como atalaias indormidas, fanal de esperança da humanidade que sofre, da humanidade que tem fé, da humanidade que com ele aprendeu a interpretar a vida em seu verdadeiro sentido! O lema por ele adotado- Trabalho, solidariedade, tolerância - é uma bandeira de ação, todo um programa de realizações magníficas, uma plataforma ungida de sentimento evangélico.

            Pelo trabalho devotado, o espiritista pode encaminhar-se para ciclos evolutivos progressivamente mais elevados, desde que tenha como norma de sua conduta o preceito do Cristo: amai-vos uns aos outros, dentro do qual cabem os postulados de solidariedade - que é serviço edificante, e de tolerância - que é amor. Ambos esses atributos do espírito - solidariedade e tolerância - são imprescindíveis ao caráter do espiritista cristão. Eles promoverão um dia a união dos homens, através do conhecimento e prática da Doutrina, fortalecida pelo estudo e exemplificação constante do Evangelho do Cristo.

            Por essa trilha poderão os homens de hoje e os homens do futuro acompanhar a trajetória de luz de Allan Kardec, o grande Missionário, semeando também o amor e a paz, pelo trabalho construtivo e a fé realizadora!
                                           
Indalício Mendes
in Reformador (FEB) – Outubro 1945


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