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domingo, 24 de junho de 2012

Sejamos Iconoclastas



“Sejamos Iconoclastas.”


            Que a Doutrina Espírita é o Consolador Prometido, conforme narrado em João, não resta a menor dúvida. Quanto mais o tempo passa, mais se confirma a asserção, não só no campo material (prático) como no campo das ideias (filosófico).

            A cada dia mais se avoluma o número de criaturas beneficiadas pela Doutrina dos Espíritos, nas diversas casas erigidas pelos pioneiros do Espiritismo no Brasil. Não há uma só cidade do país onde não haja um Centro Espírita e que, paralelamente, um trabalho assistencial não se desenvolva. Ora é um albergue noturno, ora um asilo para os velhinhos, ora uma casa de crianças, ora um Lar-Escola, ora um prato de sopa, ora um agasalho; enfim, todas as formas de ajuda ao próximo são experimentadas. Isso, ainda que com algumas imperfeições na sistemática, dá bem uma mostra do que o Espiritismo tem feito para acalmar a fome e a dor das criaturas.

            No campo dos esclarecimentos filosóficos, perdemos a conta das inúmeras pessoas que se livraram do suicídio, do desespero, da apatia, por terem lido um livro espírita. Também sem conta são os que se abateram pela perda de um ente querido e que, através da mediunidade, voltaram à esperança, porque viram seus mortos falarem ou escreverem. São famosos os casos de identificação de espíritos pela mediunidade de Chico Xavier, Divaldo Franco, Ivone Pereira e tantos outros, citando apenas os mais recentes.

            Indubitavelmente, é a Doutrina Espírita o Consolador que o Cristo de Deus prometeu aos homens. É o Paracleto que veio para ficar eternamente conosco.

            Com o correr dos anos, porém, na prática doutrinária, surgiram algumas “adoções” que merecem ser estudadas, a fim de que se compreenda bem o papel consolador do Espiritismo.

            Por exemplo: na atualidade doutrinária, erigiu-se à água fluidificada, ao passe e, às vezes, à prece, um verdadeiro altar de devoções, em detrimento do próprio conhecimento da Doutrina.

            Assim, muitas pessoas procuram o Centro Espírita para receberem o passe, a água fluidificada e assistirem aos trabalhos doutrinários. Quantas vezes já ouvimos de pessoas nossas conhecidas a seguinte frase: “Toda quarta-feira eu vou ao Centro. Ah! eu não posso ficar sem os trabalhos!” Outros, nem bem alguém se arrepie por qualquer circunstância, vêm logo com a observação: “Você precisa desenvolver mediunidade”. Já ouvimos também: “O Guia do Centro mandou que eu tomasse 3 passes toda sexta-feira e água fluidificada diariamente, antes das refeições”.

            Ora, convenhamos, está se erigindo uma idolatria dentro da Doutrina Espírita, substituindo-se o que é perene, duradouro, pelo transitório, material.

            Senão vejamos: não é a Doutrina o Consolador Prometido, para nos esclarecer, nos orientar, alertando-nos contra os nossos vícios e as nossas mazelas? Não é a Doutrina uma doutrina de Causas, mostrando-nos de onde nos vêm os males e ajudando-nos a evitar os efeitos?

            Se assim é, de nada adianta tomarmos água fluidificada, passes, e fazermos orações no Centro, se não modificarmos a nossa conduta, que é a causa de todos os nossos malefícios.

            Se alguém vai ao Centro perseguido pelo espírito das trevas, receberá, sem sombra de dúvidas, auxílio e socorro. Deverá, porém, modificar os seus hábitos e a sua conduta, para ficar livre, de vez, do seu inimigo espiritual. De fato, a Doutrina Espírita nos alivia, porém, não realiza por nós o trabalho que nos compete. Se voltarmos a incidir nos mesmos erros, os nossos males voltarão.

            Assim, achamos que muita gente tem tomado o secundário pelo principal, o acessório pelo essencial, porque o substrato, que é a Doutrina dos Espíritos, tem ficado para trás.

            Perguntar-nos-ão: você é contra os passes, a água fluidificada e as orações?

            De forma nenhuma. Quantas vezes já  os tenho procurado, como recurso para os grandes males. Acho que são terapêuticas espirituais de emergência, aplicáveis nos casos específicos a que se destinam.

            O que me preocupa é o fato de se erigirem falsos ídolos na Doutrina, buscando-lhe as palavras apenas, e se esquecendo do Espírito que nela se encerra...

            Lamento quando o meu irmão se beneficia da Doutrina, mas não  toma conhecimento dela, iludindo-se supinamente. O que nos liberta, afinal, é o conhecimento da Verdade.

            Convoco, pois, meus irmãos a sermos iconoclastas de falsas práticas, evitando, com isso, que a parte principal da Doutrina Espírita, que é a Verdade nela encerrada, possa ficar esquecida, em desuso.

            Atentemos para o ensino da Codificação: “Conhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral”.

            Não está claro?


por Felipe Salomão  
Brasil Espírita (FEB) Jan 1971
             




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